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segunda-feira, 6 de novembro de 2023

OLHAR AS CAPAS

Silêncio para 4

Ruben A.

Círculo de Prosa nº 4

Moraes Editores, Lisboa, Julho de 1973

- Achas que sou uma pessoa difícil? Diz lá, agora que falamos de tudo, que estamos a falar pela primeira vez.

- O quê? Pela primeira vez? E o que temos estado a falar este tempo todod, o que temos dito um ao outro durante estes anos? O que é isso? É amor!

- Acreditas que é amor? Forma cómoda.

- Amor é a possibilidade de duas pessoas não se aborrecerem uma à outra.

- Só isso?

- Pouco mais.

- É a impossibilidade de uma pessoa viver sem a outra, a força que leva, conduz a outra pessoa, isso é amor. Percebes? Aborrecimento nada tem que ver. Amor está muito longe dessa receita que tu deste agora, é muito mais fundo…

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

SALAZAR CRÍTICO LITERÁRIO



 

De Salazar talvez se possa dizer que sabia de finanças, mas não tinha biblioteca.

Lia uns livros avulso que os ministros lhe levavam quando iam a despacho, passava os olhos pelo Diário de Notícias.

Mas segundo li no JL, deu-se ao cuidado de tecer algo sobre um livro de Ruben A.

«Caiu-me ontem debaixo dos olhos um livro, Páginas II, de Ruben A., que me dizem ser leitor de Português em Londres, escolhido portanto ou patrocinado pelo Instituto de Alta Cultura. Pertence a uma boa família do Porto – Andresen, creio. O livro, ou é de um louco ou de um sujeito que, tendo dinheiro para pagar um livro de dislates, se propôs rir-se de todos nós. Há páginas inteiras completamente ininteligíveis e irredutíveis na análise das regras da gramática portuguesa, recheadas de termos de invenção do Autor e formadas sem tom nem som. Explora-se o reles, o ordinário, o palavreado porco, não só da língua literária, mas do falar corrente.

As porcarias, obscenidades, palavrões juncam o livro. Em certas passagens é chocarreiramente desabrido com os ingleses. Parece-me que o livro pertence a uma onda modernista, e não é um caso para a Censura e para a polícia de costumes. Mas se o autor é leitor em Londres, temos nós de ver o que escreve e como escreve. Em conclusão: o Autor não pode representar Portugal nem ensinar português. Esse é que é o ponto essencial a tratar com o Instituto de Alta Cultura. E já não falo de certas morais ou sexuais do livro se vê que o Autor deve pertencer aí a um círculo de pessoas que a polícia persegue.»

domingo, 31 de maio de 2020

OLHAR AS CAPAS


Capa do JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias nº 1295
De 20 de Maio 2 de Junho de 2020

Neste número do JL, destaque para o centenário de Ruben A. com artigos de Fernando Pinto do Amaral, Dália Dias, Clara Rocha, Guilherme d’Oliveira Martins, três cartas inéditas de Rubea A., uma de Eduardo Lourenço e outra de Sophia Mello Breyner Andresen, que é um poema sobre a sua morte:

Carta a Ruben A.

Que tenhas morrido é ainda uma notícia
Desencontrada e longínqua e não a entendo bem
Quando - pela primeira vez - bateste à porta da casa e te sentaste à mesa

Trazias contigo como sempre alvoroço e início
Tudo se passou em plenos e projectos
E ninguém poderia pensar em despedida

Mas sempre trouxeste contigo o desconexo
De um viver que nos funda e nos renega
- Poderei procurar o reencontro verso a verso
E buscar - como oferta - a infância antiga

A casa enorme vermelha e desmedida
Com seus átrios de pasmo e ressonância
O mundo dos adultos nos cercava
E dos jardins subia a transbordância
De rododendros dálias e camélias
De frutos roseirais musgos e tílias

As tílias eram como catedrais
Percorridas por brisas vagabundas
As rosas eram vermelhas e profundas
E o mar quebrava ao longe entre os pinhais

Morangos e muguet e cerejeiras
Enormes ramos batendo nas janelas
Havia o vaguear tardes inteiras
E a mão roçando pelas folhas de heras

Havia o ar brilhante e perfumado
Saturado de apelos e de esperas
Desgarrada era a voz das primaveras

Buscarei como oferta a infância antiga
Que mesmo tão distante e tão perdida
Guarda em si a semente que renasce.


Sophia de Mello Breyner Andresen em O Nome das Coisas

sábado, 23 de maio de 2020

ETECETERA


Encontrei estes dois pedacinhos de jornais, um do Público com a  data de 16 de Fevereiro deste ano, outro do Expresso de que não tenho indicação da data de publicação, mas a afirmação de Ana Gomes foi feita à margem da 3ª Conferência sobre Transparência, Corrupção, Boa Governação e Cidadania em Angola, que se realizou em Novembro de 2019, ainda Ana Gomes era eurodeputada.

Não sei quem Alberto João Jardim difamou.

O espírito trauliteiro do ex-autarca deixou imensas imagens de marca.

O que chama a atenção neste título é alguém neste país estar há 26 anos a entupir a Justiça com uma série de habilidades, todas elas, presumo, dentro da lei.

De recurso em recurso o habilidoso madeirense aposta na prescrição.

Chamem-lhe democracia, chamem-lhe justiça portuguesa, chamem-lhe o que quiserem, dêem as voltas que queiram dar, mas isto só tem uma classificação: VERGONHA!


VERGONHA é também, segundo Ana Gomes, não se perceber – porque Ricardo Salgado não está preso e nem sequer sabermos quando começará a ser julgado, se é que isso acontecerá.

Dizem que a justiça tem que seguir os seus caminhos, mas são tão pequeninos os passos que dá!...

1.

Holanda, Áustria, Suécia e Dinamarca reiteram a oposição a "qualquer mutualização de dívida ou aumento significativo do orçamento comunitário". Em suma: recusam o recente plano Merkel/Macron. Alternativa proposta é um veículo de empréstimos e isso da solidariedade europeia é uma miragem cada vez mais longínqua, ou impossível, mesmo.

2.

O mundo não é apenas a tragédia do Corvid-19, as trumpalhadas, as bolsonarices, a recessão que se aproxima a passos larguíssimos.

Pequim irá ter eleições em Setembro, Hong Kong prossegue com as vagas de contestação, o regime chinês decidiu esta semana endurecer as suas leis e avançou com uma lei, que contorna a assembleia legislativa de Hong Kong, e proíbe actos secessionistas, interferência externa e terrorismo. Desde Pequim, Xi Jinping assume o total controlo da situação.

Os tempos não vão ser fáceis na antiga colónia britânica. Martin Lee, fundador do
Partido Democrático de Hong Kong disse: «Estou preparado para morrer, mas nunca me renderei!»

3.

Quase três meses depois, as feiras da Ladra, do Relógio e das Galinheiras vão retomar o seu funcionamento, com um conjunto de novas regras e medidas de segurança para feirantes e clientes, determinou a Câmara Municipal de Lisboa, na sequência da resolução do Conselho de Ministros.

O regresso implica o uso de máscara, distanciamento social e etiqueta respiratória. 


 4.

No dia 26 de Maio assinala-se o centenário do nascimento de Ruben Andresen Leitão, que ficou conhecido como Ruben A.

Ficcionista, dramaturgo, historiador, crítico literário e divulgador cultural, assim dele disse Liberto Cruz.

Reparo que, tendo livros de Ruben A. aqui pela casa, apenas Olhei a Capa do 1º volume de O Mundo à Minha Procura.

Lembro-me que foi uma birra parva. Todas as birras o são.

Comprara os 3 volumes de O Mundo à Minha Procura. Não sei por que artes (não) mágicas o 3º volume desapareceu pelo que coloquei os livros do Ruben A. em tempo de espera, tão de espera, que me esqueci deles.

O facto é que esse volume nunca apareceu.

Agora que a obra de Ruben A. vai ser reeditada, terei que o comprar.

Entretanto darei andamento aos outros livros do autor e (re)começarei  com a Torre da Barbela, um livro delicioso, fantástico, visão pessoal de Ruben A. da evolução de Portugal desde a sua fundação, escrito em forma de romance girando à volta duma torre «aqui estamos em frente da Torre, meus senhores, peço que se descubram e ao mesmo tempo um minuto de silêncio pela alminha dos senhores que lá estão, uma torre triangular, com trinta e dois metros de altura e os degraus contam-se em oitenta e nove, com patamares de descanso. A vista lá de cima é grandiosa.»

Neste breve assinalar talvez não fique desajustado citar a sinopse que a Assírio e Alvim fez da obra:

«Todas as tardes, ao cair do crepúsculo, no momento em que termina a visita dos turistas à Torre da Barbela, edificada por Dom Raymundo da Barbela, com trinta e dois metros de altura e classificada como monumento nacional por ser a única torre triangular da Península, os Barbela ressuscitam, trazendo consigo ódios e amores de outras épocas.
Em volta da Torre transfigurada reúnem-se os parentes modernos e antigos da família, "primos vestidos em séculos diferentes e com bigodes conforme a época". Entre eles contam-se Dom Raymundo, poeta e primo de Dom Afonso Henriques, ao lado de quem combateu contra os leoneses; o Cavaleiro de aventuras, que percorre os montes com Vilancete, grande garrano da Ribeira de Lima, e seguido por Abelardo, o falcão que o auxilia na caça; a linda D. Mafalda, cujo formato dos vestidos copia os modelos de Watteau e Fragonard e se corresponde com Beckford; a princesa Brites, célebre no século XIX; Madeleine, "prima que veio de Paris cheia de cores.» 

5.

Ana Sá Lopes, em editorial no Público, (não lido) escreve que Ana Gomes deve (e vais ser) candidata à Presidência da República e Helena Roseta saúda a eventual candidatura de Ana Gomes à presidência aproveitando para dizer que é importante que haja mais mulheres candidatas ao lugar.

6.

Boas notícias… apesar de tudo…

A partir 1 de Julho, o cinema volta à Cinemateca.

As sessões terão números de lugares limitados e serão repartidas entre a esplanada e uma das salas.

Para mais tarde fica o retomar dos ciclos de cinema que foram interrompidos a 13 de Março.

7.

Manuel Monteiro elevou-se das cinzas e está de volta à política e ao CDS mas já garantiu que não é hipótese para presidenciais. Diz ainda que se perdeu a vergonha e a decência na política, e que o CDS tem mais espaço do que nunca para se afirmar.

 8.

Segundo o Jornal de Notícias duas mil máscaras falsificadas são apreendidas por dia.

Quem pensava que a pandemia iria tornar as pessoas diferentes nos seus procedimentos, faça por esquecer.

9.

Há já veraneantes a reservar toldos de praia para o Verão no Algarve.

10.

Tratar a Corvid-19 com hidroxicloroquina, que Donald Trump diz tomar e aconselhou os norte-americanos a fazerem o mesmo, pode ser prejudicial e até aumentar risco de morte.

11.

Bolsonaro diz que jamais entregará o seu telemóvel  à Justiça.

12.

A obesidade, segundo John Preto, director do Centro Integrado de Obesidade, é um factor de risco no Covd-19, tornando-se uma pandemia muito mais letal do que o próprio vírus.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

OLHARES



A República Portuguesa foi implantada no dia 5 de Outubro de 1910.

Depois da queda do governo de direita-Passos-Coelho-Paulo-Portas, o 5 de Outubro voltou a ser feriado nacional.

Dois olhares escritos.

Um do republicano José Saramago, outro do monárquico Ruben A.

E uma canção de Vitorino retirada do seu álbum Leitaria Garrett:

E então chegou a república. Ganhavam os homens doze ou treze vinténs, e as mulheres menos de metade, como de costume. Comiam ambos o mesmo pão de bagaço, os mesmos farrapos de couve, os mesmos talos. A república veio despachada de Lisboa, andou de terra em terra pelo telégrafo, se o havia, recomendou-se pela imprensa, se a sabiam ler, pelo passar de boca em boca, que sempre foi o mais fácil. O trono caíra, o altar dizia que por ora não era este reino o seu mundo, o latifúndio percebeu tudo e deixou-se estar, e um litro de azeite custava mais de dois mil réis, dez vezes a jorna de um homem.
Viva a república, Viva. Patrão, quanto é o jornal agora, Deixa ver, o que os outros pagarem, pago eu também, fala o feitor, Então quanto é o jornal, Mais um vintém, Não chega para a minha necessidade, Se não quiseres, mais fica, não falta quem queira, Ai minha santa mãe, que um homem vai rebentar de tanta fome, e os filhos, que dou eu aos filhos. Põe-nos a trabalhar, E se não há trabalho, Não faças tantos, Mulher, manda os filhos à lenha e as filhas ao rabisco da palha, e vem-te deitar, Sou a escrava do Senhor, faça-se em mim a sua vontade, e feita está, homem, eis-me grávida, pejada, prenhe, vou ter um filho, vais ser pai, não tive sinais, Não faz mal, onde não comem sete, não comem oito.

José Saramago em Levantado do Chão

Os heróis republicanos, as forças armadas que tão brilhantemente se tinham batido do alto da cidade na gloriosa manhã dom 5 de Outubro merceiam a homenagem da Pátria, da Lusitânia pelos movimentos das várias tropas estacionadas na periferia da capital. Foi resolvido, após demoradas consultas entre os vários membros dos partidos da coligação que o local da concentração se realizasse na Rotunda da Avenida onde se decidiu a causa da República. O povo da cidade viria todo para a rua num comício organizado pelas juntas de freguesia de acordo com o estabelecido nas agendas dos concelhos mais perto de Lisboa e as deslocações desta manifestação começariam na véspera com a chegada dos excursionistas vindos de comboio, com os respectivos lanches. Era uma grande coisa a República, proporcionava momentos de vibração apoteótica. Da Rotunda o cortejo iria uma parte para o Coliseu dos Recreios e outra para a Praça dos Touros, os menos exaltados podiam ficar pelas leitarias e pastelarias a estabelecer relações e contactos de esclarecimento.


Ruben A. em Kaos