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quarta-feira, 5 de junho de 2024

OLHAR AS CAPAS


A Funda

1º Volume

Artur Portela Filho

Capa: Mendes de Oliveira

Moraes Editores, Lisboa, 1972

Com Salazar, impacientavam-se na antecâmara. Com Marcello Caetano, entraram, de roldão, na vida pública.

Vêm de Económicas e Financeiras, de Engenharia, de Sociologia. Têm quarenta naos. São apolíticos.

Estão na Assembleia Nacional, na Câmara Corporativa, nos Gabinetes técnicos. Fazem sauna, são católicos progressivos e falam alto, forte.

São a 3ª geração de 1926. A primeira era Mário Figueiredo. A segunda, Ulisses Cortez. A terceira, Francisco Balsemão.

A política, ela própria, globalista, surge-lhes como um romantismo. Não há política. Há políticas. Não há política. Há soluções.

terça-feira, 23 de abril de 2024

VIAGENS POR ABRIL


              Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                       João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


23 de Abril de 1974

 

Dizíamo-nos, citando José Afonso, filhos da madrugada e sabíamos que não podíamos amar serenamente porque muitos dos nossos amigos estavam na prisão, tentávamos o possível e esse possível era sempre tão escasso que, por vezes, o desânimo invadia os dias e as noites. Depois alguém começava: canta amigo canta, vem cantar a nossa canção, tu sozinho não és nada, juntos temos o mundo na mão, um outro, com um entusiasmo sereno, lembrava que há coisas que não têm fim, a esperança num melhor, por exemplo, e a luta por conseguir esse mundo.

Acreditar que num qualquer tempo, um microfone falaria às 4 e tal…

Não falou às 4 e tal, falou antes, mas era o sinal para a madrugada por que tantos esperaram.   

SOB A PRESIDÊNCIA do Prof. Doutro Marcelo Caetano, reuniu, hoje, em São Bento, o Conselho de Ministros.
O Conselho ocupou-se largamente da conjuntura económica do País e da necessidade de acompanhar a marcha da inflação, nos aspectos que não possam ser totalmente travados, de modo a combater a especulação e a moderar quanto possível a alta dos preços.
Iniciou também o estudo de providências sobre a situação do funcionalismo.
Os trabalhos prosseguirão sobre estas matérias em reuniões do Conselho de Ministros para Assuntos Económicos, até estarem prontos os diplomas a aprovar.

FOI TORNADO PÚBLICO um aviso dirigido a todos os mancebos que se apresentem às Juntas de Recrutamento Militar, no ano em curso de que devem fazê-lo acompanhados dos documentos necessários e obrigatórios para a sua identificação e regular funcionamento das Juntas, nomeadamente o bilhete de identidade, a cédula de recenseamento, certificados de habilitações literárias e carteiras profissionais ou sindicais.

O SERVIÇO de Informação Pública das Forças Armadas anuncia a morte de dez militares: quatro na Guiné e três em Moçambique, em combates, e três “por doença” em Angola.

É ADIADO para 15 de Maio, por falta de testemunhas, o julgamento de Maria Helena Vidal, acusada de ter feito parte do comando que assaltou um avião da TAP, em 1961, espalhando panfletos, em Lisboa e Porto, contra o regime.

 EM ESPANHA começa a “Vuelta” com a presença de Joaquim Agostinho mas sem o super-campeão Merckz.

OTELO SARAIVA DE CARVALHO, no seu livro “Alvorada em Abril”:
«Se a gente perder? Vocês digam nos interrogatórios, quando forem presos, que não têm nada a ver com isto. Que houve um major de artilharia chamado Otelo, maluquinho da cabeça, que teimou em deitar o Governo a baixo e vos convenceu a entrar nesta guerra. Digam que ele é o culpado de tudo.»

domingo, 21 de abril de 2024

VIAGENS POR ABRIL


                   Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                            João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


21 de Abril de 1974

Há 50 anos, o dia 21 de Abril calhou a um domingo, um dia simpático para que Américo Tomás, juntasse, no Palácio de Belém, sem  saber que o faria pela última vez, num almoço íntimo, algumas das principais figuras da vida nacional, e outras personalidades.

Para além da veneranda figura, sentaram-se à mesa, Marcelo Caetano, os presidentes da Assembleia Nacional, da Câmara Corporativa e do Supremo Tribunal de Justiça, os ministros da Defesa Nacional, da Justiça, das Finamças, o procurador geral da República, os conselheiros de estado dr. Albino Reis, prof. Costa Leite (Lumbrales), dr. Luís Supico Pinto, o governador civil de Lisboa, o deputado contra- almirante Henrique Tenreiro.

Não se sabem razões para a realização do festim, tão pouco foi pública a ementa.

Quatro dias depois deste festim, aconteceria a tal madrugada que Sophia registou para a História.

DINIZ DE ALMEIDA no seu livro Origens e Evolução do Movimento dos Capitães, regista que a redacção do programa do Movimento havia-se entretanto processado a partir de um documento inicialmente discutido entre Almada Contreiras, Martins Guerreiro e Melo Antunes.

Nessa redacção intervieram:

Pela Armada: Crespo, Contreiras, Lauret, Simões Teles, Vidal Pinho.

Pelo Exército: Melo Antunes, Costa Brás, Charais, Vítor Alves, José Maria Azevedo.

Pela Força Aérea, praticamente fora do assunto, só se fará sentir a sua opinião já no final dos trabalhos, em 24 de Abril de 1974.

A versão definitiva do programa, passada à máquina directamente pelo próprio Hugo dos Santos, ficou estabelecida em casa de Vítor Crespo, no dia 21 de Abril de 1974, domingo (epílogo das muitas reuniões efectuadas sobre o programa).

NA PRAIA DA AGUDA, em Gaia, e por iniciativa do jornal Opinião, realizou-se um jantar de homenagem  a Óscar Lopes.. A censura interveio com uma série de cortes pelo que as notícias publicadas, pouco ou nada referem. Os serviços da censura avisavam que as fotografias e as legendas da homenagem teriam que ser enviadas ao Dr. Ornelas.

EM ABRIL DE 1974, Portugal era um país onde coexistiam a maior miséria e a riqueza mais faustosa. Com oito milhões de habitantes, em cada mil crianças nascidas 56 morriam antes de completarem um ano de idade e em cada mil habitantes 15 morriam de tuberculose pulmonar. Apenas 40 por cento da população tinha água em casa e 75 por cento não dispunha de esgotos. Em cada 100 portugueses 37 eram analfabetos e em cada 100 alunos que frequentavam o ensino primário 30 não o completavam e apenas 2 por cento vinham a obter uma graduação universitária.

E havia uma guerra em África. 

Milhares e milhares de mortos, feridos, estropiados.

A Pátria não se discute, defende-se!

PASSAGEM PELO LIVRO  40 Anos de Servidão de Jorge de Sena:

«Uma vez eu, chegando a Portugal 

após muitos anos de ausência minha e alguns

de guerras africanas, encontrei uma vizinha

muito estimável que era casada com

um operário categorizado e antigo republicano.

O filho dela estava nas Africas, arriscando

a vida dele e a dos outros em defesa

do património da pátria de alguns (muito mais

que das gerações brancas que vivem nas Áfricas).

Eu condoí-me, todo embebido de noções políticas.

E ela, com um sorriso resignado, respondeu-me:

- Pois é, mas ele está a ganhar tão bem!»

EM SANTA MARIA DE BELÉM realizou-se a tradicional bênção dos bacalhoeiros, repetida todos os os anos por ocasião da partida da frota para os mares da Terra Nova e da Gronelândia.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

VIAGENS POR ABRIL


 

              Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                       João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


18 de Abril de 1974


O dia 18 de Abril, segundo António Mega Ferreira num futuro número do Expresso (25-04-1981), amanheceu cinzento. Um céu pesado, envolvia Lisboa numa promessa de chuva. Ao fim da tarde, porém, o estado do tempo agravou-se: uma violenta trovoada desabou sobre a cidade e choveu torrencialmente.

Nessa tarde do dia 18, Marcelo Caetano não escondia o seu desalento: «Não sei se algum Governo terá tido tantas dificuldades para governar como o meu,

O governo de Marcelo  não vive momentos de unidade, as forças conservadoras minam tudo. O próprio presidente da república  era mais um escolho e um foco de oposição;

Uma frase de Marcelo retida por António Mega Ferreira:

«Os meus ministros vêm aqui crucificar-me! Sou tido por responsável de tudo o que se faz e do que não se faz neste país.»

UMA PORTARIA do Ministério das Comunicações determina que as provas teóricas de condução de automóveis deixem de ser feitas oralmente e passam a ser prestadas de testes escritos.

MARCELO CAETANO convida o reitor da Universidade Clássica de Lisboa, Veríssimo Serrão, para substituir com urgência, Veiga Simão na pasta da Educação.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

VIAGENS POR ABRIL


           Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                   João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


11 de Abril de 1974

Já são palavras de um certo estertor o que Marcelo Caetano vai dizendo aos seus ministros, aos jornalistas estrangeiros que o procuravam para cumprirem uma qualquer tarefa de propaganda.
Marcelo Caetano, em entrevista ao semanário francês Le Point, declarou que jamais concordará com o abandono das províncias ultramarinas.
«Portugal está a lutar na África em defesa de uma sociedade multirracial e contra os movimentos racistas que procuram expulsar os brancos de África.
Estamos a lutar em defesa do direito que têm todos os homens de viverem juntos na África e, acima de tudo, em defesa da sociedade multirracial que lá formámos. Pelo contrário os chamados “movimentos de libertação” são racistas. O seu objectivo é a expulsão dos brancos. Primeiro dos postos de comendo depois da própria África. Nunca negociaremos com os adversários de Portugal que, pagos por potências estrangeiras, sustentam uma luta de guerrilhas inútil e cruel.»


NESTE NOSSO REINO, as colónias nunca foram uma questão pacífica. Em A Ilustre Casa de Ramires Eça de Queiroz, coloca João Gouveia a dizer à Senhora Dona Graça:
«Tenho horror à África. Só serve para nos dar desgostos. Boa para vender, minha senhora! A África é como essas quintarolas, meio a monte, que a gente herda duma tia velha, numa terra muito bruta, muito distante, onde não se conhece ninguém, onde não se encontra sequer um estanco; só habitada por cabreiros, e com sezões todo o ano. Boa para vender.
Gracinha enrolava lentamente nos dedos a fita do avental:
- O quê! Vender o que tanto custou a ganhar, com tantos trabalhos no mar, tanta perda de vida e fazenda?!
- Quais trabalhos, minha senhora?? Era desembarcar ali na areia, plantar umas cruzes de pau, atirar uns safanões aos pretos… Essas glórias de África são balelas.»

terça-feira, 2 de abril de 2024

VIAGENS POR ABRIL


         Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                  João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


A 2 de Abril de 1974, em Paris, morria o Presidente Georges Pompidou que, a 15 de Junho de 1969, sucedera ao General Charles De Gaulle.

Marcelo Caetano chefiou a delegação portuguesa às solenes exéquias pelo presidente Pompidou celebradas na Catedral de Notre-Dame


Em Madrid, onde se encontra em visita oficial, o Ministro das Corporações e Segurança Social, Dr. Silva Pinto, diz aos jornalistas: «Não sei se realmente se passou alguma coisa em Portugal.»

O Diário de Notícias publicava uma curiosa notícia:


«O jornal “Los Angles Times” noticiava, ontem, a demissão de Richard Nixon, mas afinal tratava-se apenas de uma daquelas inofensivas de 1 de Abril. Tudo por causa do alegado envolvimento do inquilino da Casa Branca no escandalo Watergate. Os californianos não têm grande fama de bruxos, mas o Los Angeles Times parecia estar a ler o futuro. Não seria necessário esperar muitos mais meses para que o assalto republicano à sede do Partido Democrata tivesse como consequência a primeira demissão de um presidente dos Estados Unidos dos Estados Unidos. A falsa notícia tornar-se-á verdade em Agosto.»

Algo que ficará para a história conhecido como o Caso Watergate.

 Economistas da ONU lançaram uma advertência: «com o aumento do preço do petróleo será inevitável a travagem do crescimento na Europa Ocidental.»

O País enfrentava o choque petrolífero mas o governo de Marcelo Caetano determina que durante o período pascal não haverá restrições à venda de combustível durante os fins-de-semana e feriados, para que os portugueses, povo profundamente devoto, possa ir passar a Páscoa às suas terras.

domingo, 31 de março de 2024

VIAGENS POR ABRIL


Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                       João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


No dia 31 de Março de 1974, Marcelo Caetano decide deslocar-se ao Estádio de Alvalade para assistir ao Sporting Benfica e receber um banho de multidão.

As fotos mostram-no, sorridente, a acenar à multidão - um Salazar que sorri, tal como era conhecido. Os relatos da imprensa dizem que, quando é anunciada a sua presença, uma enorme ovação ecoou pelo estádio. Se apupos existiram – e ocorreram mesmo, tímidos mas ocorrerem, diz quem esteve lá – os jornais não os referem ou a censura os mandou silenciar…
Marcelo Caetano que se fez acompanhar dos ministros Dr. Mário de Oliveira e Veiga Simão e pelo subsecretário de Estado Caetano de Carvalho, terá saído de Alvalade com mais ânimo e confiança.

Terá saído mesmo?

O Benfica venceu o Sporting por 5 a 3. Golos de Yazalde (2) e Dé pelo Sporting,
Nené (2), Humberto Coelho, Jordão e Vítor Martins pelo Benfica.
Com esta vitória o Benfica ficou a dois pontos do Sporting. Lá para Maio saberemos que o Sporting se sagrará como o 1º Campeão Nacional de Futebol do novo país.
Novo?
Também muito lá para a frente, mas mesmo muito, saberemos que não era bem assim…que o novo país apenas vivia na utopia de alguns…

Sabemos de quem traiu!

Como escreveu José Manuel Mendes, o autor do Olhar as Capas de hoje:

«Foram quarenta e oito anos de amarga e lúcida cidadania. Quarenta e oito anos a preparar uma hora de luzes, um instante de reabrir clareiras, os caminhos para uma revolução. Que não só de rosas ou cravos porque, ao longo do tempo o sangue português militante empapou o chão da vitória. A do 25 de Abril, concretizada pelos filhos do povo em armas, que vem redimir a dor, o exílio, a prisão, a morte. A vitória da resistência, como um bordão festivo a alertando o pasmo dos dias sitiados.»

quinta-feira, 28 de março de 2024

VIAGENS POR ABRIL


           Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                    João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


Marcelo Caetano proferiu, no dia 28 de Março de 1974, através da rádio e da televisão, mais uma das suas habituais «Conversas em Família»

Sabemos que foi a última vez que o fez.

Sem o declarar com todas as letras, Marcelo pretendia que o que se passou nas Caldas da Raínha afinal, não passou de uma insignificante irreflecção, ou talvez ingenuidade de alguns oficiais.

Contudo, no seu Depoimento, Marcelo Caetano dirá sobre o 16 de Março:

«O episódio das Caldas não devia ser subestimado, porque decerto os oficiais que o provocaram contavam com apoio que a pronta reação do governo ou o facto de ter havido precipitação na revolta não tinham permitido actuar. Esses apoios não desarmariam, procurariam fazer a “revolução do remorso” para salvarem os camaradas que não podiam deixar de ser processados e naturalmente punidos por insubordinação.

A revolução que veio efectivamente de surpresa, e conduzida dessa vez com toda a eficiência, em 25 de Abril.»

O «Notícias de Portugal» de 6 de Abril de 1974, publicava na íntegra a conversa.

Algumas breves passagens:

«De todas as infâmias que os adversários da nossa presença em África têm posto a correr contra nós e alguns portugueses infelizmente repetem, confesso que me fere mais a de que defendemos o Ultramar para favorecer os grandes interesses capitalistas.(…) Os soldados que em África se batem, defendem valores indestrutíveis, e uma causa justa. Disso se devem orgulhar e por isso os devemos honrar.
(…) Julgam que posso abandonar esta gente que tão eloquentemente mostrou ser portuguesa e querer continuar a sê-lo?

Não. Enquanto ocupar este lugar não deixarei de ter os ter presentes, aos portugueses do Ultramar, no pensamento e no coração. Procuremos as fórmulas justas e possíveis para a evolução das províncias ultramarinas, de acordo com os progressos que façam e as circunstâncias do Mundo: mas com uma só condição, a de que a África portuguesa continue a ter a alma portuguesa e que nela prossiga a vida e a obra de quantos se honram e orgulham de portugueses ser.»

terça-feira, 26 de março de 2024

VIAGENS POR ABRIL


 

       Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


Prosseguia o quotidiano dos nossos governantes.

Sua Excelência o Presidente da República inaugurava, no dia 23 de Março, as novas instalações do Hospital Distrital de Cascais.

Por sua vez, Sua Excelência o presidente do conselho recebia, no dia 24 de Março, os primeiros corpos gerentes da nova Associação Nacional da Juventude, eleitos na assembleia geral efectuada na Caparica, que lhe foram apresentar cumprimentos e convidá-lo para inaugurar oportunamente a sede da organização.

Após o 25 de Abril. que terá acontecido a estes jovens?

E em que se converteu a sede da Associação nacional de Juventude?

Por outro lado, no Cinéfilo de 23 de Março de 1974 há uma carta-resposta de Eduardo Prado Coelho a Vasco Pulido Valente:

«É aliás fácil estar de acordo com as ideias do Vasco, porque ele não tem muitas».

No Plenário recomeçou o julgamento dos réus acusados de pertencerem à ARA. O escritor Carlos Coutinho fala nos motivos que o levaram a aderir ao Partido Comunista, o que leva o juiz a interrompê-lo. Dando-lhe dez minutos para responder concretamente às perguntas.

É marcada para Setembro a data de construção da Barragem do Alqueva.

segunda-feira, 18 de março de 2024

VIAGENS POR ABRIL


       Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


Neste dia 18 de Março, os jornais dedicavam-se a colocar nas suas primeiras que a tranquilidade era geral em todo o país.

O pasquim «Época», realçava que o Mercado das Caldas da Raínha, num domingo igual aos outros, registara «o movimento normal de forasteiros que habitualmente ali se deslocam para abastecimento, sobretudo de fruta, uma das melhores do País. E não só. Também nas pastelarias, onde se fabricam as apetitosas «cavacas», não decresceu o movimento dos apreciadores.»

Num qualquer dia de Março é atribuída a Marcelo Caetano a seguinte frase: «Cuidado com os capitães. O perigo vem deles, pois não têm ainda idade suficiente para poderem ser comprados.»

Diga-se ainda que a insurreição do Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Raínha teve a ordem de avançar de António de Spínola porque sabia que o MFA estava num quase de tempo de não voltar atrás, e tentou um golpe antecipativo. Sabendo-se isto, e algo mais, há, pois, quem se espante de Spínola ter sido chamado, após o 25 de Abril, para a presidência da República.

Percorrendo o livro de Diniz de Almeida «Origens e Evolução do Movimento de Capitães», pode ler-se na página 297:

«Mesmo nas proximidades do 25 de Abril, a falta de politização da esmagadora maioria dos oficiais do Quadro Permanente era aterradora.»

Mais à frente:

«A derrota do 16 de Março desanimou numerosos sectores do Movimento. Em certos sectores, o pânico degenerou mesmo em debandada. Muitos, porém, não cederam perante o fracasso e retomaram rapidamente a iniciativa. Daí em diante seria uma corrida contra o tempo. A pesada máquina jurídica movia-se contra nós e atingir-nos-ia em breve.»

Entretanto a «Época», pela pena do seu director-fascista Barradas de Oliveira, interrogava-se em editorial:

«QUEM SÃO ELES»!

Quem alimenta as forças terroristas que actuam contra nós em Àfrica? Quem sustenta os focos da agitação interna?»

sábado, 16 de março de 2024

VIAGENS POR ABRIL


         Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                  João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


No dia 14 de Março de 1974 aconteceu a vassalagem das chefias militares a Marcelo Caetano, que ficou para a História, designada como a «Brigada do Reumático».

No Salão Nobre da Assembleia Nacional, numerosos oficiais dos três ramos das Forças Armadas, reuniram-se para afirmarem ao Chefe do Governo, prof. Marcelo Caetano, o seu apoio à acção de defesa do ultramar e, simultaneamente o seu espírito de unidade, lealdade e solidariedade.
Em nome de todos os militares falou o Chefe do Estado-Maior do Exército, General Paiva Brandão:

«Estamos unidos e firmes e cumpriremos o nosso dever sempre e onde quer que o exija o interesse nacional.»

Marcelo Caetano agradeceu proferindo um discurso designado como «A Todo o Desafio Temos de Dar Resposta.» que termina assim:

«Milícia é sacrifício. E mesmo, num mundo onde o egoísmo desenfreado e o amor das facilidades e dos prazeres parece reinarem, ai de nós se desaparecerem as instituições onde o desinteresse, o serviço da colectividade, a dádiva de si próprio persistam como grandes virtudes morais exemplares.
O País está seguro de que conta com as suas Forças Armadas. E em todos os escalões destas não poderá restar dúvidas acerca da atitude dos seus comandos.
Pois vamos então continuar, cada um na sua esfera, dentro de um pensamento comum, a trabalhar a bem da Nação.»

No dia seguinte, por não terem alinhado com a «Brigada do Reumático», os Generais Costa Gomes e Spínola, são exonerados dos cargos de chefe e vice-chefe das Forças Armadas. O General Luz Cunha é nomeado para chefe das Forças Armadas.

Mas a 16 de Março, uma companhia de 200 militares, metade são oficiais e sargentos, outra metade são praças, sai do Regimento de Infantaria nº 5 em direcção a Lisboa, sob o comando do capitão Marques Ramos e do tenente Silva Carvalho, com a missão de ocupar o aeroporto da Portela. Informada de que falhou a adesão de outras unidades, regressa ao quartel que posteriormente é cercado por forças leais ao regime e rendem-se ao brigadeiro Pedro Serrano.

Só no dia seguinte, a censura, com os habituais «CORTADO» e «APROVADO COM CORTES», permitirá que os jornais se refiram ao acontecimento.

Passados 50 anos sobre aquele sábado, ainda não é possível reunir elementos que permitam, com clareza, determinar o que foi este acontecimento da nossa recente História.

Há quem defenda que terá sido um golpe que serviu de ensaio ao 25 de Abril.

Vasco Lourenço, em Março de 1994, esclarecia:

«Se o 16 de Março tem vingado, não havia Programa do MFA.»

Oficiais sublevados, não identificados, em declarações ao Correio da Manhã de 4 de Abril de 1979:

«Se o golpe de 16 de Março de 1974 não tivesse fracassado, a situação portuguesa seria hoje muito menos sombria. Se a sua marcha sobre Lisboa tivesse sido coroada de êxito, o Poder central diferia substancialmente da que foi consignada pelo 25 de Abril. A descolonização dos territórios africanos teria sido inspirada por directizes muito diversas. Não teríamos traído as expectativas das colónias nem permitido os acontecimentos sangrentos que vieram a verificar-se e ainda se verificam.»

quarta-feira, 6 de março de 2024

VIAGENS POR ABRIL


             Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                       João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


 «No uso de uma prerrogativa constitucional que lhe confere o direito de expor à Assembleia Nacional assuntos de «reconhecido interesse nacional, o Presidente do Conselho fez, no dia 5, àquela câmara uma comunicação sobre política ultramarina que publicamos em suplemento a este número do «Notícias de Portugal».

Transmitida em directo pela rádio e pela televisão, a comunicação foi feita antes da ordem do dia.»

Notícias de Portugal, 9 de Março de 1974.

Citações do discurso que Marcelo, com casa cheia, como se diz no futebol, proferiu na Assembleia Nacional:

«Nenhuma dúvida pode haver de que o mais grave problema que presentemente se põe à Nação portuguesa é o Ultramar.

(…)

Nunca será demais recordar que as operações militares em Angola, em Moçambique e na Guiné resultaram da legítima defesa perante uma agressão preparada e desesncadeada a partir de territórios estrangeiros.

(…)

Como, porém tive ocasião de dizer em Julho de 1972, «as forças militares que servem ma África portuguesa e hoje têm cerca de metade dos seus efectivos constituídos por africanos, não fazem a guerra: asseguram a paz.

Não dominam, não subjugam, não anexam, não conquistam – apenas vigiam, e repelem quando necessário a força pela força, proporcionando aos habitantes a possibilidade de fazer normalmente a sua vida, apoiando a sua evolução e promoção social, e garantindo o fomento e o progresso dos territórios.»

Servindo-nos de Origens e Evolução do Movimento de Capitães de Diniz de Almeida, ficamos a saber que neste mesmo dia, do discurso de Marcelo:

«… num atelier pertencendo ao arquitecto Braula Reis, por detrás do Restaurante João Padeiro, em Cascais, arranjado pelo major Sanches Osório, era já noite, quando o soalho dum modesto e canhado primeiro andar flectia sob o peso das inúmeras presenças, (cerca de 200 oficiais dos 3 ramos das Forças Armadas).»

É nesta reunião que se decide que dois camaradas da Comissão Coordenadora «indicados pelos restantes membros, designassem secretamente (retendo apenas portanto esses membros o conheciment0 de tal designação, dois camaradas, sendo um responsável pela elaboração do programa político a partir do Manifesto e outro pela elaboração de uma ordem de operações a utilizar em caso de necessidade de emprego de Forças Armadas.»

Conclui Diniz de Almeida:

«Registe-se que esses camaradas viriam a cumprir as suas tarefas já que é daí que nasce o programa do M.F.A. e embora não previsto na altura, é a 25 de Abril feito o recurso à intervenção de unidades do Exército.»

Ficavam a faltar 50 dias para o 25 de Abril.

sexta-feira, 1 de março de 2024

VIAGENS POR ABRIL




Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                  João Bénard da Costa          

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


Hoje é o primeiro dia do mês de Março.

A palavra que não se recusa, o grito que não se oprime, o gesto de nascer que a Primavera tem, todos os anos, quando Março chega.

A Primavera não tarda e fomos aprendendo que mais importante que a chegada da Primavera é estarmos à sua espera e com isso nos surpreendemos como se fosse a coisa mais simples, mais terna das nossas vidas.

Donde virá a Primavera que todos a esperam febrilmente?

As Viagens, a partir daqui, mantendo passadas já dadas, passarão a ter outras cambiantes, outras datas, outros personagens.

O que em cima encontram, são páginas (175, 176, 177)  do Depoimento de Marcelo Caetano escrito no Rio de Janeiro país do seu exílio após o 25 de Abril.

Nestas páginas que aqui se publicam, Marcelo Caetano aborda a inicial génese que fez cair o regime ditatorial. 

São de notar as palavras de Marcelo reconhecendo que o governo chegou à undécima hora na ignorância do que se passava nas Forças Armadas.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

VIAGENS POR ABRIL

 

                 Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                 João Bénard da Costa 

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.

 

Quando é que o 25 de Abril começou a desenhar-se?

O descontentamento entre os militares face à guerra colonial estava em crescendo.

Pessoalamente admito que o 25 deAbril despoleta no dia em que o Decreto-Lei nº 353/73 de 13 de Julho, que se pode ver no topo do texto, e que se transforma em pedra de toque desestabilizadora num conflito que estava latente entre os militares das armas de infantaria, artilharia e cavalaria. 

Mas os próprios militares determinam que o “Movimento dos Capitães” nasceu em Évora, numa reunião alargada, no dia 9 de Setembro de 1973.

Há quem tenha a opinião que o 25 de Abril começa a  23 de Fevereiro de 1974, quando de bota-alta-de-cavalaria e pingalim, o General António de Spínola, com chancela da “Arcádia”, publica o livro Portugal e o Futuro.

Alguns historiadores dizem que Marcelo Caetano acabou a leitura do livro na madrugada do dia 21 e logo admitiu o que há muito suspeitava: o regime estava por um fio.

Artur Portela Filho, no República de 11 de Março de 1974, terminava assim uma carta dirigida ao General Spínola: «Portugal e o Futuro surge como “o livro esperado”.

É possível, mas por quem?

Pela nossa parte o livro a escrever não é este – é outro.

E será uma obra colectiva.”»

Dois dias depois do levantamento de 16 de Março de 1974, protagonizado pelas tropas do Regimento de Infantaria 5, das Caldas da Rainha, Vergílio Ferreira, no 1º volume do seu Conta-Corrente, escreve:

«O livro de Spínola alastrou numa revolta militar frustrada. O livro? Há um clima deinquietação, um cansaço do provisório em que vivemos. O difícil da questão é que solução alguma coisa se nos impõe como boa. Há que escolher a menos má. Qual? A África é dos pretos que “exploramos” há quinhentos anos. Exploramos? Só? Mas como aguentar o embate da separação? O recurso seria retroactivo: termo-nos preparado para isso. Mas Salazar, como certos bichos, o que entregou foi pedra. Dizem-me: o Marcelo quer aguentar a guerra até estarmos preparados. Mas o desgaste não vai mais depressa que a preparação? Tentamos acumular de um lado, enquanto gastamos do outro Qual o saldo? Entretanto, ainda se recorre à retórica imperial. “Deus manda combater, não vencer, diz Marcelo. Mas Deus manda o que lhe mandamos mandar. Deus de paz, Deus carniceiro, Deus celeste ou terreno. O Deus de Marcelo não é muito inteligente. Ou estará simplesmente enrascado, sem saber o que fazer».

Sabe-se hoje que o livro não foi escrito por Spínola, mas por um capitão de artilharia, que mais tarde lhe escreveria também os discursos.

Diário de Lisboa de 19 de Janeiro de 1976 publica um depoimento do “escritor-fantasma” que considera Spínola um “vaidoso, demagogo e intelectualmente preguiçoso, mas com uma memória notável.”

Em 19 de Agosto de 1976 escreve Meira Burguete no Diário Popular:

«Spínola entrou (?) numa revolução (?) que quis corrigir (?) ou destruir (‘) uma outra revolução que não teria seguido o cariz que o Spínola queria.».

Vicente Jorge Silva no Público de 14 de Agosto de 199:

«O Marechal Spínola ficará para a História não por qualquer feito militar de relevo ou pela sua actividade militar mas por ter escrito um livro. O 25 de Abril não foi obra de um livro. Mas sem esse livro e sem a assinatura do seu autor, é provável que o sobressalto libertador que uniu então as Forças Armadas não tivesse sido possível.»

O Marechal Costa Gomes na entrevista recolhida para o projecto de História Oral do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coinbra, disse:

«O General Spínola tece sempre contradições enormes entre o que julgava intimamente poder fazer e o que fazia. Interiormente, foi sempre um ditador potencial. Não evoluiu nada desde que saiu da Escola do Exército até ser governador da Guiné.»

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

VIAGENS POR ABRIL


Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                 João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.

 

Fevereiro de 1974 de há 50 anos.

Estamos a ler as páginas 4 e 5 do Noticias de Portugal de 16 de Fevereiro de 1974.

O Notícias de Portugal era um semanário publicado pela Secretaria de Estado da Informação e Turismo (ex-S.N.I.), 75.000 exemplares de propaganda destinada aos portugueses espalhados pelo Mundo.

Sabe-se o soberano desprezo que a ditadura de Salazar/Caetano tinha pelo povo e os pelos trabalhadores.

No dia 6 de Fevereiro acompanhados do Dr. Silva Pinto, ministro das Corporações e Segurança Nacional, e dos Drs. Pinto Cardoso e Ivo Cruz, subsecretários da Estado do Trabalho e da Segurança Social, os delegados do Instituto Nacional de Trabalho e Previdência do continente e das ilhas adjacentes, que efectuaram em Lisboa a sua reunião geral, apresentaram cumprimentos ao sr. Presidente do Conselho que os recebeu em S. Bento.

Marcelo Caetano discursou aos delegados.

Alguns excertos desse discurso:

«Há tempos dizia-me alguém que a paralisação do trabalho dos controladores do tráfego aéreo era um sinal do progresso europeu, e que o facto de no nosso País tal ser proibido demonstrava, ao contrário, o nosso atraso.

Que enormidade!

O Estado pôs-se ao lado dos trabalhadores para evitar que eles fossem injustamente dominados pelo poder económico: mas não pode permitir que os interesses da sociedade sejam postos em causa mediante a simples afirmação da força dos trabalhadores.

Os países onde as questões de trabalho são resolvidos pela força não são amis civilizados – pelo contrário! – do que aqueles onde se procura a sua justa solução pela razão.

Este é o interesse dos trabalhadores e da Nação. Sindicatos politizados, empenhados na agitação permanente, para conseguir fins revolucionários, não os podemos admitir; deixam de ser organismos de defesa dos interesses profissionais para passarem a ser formações de combate, e como tal tais têm de ser tratados.

A situação exige de todos nós maior austeridade nos procedimentos, menos exigências nas reclamações, mais afinco no trabalho. Se as circunstâncias piorarem, tudo teremos de fazer para que os trabalhadores não seham os principais sacrificados. Mas para isso precisamos de que os trabalhadores nos ajudem, não reagindo apaixonada e descontroladamente às dificuldades que surjam – porque hão-de surgir.»

No decorrer destes 50 anos quantas vezes ouvimos os políticos, os governantes  das direitas deste país terem para com os trabalhadores os mesmos avisos e amaeaças que Marcelo descreveu neste discurso de Fevereiro de há 50 anos?

domingo, 11 de fevereiro de 2024

VIAGENS POR ABRIL


               Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                 João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.

A sanha censória dos capitães-analfabetos & Cª Lda, que cortavam indiscriminadamente as prosas dos jornalistas, escritores e artistas, era tão cega que chegavam a cortar-se a si próprios, como se pode constatar  neste recorte do Notícias da Amadora.

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

VIAGENS POR ABRIL


                 Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                 João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.

O recorte que acima se publica, é uma resumo feito por um órgão de comunicação social sobre uma mirabolante entrevista que Ruy Patrício, o último ministro dos Negácios Estrangeiros da ditadura de Marcelo Caetano, deu à revista Visão no dia 24 de Março de 1994.

Ruy Patrício, após o 25 de Abril acabou por fugir para o Brasil.

Ainda por lá vive e notícias vagas deram-no como um vibrante apoiante do facínora Bolsonaro, ex-presidente do Brasil. 

sábado, 13 de janeiro de 2024

VIAGENS POR ABRIL


 

                 Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                 João Bénard da Costa

 

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.

 

 

A viagem de hoje compreende uma frase de Marcelo Caetano, em conversa, Março de 1974, possivelmente com oficiais da sua «brigada do reumático»:

 

«Cuidado com os capitães, o perigo vem deles, pois não têm ainda idade suficiente para poderem ser comprados.»

 

Ficamos também com um extraordinário erelampejante poema de Alexandre O’Neill, datado de 10 de Abril de 1974, com o título «Lego», que pertence ao livro «A Saca de Orelhas» (1979) e que fomos buscar à Antologia «Tomai Lá do O’Neill:

 

Está tudo conformado
ao triste proprietário.
Mecânicas ovelhas,
na erva de plástico,
têm pastor de pilhas
e cão pré-fabricado.
Flores marginam esse
às peças-soltas prado.
Eléctricas abelhas,
obreiras sem contrato,
daquele herbário extraem
um mel supermercado.
A malhada, no estábulo,
quase manga de alpaca
(é A VACA, sabias?),
dá leite engarrafado.
No céu (para colorir)
a nuvem, pontual,
aguarda a vez de ser
chovida no nabal,
enquanto o Sol dardeja
na eira proverbial.
Já tudo afeiçoado
ao bom do proprietário
(ervas, bichos, moral),
ele conta com os seus
e espera sempre em Deus.

(«– Deste corda ao pardal?»)

Legenda: Marcelo Caetano e uma das suas «Conversas em Família»

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

PADRES QUE DEIXAM DE PREGAR O EVANGELHO...


Do que se passou na Capela do Rato nos últimos dias do ano de 1972, Marcelo Caetano determinou que nada seria referido nos jornais, rádios e televisão, nada seria publicado.

Apenas um comunicado do governo  a dizer que os funcionários públicos, demitidos das suas funções pelo governo, tinham recorrido da decisão para o conselho de ministros, também, após largas discussões do Cardeal Patriarca com o ministro do interior, uma confusa nota do Patriarcado do que então se tinha passado na Capela do Rato.

O Notícias de Portugal era um boletim semanal, da responsabilidade do SNI, enviado para os emigrantes portugueses espalhados pelo mundo. Do que passou na Capela não tiveram qualquer informação. Apenas no discurso de encerramento da reunião anual da Acção Nacional Popular, Marcelo Caetano faz uma curta e destemperada observação:

«A sociedade portuguesa, habituada durante muitos anos à protecção paternalista, não estava preparada para um ambiente de discussão e de luta. Ao ímpeto dos contestatários não se tem oposto mais que hesitante comodismo ou frouxa resistência. Muita gente julga até que tudo – turbulência, desmoralização, demolição – tudo é abertura, tudo está no jogo, tudo faz parte do novo estilo de governo…

Ingènuamente as pessoas querem então estar à moda. Não desejam que as considerem «ultrapassadas». É preciso andar com os novos tempos… e deixam correr ou apressam-se a dizer - «ámen».

Por isso há padres que deixam de pregar o Evangelho para fazer no púlpito a apologia da revolução social, demitem-se os pais da autoridade familiar, as audácias dos costumes chocam cada vez menos os moralistas, professores resignam-se à indisciplina, entram chefes em dúvida acerca da legitimidade do exercício da sua autoridade, olha-se com timidez a acção dos que procedem contra a ordem e contra alei e quase se tem pudor de aplicar sanções ou de usar os meios normais de reprimir ou contrariar as manobras de perturbação ou de obstrução da vida das instituições.»