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quinta-feira, 24 de outubro de 2024

OLHARES


 coleciono fotografias de família, vendidas em alfarrabistas

por pouco dinheiro, como prova de que estamos

a uma ou duas gerações do esquecimento,

invento dedicatórias, parentescos, datas e locais,

espalho-as em molduras  pela casa para confundir visitas

e de me vigar de uma memória que me atraiçoa sem descanso

 

Tiago Araújo do poema Estudo do Rosto em Resumo: a poesia em 2010.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

OLHARES


São importantes as existentes  Casas de Escritores, e de outros intelectuais, que vamos tendo espalhadas pelo país.

Deveria ser um trabalho dos governos, das autarquias, de mecenas, fomentar a criação dessas casas, conservá-las, enriquecê-las.

Nem sempre acontece e algumas encontram-se quase ao abandono.

Uma breve viagem pela região de Aveiro deu para deslocar as pernas para Ovar e visitar a Casa de Júlio Dinis.

Joaquim Guilherme Gomes Coelho, conhecido pelo pseudónimo literário de Júlio Dinis, nasceu no Porto, a 14 de Novembro de 1839.

Tendo-lhe sido diagnosticado tuberculose, foi aconselhado que fosse tomar ares e descanso, na Casa dos Campos, em Ovar, propriedade de uma sua tia paterna.

Júlio Dinis, com 31 anos, morreu em 12 de Setembro de 1871, na cidade do Porto.

Lápide, na parede exterior da casa assinalando, a passagem do escritor por Ovar.

No exterior, frente à casa, o busto de Júlio Dinis.

Característica cozinha de aldeia. A lareira com destaque para  o forno onde se cozia o pão para os dias da semana.


Ainda na cozinha, um móvel com a mesa posta, um jarro. Na parede pratos de barro da região.

O pequeno quarto da casa.

Falando do quarto, o folheto distribuído aos visistantes, cita uma passagem de «As Pupilas do Senhor Reitor»:

«Deitou-se de costas e pôs-se então a contar as tábuas do tecto. Contou dezassete. Dezassete, noves fora, oito disse insensivelmente Daniel!»

Sala e a mesa onde Júlio Dinis escreveu, para além de outras páginas, «As Pupilas do Senhor Reitor».

A mesa onde escreveu.


António José Saraiva em História da Literatura Portuguesa:

«Há muitas afinidades entre a ideologia de Júlio Dinis e a de Herculano, mentor nesta época da pequena burguesia portuguesa.

Júlio Dinis é um romancista excepcionalmente dotado. Conjuga com extrema felicidade a descrição dos ambientes, os retratos das personagens, os conflitos dramáticos numa construção equilibrada. Acrescenta a isto um excepcional peneração  psicológica, que por vezes o leva a notações originais, estudando quando a ocasião se lhe oferece o mecanismo da associação das ideais com grande minúcia. O estilo, ao contrário do que sucede com Camilo, não se interpõe entre o leitor e os objectos descritos que apenas reveste uma levíssima gaze de humorismo discreto.»

domingo, 7 de julho de 2024

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 Salinas de Tavira no Verão de há 3 anos.

Numa árvore ler que temos que ter cuidado com a saída de viaturas e também ter cuidado com o cão.

Colaboração de Aida Santos

domingo, 16 de junho de 2024

OLHARES

«Não vou aqui me gabar – mas vi Luzes da Cidade mais de vinte vezes. Aliás não seja por isso porque Otávio de Faria viu mais de trinta.»

Vinicius de Moraes

quinta-feira, 30 de maio de 2024

OLHARES


Perto um do outro, no alto de uma das colinas de Lisboa, existem dois miradouros a que poucos ligam importância.

Estamos no alto da Penha de França, junto à Igreja de Nossa Senhora da Penha de França. Ao lado está o comando da Polícia, que até ao 25 de Abril foi o quartel da sinistra Legião Portuguesa. Atrás da igreja está um reservatório de água, a malta chamava-lhe o pote d’água. Ali encontra-se o miradouro da Penha de França que, juntamente com o miradouro do Monte Agudo, sito na Rua Heliodoro Salgado, é algo a que os lisboetas prestam pouca, ou quase nenhuma, atenção e que as entidades entendem não os divulgar pelos turistas.

Na Rua Mestre António Martins, na Freguesia da Penha de França acabou por vir ao mundo, estava guerra a findar pela Europa.

Pelas noites de Verão, quando não havia televisão, a malta juntava-se por ali e ficávamos a olhar os filmes que por aquele tempo passavam na esplanada da Cervejaria Portugália.

Perguntarão:

-  Como é que miúdos podem ficar de longe a «olhar filmes.

Já disse que não havia televisão e as noites quentes, convidavam as pessoas a vir para as portas das casas, para os miradouros, para os jardins. Mas dezenas de pessoas encostavam-se ao muro para ver as imagens que, lá longe, passavam no écran da esplanada da Cervejaria Portugália. Apenas as imagens. Nem som, nem leitura de legendas, apenas imagens a correr.

Coisas mesmo de putos.

Simples e comovente…

Terá servido para que um dia explodisse o gosto pelo cinema, o dele e o da malta do bairro?

Curiosamente nunca viu um filme sentado na esplanada da Portugália. E tanto que, em miúdo, o desejou. Quando a possibilidade de o fazer chegou, já não exibiam filmes.

Ainda hoje sente o calor, o cheiro daquelas noites dos seus oito/nove anos a olhar os filmes da Portugália. O regresso a casa. As janelas abertas a respirar o fresco da noite, as pessoas a conversar nas ruas. Um perfume de cravos e sardinheiras.

O tempo da inocência total.

Os caminhos para o Cinema Paraíso.


No cimo da tal rua onde nasceu, encontra-se a Escola de Luísa de Gusmão.

A fachada do edifício exibe um grande painel de azulejos de Querubim Lapa, 400 azulejos num espaço de 30 metros. Alguns azulejos do painel têm vindo a cair. A Câmara Municipal de Lisboa, a Junta de Freguesia, dizem não ser sua competência, do Ministério da Educação não há qualquer resposta.

À frente, da escola, onde agora está um parque de estacionamento, existia uma vila e num dos seus edifícios, situava-se uma sopa dos pobres. Ali não havia espaço para os pobres comerem e então desciam a rua e sentavam-se nesta praceta, mesmo em frente do prédio onde nasceu, viveu a infância e adolescência, a comerem a sopa e o naco de pão escuro.


domingo, 19 de maio de 2024

OLHARES


 Uma cadeira abandonada numa rua de Lisboa.

Fotografia de Aida Santos.

domingo, 3 de março de 2024

OLHARES


Nesses tempos da infância ir à padaria comprar pão era um pedaço de pequena festa.

O cheiro do pão nas manhãs da infância, cosido, durante a noite, em grandes fornos a lenha.

Em casa dos pais, comia-se pão escuro. O pão era pesado e, para completar o peso, havia a necessidade de juntar um pequeno pedaço. Esse pedaço de pão era comido a caminho de casa, e ainda hoje sente esse gosto, o gosto de um antigamente com um qualquer floco de melancolia.

Poderá dizer que ir comprar pão é um dos grandes prazeres do seu quotidiano?

Quase diariamente, vai comprar, a uma lojeca de comida «take a way», pão dito alentejano.

Mania que o pão há-de ser alentejano, as alheiras de Mirandela, a carne de Lafões, mas resume-se tudo a meros travestis completada com a nossa velha mania de gostarmos de ser enganados.

Acontece que, ontem, na pequenas caminhada para a compra do pão, encontrou, numa das pontes do viaduto das Olaias, a frase gritante que a imagem acima mostra:

 

QUEM PRODUZ TODA A RIQUEZA ÉS TU!


No desenrolar da caminhada deu para lebrar um poema do Eduardo Valente Valente a que chamou Do admirável:


Um operário é admirável,

Não por ser um operário, mas por ser admirável.

E assim sucessivamente…

sábado, 16 de dezembro de 2023

OLHARES


A morte construiu-se rápida e reluzente por detrás dos taipais. Nunca me disseram podia ter sabido    a casa dantes habitada fora destruída e dela só haviam aproveitado os materiais mais resistentes.    O granito Certas madeiras as mais caras.    Outras dos caixilhos queimaram-na os operários no aquecer das suas comidas.    Devem ter passado dois invernos depois do vazio e certamente se juntavam muitas vezes durante os intervalos ou pequenas fugas    Falariam de quê?   de como decorria a construção da morte   dos pormenores tanto-fecho-nas-portas   do pequeno salário   quem sabe se ainda recordavam algum dos antigos habitantes e diziam obrigara-no-a-mudar-foi-para-longe-as-rendas-têm-subido-no-centro-da-cidade.

Marta Cristina Araújo em O Tear da Casa

Legenda: fotografia de Rui Ornelas

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

OLHARES


Cuidados a ter: com as viaturas? Com o cão? Tudo junto?

Colaboração de Aida Santos

terça-feira, 17 de outubro de 2023

OLHARES


 Tavira.

Colaboração de Aida Santos

terça-feira, 26 de setembro de 2023

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Em Constança, na Segunda-Feira de Pascoela, realiza-se uma procisão fluvial.

Colaboração de Aida Santos

sábado, 16 de setembro de 2023

OLHARES


 À porta de um talho perto do Areeiro.

Colaboração de Aida Santos

domingo, 27 de agosto de 2023

OLHARES


 O Eduardo das Conquilhas.

Situa-se na Parede, junto à Estação de Caminho-de-Ferro.

Era um tasco à maneira, com uns pregos e umas bifanas de se lhes tirar o chapéu.

Mas transformou-se em restaurante de gente fina e possuidora de razoáveis quantidades de dinheiro, que olham a tudo menos à qualidade do que comem ou bebem. 

O artista Mário Belém, possivelmente dos clientes mais antigos do Eduardo das Conquilhas, pintou na empena do prédio, que dá para um terreno cheio de lixo e destroços de casas, esta homenagem ao tasco, agora restaurante, do Eduardo das Conquilhas.

domingo, 30 de julho de 2023

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 Lisboa, Avenida Almirante Reis.

Colabaoração de Aida Santos

quarta-feira, 19 de julho de 2023

OLHARES


 O Pote, ali na João XXI, em Lisboa, tempos idos, décadas 60/70, era um vulgar restaurante, como tantos na cidade, mas que a partir da meia-noite virava tasca onde desaguava toda a casta de noctívagos, para umas bifanas, uns pregos com ovo a cavalo, vinhos, cervejas, também para o último copo, o último não, o penúltimo, porque o ultimo, esse, é na hora da morte.

Hoje O Pote, que naquele tempo não tinha a esplanada que se vê na imagem, é um restaurante sossegado e nunca mais virará, depois da meia-noite, hora de fantasmas e sonhadores, o quase-albergue-espanhol daqueles tempos.

Por estes sítios aconteceram conspirações, amores, desamores, conversas sem fim, que não se sabia se alguma vez tiveram um princípio, discussões várias e agitadas, pertencer a uma geração que quando queria fugir de si própria, não era bem fugir, desaguava em livros, músicas, filmes, cervejas, vinhos, muitas cigarradas
Mas O Pote era o preferido. Dele fazíamos porta-aviões, quando tudo já encerrara portas na cidade. Ingenuamente (poderia ter sido de outra forma?), unidos, a tentar ajudar outros, que queriam derrubar uma ditadura. Foi bom esse tempo, um tempo de causas, objectivos, éramos felizes, simplesmente não o sabíamos.
Numa madrugada, a tal ditadura caiu.
Depois, bom depois, não sabe se inevitável ou não, cada um partiu para o seu lado e trataram de arranjar inimigos diferentes.

domingo, 4 de junho de 2023

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 Tardes de domingo.

 Nos  anos de 70/80 António Gedeão dedicava as suas tardes de domingo a percorrer a velha Lisboa onde nasceu e viveu todo o seu tempo de andar por aqui. 

Gostava muito de fotografar e esse trabalho encontra-se em Memória de Lisboa.

É comovente ter jacarandás  perto do sítio onde moro.

E hoje, tarde de domingo, fui fotografar os 12 jacarandás que estão na Rotunda das Olaias, perto da Escola António Arroio.

O jacarandá é uma árvore exótica que chegou vinda do Brasil, da Argentina, da Bolívia ou do Paraguai

 Nos primeiros dias de Maio os jacararandás começam a florir pela cidade.

 Em outros tempos, fotografei (ver etiqueta jacarandás) os jacarandás do Largo do Rato, da Avenida D. Carlos I. E sempre, sempre os do Parque Eduardo VII, em tempo de Feira do Livro, numa lembrança nostálgica para o Jorge Silva Melo:

 «Não me tirem a rua dos livros ao sol, não me fechem a Feira do Livro, deixem-me, uma vez por ano, passear pelo Parque Eduardo VII de todos os jacarandás, ao cair da noite, pela fresca, deixem-me encontrar os amigos, são cada vez menos!, deixem-me queixar-me de já não ter dinheiro, nem espaço em casa para mais papelada, deixem-me voltar a casa com quilos de sacos, deixem-me a minha Feira do Livro onde ela é, é onde todos os anos eu respiro um mundo que talvez fosse maior, com mais gente, mais livros, histórias, poesias, gente a subir e a descer aos sábados à tarde, com tanto calor. E um dia gostava de filmar, porque não filmar a descoberta do amor entre um rapaz de uma barraquinha de livros em segunda mão e uma jovem escritora neurasténica, rapariga loira com as suas singularidades. Ou vice-versa, em Maio, no Parque Eduardo VII.»


Pegue-se também no livro  A Linguagem dos Pássaros da Ana Teresa Pereira:

 «Foi num mês de Abril, há muitos anos, éramos ainda crianças. Estamos de novo em Abril, o mês mais doce, aquele de que Miguel mais gosta, o mês azul, a nossa casa fica mergulhada em lilases, que escorrem pelo jardim, sobem as árvores, por vezes chegam ao muro que dá para as rochas. É também o mês dos jacarandás, os jacarandás ao longo da rua estão cobertos de flores violetas, que vemos da janela do nosso quarto, da varanda da torre, de um lado do mar até ao infinito, do outro o mar de flores. E o sim dos pássaros, desde Fevereiro que acordo a meio da noite com os pássaros, e deixo-me ficar imóvel, ouvindo-os até adormecer de novo e despertar de manhã, para mais pássaros, e para ele.»

 E não irei embora sem trazer o Eugénio de Andrade:

«São eles que anunciam o verão.
Não sei doutra glória, doutro
paraíso: à sua entrada os jacarandás
estão em flor, um de cada lado.
E um sorriso, tranquila morada,
à minha espera.
O espaço a toda a roda
multiplica os seus espelhos, abre
varandas para o mar.
É como nos sonhos mais pueris:
posso voar quase rente
às nuvens altas – irmão dos pássaros –,
perder-me no ar.»

Também Maria João Avilez:

«Sempre tive ânsia de viver, de experimentar as surpresas maravilhosas que a vida encerra, uma grande alegria de viver. Às vezes, a luminosidade de certas tardes em Lisboa, uma árvore em flor, como esses belos jacarandás do Parque Eduardo VII, um quadro, uma pessoa que observo e que, por qualquer razão, me desperta a atenção, bastam-me».

segunda-feira, 22 de maio de 2023

OLHARES


Há 25 anos a EXPO-98 abria as suas portas sendo a última exposição mundial do século XX.

Mais de 10 milhões de pessoas visitaram-na e contou com 143 países e 14 organizações internacionais.

Por alturas de 1996, no meio de um ensopado de enguias, em Cacilhas, juntamente com o António Abaladas, surgiu a ideia de tirar fotografias a locais onde iria surgir a Expo.

O plano incluía que se tentaria, durante a Exposição, tirar fotografias ao que se encontrava nos locais das fotografias tiradas antes de tudo acontecer.

Não houve unhas para tocar a guitarra pensada no meio de um ensopado de enguias em Cacilhas.

A revelação das fotografias pré-Expo não foi famosa e o tempo acabou por aniquilá-las um pouco mais.







Em Agosto de 1988, no JL, o jornalista Rodrigues da Silva, escreveu:

… há que temer pelo futuro daquela arquitectura. De pé ficará, mas rodeada urbanisticamente de quê?

Onde estiver a fumar a sua cigarrada, o Rodrigues da Silva já sabe no que deu o futuro daquela arquitectura, encontrado  o António Mega Ferreira e já discutiram largamente o assunto.

terça-feira, 16 de maio de 2023

OLHARES


 Uma frase nos taipais de uma obra no Alto dos Moínhos.

sábado, 22 de abril de 2023

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O trabalhador de limpeza da Junta de Freguesia de Arroios terá que telefonar  a outros serviços para levar o lixo que «gente maluca e porca» vai deixando pelos passeios da cidade.

domingo, 9 de abril de 2023

OLHARES


 Lisboa no cair da tarde de domingo de Páscoa.

O sol a despedir-se atrás de um dos dois mamarrachos do Instituto Superior Técnico.