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sábado, 25 de maio de 2024

LIVROS E JACARANDÁS, SEMPRE!


 No dia 29 de Maio abrem as barracas da Feira do Livro, no Parque Eduardo VII, para a sua 94ª edição, que fechará portas a 16 de Junho.

Terá dez novas barracas e os horários de segunda a quinta serão das 12h às 22h; às sextas e vésperas de feriado o fecho será às 23horas, aos sábados das 10h às 23horas; e aos domingos e feriados das 10h às 22,00 horas.
Recordo-me que já na edição do passado ano tive algumas dificuldades nos caminhos de subida e este ano, como mais barracas, acontecerão as mesmas dificuldades e, provavelmente, mais algumas.

Que seja tudo pelo amor dos livros, do cheiro dos jacarandás, do voo dos melros, dos pardais, de todas as magias que nos caem, vindas não se sabe de onde, ao longo dos passeios que em cada dia fazemos em tempo de Feira.

A ilustração é o pavilhão da «& etc», em tempos antigos, quando o Vitor Silva Tavares por aqui andava, das vezes, muitas, que no intervalo de vendas, falava da sua rica e vasta vida de fazedor de livros.

terça-feira, 4 de julho de 2023

AINDA A FEIRA DO LIVRO


Muito longe, mas mesmo muito longe, vai o tempo em que todos os dias dava um salto à Feira  em busca dos Livros do Dia.

Agora estão todos na Internet.

A Feira este ano apresentava 340 pavilhões em representação de 981 chancelas editoriais.

 Se 61% dos portugueses, num ano, não leem um único livro, interrogo-me quem são os leitores da esmagadora dos livros que se publicam em Portugal, dos mais diversos temas, religiões e sei lá mais o quê.

As minhas pernas já não conseguem percorrer aqueles extensos corredores que são a Feira do Livro no Parque Eduardo VII. Vou-me socorrendo do mapa da APEL e, por atalhos, vou direito aos pavilhões  onde quero encontrar  os livros que procuro. 

Como agora dedico-me mais a releituras do que palmilhar livros de gente nova e outros escritores que não conheço sequer de nome.

Há livros, autores que vou tendo dificuldade em ler, arrasto-me pelas páginas. 

Humildemente, ponho sempre as culpas em mim.

Mas terei sempre que ir à Feira. Noutras feiras para tirar a fotografia ao pavilhão da & Etc., mas a Letra Livre já não lhe dá boleia porque a & Etc. acabou mesmo, uma das mais interessantes aventuras editoriais, comandada pelo Vitor Silva Tavares, mas vou sempre pela vista com o Tejo ao longe e pelos jacarandás.

Gosto das editoras que ainda guardam a possibilidade de pagar o livro no acto da sua compra. Odeio quando terei que ir para a bicha das editoras que estão colocadas nas aglomerações dos grupos editoriais. Aconteceu-me com o livrinho da Assírio & Alvim. Encontrei-o facilmente  no pavilhão mas depois fiquei à espera uns 10/15 minutos para o poder pagar.

Nada a fazer: vou ficando velho e rezingão!

quinta-feira, 25 de maio de 2023

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS

 

Hoje, que a Feira do Livro abre as suas portas, fui buscar o 1º volume dos Cadernos de Lanzarote, entrada do dia 4 de Junho de 1993.

A imagem que acompanha o texto mostra os jacarandás das muitas fotografias que lhes tiro sempre que vou à Feira:

 Na Feira aparece uma pessoa a comprar todos os meus livros. Põe-nos todos diante de mim para que os autografe, os grossos e os finos, os caros e os baratos, trinta e tal contos de papel, conforme vim a saber depois, e o que me desconcerta é que o homem não é um convertido recente ao saramaguismo, um adepto de fresca data, um neófito disposto às mais loucas ousadias, pelo contrário, falo do que de mim leu com à-vontade e discernimento. Resolvo-me a perguntar-lhe a razão da ruinosa compra, e ele responde simplesmente, com um sorriso onde aflorou uma rápida amargura: «Tinha-os todos, mas ficaram na outra casa.» Compreendi. E depois de ele se ir embora, ajoujado sob a carga, pus-me a pensar na importância dos divórcios na multiplicação das bibliotecas… 

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

O RAIO DA FEIRA DO LIVRO!...


 A Feira do Livro acaba no domingo 11 de Setembro.

Já lá devia ter ido.

Não fosse a fotografia que todos os anos tiro ao pavilhão da & ETC, lembrando as conversas que então tinha com o Vitor Silva Tavares, não iria lá.

A fotografia acima é do Luís Eme no Largo da Memória e faz-me pensar o pior.

Também deixou estas palavras:

«Voltei à Feira do Livro e estranhei-a, mais do que nunca. 

Sei que o problema deve ser meu, por ser  de outro tempo (e querer ficar por lá...), em que os livros não se vendiam em supermercados nem eram produzidos e vendidos como se fossem apenas mais um acessório para as nossas vidas, como um perfume, um vestido ou um casaco.

Acredito que se batam recordes de tudo, tanto no número de editoras presentes (há várias de que nunca tinha ouvido falar, das tais que podiam muito bem estar ali a vender "batatas" em vez de "livros"...) como nas vendas. Nas praças dos dois grandes grupos editoriais, formavam-se filas para se pagar. O que até se compreende, pois conseguiram meter no bolso as editoras mais interessantes e com melhores livros e autores deste nosso pequeno país...

Mas também sei o quanto devem ser importantes para toda a gente que vive (ou finge viver...) dos livros. Como fui a um dia de semana, não encontrei escritores à espera de leitores e a assinar os seus nomes na folha de rosto dos livros que escreveram, mesmo que pensassem que estariam bem melhor deitados numa praia sossegada que naquela "costa de caparica" dos livros. Mas este é um dos "fados" de quem escreve livros...

 Claro que não vou falar da "banalização" que têm feito do livro. Sei que muitas das tais editoras emergentes só existem para satisfazer os caprichos daqueles que não querem deixar este mundo "sem deixar um filho, plantar uma árvore e escrever um livro" (desconfio cada vez mais que esta frase nasceu de algum editor...). E por causa desse capricho há pessoas que até são capazes de "pagar dois livros" pelo preço de um, para gáudio de quem precisa deste conjunto de folhas impressas para comer. Uma boa parte destes autores acabam por  perceber, que afinal só alguns primos e vizinhos é que sentiam alguma curiosidade sobre o que estava dentro das suas histórias ou poemas. 

Mas quando percebem, é quase sempre tarde demais. Afinal não são bem escritores, apenas pagaram a impressão de um livro com as suas palavras...»

terça-feira, 10 de maio de 2022

FEIRA DO LIVRO 2022


A APEL informou, «com entusiasmo», que a Feira do Livro deste ano realiza-se de 25 de Agosto a 11 de Setembro no Parque Eduardo VII.

A Feira do Livro, para mim, é sempre uma festa, mas gostava mais dela quando acontecia em finais de Maio, princípios de Junho.

Porque, por esses dias, os jacarandás estão lindíssimos.

O Jorge Sila Melo também só gostava da Feira do Livro em Maio:

«Eu só gosto do Parque Eduardo VII em Maio, nunca lá vou noutra altura. Mas gosto de subir e de descer, sobretudo ao sábado e ao domingo, com gente que nunca vi nas livrarias, gente que mexe em livros, dicionários tantas vezes, livros do dia, livros mais baratos, gente, tanta gente, fico sempre com a sensação que há pessoas, que os livros servem as pessoas, que os editores são gente honesta que quer um mundo melhor, gosto de coleccionar os catálogos, de marcar com cruzinha os livros a comprar, de nem sequer comprar esses mas outros que me aparecem, esquecidos, de encontrar livros insuspeitos que nem sabia estarem editados, gosto de pedir autógrafos, há muitos anos foi lá que falei com a Maria Judite de Carvalho e lhe disse quanto a admirava, gosto de ver escritores sentados, gosto dos altifalantes a anunciarem escritores e descontos, gosto das farturas que ainda o ano passado engorduraram um livro de poesia acabadinho de comprar e até carote, não me tirem a rua dos livros ao sol, não me fechem a Feira do Livro, deixem-me, uma vez por ano, passear pelo Parque Eduardo VII de todos os jacarandás, ao cair da noite, pela fresca, deixem-me encontrar os amigos, são cada vez menos!, deixem-me queixar-me de já não ter dinheiro, nem espaço em casa para mais papelada, deixem-me voltar a casa com quilos de sacos, deixem-me a minha Feira do Livro onde ela é, é onde todos os anos eu respiro um mundo que talvez fosse maior, com mais gente, mais livros, histórias, poesias, gente a subir e a descer aos sábados à tarde, com tanto calor. E um dia gostava de filmar, porque não filmar a descoberta do amor entre um rapaz de uma barraquinha de livros em segunda mão e uma jovem escritora neurasténica, rapariga loira com as suas singularidades. Ou vice-versa, em Maio, no Parque Eduardo VII.»

domingo, 12 de setembro de 2021

OS FEIRANTES


 A minha 1ª Feira do Livro foi no Rossio, meia dúzia de stands em redor das taças de água da praça

Estas são as recordações da Maria do Rosário Pedreira em crónica publicada no Mensagem de Lisboa:

«Enquanto decorre mais uma Feira do Livro de Lisboa no Parque Eduardo VII – a 91.ª, se não estou em erro –, olho para trás e sinto-me velha. Da primeira vez que fui à Feira do Livro sem um adulto por perto, e com carta-branca para comprar o que quisesse (dentro de um determinado orçamento, bem entendido), devia ter uns catorze anos e usar meias pelo joelho.

Nesse tempo, a feira estava instalada ao longo da Avenida da Liberdade, aproveitando a sombra das suas árvores frondosas; e, às horas de menos clientela, quem estava sem fazer nada nos pavilhões também não podia deitar o olho às montras das boutiques caras, pela simples razão de que a alta costura, bem como os turistas endinheirados e os novos-ricos, ainda não tinham chegado a estas bandas.

Lembro-me de que planeara comprar os Contos da Montanha, de Miguel Torga («Mariana» é dos meus contos favoritos até hoje); e, por influência de uma colega, que sabia que eu gostava de poesia, Pelo Sonho É Que Vamos, de Sebastião da Gama, que ainda conservo naquela edição bonita e limpinha da Ática. E recordo-me de que, não sabendo na altura quem publicava esses livros, me bastou perguntar num stand qualquer (não era, note-se, um balcão de informações) para logo um senhor muito solícito me informar, a mim e à colega que me acompanhava, em que barraquinhas (com número e tudo!) podíamos encontrar o que procurávamos.

Claro que hoje o computador da APEL faz o mesmo serviço; e claro que hoje o mercado é dez vezes maior, o que explica muita coisa. Mas a verdade é que quem vendia na Feira do Livro de Lisboa na Avenida era gente que percebia da poda, geralmente funcionários de livrarias que conheciam exaustivamente os catálogos das editoras e que tão depressa eram capazes de indicar onde se podiam comprar os livros de José Hermano Saraiva aos cavalheiros interessados em saber um pouco mais da história do país como A Mulher na Sala e na Cozinha, de Laura Santos, às raparigas casadoiras.

Sabiam quais eram as editoras de Aquilino Ribeiro, David Mourão-Ferreira, Camilo ou Eça, mas também (sou testemunha!) de um livro que ensinava a fazer kefir, numa altura em que nem os iogurtes eram correntes em Portugal. A uma mulher popular, de bata florida e avental, que uma vez perguntou ao meu lado num pavilhão se tinham «algum livro que explicasse como se deitavam os canários», o vendedor, sem desfazer o ar de surpresa, indicou imediatamente duas ou três editoras com livros sobre a reprodução de aves.

Quando escolhi a edição como modo de vida, vendi «atrás do balcão» na Feira do Livro, já no Parque Eduardo VII, uma dúzia de anos, a ouvir perguntas e comentários, a aconselhar e esclarecer, a topar os larápios e pedir-lhes os livros roubados de volta, a aprender com leitores interessantes e interessados, e até a aturar esquisitinhos com um vinco numa lombada, que precisavam de ver dez exemplares do mesmo título até decidirem o que queriam levar.

Hoje lamento ter desaparecido esta relação com os leitores, que era humana, empática, próxima, cúmplice, e que foi substituída por um sistema impessoal em que o cliente entra no pavilhão, escolhe, mete no cesto e paga na caixa, como num supermercado, por vezes sem se cruzar com ninguém; ou então quem está dentro do pavilhão pouco percebe dos livros que tem à sua guarda, muito menos dos da concorrência, para poder responder às dúvidas dos fregueses…

O barulho das luzes, os cartazes XPTO, a música de feira, a bonecada toda, podem ser muito giros para quem sobe o parque com os jacarandás em flor e olha os livros à direita e à esquerda. Mas os antigos profissionais que sabiam tudo extinguiram-se: aqui há uns anos, o locutor de serviço à feira conseguiu dizer que, no stand da Livros do Brasil, o Livro do Dia era «Os Maias, de Camilo Castelo Branco». E, tendo-se ouvido um burburinho de espanto subindo o parque como um rastilho prestes a explodir numa gargalhada colectiva, o locutor voltou ao microfone para dizer: «Perdão.» Só que, quando todos pensávamos que íamos poder respirar fundo, ele acrescentou: «Pede-se alguém do pavilhão da Livros do Brasil que venha confirmar se Os Maias são mesmo de Camilo Castelo Branco»…

AH! SIM, A FEIRA


Por motivos vários, as minhas visitas à Feira do Livro deixaram de ter aquele instante feliz de outros tempos.

Quase arrisco a dizer que a visita que faço tem mais a ver com a fotografia que tiro sempre ao pavilhão da «& etc.», recordando os tempos em que ficava por ali a conversar com o Vitor Silva Tavares.

A Feira tem pavilhões a mais, uma boa parte com nada relacionado com livros.

Como é que um país que não lê, tem tantos editores a publicar milhares de livros que não sei a quem se dirigem?

Estou a tornar-me um leitor estranho.

Um leitor chato. 

quarta-feira, 21 de julho de 2021

IREI POR SETEMBRO, NUNCA EM AGOSTO!


A 92.ª edição da Feira do Livro de Lisboa vai realizar-se entre 26 de Agosto e 12 de Setembro, no Parque Eduardo VII.

Sempre me lembro da Feira por Maio e Junho.

Mas, a exemplo do ano passado, a pandemia manda-nos o evento para Agosto e Setembro.

O único problema que a nova data tem, é que esse não é o tempo dos jacarandás.

Livros e jacarandás é um gosto de muita gente.

Jorge Silva Melo, por exemplo:

Eu só gosto do Parque Eduardo VII em Maio, nunca lá vou noutra altura. Mas gosto de subir e de descer, sobretudo ao sábado e ao domingo, com gente que nunca vi nas livrarias, gente que mexe em livros, dicionários tantas vezes, livros do dia, livros mais baratos, gente, tanta gente, fico sempre com a sensação que há pessoas, que os livros servem as pessoas, que os editores são gente honesta que quer um mundo melhor, gosto de coleccionar os catálogos, de marcar com cruzinha os livros a comprar, de nem sequer comprar esses mas outros que me aparecem, esquecidos, de encontrar livros insuspeitos que nem sabia estarem editados, gosto de pedir autógrafos, há muitos anos foi lá que falei com a Maria Judite de Carvalho e lhe disse quanto a admirava, gosto de ver escritores sentados, gosto dos altifalantes a anunciarem escritores e descontos, gosto das farturas que ainda o ano passado engorduraram um livro de poesia acabadinho de comprar e até carote, não me tirem a ruados livros ao sol, não me fechem a Feira do Livro, deixem-me, uma vez por ano, passear pelo Parque Eduardo VII de todos os jacarandás, ao cair da noite, pela fresca, deixem-me encontrar os amigos, são cada vez menos!, deixem-me queixar-me de já não ter dinheiro, nem espaço em casa para mais papelada, deixem-me voltar a casa com quilos de sacos, deixem-me a minha Feira do Livro onde ela é, é onde todos os anos eu respiro um mundo que talvez fosse maior, com mais gente, mais livros, histórias, poesias, gente a subir e a descer aos sábados à tarde, com tanto calor. E um dia gostava de filmar, porque não filmar a descoberta do amor entre um rapaz de uma barraquinha de livros em segunda mão e uma jovem escritora neurasténica, rapariga loira com as suas singularidades. Ou vice-versa, em Maio, no Parque Eduardo VII." 

quinta-feira, 22 de abril de 2021

SARAMAGUEANDO

4 de Junho de 1993

Na Feira aparece uma pessoa a comprar todos os meus livros. Põe-nos todos diante de mim para que os autografe, os grossos e os finos, os caros e os baratos, trinta e tal contos de papel, conforme vim a saber depois, e o que me desconcerta é que o homem não é um convertido recente ao saramaguismo, um adepto de fresca data, um neófito disposto às mais loucas ousadias, pelo contrário, falo do que de mim leu com à-vontade e discernimento. Resolvo-me a perguntar-lhe a razão da ruinosa compra, e ele responde simplesmente, com um sorriso onde aflorou uma rápida amargura: «Tinha-os todos, mas ficaram na outra casa.» Compreendi. E depois de ele se ir embora, ajoujado sob a carga, pus-me a pensar na importância dos divórcios na multiplicação das bibliotecas…

José Saramago em Cadernos de Lanzarote, Volume I

sexta-feira, 9 de abril de 2021

DOS REBOTALHOS E COISAS ASSIM...


Se o cidadão-português-vulgar-de-lineu já muitas dúvidas tinha em relação à Justiça portuguesa, irá deitar-se, esta noite, ainda mais depressivo, apreensivo, amedrontado.

Da leitura pública do despacho de pronúncia, montado pelo juiz Ivo Rosa, 6.700 páginas de prosa, da acusação do Ministério Público contra José Sócrates, Ricardo Salgado e outros, ressalta que a maior parte das acusações já prescreveram, outras o juiz entende que o Ministério Público não fez com competência o seu trabalho.

Apenas 5 dos 28 arguidos vão a julgamento.

Sócrates será  julgado por seis crimes: três de branqueamento de capitais e três de falsificação de documentos, Ricardo Salgado será julgado por três crimes de abuso de confiança, Armando Vara será julgado por um crime de branqueamento de capitais, João Perna, o motorista de Sócrates, será julgado por detenção de arma proibida.

O juiz Ivo Rosa reduz, quase a cinzas, o megaprocesso, Operação Marquês, elaborado pelo Ministério Público, que vai recorrer da decisão.

Este processo que já demorou sete anos e qualquer coisa, arrisca-se a ser concluído lá para o ano 2026.

A justiça portuguesa sai arrasada e desfeita desta diatribe de Ivo Rosa que, ao que dizem os entendidos-más-línguas tem contas a ajustar com o Ministério Publico e com o Juiz Carlos Alexandre e aproveitou a oportunidade para os deitar abaixo. O que poderia ser dirimido num qualquer tasco, teve, durante a tarde do dia de hoje, o palco da Campus Justiça, os holofotes das televisões.

Já o entardecer acontecia na cidade, quando as televisões ainda apanharam Sócrates, numa esplanada do Parque das Nações, com os seus advogados, a beber uns fininhos e a comer umas sandes mistas em pão de forma.

Não resistiu em afirmar que «todas as grandes mentiras da acusação caíram» e, cereja no topo do bolo,  quer voltar à política.

Chegará?!

E será possível, neste país, alguém ser condenado por corrupção?

1.

 Foi hoje anunciado que a 92.ª edição da Feira do Livro de Lisboa vai realizar-se entre 26 de Agosto e 12 de Setembro, no Parque Eduardo VII, com as mesmas condicionantes do ano passado. mas o importante é que os livros venham para a rua, possam ser olhados, folheados.

2.

Um restaurante em Lisboa abriu, na quarta-feira, ilegalmente as suas portas para que um grupo de gente famosa pudesse assistir à transmissão televisiva do Porto com o Chelsea.

Não li a notícia, apenas o cabeçalho.

Alguém foi preso? Alguém pagou multas?

Há dias, um desgraçado foi multado pela Polícia Municipal, à porta da leitaria do bairro, porque estava a comer «gomas».

3.

Nos últimos 45 anos fecharam mais de mil quilómetros de linhas ferroviárias, e três capitais de distrito, Viseu, Vila Real e Bragança ficaram sem acesso ao comboio.

 4.

Disse Ana Sousa Dias:

«O acto amoroso, caramba, é muito mais complicado para um homem do que para uma mulher. Nós temos esse lado de concha sempre pronto, mesmo que o desejo não nos assista, o nosso corpo faz-se pronto, e o deles não, têm de estar sempre a prestar a prova disso. Essa sim, é uma grande diferença.»

domingo, 28 de junho de 2020

ANTOLOGIA DO CAIS


Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar alguns textos que por aqui foram sendo publicados.

DOMINGO NO PARQUE

Sempre entendi a Feira do Livro como uma festa.

Também oportunidade para encontrar, a bons preços, livros que já temos dificuldade em encontrar nas livrarias, por motivos que só estão ao alcance do oportunismo de editores e livreiros.

Chamam-lhes fundos de catálogo, ou lá o que é.

Neste aspecto a Relógio d’Agua, mais uma vez, dá uma banhada à concorrência.

Facilmente manuseados em caixas que mostram os respectivos preços, estão ali grandes livros, grandes autores, por preços que vão dos 3 aos 10 euros.

Sou rapaz de livros e petiscos.


Este ano a mistura é abrangente e espalhada ao longo de todo o recinto: farturas, churros, bifanas, cachorros, caracóis, gelados, cafés, ginjinha.

Espanto-me como ainda não chegaram as roulottes de sandes de coiratos.

Dêem-lhes tempo…

Como dizia: o poeta: primeiro estranha-se, depois entranha-se.

Feira do Livro.

Um encontro de cheiros, sejam eles dos petiscos, dos próprios livros – sempre gostei de cheirar os livros – das flores e árvores do parque, a despedida, por este ano, dos jacarandás, um deles apanhado em pleno gozo de sol e que encima o texto.



Experimente comprar um livro e vá folheá-lo para uma das esplanadas que a feira oferece e que, resumidamente, se espraiam por aqui.

Neste ano, a Feira regista a presença de 480 editores espalhados por 240 pavilhões.

Milhares e milhares de livros que, em grande parte, não sei a que públicos se destinam, mas editam-se.

Nada melhor para encerrar o dia, que reler um velho texto que, suponho seja do Fernando Assis Pacheco:


Feira do Livro.

Pratique então você, sozinho e em segredo, a sua subversão. Faça uso do seu tempo, respire fundo, atenda aos seus sentidos, deixe-se apaixonar, ao toque, ao cheiro, por algum livro antigo, manchado por bolores de anónimos invernos. Oculto, disfarçado como um tesouro celta, enigmático e no entanto familiar, está aquele livro que você sempre quis ler ou perdeu em criança e vai encontrar por escolha sua.

Vá-o abrindo devagar, desfrute-o como um ser único que lentamente se desvenda e oferece sucessivas camadas de beleza. Confunda-se com ele, risque, comente, assinale-lhe no corpo o seu percurso. Use-o, gaste-o, comece-o outra vez. Será este um prazer de nossos avoengos a quem a vista de um tornozelo de mulher proporcionava excitações inconcebíveis e a posse de um livro, só por si, legitimava orgulhos genealógicos.

Boa Feira e bons encontros.

Texto publicado em 2 de Junho de 2017

sexta-feira, 29 de maio de 2020

ETECETERA


Por isto ou por aquilo a TAP anda sempre pelas páginas dos jornais, pelos noticiários das televisões.

Não é só de agora e quase nunca por bons motivos.

No dia 12 de Agosto de 2009, Manuel António Pina escrevia a sua habitual crónica no Jornal de Notícias.

E era sobre a TAP:

«As más notícias são que a TAP atravessa, segundo o Conselho de Administração de Fernando Pinto, uma "crise gravíssima", tendo tido no ano passado 280 milhões de euros de prejuízos e vendo-se forçada a pedir sacrifícios aos trabalhadores e a recusar-lhes aumentos salariais.
As boas são que, no mesmo ano de 2008, os administradores atribuíram-se "prémios" com que duplicaram os seus vencimentos (Fernando Pinto, por exemplo, levou 816 mil euros, em vez dos miseráveis 30 mil mensais mais regalias que lhe cabiam); e que decidiram entretanto adquirir 42 automóveis topo de gama para si e as dezenas de directores avulsos que enxameiam a empresa, pois deslocavam-se todos em viaturas "velhas" de quatro anos, impróprias das suas altas funções. Trata-se de uma inovadora ideia de gestão: vão-se os dedos mas fiquem os anéis (e comprem-se mais). Deve-se, a inventiva ideia, a Dali que, contava Gala, era nos momentos em que atravessava "crises gravíssimas" que mais gastava, pois, argumentava ele, "a piedade dos vizinhos mata". A TAP pode morrer, mas ninguém há-de ter razões para se apiedar dos seus administradores.»

1

A companhia aérea de baixo custo EasyJet anunciou que vai despedir 4.500 trabalhadores e reduzir a frota, devido à diminuição da procura.
A companhia aérea britânica, que emprega 15 mil pessoas em oito países da Europa, revelou que vai iniciar conversações com os trabalhadores nos próximos dias.

2

Os Estados Unidos ultrapassaram os 100 mil mortos.

3.

Os colombianos criaram camas de hospital de cartão que se transformam em caixões.

4

Sempre vai haver a festa do livro no Parque Eduardo VII.
A 90ª edição da Feira do Livro ocorrerá entre os dias 28 de Agosto e 13 de Setembro, com naturais restricções e condicionalismos, mas os livros sairão à rua.

5

As consequências económicas da pandemia de Covid-19 podem levar cerca de 86 milhões de crianças a mais à pobreza até final do ano, segundo um estudo divulgado hoje pela organização não-governamental Save the Children da UNICEF. No total, serão 672 milhões de crianças afectadas pela pobreza este ano, o que traduz um aumento de 15% em relação à 2019.

6.

A escritora Luísa Costa Gomes sobre a morte de Maria Velho da Costa:

Em vez de chorar o desaparecimento da Maria Velho deviam ler os livros que publicou ao longo da vida. Está tudo nos livros, a voz dela está lá toda, viva».

7.

Pelo menos cinco bairros sociais na Grande Lisboa têm casos de covid-19.
Além dos 32 casos confirmados pela DGS espalhados por três bairros no Seixal (só o da Jamaica e de Santa Marta, em Corroios, foram identificados), há também famílias infectadas no Bairro da Torre (Loures) e Alfredo Bensaúde (Olivais).
Segundo o jornal Público, há em Lisboa 200 bairros ilegais, campo fértil para o vírus.

8.

Fiquem em casa.
Agora podem sair de casa.
Contudo o vírus ainda se passeia por aí e não sabemos quando terminará o seu caminhar.
A sobrevivência está na linha da frente.
Isto não está para acabar e é bem capaz de não acabar bem.
O medo.
Acima de tudo o medo.

9.

A vida é dizer-se adeus a um espelho.

Ramón Gómez de la Serna em Greguerías

segunda-feira, 17 de junho de 2019

A FESTA DO LIVRO


Há quem defenda que a Feira do Livro devia sair do Parque Eduardo VII.

Por causa daquele sobe-e-desce, também pelo vento, pelo sol, pela chuva.

Que a escolha poderia recair num espaço fechado.

Não estou nada de acordo.

Gosto que ela esteja ali.


Pelos jacarandás.


Por aquela nesga de Tejo que, lá do alto se consegue vislumbrar.

Para mim, a única coisa chata que a Feira tem, é essa parvoeira aberrante que as Leyas, as Porto Editora, as Bertrand arranjaram com aqueles condomínios de praças e pracinhas, com seguranças e sensores que apitam por tudo e por nada e levam o cidadão a provar que não gamou nenhum livro. Ao passo que em outras editoras pagamos os livros no próprio stand, com aquela rapaziada temos que ir para uma fila enorme de compradores que quase dá vontade de deixar os livros e zarpar dali para fora.

No topo do texto, o stand da &etc. sem a presença do Vitor Silva Tavares.

É um recordar das muitas conversas que, durante muitas feiras, com ele tive, a fotografia é um clássico que nunca deixo de registar.

A Feira fechou ontem portas.

Como dizia o Francisco  Vale, editor da Relógio d’Água:

«Na década de 90, despedia-me por vezes de colegas na Feira do Livro de Lisboa com um «até para o ano, se ainda houver livros».

sábado, 1 de junho de 2019

LIVROS E JACARANDÁS


Ainda não fui à Feira do Livro.
Está um calor de ananases, como diria o Eça, e as pernas já não são tão ligeiras.
Quando não existiam as tecnologias, que hoje permitem saber quais os livros do dia que as editoras colocam nos escaparates, passava todos os dias por lá, ou quase todos os dias, em busca dos descontos do livro do dia. Era uma cavalgada que permitia a economia de alguns trocos para outros livros, e havia sempre o perfume dos jacarandás.
Por mim, a Feira nos últimos anos, é mais para vasculhar no stand de descontos de fins de catálogo da Relógio d’Água – já foram melhores, já foram melhores… - e um outro alfarrabista – atenção à Casa Frenesi!  - na eventualidade de um milagre que permita encontrar livros que há muito procuro.
E antes da morte de Vitor Silva Tavares, era o ficar ali, no pavilhão da &etc, a conversar com um maravilhoso contador de histórias, possuidor de uma cultura vastíssima, uma experiência de vida que é uma epopeia.
Desde a sua morte, tiro uma fotografia ao pavilhão e fico a olhar memórias.
Isto de palavras não é saber se o vento as leva, é encontrá-las para valerem no momento em que são necessárias. E nunca as encontro.

Legenda: pavilhão de &etc. na feira do ano passado que, penso, não a cheguei a colocar por aqui.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

REVISÃO DA MATÉRIA DADA


Hoje, começa mais uma Feira do Livro.

 Chega-se a esta minha idade e existem na biblioteca livros comprados e ainda não lidos.

E há sempre o suave ímpeto de comprar mais livros.

A Feira do Livro é, acima de tudo, a lembrança daquela noite, em redor das taças de água do Rossio, em que o meu avô me comprou o primeiro livro de Emílio Salgari. Curiosamente não me inclinei para qualquer Sandokan, ou o Pirata Vermelho, antes Os Pescadores de Pérolas, sei lá bem porquê.

Depois, a pouco e pouco é que vieram os restantes salgaris que, continuo a considerar, na devida idade, um dos melhores estímulos para hábitos de leitura.

Já escrevi:  um dia emprestei a um primo meu – santa ingenuidade!... -  todos os livros que possuía de Emílio Salgari.

Passados uns tempos, quando os quiz de volta, fiquei a saber que tinham sido vendidos que redundaram, se para tanto chegaram, em rebuçados da bola e uma qualquer ida à matinée do Cine-Oriente.

Tenho por aí dois ou três exemplares adquiridos em alfarrabistas a preço baixo.

Um dia, num daqueles alfarrabistas que estacionam, nos sábados, na Rua Anchieta, ao Chiado, pediram-me uma exorbitância por Os Pescadores de Pérolas.

Fiquei a olhar assim um tanto para o surpreendido, mas o livreiro logo atalhou: «É pegar ou largar!».

Não gostei do preço e da fanfarronice e… «larguei.»

A Feira é um gosto muito meu.

Os livros, os jacarandás, o Tejo muito lá ao fundo.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

FEIRA DO LIVRO



Feira do Livro.

Abriu pavilhões a 25 de Maio e fecha-os a 13 de Junho.

Em Lisboa, no Parque Eduardo VII, com jacarandás à vista.

Este ano a Feira conta com 294 pavilhões, mais oito pavilhões que no ano passado.

Apenas a Porto Editora, que o edita, assinalará, com pavilhão próprio, os 20 anos que em Outubro passam sobre a atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago.

A APEL assobiou para o lado.

Como para o lado assobia no que se refere aos voluntários que fazem trabalho nos dias da Feira.

Um larguíssimo grupo de escritores, em abaixo-assinado, denuncia o abuso que é sistematicamente feito com esses trabalhadores:

«Nós, os abaixo-assinados, estamos contra o recrutamento de "voluntários" para trabalhar na Feira do Livro de Lisboa, feito pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL).
A APEL recebe das editoras muitos milhares de euros pela presença na feira, além das quotas e de outras subvenções. A APEL tem dinheiro, ou devia ter, para remunerar quem recruta durante a feira.
Para aliciar estes "voluntários", a APEL invoca o contacto com livros e autores. Estar em contacto com livros e autores não é remuneração de ninguém. Aqueles de entre nós que contribuem para que os livros sejam feitos e circulem recusam-se a ser usados como isco.
É bom poder dar tempo e trabalho a quem entendermos, e deles precisa. Não é o caso da APEL. Este abuso sistemático tem de acabar já na feira de 2018. Quem foi recrutado deve ser remunerado.»

Não lembro uma Feira em que a chuva não faça a sua aparição, e nesta ranhosa Primavera que este ano nos calhou em sorte, não tem falhado.

Mas que isso não seja impedimento para ir ao encontro dos livros, das gentes, das farturas, dos fininhos, das bifanas, dos caracóis… dos jacarandás.

A Feira do livro é uma festa.

Enquanto dedilho este palavreado lembro, quando as pernas eram mais ágeis, que não havia dia que não passava por lá em busca dos «Livros do Dia».

Hoje, graças à internet, sabe-se quais são os Livros do Dia que cada editora disponibiliza.

Dizia o Baptista-Bastos: «há coisas na vida de que um homem se arrepende; porém, há uma coisa de que nunca se arrependerá de ter lido livros.»

terça-feira, 27 de junho de 2017

OLHARES



Encontrava-se, então, no Rossio.
A Feira do Livro realizou-se pela primeira vez em 1930, era Salazar ministro das Finanças.
Em 1940 foi para os Restauradores mas  em 1957 regressou ao Rossio.
Mais tarde subiu para a Avenida da Liberdade junto ao Cinema Tivoli.
Em 1996 entenderam fazê-la na Praça do Comércio e na Rua Augusta.
Não sei qual foi a ideia. Quem a teve também não deve saber. Ou então concretizou-a pessimamente.
Em 1980 passou a realizar-se no Parque Eduardo VII que considero o perfeito cenário.
Mesmo que em cada ano que passe, as pernas se queixem com evidente amargura.
Mas… quem corre por gosto não cansa, dizia a minha avó.

A imagem, pertencente ao arquivo do Diário de Notícias, refere a Feira do Livro de 1932.

SAUDADES DE SALGARI


Sempre que, em cada ano, visito a Feira do Livro, lembro o primeiro livro de Emilio Salgari que o meu avô me comprou, dizendo-me para escolher um: Os Pescadores de Pérolas.

Plantava-se, então, a Feira do Livro em redor das taças de água do Rossio.

Lembro-me que custou oito escudos, qualquer coisa como, ao câmbio dos dias de hoje, 0,04 euros.

Em prosa atrás colocada, também disse que só depois vieram os sandokas, os corsários negro e vermelho, o Capitão Morgan, tantos outros.

Como prometera, ficam aqui as capas dos únicos livros de Salgari que possuo, comprados num alfarrabista-vão-de-escada a preço confortável.

Sim, porque os outros alfarrabistas sabem o que vendem e o seu valor.

Outras histórias.

Emílio Salgari nasceu em Verona a 21 de Agosto de 1862.

Não se sabe ao certo quantos livros escreveu. Admite-se que ultrapasse as duas centenas. Em Portugal a João Romano Torres, casa fundada em 1885 com sede na Rua Alexandre Herculano nº 70 a 76, publicou 150.

Pensei até certo momento que esses livros eram o resultado de inúmeras viagens feitas pelo mundo e em que dissertava sobre a fauna e a flora das regiões onde se desenrolava a acção, fosse na Malásia,n o Bornéu, nas Caraíbas e até no Farwest americano.

Mas não!

Em toda a sua vida realizou apenas uma viagem no mar Adriático, na costa oriental italiana, quando frequentou, um curso para capitão da marinha e em que acabou por reprovar.

Os livros, escreveu-os sem sair do seu quarto, servindo-se de relatos e leituras de outros viajantes e aventureiros, enciclopédias, também das leituras de livros de vários autores e toda a sorte de assuntos, sendo o mais recorrente Júlio Verne.

A tudo isso juntava a sua fértil imaginação.

Não resisto à tentação de transcrever o começo de A Noiva do Corsário Negro:

O célebre mar da Caraíbas, açoitado pelo temporal, rugia furiosos, projectando verdadeiras catadupas de água contra os molhes de Porto Limão, costas da Nicarágua e da Costa Rica.
O sol estava no ocaso e as trevas caíam rapidamente como se tivessem pressa de ocultar a tremenda luta travada entre a terra e o céu.
Ainda não chovia, mas não devia tardar e por isso os habitantes se tinham apressado a abandonar as ruas da cidadela e o pequeno porto, refugiando-se nas suas casas.

Também o começo de Sandokan Vence o “Tigre da Índia”:

Na manhã de 20 de Abril de 1857, o faroleiro de Diamind-Harbour assinalava a presença de pequeno veleiro, que devia ter entrado no porto durante a noite, sem auxílio de piloto.
Pelas dimensões das velas assemelhavam-se aos paraus malaios, mas não se viam os balancins para se defender das rajadas, nem a cobertura chamada «attap», que os barcos daquela natureza costumam usar. Além disso, não tinha a popa baixa e, por certo, deslocava três vezes a tonelagem dos paraus ordinários.
Fosse como fosse, era um veleiro lindíssimo, de casco esguio, verdadeiro barco de corrida, que devia ganhar em velocidade a todos os barcos a vapor que então possuía o governo anglo-indiano.


Nenhum dos livros indica o autor das capas.

A tradução de Sandokan é de Leyguarda Ferreira e a do Corsário Negro é de António Vilalva.

 Ambos foram editados em 1958, tinha eu 13 anos, e impressos na Tipografia H. Torres na Rua de S. Bento nº 279-B.

Toda a vida de Emílio Salgari foi composta por enormes carências financeiras, realizando os mais variados sacrifícios para poder sobreviver, bem como sua mulher e os quatro filhos.

Tentou que os diversos editores, que lhe iam publicando os livros, lhe prestassem um qualquer auxílio.

Em vão.

Desesperado, suicidou-se no dia 25 de Abril de 1911. Tinha 49 anos.

Deixou um recado escrito aos crápulas dos editores:

«Aos meus editores: A vós que haveis enriquecido à custa da minha pele, mantendo-me a mim e à minha família numa contínua quase miséria, ou pior, só vos peço que em compensação dos lucros que vos proporcionei tomeis a vosso cargo o meu funeral. Saúdo-vos quebrando a pena.»

quinta-feira, 22 de junho de 2017

OLHARES




Ainda a Feira do Livro.
Um jacarandá ainda em flor, o Tejo lá ao fundo e, para que nada falte. um fraldário.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

AINDA A FEIRA DO LIVRO


Chega-se a esta minha idade e existem na biblioteca livros comprados e ainda não lidos.

E há sempre o suave ímpeto de comprar mais livros.

A Feira do Livro é, acima de tudo, a lembrança daquela noite, em redor das taças de água do Rossio, em que o meu avô me comprar o primeiro livro de Emílio salgari. Curiosamente não me inclinei para qualquer Sandokan, ou o Pirata Vermelho, antes Os Pescadores de Pérolas, sei lá bem porquê.

Depois, a pouco e pouco é que vieram os restantes salgaris que, continuo a considerar, na devida idade, um dos melhores estímulos para hábitos de leitura.

Penso que já disse, mas um dia emprestei a um primo meu – santa ingenuidade!... - - toda a minha Colecção Salgari.

Passados uns tempos, quando os quis de volta, fiquei a saber que tinham sido vendidos para angariar tostões para rebuçados da bola e idas às matinés do Cine-Oriente.

Tenho por aí dois ou três exemplares adquiridos em alfarrabistas a preço baixo.

Um dia, num daqueles alfarrabistas que estacionam, nas tardes de sábado, na Rua Anchieta, ao Chiado, pediram-me uma exorbitância por Os Pescadores de Pérolas.

Fiquei a olhar assim um tanto para o surpreendido, mas o livreiro logo atalhou: «É pegar ou largar!».

Não gostei do preço e da fanfarronice e… «larguei.»

A Feira é um gosto muito meu.

Os jacarandás, o Tejo muito lá ao fundo.

Este ano, nos dezoito dias de Feira, venderam-se 400 mil livros e concluíram que quatro em cada cinco visitantes compraram um.

Olhei o que quis olhar, mas o que me ocupa mais tempo são os stands da Relógio d’Água com os seus caixotes com livros dos fundos do catálogo, a bom preço.

Depois o tirar a fotografia ao stand da & etc. onde sei que nunca mais encontrarei o Vitor Silva Tavares.

E as saudades que me saltam aos molhos enquanto caminho para casa.