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sábado, 8 de junho de 2024

O OUTRO LADO DAS ESTANTES


Vinhos e Aguardentes de Portugal

Anuário 99/2000

IVV – Instituto da Vinha e do Vinho

Coordenadora: Maria José Cruz

Lisboa, 2000

“Não quero salvar o passado. Pretendo apenas conquistar o futuro”.

Em 2000 assinala-se um século da edição do livro “O Portugal Vinícola”, obra monumental de Cincinnato da Costa, ilustrada com aguarelas de Roque Gameiro

Obra de referência técnica fundamental na caracterização das castas tradicionais portuguesas, manteve ao longo do século o mito de livro raro e valiosos, que constitui, mo seu aparecimento na Exposição Universal de paris de 1900, um relevante elemento de divulgação de  “um dos primeiros e melhores países produtores de vinho”.

Este é outro livro que se encontra no Outro Lado das Estantes da Biblioteca da Casa.

Um enorme livro, publicação anual, com 526 páginas, profusamente ilustrado, onde estará tudo o que sobre Vinhos e Aguardentes de Portugal se pode encontrar.

Uma Bíblia? Uma Enciclopédia?

O que for será!

Alexandre Dumas dizia que o vinho é a parte intelectual de uma refeição.

Louis Pasteur: «O vinho é a mais sã e higiénica das bebidas.»

João Paulo Martins: «O melhor vinho que bebi não foi seguramente o melhor vinho que já provei. O melhor que bebi foi-o porque eu estava no ambiente certo, com a as pessoas certas, no momento certo.»

Pedro Garcias numa das sua crónicas no Público:

«A felicidade à distância de um copo de vinho ou de um beijo na boca de seis segundos
Nos últimos dois anos, resolvi conceder a mim mesmo pausas prolongadas de consumo e de exposição ao mundo social do vinho. Recuei para voltar a sentir o prazer de beber um bom vinho em família e com os amigos, sem me preocupar em descobrir as mil e uma nuances da bebida. Bebido assim, sem exibicionismos e excessos, como mero auxiliar do convívio humano, o vinho é mesmo uma bebida extraordinária, um dos melhores remédios contra o tédio e a angústia existencial.
A felicidade à distância de um copo de vinho ou de um beijo na boca de seis segundos
Perante o destino conhecido, há quem beba para esquecer e fugir à consciência clara e insuportável da nossa finitude. Mas não era bem essa a função que Omar Khayyam atribuía ao vinho. O vinho como analgésico leva quase sempre à adicção. Quando o tédio é o próprio vinho, mais vale beber água. O programa do poeta persa era outro e mais simples: se vais ter que morrer, se a vida é um instante fugidio, então não desperdices nada do que te possa fazer feliz.

Numa taberna pedi a um velho que me informasse sobre aqueles que morreram.

Respondeu-me:

Não voltarão. É tudo o que sei. Bebe vinho.» 

segunda-feira, 27 de maio de 2024

QUOTIDIANOS


Ele tinha guardado, religiosamente, aquela garrafa de tinto de Portalegre, do tempo em que o Mário Soares fez por ali uma presidência aberta e a Adega Cooperativa celebrou a ocasião com uma excelente edição de tintos.

O vinho já não lembra para que estava guardado, qualquer coisa especial, uma qualquer celebração, que num qualquer dia pudesse acontecer, não importava o quê.

Um dia, almoço de amigos, a ocasião era excelente para abrir a garrafa.

Não a encontrou. Beberam-se outros vinhos nesse almoço.

Mais tarde, veio a saber que o filho mais velho fizera uma festa com amigos cá em casa, e usaram a garrafa de Portalegre-presidência-aberta-de-Mário-Soares, na sangria.

Crime de lesa pátria.

Coisas do Arco do Vinho.

Quem anda à chuva molha-se.

sexta-feira, 8 de março de 2024

POSTAIS SEM SELO


Pode não parecer, mas os vinhos e a política têm muitas coisas em comum. A mentira é uma delas. 

Pedro Garcias no Público

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

E UMA CRISE À PORTA...



 O que nos vai valendo é o turismo e, por via dele, a restauração, onde se vendem os vinhos de maior valor acrescentado. Graças aos visitantes, estamos quase a aproximar-nos dos 70 litros/ano por cada português. Tem sido sempre a subir. É bom para o negócio, apesar de não ser uma boa estatística para um país com elevadas taxas de alcoolismo.

Só que o turismo pode estar a cegar-nos, impedindo-nos de ver a bolha em que vivemos também no vinho. Não há milagres: quando o dinheiro começa a faltar para a comida, o vinho é o primeiro a sofrer. Vêm aí tempos difíceis, embora ainda não seja o diabo, espero. Se empobrecermos só um bocadinho e com saúde já não será mau. Antes de nos queixarmos, convém olhar à nossa volta. Antes um pouco de austeridade e umas cubas a abarrotar de vinho do que um míssil transviado.

Pedro Garcias de uma crónica  no Público

sábado, 16 de setembro de 2023

FASCÍNIOS DO VINHO

«Ainda assim, já chorei com o vinho. Nuns casos porque me emocionei com o seu carácter e pureza, noutros pelos efeitos do álcool. Um dos grandes fascínios do vinho é o de ser um belo catalisador da memória e da lucidez. Pela sua mão, resgatamos vivências memoráveis e tornamos mais crua a nossa humanidade. Tanto pode deixar-nos angustiados como momentaneamente felizes. Com frequência, costumo ir de um estado ao outro. E é quando chego àquele ponto de euforia sentimental que, sem saber bem se é de alegria ou se é de tristeza, por vezes colapso.»

Pedro Garcias, de uma crónica no Público.

sexta-feira, 26 de maio de 2023

POSTAIS SEM SELO


 Um copo de vinho por dia pode reduzir o a risco de demência.

Pedro Garcias de uma crónica no Público.

Legenda: Cartaz da Junta Nacional do Vinho, 1937

domingo, 26 de fevereiro de 2023

CONVERSANDO


 Porque hoje é domingo.

E o que faz ele ao domingo?

Antes de o obrigarem a poupanças energéticas, o almoço de domingo era sempre um assado no forno.

Agora entretém-se  a ler a crónica  de Pedro Garcia no Fugas do Público.

A de ontem metia futebol e vinhos de Colares.

Durante muitos anos passou fins de semana e férias em Almoçageme.

O pai normalmente, ao lanche, matava, no Café do João, uma garrafinha de Colares branco com uma torrada aparada e mais mais para o final da garrafa, chegava um sandes de presunto em pão saloio.

O João nem sempre arranjava Colares e o pai ficava-se com um honesto Beira-Mar da velha António Bernardino Chitas.

A Biblioteca da Casa tem os livros do Eça bem como toda uma série de livros sobre o autor e em que se destacam Livros e Roteiros sobre os comeres e os beberes que abundam na sua obra, todos eles da autoria de Dario Castro Alves, um brasileiro que se encantou com a obra de Eça de Queiroz.

 Estes livros são um divertimento, ainda possíveis de serem encontrados nas feiras livrescas de ocasião, que se fazem em alguns bairros de Lisboa, também em  alfarrabistas.

Esses livros são 

Era Porto e Entardecia

Roteiro de Os Maias de Eça de Queiroz e de Todas as Comidas e Bebidas no Romance.

Era Tormes e Amanhecia 1º Volume2º Volume

 Mas vamos então ao final de crónica que Pedro Garcias escreveu no Fugas do Público:

«Quando chegámos aos tintos, para acompanhar um cozido, desiludimo-nos logo com um Dão pelo qual tínhamos muito afecto e a seguir com o mesmo Colares de 1980, que estava tão defeituoso como os que tínhamos bebido no Chiado. E foi aí que o meu amigo lembrou Eça de Queirós, julgando ser este pouco amigo dos vinhos de Colares e, pelos vistos, com razão. Para o comprovar, leu um excerto de O Mandarim, na voz do personagem Teodoro:

«Ah!, que dia! Jantei num gabinete do Hotel Central, solitário e egoísta, com a mesa alastrada de Bordéus, Borgonha, Champagne, Reno, licores de todas as comunidades religiosas - como para matar uma sede de trinta anos! Mas só me fartei de Colares. Depois, cambaleando, arrastei-me para o lupanar! Que noite!».

Eu e outro amigo comensal, benfiquista tão antiportista que é incapaz de pronunciar o nome do FC Porto, franzimos o sobrolho. Ambos percebêramos na descrição um elogio, não uma crítica aos Colares. Num exercício hermenêutico, lemos e relemos aquela passagem e a verdade é que, com um pouco de favor, a interpretação pode dar para os dois lados. Certamente que, ao escrever “mas só me fartei de Colares”, Eça queria dizer que, de entre tantos vinhos bons, só se tinha saciado com Colares, ao ponto de ficar tão radiante que foi acabar a noite a um lupanar (bordel). Fartar tinha ali o significado de saciar. Morra Marta, morra farta! Mas ao terminar a frase sem um ponto de exclamação, recurso que usara antes e depois daquela frase, também deixava no ar a possibilidade de só se ter fartado, no sentido de fastio, com os Colares - daí ter ido afogar as mágoas em colo feminino. Um ponto de exclamação acentuaria o sentido de agrado e acabaria com as dúvidas.

A tese do meu amigo sportinguista podia ganhar força nesta passagem de O Primo Basílio: «Ele teve um sorriso infeliz. - Cear! Se se podia chamar cear ir ao Grémio rilhar um bife córneo e tragar um Colares peçonhento!». Mas, se não bastassem as muitas garrafas de Colares que Eça de Queirós bebeu ao longo da vida em borgas com os amigos, há um trechinho n' Os Maias que equivale a uma verdadeira declaração de amor aos famosos e cada vez mais escassos vinhos de areia. Numa carta interesseira ao tio Guimarães, o rico e gordo Dâmaso Salcede escreve: “O meu querido tio sabe como eu gosto de si, que até estava o ano passado com tenção, se soubesse a sua morada em Paris, de lhe mandar meia pipa de vinho de Colares”.

Meia pipa é muito vinho. Dava para o homem se fartar. Julgo que o meu querido amigo sportinguista andou durante muito tempo enganado com os Colares de O Mandarim

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

... E MUITO MAIS VINHO TINTO

Em 1986, Manuel S. Fonseca esteve três meses em Los Angeles e esse tempo permitiu-lhe «estudar Coppola e ouvir John Huston, esse Hemingway do cinema, já de garrafinha de oxigénio, a dizer que, a mudar alguma coisa na sua vida, teria bebido muito menos uísque e muito mais vinho tinto.»

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

SENTIR NA BOCA O TRAVO A PINHEIRO


Dia de São Martinho.

Vai à tua adega e prova o teu vinho.

Lido, há muito tempo, já não sei onde. 

Desconheço o autor, e uma pequena investigação pela diversa papelada, deu em nada.

«Incendeia um monte de caruma,

deixa que nele caia um saco de castanhas.

Que tostem, que absorvam chamas, que escaldem,

que se exaltem com sucessivos punhados de sal.

À tua volta, algumas presenças muito sorridentes.

Remexe o lume com uma vara até que a caruma fique em brasa.

Suja os dedos, abre as castanhas e sente na boca o travo a pinheiro.

Nunca tinhas saboreado nada assim – experimenta-as.

Marca com os dedos cheios de cinza uma fronte a teu lado.

Traz contigo as gargalhadas e os lábios salgados».

Legenda:  Os Bêbados ou Festejando o S. Martinho, quadro de José Malhoa.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

QUOTIDIANOS


Findar do que se chama Dia de S. Martinho.

O vinho chama-se Alucinado, a dose certa de loucura.

O rótulo acrescenta que a produção é do Manicómio das Beiras realizada pelo paciente nº 478.

Tão bom que é capaz de lhe tirar o juízo.

Um vinho indicado para quem não tem medo de experiências novas e alucinantes.

Possíveis efeitos secundários.

Sensação geral de bem estar e satisfação, proporcionada pelo prazer do golo do melhor vinho.


Pode seguir-se uma súbita incansável vontade de rir, enquanto serve mais um copo.

Os efeitos secundários incluem ainda confiança nos seus passes de dança. Esta sensação pode ser confundida com uma dose de loucura.

 Dão D.O.C. 2017

Toutiga nacional, tinta roriz, alfrocheiro jaen

 13% vol,

Altiude Wines, Lda, Oliveira do Hospital.

Uma bela pomada, acabou por ser dito em final de função

IN VINO VERITAS


 No dia de S. Martinho, vai-se à adega e prova-se o vinho.

Abriu o vinho novo, lia-se, nos meus tempos de miúdo à porta das tabernas de Lisboa, um ramo de palmeira pendurado e, para que não houvesse dúvidas: Directo do Lavrador.

Desde muito cedo ouvi dizer que Portugal ara um país agrícola.

E que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses.

Ninguém tem mais sede do que um bêbado.

Carne sem vinho não vale nada; vinho sem carne vale alguma coisa.

Nem comer sem vinho beber, nem assinar sem antes ler.

Coma até estar meio cheio e beba até estar meio bêbado.

O primeiro copo morde, o segundo beija e o terceiro abraça.

Quem bebe morre, quem não bebe morre, portanto o melhor é beber.

Do vinho e da mulher… livre-se o homem se puder…

É melhor morrer de bêbado do que morrer de sede.

Melhor beber e passar mal do que não beber e passar mal.

Fleming:: a penicilina cura os homens, mas é o vinho que os torna felizes.

Louis Pasteur: o vinho é a mais sã das bebidas.

Benjamin Franklin: o vinho é uma prova constante de que Deus nos ama e deseja ver-nos felizes.

Na Bíblia pode ler-se que o vinho é o produto da terra e do trabalho do homem.

Nunca digas deste vinho não beberei.

Em tempos no Portugal profundo, conta quem por isso passou, que à falta de leite para as crianças, dava-se-lhes sopas de cavalo cansado: bocados, ou fatias de pão ocados de pão embebidos em vinho açucarado.


 Em Julho de 1983, havia 500 mil portugueses em regime de dependência directa do vinho o que, na Europa, nos colocava no segundo lugar logo a seguir à França.

Em Dezembro de 2000, um estudo concluía que Portugal era um dos cinco países da União Europeia em que o consumo do álcool aumentara nos últimos anos.

Em 2005 os portugueses enjeriam 2,8 milhões de litros de bebidas por dia, cada português, com mais de 15 anos bebia em média 115 de álcool. A cerveja era a bebida alcoólica mais consumida, seguida do vinho e de outras bebidas.

O raio da cerveja a sobrepor-se ao vinho.

Ainda hoje essa tendência se verifica.

Lembrava Manuel Vásquez Montalbán, que poderemos esperar de uma juventude que não sabe nem quer aprender a beber?

Só há uma coisa pior que beber – é não beber.

Shakespeare: um bom vinho possui a virtude: sobe-nos à cabeça e seca nela os vapores estúpidos, melancólicos e desabridos, torna o nosso entendimento sagaz, vivo e inventivo
Baudelaire: se o vinho desaparecesse da produção humana, creio que se faria na saúde e no intelecto do nosso planeta um vácuo, uma ausência, uma deficiência muito mais horrível do que todos os excessos e desvios que se considera o vinho responsável. Um homem que não bebe senão água possui um segredo a esconder dos seus semelhantes…

O capitão Kulkov, comandante de um cargueiro russo, dizia que num país de bêbados, alguém teria de permanecer sóbrio.

Mas não contem comigo!

Murmúrio de Mário-Henrique Leiria, saindo da redacção do República, pela porta das traseiras, a porta da tipografia: estou a morrer de sede por um gin-tónico.

O álcool dá vida à vida


José Gomes Ferreiras, numa das suas Heróicas:


Oh! esta comoção

de me sentir sozinho
no meio da multidão
- a ouvir o meu coração
no peito do vizinho,

Oh! esta solidão

quente como a camaradagem do vinho.

Estando com os amigos, provado o vinho, poder dizer:


Que bela pomada!


Tenham um bom Dia de São Martinho!


Legenda:

a)      Cartaz da Junta Nacional doVinho, 1937

b)      Quadro de Amedeo Modigliani, Man With a Glass of Wine

c)      Quadro de José Malhoa, Os Bêbados

EM LOUVOR DO VINHO

Serve-me daquele vinho

que mais parece um ígneo rubi

ou uma cimitarra desembainhada

reflectindo os raios do sol

Daquele vinho que brilha no copo

tão puro como água de rosas

tão suave como o sono

numa pálpebra sem sono

Não confundas o copo com uma nuvem

e o vinho com as suas gotas celestiais

 

… Melhor seria

que esse vinho fosse servido entre as nuvens

nas garras de uma águia

Evitar-se-iam assim

as companhias indesejáveis

Rodaki de Samaracanda em Rosa do Mundo

Tradução de Jorge Sousa Braga

sexta-feira, 14 de maio de 2021

OLHARES


Pedro Garcias, jornalista e produtor de vinho no Douro, deixou este título no Fugas do Público.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS


A SociedadeComercial Abel Pereira da Fonseca, para além do Valdor, também vendia o Vinho de Missa, que satisfazia todas as exigências da legislação canónica.
Claro que o anúncio só poderia sair num jornal católico: Novidades.
Que, para além do sentido religioso, era um ferrenho baluarte das ditaduras de Salazar e Caetano e consequente apoio, incondicional, às perseguições e assassínios da PIDE/DGS, da Censura, da Guerra Colonial.
O 25 de Abril cortou-lhe o beato pio.
O anúncio pertence à edição do Novidades de 12 de Maio de 1967.

sábado, 12 de julho de 2014

QUOTIDIANOS


As tabernas antigamente. As tabernas eram sítios onde as pessoas não se esqueciam de si próprias. Sítios onde as pessoas falavam e eram ouvidas. Sabes?, eu era miúdo e gostava de ver os homens a beber copos de vinho. Bebiam os copos de vinho, assim, de repente, sem parar, e eu não percebia o prazer que eles tinham em beber assim, de um trago, sem parara, só mais tarde é que percebi, ficavam sem cólera e sem tranquilidade, bebiam apenas, de um trago, vinho tinto em copos de três. As tabernas eram sítios de prazer, uma reserva de conivências aonde os homens iam com prazer e sem preocupações.

Baptista-Bastos em O Cavalo a Tinta-da-China.


Legenda: fotografia de Luísa Ferreira.

sábado, 9 de novembro de 2013

terça-feira, 3 de setembro de 2013

segunda-feira, 25 de março de 2013

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

NOTAS DE PROVA OU POEMAS


Naquele tempo, o botas decretou que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses.
O vinho bebia-se, comprava-se em tabernas, pipos ao alto, vindos directamente do lavrador ramo de louro à porta – abriu o vinho novo.
Já mais crescidote, quando o rei fazia anos, bebia, Aliança, Periquita, Evel.
Não havia supermercados, grandes superfícies, lojas de vinhos.
Depois, segundo declararam além-fronteiras, passámos a viver acima da nossas possibilidades e beber vinho torou-se moda fina-saloia, quanto mais caro melhor e o negócio generalizou-se ao ponto de não se saber se algumas casas, alguns restaurantes tinham vinho ou ouro dentro das garrafas tal os preço a que chegaram.
Dentro da moda criou-se uma linguagem própria para otários, histórias feitas para serem contadas a camelos.
Limitado que sou, não tendo o Aliança, o Periquita, o Evel  continuado a ser vimnhos honestos, passei-me para as colheitas do ano e, amargamente, a lamentar que já não haja tascas a vender vinho, o tal que vinha directamente do lavrador.
Agora, o vinho chega em contentores-pack de 3, 5, 15 litros, acabando por se envolver num espartilho de palavreado debitado porcríticos publicitários, intitulam-se experts, saem-se com um linguajar inventado, ou até então desconhecido, para um país apenas conhecedor de meios copos, copos de três, ou penaltis.
Alfredo Saramago, algures, escreveu:
Existe um discurso demasiado sério sobre o vinho, é preciso que se restitua a liberdade a cada apreciador para poder julgar o vinho que bebe sem a espada de Dâmocles por cima da cabeça à espera de justiçá-lo se um aroma ou outro escapar ao paladar do desgraçado bebedor!
Cada vez que há feiras de vinhos em supers e grandes superfícies, não compro os vinhos, mas saco os catálogos e delicio-me com esse palavreado destinado a gente fina que, com o olho brilhante, delira com tudo aquilo, bebem as palavras com gosto, possivelmente com mais gosto do que  que com o próprio vinho que, normalmente, não justificam tanto ruído.
Chamam-lhe notas de prova mas há quem vá mais longe, e os considere poemas vinícolas.
Que sejam:
Os aromas de barrica lideram o conjunto com as notas especiadas e balsâmicas mas o fruto vibrante não se apaga neste conjunto muito voluntarioso. Tudo no sítio, corpo estrutura, tanino, boa frescura e termina num longo pós boca.
 Um estilo muito diferente, centrado nas notas frescas de ervas aromáticas e violetas com fruto intenso e muito elegante do tipo cassis. Muito «design» na boca, rendilhado, sem ser vigoroso, elegante e com boa sofisticação.
Aroma do tipo telúrico com notas de couro, frutos silvestres, muito mineral e ervas mediterrânicas, poderoso e frontal na aproximação. Um peso pesado na boca, muito tanino numa sólida estrutura, algum couro, fruto e força num estilo personalizado e de primeira linha.
Boca com garra e taninos firmes, muito boa estrutura, corpo e fruto sóbrio que termina num final ainda com alguma aspereza e muita especiaria. Um vinho de guarda
Um aroma muito doce com o fruto preto maduro em geleia e compotas, barrica bem casada. Na boca tem excelente volume, macio e gordo, conservando frescura, taninos sólidos. Termina muito longo ao fruto e tosta e cheio de elegância.
Estilo moderno e elegante com fruto preto, baunilha, tosta e café muito bem casados.
Notas apimentadas e frescas, fruto elegante de cereja num conjunto com alguma sofisticação. Firme e seco na boca, austero e cheio de força, taninos sólidos e um final longo bem condimentado.
Estilo quente e madurão, fruto de ameixa em passa, chocolate.
Notas fumadas e de alcatrão, fruto de amoras pretas muito maduras. Bem na boca, estruturado e concentrado no fruto e chocolate preto, pimentas muito firmes num conjunto com um longo pós-boca.
Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

domingo, 11 de novembro de 2012

IN VINO VERITAS


No dia de S. Martinho vai-se à adega e prova-se o vinho.

Abriu o vinho novo, lia-se, nos meus tempos de miúdo à porta das tabernas de Lisboa, um ramo de palmeira pendurado e, para que não houvesse dúvidas: Directo do Lavrador.

Desde muito cedo ouvi dizer que Portugal ara um país agrícola.

E que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses.

Ninguém tem mais sede do que um bêbado.

Carne sem vinho não vale nada; vinho sem carne vale alguma coisa.

Nem comer sem vinho beber, nem assinar sem antes ler.

Coma até estar meio cheio e beba até estar meio bêbado.

O primeiro copo morde, o segundo beija e o terceiro abraça.

Quem bebe morre, quem não bebe morre, portanto o melhor é beber.

Do vinho e da mulher… livre-se o homem se puder…

É melhor morrer de bêbado do que morrer de sede.

Melhor beber e passar mal do que não beber e passar mal.

Fleming:: a penicilina cura os homens, mas é o vinho que os torna felizes.

Louis Pasteur: o vinho é a mais sã das bebidas.

Benjamin Franklin: o vinho é uma prova constante de que Deus nos ama e deseja ver-nos felizes.

Na Bíblia pode ler-se que o vinho é o produto da terra e do trabalho do homem.

Nunca digas deste vinho não beberei.

Em tempos no Portugal profundo, conta quem por isso passou, que à falta de leite para as crianças, dava-se-lhes sopas de cavalo cansado: bocados, ou fatias de pão ocados de pão embebidos em vinho açucarado.



 Em Julho de 1983, havia 500 mil portugueses em regime de dependência directa do vinho o que, na Europa, nos colocava no segundo lugar logo a seguir à França.

Em Dezembro de 2000, um estudo concluía que Portugal era um dos cinco países da União Europeia em que o consumo do álcool aumentara nos últimos anos.

Em 2005 os portugueses enjeriam 2,8 milhões de litros de bebidas por dia, cada português, com mais de 15 anos bebia em média 115 de álcool. A cerveja era a bebida alcoólica mais consumida, seguida do vinho e de outras bebidas.

O raio da cerveja a sobrepor-se ao vinho.

Ainda hoje essa tendência se verifica.

Lembrava Manuel Vásquez Montalbán, que poderemos esperar de uma juventude que não sabe nem quer aprender a beber?

Só há uma coisa pior que beber – é não beber.

Shakespeare: um bom vinho possui a virtude: sobe-nos à cabeça e seca nela os vapores estúpidos, melancólicos e desabridos, torna o nosso entendimento sagaz, vivo e inventivo
Baudelaire: se o vinho desaparecesse da produção humana, creio que se faria na saúde e no intelecto do nosso planeta um vácuo, uma ausência, uma deficiência muito mais horrível do que todos os excessos e desvios que se considera o vinho responsável. Um homem que não bebe senão água possui um segredo a esconder dos seus semelhantes…

O capitão Kulkov, comandante de um cargueiro russo, dizia que num país de bêbados, alguém teria de permanecer sóbrio.

Mas não contem comigo!



Murmúrio de Mário-Henrique Leiria, saindo da redacção do República, pela porta das traseiras, a porta da tipografia: estou a morrer de sede por um gin-tónico.

O álcool dá vida à vida

José Gomes Ferreiras, numa das suas Heróicas:

Oh! esta comoção
de me sentir sozinho
no meio da multidão
- a ouvir o meu coração
no peito do vizinho,

Oh! esta solidão
quente como a camaradagem do vinho.

Estando com os amigos, provado o vinho, poder dizer:

Que bela pomada!

Tenham um bom Dia de São Martinho!

Legenda:
a)      Cartaz da Junta Nacional doVinho, 1937
b)      Quadro de Amedeo Modigliani, Man With a Glass of Wine
c)      Quadro de José Malhoa, Os Bêbados