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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

NÃO IMITA NINGUÉM


Fiel a si mesma, quando lhe perguntavam qual fora o elogio mais importante que recebera, Carmen preferia citar de cor o que sobre ela escrevera um crítico de rádio quando tinha ainda 14 anos: “ Carmen Dolores é uma menina que recita às quarta-feiras. Não imita ninguém. É ela.”

Do jornal Público

Colaboração de Aida Santos

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

COMPROMISSO CÍVICO

Da sua brilhante carreira cada um recordará momentos e passos (conformes à sua idade e experiência) desta extraordinária actriz e desta voz sublime que nos fez tanta companhia. Mas eu recordo sobretudo a magnifica mas reprimida aventura do Teatro Moderno de Lisboa e aquela palestra que, em meados dos anos 6o, a Secção Cultural da União Desportiva Vilafranquense organizou sobre a obra de José Gomes Ferreira em que leu poemas ao lado do Fernando Assis Pacheco. Apenas duas coisas que também dizem muito sobre o sólido compromisso cívico desta mulher que agora nos deixou.

Vitor Dias em O Tempo das Cerejas

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

CARMEN DOLORES (1924-2021)


Morreu CarmenDolores.

A beleza de uma mulher, a excelência de uma actriz.

Carmen Dolores, juntamente com Fernando Gusmão, Armando Cortez, Rogério Paulo e Armando Caldas, criaram o Teatro Moderno de Lisboa, um projecto que visava ser uma reacção contra as características puramente comerciais do teatro que então se representava no nosso país e constituiu um dos mais inovadores, estimulantes e importantes projectos teatrais, responsável pela formação de um novo público e de um novo gosto teatral, em tempos muito difíceis.
O Teatro Moderno de Lisboa estreou em 13 de Novembro de 1961, com a peça de Carlos Muñiz “O Tinteiro”, encenação de Rogério Paulo, peça que em Abril de 1962 representou Portugal no Festival Internacional de Le Theatre de Lutece em Paris.

Dados os compromissos da exploração do Cinema Império, ao Teatro Moderno de Lisboa, apenas foi possível reservar uma sessão à tarde, pelas 18,30 horas, às segundas, terças, quintas e sextas e uma sessão de manhã, aos domingos.

No dia da morte de Carmen Dolores, recorda-se um  seu Postal Sem Vista: sua afirmação, colocada num Postal Sem Vista:

Os meus mortos não vivem em mim como mortos, mas como aquilo que foram em vida. Esta é uma maneira saudável de estar com eles e de falar deles, enquanto não os volto a encontrar.

sábado, 1 de outubro de 2016

PANCADAS DE MOLIÉRE


A demolição do Cine-Teatro Monumental, a ocupação do Cinema Império por  uma seita, dita religiosa, são dois crimes que marcam a vida de Lisboa.

O CinemaImpério tinha uma capacidade para 908 espectadores na plateia e 1418 espectadores nos seus dois balcões.

A sala do Estúdio tinha uma capacidade para 250 espectadores.

Para além das fitas e espectáculos de music-hall, Cliff Richard e os Shadows por ali actuaram, e não só, de 1961 a 1965 albergou uma das mais importantes experiências teatrais de antes do 25 de Abril : o Teatro Moderno de Lisboa, fundado por um grupo de actores de que faziam parte Carmen Dolores, Fernando Gusmão e Rogério Paulo.

O Teatro Moderno de Lisboa estreou em 13 de Novembro de 1961, com a peça de Carlos Muñiz “O Tinteiro”, encenação de Rogério Paulo, peça que em Abril de 1962 representou Portugal no Festival Internacional de Le Theatre de Lutece em Paris.

Dada a programação cinematográfica do Império, apenas foi possível enconrtar disponíveis as sessões das 18,30 horas às segundas, terças, quintas e sextas, para além de uma sessão nas manhãs de domingo.


Segundo José Carlos Alvarez de José Carlos Alvarez, o Teatro Moderno de Lisboa, foi responsável pela formação de um novo público e de um novo gosto teatral, num tempo de grande agitação social e política.

Por motivos referidos na História Breve do Teatro Moderno de Lisboa, atrás reproduzida, os seus responsáveis resolveram interromper a actividade da companhia na época de 1963-64.

Receou-se que seria o fim do Teatro Moderno de Lisboa mas, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, ainda houve a possibilidade de fazerem a temporada de 1964-65, em que tiveram a oportunidade de representar O Render dos Heróis, peça de José Cardoso Pires.

Reproduz-se a seguir um texto de João Antunes Tunes, que deveria ser publicado no Diário de Lisboa-Juvenil caso a Comissão de Censura salazarista não lhe tivesse colocado a indicação de CORTADO.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

POSTAIS SEM SELO


Os meus mortos não vivem em mim como mortos, mas como aquilo que foram em vida. Esta é uma maneira saudável de estar com eles e de falar deles, enquanto não os volto a encontrar.


Legenda: pintura de Henri Matisse

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


Aqui era o Cinema “Rex”, um dos cinemas da minha adolescência.

Em 1967 deixou de ser cinema, foi adquirido por Vasco Morgado e, com inauguração em 28 de Dezembro de 1968 passou a ser o “Teatro Laura Alves”.

Como Teatro encerrou portas nos finais dos anos 80 e, mais tarde, virou superfície comercial, já tendo sido loja de louças, é hoje uma casa de hóspedes, na parte de baixo uma frutaria, dirigida por chineses.

São boas as memórias que guardo do “Rex”.

O pai do Arouca, um rapaz da minha rua, era projeccionista no “Rex” e, volta e meia tínhamos umas borlas.

Foi no “Rex” que, pelo Carnaval de 1966, vimos "Mocidade em Férias"com o Cliff Richard, que é um dos filmes da vida da Aida.

Do “Rex” guardo uma das mais bonitas memórias enquanto jovem, muito jovem, espectador de cinema.




 Naqueles tempos não éramos selectivos, não se consultava o jornal para saber o que ia nos cinemas, punham-se pés ao caminho, e o que viesse à rede era peixe, mas a quase certeza é que um dos filmes era uma “cowboyada”.

Foi numa dessas tardes de domingo que vi um filme, e eu não sei explicar isto muito bem, que me cativou de um modo que não mais esqueci.

Um filme que, curiosamente, nunca mais vi em sala de cinema, apenas numa cassette de vídeo, pertença do Luis Miguel Mira mas que, por um problema de “timing” de gravação, não se encontra completo.

O filme em inglês chama-se “O. Henry's Full House” e reúne a adaptação de cinco contos de O’Henry realizados, em 1952, por Henry Hathaway, Howard Hawks, Henry King, Henry Koster, Jean Negulesco.

Curtas histórias do quotidiano com finais surpreendentes.

Fiquei preso àquele filme e dele sempre me ficou uma grande ternura, que demonstra a força que o cinema possui: aos 12/13 anos o cinema chocalha a cabeça de um puto.

O nome de O’ Henry não me era completamente estranho.


Conhecia-o de nome, porque de quatro em quatro meses, tinha a tarefa de passar um pano do pó pelos livros da biblioteca da casa, e um livro de bolso, com os contos do O’Henry, em inglês, passava-me pelas mãos.

De O’ Henry apenas li alguns contos avulso, inevitavelmente o “O Presente dos Reis Magos” que exemplifica que o Natal será sempre o encanto e a ternura da impossibilidade, ela vendeu o lindo e comprido cabelo para lhe comprar uma corrente, de que ele tanto gostava; ele empenhara o relógio para lhe comprar as travessas, de que ela tanto gostava, para por no cabelo.

O filme contém "A Cop &The Anthem" , interpretado por Charles Laughton, no papel de um vagabundo que, para ter cama e comida na noite de Natal, tudo faz para ser preso.

Numa das tentativas, aproxima-se de uma gentil dama, provoca-a para que, um policia que olha a cena, o prenda, mas a dama era uma prostituta em busca do seu negócio.

É o episódio, realizado por Henry Koster, em que por, brevíssimos instantes, Marilyn Monroe numa deslumbrante aparição, faz o papel da prostituta, e eu, juro-vos que naquele tempo não sabia quem era a Marilyn Monroe.



No “Teatro Laura Alves” representaram-se peças, entre outros, de Bernardo Snatareno e Alves Redol, por lá também andou a Companhia de Rafael de Oliveira.

Nos últimos anos de existência, apresentou teatro de revista, e foi aqui que Ivone Silva, em 1987, na revista “Cá Estão Eles”, representou pela última vez

Quase toda uma vida, Alves Redol lutou para que a sua peça, “ A Forja” visse as tábuas de um palco.
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Depois de algumas cedências, Marcelo Caetano, permitiu que a peça fosse representada, o que acontecer a 6 de Dezembro de 1969, vinte anos depois de ter sido escrita, numa encenação de Jorge Listopad, interpretações de Carmen Dolores, Jacinto Ramos, Sinde Filipe, António Montez, Manuela de Freitas.

Alves Redol não chegou a ver a sua peça representada.

A morte levou-o uma semana antes.