Este não é o
dia seguinte do dia que foi ontem.
João
Bénard da Costa
Será um
desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções,
fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer
especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.
21 de Abril de 1974
Há 50 anos, o
dia 21 de Abril calhou a um domingo, um dia simpático para que Américo Tomás,
juntasse, no Palácio de Belém, sem saber
que o faria pela última vez, num almoço íntimo, algumas das principais figuras
da vida nacional, e outras personalidades.
Para além da
veneranda figura, sentaram-se à mesa, Marcelo
Caetano, os presidentes da Assembleia Nacional, da Câmara Corporativa e do
Supremo Tribunal de Justiça, os ministros da Defesa Nacional, da Justiça, das
Finamças, o procurador geral da República, os conselheiros de estado dr. Albino
Reis, prof. Costa Leite (Lumbrales), dr. Luís Supico Pinto, o governador civil
de Lisboa, o deputado contra- almirante Henrique Tenreiro.
Não se sabem
razões para a realização do festim, tão pouco foi pública a ementa.
Quatro dias depois deste festim, aconteceria a tal madrugada que Sophia registou para a História.
DINIZ DE
ALMEIDA no seu livro Origens
e Evolução do Movimento dos Capitães, regista que a
redacção do programa do Movimento havia-se entretanto processado a partir de um
documento inicialmente discutido entre Almada Contreiras, Martins Guerreiro e
Melo Antunes.
Nessa redacção intervieram:
Pela Armada: Crespo, Contreiras, Lauret,
Simões Teles, Vidal Pinho.
Pelo Exército: Melo Antunes, Costa Brás,
Charais, Vítor Alves, José Maria Azevedo.
Pela Força Aérea, praticamente fora do
assunto, só se fará sentir a sua opinião já no final dos trabalhos, em 24 de
Abril de 1974.
A versão definitiva do programa, passada
à máquina directamente pelo próprio Hugo dos Santos, ficou estabelecida em casa
de Vítor Crespo, no dia 21 de Abril de 1974, domingo (epílogo das muitas
reuniões efectuadas sobre o programa).
NA PRAIA DA
AGUDA, em Gaia, e por iniciativa do jornal Opinião, realizou-se um jantar de
homenagem a Óscar Lopes.. A censura interveio com uma série de
cortes pelo que as notícias publicadas, pouco ou nada referem. Os serviços da
censura avisavam que as fotografias e as legendas da homenagem teriam que ser
enviadas ao Dr. Ornelas.
EM ABRIL DE
1974, Portugal era um país onde coexistiam a maior miséria e a riqueza mais
faustosa. Com oito milhões de habitantes, em cada mil crianças nascidas 56
morriam antes de completarem um ano de idade e em cada mil habitantes 15
morriam de tuberculose pulmonar. Apenas 40 por cento da população tinha água em
casa e 75 por cento não dispunha de esgotos. Em cada 100 portugueses 37 eram
analfabetos e em cada 100 alunos que frequentavam o ensino primário 30 não o
completavam e apenas 2 por cento vinham a obter uma graduação universitária.
E havia uma
guerra em África.
Milhares e milhares
de mortos, feridos, estropiados.
A Pátria não se discute, defende-se!
PASSAGEM PELO
LIVRO 40 Anos de Servidão de Jorge de Sena:
«Uma vez eu, chegando a Portugal
após muitos anos de ausência minha e
alguns
de guerras africanas, encontrei uma
vizinha
muito estimável que era casada com
um operário categorizado e antigo republicano.
O filho dela estava nas Africas,
arriscando
a vida dele e a dos outros em defesa
do património da pátria de alguns (muito
mais
que das gerações brancas que vivem nas
Áfricas).
Eu condoí-me, todo embebido de noções
políticas.
E ela, com um sorriso resignado,
respondeu-me:
- Pois é, mas ele está a ganhar tão
bem!»
EM SANTA
MARIA DE BELÉM realizou-se a tradicional bênção dos bacalhoeiros, repetida
todos os os anos por ocasião da partida da frota para os mares da Terra Nova e
da Gronelândia.