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sexta-feira, 13 de maio de 2022

NÚMERO 13


No livro Imagensde Pensamento de Walter Benjamim, o primeiro capítulo chama-se: Rua de Sentido Único. O autor explica: «Esta rua chama-se Rua Asja Lacis em homenagem àquela que como um engenheiro a abriu no corpo do autor deste livro».

Número 13 é um sub-capítulo da obra. Não sabemos se foi escrito numa sexta-feira. A de hoje é. Pelo que segundo bruxarias várias não se deve sentar a uma mesa com 13 pessoas, não passar por baixo de um escadote, não passar junto a gatos pretos, não partir espelhos, não abrir chapéus-de-chuva em casa, não varrer os pés de uma pessoa, não colocar a mala no chão, não acender velas vermelhas.

 Há mais, mas estas já dão para exemplo do que não deve fazer.

NÚMERO 13

I. Os livros e as prostitutas podem levar-se para a cama.
II. Os livros e as prostitutas entretecem o tempo. Dominam a noite como o dia e o dia como a noite.
III. Olhando os livros e as prostitutas não nos apercebemos de como cada minuto lhes é precioso. Mas quando lidamos com eles mais de perto, começamos por notar como têm pressa. Contam o tempo à medida que nos afundamos neles.
IV. Os livros e as prostitutas sempre tiveram um amor infeliz um pelo outro.
V. Livros e prostitutas: ambos têm aquela espécie de homens que vivem deles e os maltratam. No caso dos livros, os críticos.
VI. Livros e prostitutas em casas públicas – para estudantes.
VII. Livros e prostitutas – raramente aquele que os possui assiste ao seu fim. Costumam desaparecer da nossas vista antes de se apegarem.
VIII. Os livros e as prostitutas contam com o mesmo agrado e a mesma hipocrisia a história de como se tornaram no que são. Na verdade, frequentemente nem eles próprios dão por isso. Anda uma pessoa anos a fio correndo atrás de tudo «por amor», e um belo dia vemos no engate de rua, com um corpus bem nutrido de carnes, aquilo que, «por razões de estudo», sempre pairou acima dele.
IX. Os livros e as prostitutas gostam de mostrar a lombada, de nos voltar as costas quando se expõem.
X. Livros e prostitutas têm muitas crias.
XI. Livros e prostitutas – «velha beata – jovem puta». Quantos livros, daqueles pelos quais a juventude hoje aprende, não foram difamados!
XII. Os livros e prostitutas têm as suas zangas diante de toda a gente.
XIII. Livros e prostitutas – as notas de rodapé estão para aqueles como as notas de banco na meia para estas. 

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

A CHAMA DOS QUE SE AFASTAM

Como é fácil amar aqueles que se despedem! É que a chama que arde pelos que se afastam é mais pura, alimentada pelo fugidio lenço que nos acena do navio ou da janela do comboio. A distância penetra como uma tinta naquele que desaparece e repassa-o de um fogo suave.

Walter Benjamim em Imagens de Pensamento

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

POSTAIS SEM SELO


O olhar é a última gota do ser humano.

Walter Benjamim em Imagens de Pensamento

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

POSTAIS SEM SELO


Ser feliz é poder tomar consciência de si sem apanhar um susto.

Walter Benjamim em Imagens de Pensamento

Legenda: imagem de Karine Côlé-Andreeti

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

POSTAIS SEM SELO


Quem não souber tomar partido que fique calado.

Walter Benjamin em Imagens de Pensamento

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

OLHAR AS CAPAS


Imagens de Pensamento

Walter Benjamin
Edição e tradução de João Barrento
Assírio &Alvim, Lisboa, Novembro de 2004

Nem todos os livros se lêem do mesmo modo. Os romances, por exemplo, existem para serem devorados. Lê-los é uma volúpia da assimilação. Não se trata de empatia. O leitor não se coloca no lugar do herói, mas assimila o que lhe acontece. O relato vivo disso é a forma de apresentação apetitosa que traz à mesa um prato suculento. É certo que também há alimentos crus da experiência – tal como há alimentos crus para o estômago -, concretamente as experiências que nos passam pela própria pele. Mas a arte do romance, como a arte da cozinha, só começa para lá dos alimentos crus. E quantas substâncias suculentas não existem que são intragáveis em estado cru! E quantas experiências que são aconselháveis em estado de leitura, mas não de vivência! Fazem proveito a muito boa gente que morreria se passasse por elas in natura. Em suma: se existe uma musa do romance – a décima -, o seu emblema é a o da fada da cozinha. Tira o mundo do seu estado cru, para lhe preparar pratos comestíveis e extrair dele o seu gosto. Se tiver de ser, pode ler-se o jornal à refeição. Mas nunca um romance. São tarefas necessárias, mas que entram em conflito.

domingo, 27 de setembro de 2015

O QUE VIEMOS AQUI FAZER?


Estacionas o carro em frente à praia:
- O que viemos aqui fazer?
- Visitar um morto.
Walter Benjamim chegou a Portbou no dia 26 de Setembro de 1940, depois de atravessar os Pirinéus a pé, fugindo aos nazis. Queria alcançar a América, onde ia trabalhar como investigador, mas a polícia espanhola não o deixou passar, deu-lhe apenas uma noite de o recambiar como judeu. Benjamim estava doente, sozinho e perdera tudo. Alojou-se numa pensão que já não existe. Tomou uma sobredose de morfina. Na manhã seguinte foi encontrado morto.

Alexandra Lucas Coelho em E a Noite Roda 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

POSTAIS SEM SELO


A primeira experiência que a criança tem do mundo não é a de que os adultos são mais fortes, mas de que eles nunca poderão ser mágicos.

Walter Benjamin

sexta-feira, 29 de junho de 2012

QUOTIDIANOS


Apenas dizem o essencial.
Nunca falam sem pensar e, sabe-se então, que poupar as palavras é sábia filosofia.
Esta poderia ser uma velha história passada com alentejanos, que as há semelhantes.
Mas não.
Esta é contada por Walter Benjamim, no preâmbulo do livro de Robert Walser , Gata Borralheira; Branca de Neve; A Bela Adormecida e que, com toda a certeza, nem sabia onde ficava o Alentejo.

Um dia Arnold Bocklin, seu filho Carlo e Gottfried Keller estavam na taberna, como habitualmente. As suas libações eram conhecidas desde longa data pelo carácter fechado e taciturno dos convivas: uma vez mais encontravam-se calados. Após um longo momento o jovem Bocklin observou: “Está calor”, e um quarto de hora depois, o velho: “Há falta de ar.” Keller, pelo seu lado, esperou um momento; a seguir levantou-se, proferindo as seguintes palavras: “Não quero beber com gente tão palradora.