O Nome Que A Cidade Esqueceu
João Tordo
Capa: Hugo Milheiriço
Companhia das Letras, Lisboa, Novembro de 2023
Naqueles tempos, a
vida era incrivelmente solitária. Não existiam redes sociais, nem telemóveis. O
correio era lento. Para se fazer um telefonema, era preciso enfiar uma moeda na
ranhura e rezar para que a ligação fosse bem-sucedida. Para se saber um número –
de um restaurante, uma livraria, ou uma loja de animais de estimação -,
recorria-se às Páginas Amarelas. Eu comprava cartões telefónicos num deli e ligava para casa aos domingos, escutando,
a uma distância enorme, cheia de interferências, a voz da minha mãe. Parecia
muito abalada, e eu não a censurava. Perguntava-me como era a América, e eu respondia
que era um lugar maravilhoso. Os meus encontros sociais davam-se na lavandaria
do senhor Fu, que ficava na esquina da rua do minúsculo apartamento que arrendei,
no princípio de 1992, na 105 com a Columbus, quando deixei a residência Jeanne
d’Arc.