Mostrar mensagens com a etiqueta Pedro Tamen. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Pedro Tamen. Mostrar todas as mensagens

sábado, 2 de março de 2024

COMEÇOS DE LIVROS


«Em Megara, parte baixa de Cartago, e nos jardins de Amílcar.»

Esta é o começo de Salambô de Gustave Flaubert na tradução de F. da Silva Vieira, que existe na Biblioteca da Casa.

Contudo, Ana Cristina Leonardo, numa das suas crónicas com vai-vem ao café do Monte, considera que é um bom começo de livro e ela leu na tradução de Pedro Tamem:

«Era em Megara, subúrbio de Cartago, nos jardins de Amilcar.»

E adianta, Ana Cristina: «Mas mais felizes ainda os que conseguem ouvir a música da frase em francês:

«C’était à Megara, faubourg de Carthage, dans les jardins d’Hamilcar»

Os livros devem ler-se nas línguas originais.

Como saem os livros de José Saramago nas diversas traduções?

O meu pai sempre insistiu que, pelo menos, eu deveria aprender, a sério, o francês e o inglês.

Aconteceram, pela minha parte, os costumados ouvidos de mercador, fingir que não ouvi, fazer-me desentendido.

Hoje, pelas manhãs, torço a orelha.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

POSTAIS SEM SELO


Agora eu sabia que em cada manhã

Nasceria o sol atrás dos teus ombros.

Pedro Tamen

 

Legenda: pintura de Joni Mitchell, contracapa do álbum "Both Sides Now"

PEDRO TAMEN (1934-2021)


Morreu Pedro Tamen.

Um poeta de mão cheia, um Príncipe.

É uma grande perda, mas ficamos com o agasalho dos seus versos, das suas traduções, do enorme exemplo que nos deixou como pessoa e como intelectual,

sempre a fugir dos holofotes, das parangonas de jornais e revistas.

 

Chave, Klee

 

És, como Klee

a máquina de chilrear

a liquidez perfeita dos passos,

a música dos surdos.

 

Que húmido pilar

sustenta, amor, o paço

em que me acoito e durmo

que não seja teu canto

 

ao canto do meu dia?

És, como Klee,

a virgem matemática

que tudo me desvenda

 

e sem que eu faça contas

calculas somas, sumos,

entre o covo das ondas

e azul astronomia.

 

És, como no mundo,

a pintura delida

de que sobrou apenas

um osso branco e flauta.

 

Pedro Tamen em Rosado Mundo


segunda-feira, 29 de julho de 2019

OLHAR AS CAPAS



Histórias Para meninos Sem Juízo

Jacques Prévert
Tradução Pedro Tamen
Capa: Etienne Delessert
Ilustrações: Elsa Henriquez
Editorial Teorema, Lisboa, Dezembro de 1985

E os burros presos, vendo o homem a chorar, pensam que é o remorso que lhe puxa as lágrimas.
“Vão deixar-nos ir embora”, pensam os burros, mas os homens levantam-se e começam a falar todos ao mesmo tempo com grandes gestos.
Coro dos homens: “Estes animais não servem para comer, dão gritos desagradáveis, têm orelhas ridículas e compridas, são de certeza estúpidos e não sabem ler nem contar; vamos chamar-lhes burros porque tal nos agrada, e serão eles a transportar os nossos embrulhos.
“Nós é que somos os reis. Em Frente!”
E os homens levaram os burros.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

O QUE ELE QUER É CONVERSA...


Carta de Jorge de Sena, datada de 16 de Novembro de 1969, para Eugénio de  Andrade:

Viste o artigo do Cesariny, contra o meu prefácio do Breton, fingindo até que a tradução, que é do Tamen, é minha? Aquela víbora tem sido sempre uma das minhas sombras negras – sem que eu lhe tivesse feito jamais o mal que outros lhe fizeram. Cada vez mais acho que ele é apenas uma piada, com talento às vezes, piada promovida pela necessidade que todas as gerações sentem de ter um Botto de Estação do Rossio. Nada é mais triste que um raivoso que teve a sua hora. Curioso é como, na sua maioria, com honrosas excepções, a gente surrealista portuguesa se distinguiu sempre por uma falta de dignidade e de carácter a toda a prova: e tudo fica na triste diferença entre St. Germain des Prés e a Avenida Almirante Reis. Claro que, neste caso, o que ele queria era botar sentença numa edição que sonharia lhe fosse confiada. E falar de tradução um sujeito que pôs «surrealismo criador» nas suas falhas de francês e português ao traduzir Rimbaud… Que miséria – a dele, e a dos litras portugas que o papisam. O que ele quer é conversa – mas está bem livre. Não falemos em coisas tristes.

Em Correspondência

Legenda: Mário Cesariny de Vasconcelos

segunda-feira, 13 de março de 2017

OLHAR AS CAPAS


Tábua das Matérias
(1956/1991)

Pedro Tamen
Capa: Levina Valentim
Círculo de Leitores, Lisboa, Fevereiro de 1995

Adis-Abeba tem belos eucaliptos
e quatrocentos mil abexins
ruas rasgadas para o sudoeste da cidade
e um grande leão coroado a caracóis
O sol cai sincero sobre o pó
mas eu tenho a minha mesa
à sombra onde três cubos de gelo
lentamente se transformam em John Haig
Logo à noite há um passeio até aos coqueiros
uma etíope cristã de nome Parka
e estrelas insolúveis evidentes
até que venha o sono
Com Adis-Abeba só sei falar por gestos
por isso eu sei de peles sobretudo morenas

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

À CONVERSA...


Perguntaram-lhe:

Quando votou nulo, o que escreveu?

Respondeu:

Nunca votei nulo, mas infelizmente votei em nulos.


Pedro Tamen, resposta um inquérito da “Pública”

quinta-feira, 23 de junho de 2011

POSTAIS SEM SELO


Agora eu sabia que em cada manh
Nasceria o sol atrás dos teus ombros”

Pedro Tamem

Legenda: pintura de Joni Mitchell, contracapa do álbum "Both Sides Now"

terça-feira, 25 de maio de 2010

SOCIEDADE PORTUGUESA DE ESCRITORES (07)

Aproveitando aquela floresta de enganos que ficou conhecida na história como “primavera marcelista”, Urbano Tavares Rodrigues escreveu no “República” de 28 de Outubro de 1968, um artigo em que falava da “urgente necessidade do restabelecimento da Sociedade Portuguesa de Escritores.”

O apelo teve eco e os escritores mobilizaram-se para que voltassem a ter uma casa que os representasse.

A 13 de Março de 1970 o “Diário De Lisboa” noticiava:

“Cerca de 125 escritores presentes (ou representados) numa reunião, ontem à noite, realizada na Casa do Alentejo, aprovaram unanimemente, na generalidade, o projecto de estatutos da Associação de Escritores Portugueses (ou Associação Portuguesa de Escritores: a escolha ficou deferida para final). “

Em 28 de Setembro de 1972 o “República” noticiava:

“A novel Associação Portuguesa de Escritores, cuja criação foi agora autorizada por despacho do Ministro da Educação Nacional, nasce ao fim de três anos de esforços e cerca de treze meses volvidos sobre a Assembleia-geral que determinou a sua formação. Nos fins prosseguidos sucede à Sociedade Portuguesa de Escritores, dissolvida em 1965”O escritor Manuel Ferreira diria:
“Foi ganha a penas a primeira batalha”.Na tarde de 13 de Abril de 1973, no 13º Cartório Notarial de Lisboa, à Rua das Portas de Santo Antão, quinze sócios oficializaram a fundação da Associação Portuguesa de Escritores.

A 7 de Junho desse mesmo ano, eram eleitos os primeiros corpos gerentes da Associação Portuguesa de Escritores.

Direcção:
Presidente: José Gomes Ferreira
Vice-Presidente: Manuel Ferreira
Vogais: Casimiro de Brito, José Saramago, Maria Velho da Costa, Pedro Tamen e Rogério Fernandes
Suplentes
Álvaro Guerra, António Modesto Navarro, Gastão Cruz, Isabel da Nóbrega, Maria Alberta Meneres, Maria Amélia Neto e Nuno Júdice
Assembleia-geral
Presidente: Sophia de Mello Breyner Andresen
Vice-Presidente: Alexandre Babo
Vogais: E.M. de Melo e Castro e Fernando Assis Pacheco
Suplentes: Eduardo Prado Coelho e Maria Isabel Barreno
Conselho Fiscal
Presidente: Faure da Rosa
Vogais: João Rui de Sousa e Mário Ventura
Suplentes: Armando da Silva Carvalho e Vasco Miranda

A 14 de Junho de 1973, em cerimónia realizada na Casa da Imprensa, tomavam posse, para o triénio 1973-1975, os Corpos Gerentes da Associação Portuguesa de Escritores.

“Devo declarar que considero a aceitação do cargo em que fui agora empossado o primeiro acto verdadeiramente poético da minha vida.”, disse José Gomes Ferreira no seu discurso de tomada de posse.

Só um poeta ousaria ser presidente de uma associação sem sede, sem dinheiro, sem nada.
A sede da Associação situou-se na Rua do Loreto, num 2º andar, bem por cima do velho piolho que toda a Lisboa conhecia: o "Loreto"

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

POSTAIS SEM SELO



Aperta a mão do mar,
Diz-lhe bom dia. Ele dirá maresia.

Pedro Tamen