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sexta-feira, 23 de abril de 2021

ALGUNS DIAS ANTES DE ABRIL


23 de Abril de 1974

Sob a presidência do Prof. Doutor Marcelo Caetano, reuniu, hoje, em São Bento, o Conselho de Ministros.


O Conselho ocupou-se largamente da conjuntura económica do País e da necessidade de acompanhar a marcha da inflação, nos aspectos que não possam ser totalmente travados, de modo a combater a especulação e a moderar quanto possível a alta dos preços.


Iniciou também o estudo de providências sobre a situação do funcionalismo.


Os trabalhos prosseguirão sobre estas matérias em reuniões do Conselho de Ministros para Assuntos Económicos, até estarem prontos os diplomas a aprovar.

1.

Foi tornado público um aviso dirigido a todos os mancebos que se apresentem às Juntas de Recrutamento Militar, no ano em curso de que devem fazê-lo acompanhados dos documentos necessários e obrigatórios para a sua identificação e regular funcionamento das Juntas, nomeadamente o bilhete de identidade, a cédula de recenseamento, certificados de habilitações literárias e carteiras profissionais ou sindicais.

2.

O serviço de Informação Pública das Forças Armadas anuncia a morte de dez militares: quatro na Guiné e três em Moçambique, em combates, e três por doença em Angola.

3.

Foi adiado para 15 de Maio, por falta de testemunhas, o julgamento de Maria Helena Vidal, acusada de ter feito parte do comando que, em 10 de Novembro de 1961 assaltou um avião da TAP, que fazia a carreira Casablanca/Lisboa, espalhando panfletos contra o regime, sob Faro, Beja, Barreiro e Lisboa. Outros implicados no assalto foram Palma Inácio e Camilo Mortágua.

4.

Em Espanha começa a Vuelta com a presença de ciclistas portugueses, entre os quais  Joaquim Agostinho.

5.

Diniz de Almeida, no seu livro Origens e Evolução do Movimento dos Capitães, confirma o início das operações:

1 – A confirmação do início das operações é determinada por qualquer dos seguintes sinais indicados nos parágrafos 2 e 3.

2 – Às vinte e duas horas e cinquenta e cinco minutos (22,55 horas) do dia 24 de Abril de 1974 será transmitida pelos «Emissores Associados de Lisboa» uma frase indicando que faltam cinco minutos para as vinte e três (23 horas) e anunciando o disco de Paulo de carvalho, «E Depois do Adeus».

3 – Entre as zero horas  e a uma hora (1 hora) do dia 25 de Abril de 1974, através do programa da Rádio Renascença será transmitida a seguinte sequência:

a)      Leitura da estrofe do poema «Grândola, Vila Morena».

                 Grândola Vila Morena

                 Terra da Fraternidade

                 O povo é quem mais ordena

                 Dentro de ti, ó cidade.

b)     Transmissão da canção do mesmo nome, interpretada por José Afonso.

6.


Este EP de Samuel também deu muitas voltas e voltas.

No país cinzento da guerra colonial, da PIDE, da Censura, só tinha licença de cantigueiro quem fosse o bobo do rei.


Muitos recusaram esse papel e ajudaram-nos a acreditar que a Liberdade era possível, que não era apenas uma ideia cravada no calendário, não declarado, dos nossos sonhos.


Tudo era proibido, menos sonhar.


Os cantigueiros ajudaram-nos a palmilhar caminhos, muitos desses caminhos eram picadas.


E também se podia morrer pelo sonho que sonhávamos.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

POSTAIS SEM SELO


Quando pousar a última carga, quando fizer a última caminhada, quando chegar a hora de descansar... já será tarde demais para iluminar o rosto com um sorriso, para ir brincar, para ser criança...
Muito tarde!

Samuel, o Cantigueiro

sábado, 3 de abril de 2010

O CANTIGUEIRO

ORFEU ATEP 6451

Poemas e músicas de Samuel
Direcção musical José Calvário
Produção musical José Niza
Fotografia Álvaro João
Editado em 1972

O Cantigueiro – A Recompensa – Os Castelos Também se Assaltam – Cantar de Quem Anda Por Lá

No país cinzento da guerra colonial, da PIDE, da Censura, só tinha licença de cantigueiro quem fosse o bobo do rei.
Muitos recusaram esse papel e ajudaram-nos a acreditar que a Liberdade era possível, que não era apenas uma ideia cravada no calendário, não declarado, dos nossos sonhos.
Tudo era proibido, menos sonhar.
Os cantigueiros ajudaram-nos a palmilhar caminhos, muitos desses caminhos eram picadas.
E também se podia morrer pelo sonho que sonhávamos.

O Cantigueiro


Penares de outrora são feitos versos
sangue das nossas mãos
A noite corre por todo o corpo
e os amigos são mais que irmãos

Cada janela trás o vento
vento que gela em vão Mais frio trás
o quadrado negro
as grades da frustração
Morremos pelo sonho que sonhamos

Mau pregador
justo auditório
Pior a pregação
Verdades ditas
fora de tempo
e o pregador vai para a prisão.


Não há fiança
pró cantigueiro
e ele nem dinheiro tem
Se viu demais
que arranque os olhos
e a vida correrá bem


Sonhou curara humanidade
dos mil podres que tem
Mas só dum toque
nas negras chagas
morreu de peste também


Se tal soubesse não cantaria
tudo o que já cantei
Só tem licença de cantigueiro
quem for o bobo do rei”

sexta-feira, 2 de abril de 2010

FALA DO HOMEM NASCIDO

ORFEU STAT 013

Poemas de António Gedeão
Músicas de José Niza
Orquestração José Calvário
Arranjo gráfico Beatriz Morais Alçada
Fotografias Álvaro João
Editado em 1972

Lado 1
Estrela da Manhã – Carlos Mendes, Duarte Mendes, Samuel e Tonicha
Fala do Homem Nascido – Samuel
Desencontro – Samuel e Tonicha
Tempo de Poesia – Duarte Mendes
Vidro Côncavo – Carlos Mendes, Duarte Mendes, Samuel e Tonicha

Lado 2
Poema da Malta das Naus – Samuel
Lágrima de Preta – Duarte Mendes
Poema do Fecho Éclair – Carlos Mendes
Poema da Auto-Estrada – Tonicha
Poema de Pedra Lioz – Samuel

Pelo ano de 1969, José Niza encontrava-se em Zaú Évua, no norte de Angola, a cumprir serviço militar. O correio da guerra levara-lhe um livro, “Poemas Completos”, de António Gedeão, e um recado: “para musicar”.De poemas, aparentemente soltos, resultou “Fala do Homem Nascido”, um dos mais belos discos da música portuguesa.

Fala do Homem Nascido

Venho da terra assombrada,
do ventre da minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.

Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.
Quero eu e a Natureza
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.