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quinta-feira, 14 de setembro de 2023

O OUTRO LADO DAS CAPAS


Continuamos a olhar alguns dos livros da Biblioteca da Casa que vieram da casa do meu pai.

Este é mais um volume da excelente Biblioteca Cosmos, dirigida pelo Professor Bento de Jesus Caraça.

Rómulo de Carvalho nas suas Memórias:

Escrevi dois volumes segundo este projecto, um intitulado “ A Ciência Hermética” e outro “O Embalsamento Egípcio”, e ambos foram publicados numa colecção famosa designada Biblioteca Cosmos, editada em Lisboa, e na qual saíram mais de 100 volumes, talvez 150.

O director da Biblioteca Cosmos era um professor da Universidade Técuica, ainda hoje muitas vezes recordado pela sua competência no ramo da Matemática. Chamava-se Bento de Jesus Caraça e conheci-o pessoalmente. A sua memória ao ser acordada no tempo presente, como às vezes sucede, não se prende ao seu saber, o que só por si o justificaria, mas à sua resistência à ditadura salazarista que nunca perdoou a ninguém que se lhe pusesse. Esteve preso, foi afastado da sua profissão, sofreu bastante e não resistiu aos sofrimentos. Tinha apenas mais quatro ou cinco anos do que eu e já morreu há mais de quarenta anos.

Das vezes que falei com ele recebeu-me sempre de modo muito correcto, com certa distância natural. Recordo um pormenor curioso. Bento Caraça era director de uma Gazeta de Matemática, análoga aos objectivos à minha Gazeta da Física, e até na tipografia daquela que esta se compunha e imprimia. Eram irmãs gémeas. Certo dia fui procurar o professor Caraça para saber da aceitação que tivera um artigo meu que lhe enviara para publicação na dita Gazeta de matemática. Ele já o tinha lido, e gostara. Ia publicá-lo, mas… Ele estava sentado à secretária, sério, compenetrado da sua função de director, e eu sentado defronte como penitente. O meu artigo versava as íntimas relações entre a Matemática e a Física e punha em relevo a importância dessas relações ao nível do ensino liceal. Intitulei-o “A Física filha directa da Matemática”. Era esta a razão do mas… O título não lhe agradou. Bento Caraça procurou fazer-me compreender que a dignidade e a gravidade da Ciência não permitiam a leveza daquelas palavras, parece que pouco virtuosas. Ele era um homem progressista, aberto às transformações sociais, revolucionário, mas há coisas sagradas. Visto isso mudei o título para “Sobre a correlação entre a Matemática e a Física no ensino liceal.”. Veio no nº 31, de Fevereiro de 1947. Ele morreu no ano seguinte, e eu ainda cá estou a apreciá-lo nas suas forças e nas suas fraquezas.

 Rómulo de Carvalho em Memórias

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O Príncipe

Maquiavel

Tradução: Berta Mendes

Prefácio e Notas: Manuel Mendes

Biblioteca Cosmos - Artes e Letras – nº 19/20

Editora Cosmos, Lisboa, Agosto de 1945

Sem dúvida que é muito louvável que um príncipe seja fiel aos seus compromissos, e que pratique, não os ardis e a astúcia da política, mas que mantenha uma atitude de lealdade. No entanto, a experiência do nosso tempo mostra-nos alguns príncipes que não se preocuparam com os seus compromissos, e que realizaram uma grande obra, tendo-se entregue mais às manobras de espírito dos homens, do que a outra coisa, e que acabaram por vencer os que haviam tomado a lealdade como base de todas as suas acções.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

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 Na Biblioteca do meu Pai não existia nenhuma Enciclopédia.

Também nunca adquiri nenhuma.

Mas existia uma série de volumes de Cadernos e Colecções que abrangiam uma série de gente qualificada a escrever sobre  autores e assuntos diversos.

Muitos desses volumes pertenciam à Biblioteca Cosmos que foi um projecto excepcional criado e orientado por Bento de Jesus Caraça.

Rómulode Carvalho, mais conhecido como o poeta António Gedeão, conta nas suas Memórias que colaborou com obras suas nesta excelente Biblioteca Cosmos.

Publicarei nos próximos dias outros volumes (Cadernos da Seara Nova, Cadernos da Editorial Inquérito) que me ajudaram na formação de um certo sentido de Cultura Geral que, possivelmente, qualquer enciclopédia não daria.

Ramiro da Fonseca, médico e escritor, manteve, nos anos 70, na RTP o programa «Vida Sã em Corpo São».  

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 A Reprodução Nas Plantas, Nos Animais E No Homem

Ramiro da Fonseca

Biblioteca Cosmos nº 106/107

Edições Cosmos, Lisboa, Maio de 1946

A primeira e fundamental noção que temos de ter presente e da constituição celular de todos os seres vivos. Todos os seres vivos (à parte algumas excepções, de resto discutíveis) são constituídos por elementos morfológica e funcionalmente independentes e funcionalmente independentes, denominados células. 

terça-feira, 29 de agosto de 2017

BIBLIOTECA COSMOS


Escrevi dois volumes segundo este projecto, um intitulado “ A Ciência Hermética” e outro “O Embalsamento Egípcio”, e ambos foram publicados numa colecção famosa designada Biblioteca Cosmos, editada em Lisboa, e na qual saíram mais de 100 volumes, talvez 150.
O director da Biblioteca Cosmos era um professor da Universidade Técuica, ainda hoje muitas vezes recordado pela sua competência no ramo da Matemática. Chamava-se Bento de Jesus Caraça e conheci-o pessoalmente. A sua memória ao ser acordada no tempo presente, como às vezes sucede, não se prende ao seu saber, o que só por si o justificaria, mas à sua resistência à ditadura salazarista que nunca perdoou a ninguém que se lhe pusesse. Esteve preso, foi afastado da sua profissão, sofreu bastante e não resistiu aos sofrimentos. Tinha apenas mais quatro ou cinco anos do que eu e já morreu há mais de quarenta anos.
Das vezes que falei com ele recebeu-me sempre de modo muito correcto, com certa distância natural. Recordo um pormenor curioso. Bento Caraça era director de uma Gazeta de Matemática, análoga aos objectivos à minha Gazeta da Física, e até na tipografia daquela que esta se compunha e imprimia. Eram irmãs gémeas. Certo dia fui procurar o professor Caraça para saber da aceitação que tivera um artigo meu que lhe enviara para publicação na dita Gazeta de matemática. Ele já o tinha lido, e gostara. Ia publicá-lo, mas… Ele estava sentado à secretária, sério, compenetrado da sua função de director, e eu sentado defronte como penitente. O meu artigo versava as íntimas relações entre a Matemática e a Física e punha em relevo a importância dessas relações ao nível do ensino liceal. Intitulei-o “A Física filha directa da Matemática”. Era esta a razão do mas… O título não lhe agradou. Bento Caraça procurou fazer-me compreender que a dignidade e a gravidade da Ciência não permitiam a leveza daquelas palavras, parece que pouco virtuosas. Ele era um homem progressista, aberto às transformações sociais, revolucionário, mas há coisas sagradas. Visto isso mudei o título para “Sobre a correlação entre a Matemática e a Física no ensino liceal.”. Veio no nº 31, de Fevereiro de 1947. Ele morreu no ano seguinte, e eu ainda cá estou a apreciá-lo nas suas forças e nas suas fraquezas.

Rómulo de Carvalho em Memórias

domingo, 11 de dezembro de 2016

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O Elogio da Loucura

Erasmo de Roterdão
Tradução: Berta Mendes
Prefácio e Notas: Manuel Mendes
Ilustrações: Holbein
Colecção Cosmos nº 80/81
Cosmos, Lisboa, Março de 1945

Na realidade, que é a vida?, se lhe tirardes os prazeres? Merece, então, o nome de vida? Aplaudi-me, meus amigos. Ah! eu sabia que éreis demasiadamente loucos, isto é, demasiadamente sábios, para não serdes da minha opinião… Os próprios estóicos amam o prazer; não o saberiam odiar. Bem dissimulam, bem tentam difamar a volúpia aos olhos do vulgo, cobrindo-a das injúrias mais atrozes, mas isso não passa de simples esgares, pois tratam de afastar os outros, para eles próprios a poderem gozar com maior liberdade. Mas, em nom de todos os deuses, dizei-me, então, qual é o instante da vida que não é triste, aborrecido, enfadonho, insípido, insuportável, se não for misturado com o prazer, isto é, com a loucura. Podia contentar-me com o testemunho de Sófocles, esse grande poeta, jamais suficientemente louvado, e que de mim fez um tão belo elogio, quando disse: A vida mais agradável é a que se vive sem espécie alguma de prudência.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

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Dicionário de Música (Ilustrado)

Tomás Borba e Fernando Lopes Graça
Capa: Martins Correia
Edições Cosmos, Lisboa, Dezembro de 1962

Alguns anos antes da sua morte, por volta de 1945, confiara-nos o Padre Tomás Borba, nosso antigo e respeitado professor no Conservatório, que com a sua amizade nos distinguia, o grosso volume dactilografado do seu último trabalho musicológico, o Dicionário de Música, para o qual ainda não havia encontrado editor. Convictos tratar-se de uma obra a todos os títulos notável, que à nossa parca cultura musicológica trazia uma contribuição valiosa, chamámos para ela a atenção de Bento Jesus Caraça, que a morte havia tão prematuramente de roubar tempos depois ao convívio dos seus amigos e à vida intelectual do País, procurando interessá-lo, como director da «Biblioteca Cosmos», na sua publicação.
O espírito largo e generosos de bento Jesus Caraça, de quem o próprio Padre Borba nos dizia que era «um homem de grande valor», imediatamente se interessou de facto pelo caso, começando a estudar connosco, e com o assentimento do Autor, a possibilidade de dar realização à obra.
Considerando que o trabalho original era apenas de índole técnica e histórica e que, para melhor êxito junto do público, conviria ampliá-lo com matéria biográfica, expusemos esta ideia ao Padre Borba, que com ela concordou, alegando, porém, estar já por de mais avançado em anos para poder ele mesmo proceder à de certo modo pesada tarefa dos complementos biográficos; e propôs-nos, num gesto de amizade e confiança que muito nos penhorou, nos encarregássemos nós dessa parte do Dicionário. Por seu turno Bento Caraça aceitou amàvelmente a sugestão, e assim se assentou em que a obra fosse um trabalho de colaboração.

(Do prefácio de Fernando Lopes Graça)