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segunda-feira, 1 de julho de 2024

MAIAKOVSKI

Aos trinta e seis anos

um tiro ao coração.

Assim

crucificaste

este século.

 

Emigrante

doutro tempo,

acertaste

onde era preciso

tocar,

pôr as mãos,

encontrar o futuro,

Maiakovski.

 

De A Raiz Afectuosa em António Osório

quarta-feira, 12 de junho de 2024

CAMÕES

Lia-me Camões meu Pai.
A tristeza de ambos
se juntava, em mim crescia.
E a voz, a inalterável
mergulhia das palavras
procriavam sarmentosos liames.
(Basílico a Mãe depunha no lume,
a carne com alecrim perfumava).
O livro de carneira negra,
as letras juntas em oiro:
morros, alusões, muros
verdentos, o último da vida ouvia.
Mordaça invisível. Em lágrimas,
minhas, de meu Pai e de Camões, voava.


António Osório 

sábado, 12 de fevereiro de 2022

OLHAR AS CAPAS


Antologia

António Osório

Prefácio, Organização, notas: Eduardo Lourenço

Capa: Rui Ligeiro

Editorial Presença, Lisboa, 1984

 

Querida Tia Egeria

 

Querida Tia Egeria, com sapatos

de há tantos anos, um gato,

fotografias, lençóis da tetravó,

residente na bondade de dar tudo,

casada com vasos de gerânios.

 

Neto teu, debaixo do travesseiro

de minha Mãe escondias

todas as noites amêndoas.

Com quatro anos vi contigo

um comboio infindável,

formigueiro de carruagens, vagons,

barulho rolando

e eu dizia adeus, beijava a gente

que o bafo dentro embaciava.

E foste tu quem me levou

Pela mão à porta do Paraíso. 

sábado, 20 de novembro de 2021

ANTÓNIO OSÓRIO (1933-2021)


Morreu o poeta António Osório.

Poeta do amor e da fulguração, dos afectos e dos silêncios.

Sem ainda saber da sua morte, foi um poema de António Osório que escolhi para a apresentação da capa da revista Granta nº3. Como diz Carlos Vaz Marques no prefácio deste número da revista:

«António Osório o poeta da gratidão escolheu a Granta para retornar aos versos, após um longo interregno em prosa.»

David Mourão-Ferreira, em 1981, escreveu que «António Osório constitui um dos casos mais notáveis da moderna poesia portuguesa, já pelo tom de voluntária surdina em que a sua voz efectivamente corresponde aos valores expressos nos própios títulos dos seus livros. Com efeito, a sua poesia, partindo geralmente de uma «raiz afectuosa» que nunca deixa de mostrar-se visível ao nível do texto, afirma-se pela demarcação de um «lugar de amor» em que se patenteia uma reiterada recusa ou «ignorância da morte», graças à qual fantasticamente convivem, no espaço do poema, os mortos e os vivos, o passado e o presente, a memória e o quotidiano numa teia subtil de sugeridas relações ou de perturbantes contrapontos.»

A Raiz Afectuosa

Com os anos

a pouco e pouco

a raiz afectuosa

penetrou

no fundo da terra

até chegar

ao mais pequeno

e mais antigo

veio de lágrimas. 

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

OLHAR AS CAPAS


Granta

Nº 3

Direcção e Editorial: Carlos Vaz Marques

Textos de Ruy Belo, Alexandra Lucas Coelho, Hélia Correia, Siri Hustvedt,

                  Ha Jin, Hilary Mantel, Susana Moreira Marques, Haruki

                   Murakami, António Osório, Valério Romão,  Paul Theroux,

                   Teresa Veiga, Lina Wolff

Capa: Luísa Ferreira

Edições Tinta-da-China, Lisboa, Maio de 2014

O Retorno

Volta, volta

logo que possas.

E que o Sol

abençoe as tuas raízes.

 

Segue umas crianças,

acompanha, viva,

a sua alegria.

 

 Vê as árvores,

as que foram tuas,

esconde-te por trás

do velho mirto florido.

 

Não esqueças a Mimosa,

a tua cadela, linda,

companheira, com olhos

quase tão belos e doces como os teus.

 

Procura o nosso Tempo.

Pede-lhe que seja generoso.

Não te deixes desfazer:

Volta, volta serena.

António Osório

sexta-feira, 5 de junho de 2020

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Comprei este 5º volume de As Escadas Não Têm Degraus, num vão de escada, perto da Rua Morais Soares, onde um simpático casal de velhotes, vende de tudo: livros, CDs, DVDs, discos de vinil, revistas, plantas e máscaras para a pandemia.

Lamentavelmente não levava a máquina pelo que terei de voltar a passar para fazer o boneco.

Editados pela Cotovia, As Escadas Não Têm Degraus, eram uma publicação não- periódica dirigida por António M. Feijó, João Miguel Fernandes Jorge, Joaquim Manuel Magalhães.

Segundo explicação, que este volume apresenta, não se trata de uma antologia, apenas um conjunto de ficções inéditas e a ordem pela qual os autores aparecem, foi tirada à sorte, papéis dobrados com o nome de cada autor de dentro de uma caixa negra.

Como podem observar os autores convidados são de primeira água.

O 1º número foi publicado em Janeiro de 1988 com textos, entre outros, de Mécia de Sena, António M. Feijó, Fernando Pinto do Amaral, Gil de Carvalho, João Pinharanda, João Miguel Fernandes Jorge, Joaquim Manuel Magalhães, Jorge Fazenda Lourenço, Joaquim Pinto.

O 2º número foi publicado em Fevereiro de 1990 com textos, entre outros, de Gil de Carvalho, Paulo Teixeira, Helena Barbas, Nuno Vidal, João Miguel Fernandes Jorge, José António Almeida, Fernando Pinto do Amaral, Maria Leonor Telles.

0 3º número foi publicado em Março de 1990 com textos, entre outros, de Fátima Maldonado, Armando Silva Carvalho, Nuno Júdice, Fernando Assis Pacheco, Herberto Helder, Helder Moura Pereira, Mário Cesariny, Paul Celan, Samuel Beckett, António Osório. Sophia de Mello Breyner Andresen, Manuel Gusmão.

O 4º número foi publicado em Janeiro de 1991 com textos, entre outros, de João Miguel Fernandes Jorge, Miguel Esteves Cardoso, Miguel Tamen.

Neste 5º volume, anunciavam-se os autores do próximo volume, que seria o 6º, mas isso não veio a acontecer, a colecção ficou-se por cinco números.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

PRIMEIRO NATAL



Primeiro Natal
sem que faças o presépio.
Todos os anos compravas
algum pastor, um bicho
e os magos do Oriente repetiste.
Maria, José, o Menino,
A estrebaria:
Por aí começaste. E a ti
Deponho a seu lado, a ti e a meu pai,
Luz do Espírito santo na Palha.

António Osório em Natal... Natais