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sexta-feira, 16 de setembro de 2022

OLHAR AS CAPAS


Viola Interdita

Manuel Alberto Valente

Capa: Armando Alves

2 desenhos de José Rodrigues

Colecção de Poesia nº 1

Edição de Autor, Porto, 1970

 

Conversa Com Fernando Pessoa no Martinho

 

A casa continua como quando aqui paravas.

Talvez sejam os mesmos que agora a povoam

destas conversas sonolentas e cruzadas.

Ali ao longe o rio persiste em navegar

e só as águas envelheceram. O resto é

a cidade   quer dizer   o nevoeiro

que quando desembarcaste. Fala-se na esperança

e acredita-se no medo. O resto é a cidade

que cantaste e te desconheceu

e ainda desconhece os que procuram

o violino de palavras que criaste.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

OLHAR AS CAPAS



Sonhar a Terra Livre e Insubmissa

Egito Gonçalves/Luís Veiga Leitão/Papiniano Carlos
Desenho de Augusto Gomes, Vinheta de José Rodrigues
Capa: Armando Alves
Colecção Duas Horas de Leitura nº 16
Editorial Inova, Porto, Fevereiro de 1973

Caminhos Serenos

Sob as estrelas, sob as bombas,
sob os turvos ódios e injustiças,
no frio corredor de lâminas eriçadas,
no meio do sangue, das lágrimas
               caminhemos serenos.

De mãos dadas,
através da última das ignomínias,
sob o negro mar da iniqüidade
                caminhemos serenos.

Sob a fúria dos ventos desumanos,
sob a treva e os furacões de fogo
aos que nem com a morte podem vencer-nos
                caminhemos serenos.

O que nos leva é indestrutível,
a luz que nos guia conosco vai.                                                      
E já que o cárcere é pequeno
para o sonho prisioneiro,
já que o cárcere não basta
para a ave inviolável,
que temer, ó minha querida?:
                 caminhemos serenos.

No pavor da floresta gelada,
através das torturas, através da morte,
em busca do país da aurora,
de mãos dadas, querida, de mãos dadas

                 caminhemos serenos.

Papiniano Carlos

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

CANÇÃO BREVE


Tudo me prende à terra onde me dei:
o rio subitamente adolescente,
a luz tropeçando nas esquinas,
as areias onde ardi impaciente.

Tudo me prende do mesmo triste amor
que há em saber que a vida pouco dura,
e nela ponho a esperança e o calor
de uns dedos com restos de ternura.

Dizem que há outros céus e outras luas
e outros olhos densos de alegria,
mas eu sou destas casas, destas ruas,
deste amor a escorrer melancolia.

Da Antologia Breve publicada em 21 Ensaios Sobre Eugénio de Andrade

Legenda: fotografia de José Rodrigues em 21 Ensaios Sobre Eugénio de Andrade

terça-feira, 29 de agosto de 2017

OLHAR AS CAPAS


O Amor Desagua em Delta

Egito Gonçalves
Capa: Armando Alves com um desenho de José Rodrigues
Colecção Coroa da Terra nº 1
Editorial Inova, Porto, Dezembro de 1971

Sitiados


Esta cidade é a última cidade...
Os muros derruídos estão cercados:
Os canhões troam através dos mapas.

Nossa imagem, revelada pelas montras,
Passeia pelas ruas de mãos dadas...
Somos a última trincheira valiosa.

Unidos, trituramos os assaltos
E renovamos o cristal da esperança.

Os ruídos emolduram-te o sorriso,
Pura mensagem, prenhe de um futuro
Isolado de poeiras e de lágrimas.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

OLHAR AS CAPAS


Hexagramas, Depois de Finisterra
Marta Cristina de  Araújo
Capa de Armando Alves
Colecção O Oiro do Dia nº 57
Editorial Inova, Porto, Janeiro 1980

O perigo é companhia para o soberano
que instalou seu trono sobre a dinastia
seu projecto (recto) vem do longe donde
se ameaçam o riso o corpo o movimento
o segredo (segrego) a fala o linguajar
do dia anterior continuadamente.
Nem todos são os súbditos, quem o conduziu
ao trabalho do quotidiano (ano) inquieto
entre o sono iniciado tarde nas manhãs?

Breve é o receio de (o meio) deslocar-se
da paisagem mar apreendida extensa
entre o fio a fio assíduo da janela.
O momento é pouco para olhar as tintas e a criança
acode à chamada urgente (gente) dos vizinhos
Surpreende (prende) o plano do levantamento
apropriado à sede (sede da melancolia)
no curso das leis seu código fechado
em área de confusos (usos) dos lugares.

Não é de desistência ainda o tempo
de há muito em sua mão a rédea de colares:
eu estou aqui segura e cúmplice
nada pretendo (entendo) além do encadeado
de anéis colhidos (escolhidos) devagar.
Talvez seja amor o medo da assistência
talvez seja amor a culpa de não ter
o objecto (o ente) predilecto que refaz
solene esta alegoria do frágil (ágil) vidro
e nos separa (pára) à margem do poder.

domingo, 4 de abril de 2010

MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES

GUILDA DA MÚSICA DP 01
Arranjos e direcção Musical José Mário Branco
Capa de Armando Alves e José Rodrigues
Gravação em 8 pistas no “Strawberry Studio” no Chateau d’ Hérouville.
Editado em 1971.

Lado 1
Aertura – Gare d’Austerlitz
Cantiga para pedir dois tostões – Sérgio Godinho/J.M. Branco
Cantiga do Fogo e da Guerra – Sérgio Godinho/J.M. Branco
O Charlatão – Sérgio Godinho
Queixa das Jovens Almas Censuradas – Natália Correia/ J.M. Branco

Lado 2
Nevoeiro – José Mário Branco
Mariazinha – José Mário Branco
Casa Comigo Marta – Sérgio Godinho/J. M. Branco
Perfilados de Medo – Alexandre O’ Neill/J.M. Branco
Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades – Luís de Camões/J.M. Branco e Jean Sommer

Bob Dylan já nos avisara que os tempos estavam a mudar.
Foi quando chegou José Mário, pela pena de um tal Luís de Camões, a dizer-nos que todo o mundo é composto de mudança.As vontades também.
A abertura conseguida de um som de comboios na Gare d’Austerlitz, um acordeão em fundo, lembrando quem, do país cinzento, saíu em busca de outras perspectivas de vida ,e em Austerlitz desembarcava. os outros, os perseguidos politicamente, passavam as fronteiras a salto.
“- Entregas-me as peles em Moiros.
- A que horas?
-Às onze”

As “peles”, explica Miguel Torga no seu “Diário”, eram os emigrantes clandestinos. “Onde pode chegar o aviltamento humano”, comenta Torga.

“assim se encerra a fase confusa
da nova música portuguesa
assim se inaugura uma época nova
onde também cantar bem e compor melhor
serão condições a exigir a canção útil
da afinação da palavra
à desafinação das cordas
à percussão das peles e teclas
à imaginação nos arranjos
à criação melódica à vocalização justa
aqui o circo foi desmantelado
com todas as ferramentas do som".


Palavras que José Duarte escreveu nas badanas de “Mudam-se os Tempos e as Vontades” e fez questão de deixar um abraço a Sérgio Godinho, porque “poeta bom não morre à sombra.”

"Queixa das Almas Jovens Censuradas"

“Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céul
evado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte”