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domingo, 2 de abril de 2017

OLHAR AS CAPAS


Os Armários Vazios

Maria Judite de Carvalho
Capa: João da Câmara Leme
Colecção Contemporânea nº 83
Portugália Editora, Lisboa, Abril de 1966

Foi um dia de primavera que começou e acabou como todos os outros, pelo menos aparentemente, diria ela, ou melhor, era natural que o pensasse; nunca foi pessoa de muitas falas. Dizia o necessário, mas reduzido ao mínimo indispensável, ou então um necessário que depressa se cansava, se detinha a meio caminho, como se ele se desse subitamente conta de que não valia a pena prosseguir, porque isso era um esforço inútil. Ficava então quieta, sem gestos, hesitante à beira das reticências como alguém à beira de água de inverno, e nesses momentos o seu olhar perdia todo o brilho, era como se um mata-borrão o houvesse absorvido, talvez ainda seja assim, não se, nunca mais a vi. Durante muito tempo não consegui compreender que esses desmaios, porque o eram, a conduziam invariavelmente ao mesmo lugar, ou melhor, à mesma pessoa, à mesma imagem danificada de pessoa, porque, como já disse, não era mulher que se confessasse. As palavras não lhe serviam para explicar o seu pensamento perfeiçoando-o ou disfarçando-o, como é mais ou menos hábito de toda a gente.

quarta-feira, 15 de março de 2017

OLHAR AS CAPAS


Este Tempo

Maria Judite de Carvalho
Antologia organizada e prefaciada por Ruth Navas e José Manuel Esteves
Capa: Luís Silva
Editorial Caminho, Março de 1991

Cuidado com o álcool, com o tabaco. Muita a tenção ao stress. Sejamos cautelosos na estrada. Vigiemos o colesterol. É aconselhável fazer de vez em quando um check-up. Não nos deixemos engordar. Os alimentos devem ser criteriosamente escolhidos. As gorduras, os açúcares, o sal, o excesso de peso são um perigo para a saúde. O cancro do pulmão espreita-nos, E as doenças do coração. E as circulatórias. E a cirrose. Estejamos atentos. Se nenhum destes males, tão ameaçadores, nos levar, se conseguirmos escapar a todos eles, talvez sejamos eternos. Ou, pelo menos, talvez possamos receber condignamente, cheios de saúde e amor à vida, as bombas atómica ou de neutrões que, com tanto esforço e dinheiro, são construídas e aperfeiçoadas em nossa intenção. E recebê-las em bom estado físico é o menos que podemos fazer para corresponder a tanta dedicação do homem pelo homem.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

OLHAR AS CAPAS


Tanta Gente, Mariana

Maria Judite de Carvalho
Capa: Rui Belo
Colecção BIS
Leya, Lisboa, Janeiro de 2011

Todos estamos sozinhos, Mariana; Sozinhos e muita gente à nossa volta. Tanta gente, Mariana! E ninguém vai fazer nada por nós. Ninguém pode. Ninguém queria, se pudesse. Nem uma esperança.