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domingo, 18 de agosto de 2024

QUOTIDIANOS


«Não vemos aqui Deus a passear pela borda da praia, “com as calças arregaçadas”, como dizia Ruy Belo. Mas acreditamos, como o grande poeta, que “o verão é a única estação” e que fomos feitos para “grandes férias”.»

Luís Filipe Castro Mendes   

terça-feira, 3 de outubro de 2023

QUOTIDIANOS


 O Verão que continua a passear-se pelo Outono lisboeta.

Comprar um livro na Bertrand, comprar também um saco com uma verdade quase eterna.

Colaboração de Aida Santos

terça-feira, 1 de agosto de 2023

VELHAS CANÇÕES


os meus verões são tão diversos como diversa tem sido toda a minha vida arroz de pimentos e pasteis de bacalhau aos domingos até algés ou cruz quebrada, o mar da infância ficava longe castelos na areia anos mais tarde dois meses na trafaria em casa alugada a pescadores, quando as férias eram grandes uma juke box na esplanada do marques o lucho gatica a cantar o moliendo café o marino marini a cantar honeymoon também um barrote espetado no meio do areal, um alti-falante no topo a ouvir-se o armando marques ferreira a apresentar o programa da manhã do rádio clube português as canções das praias de todos os anos uma kanimambo pelo joão maria tudela a lenda da conchinha da celly campelo o ouro negro setembro chegou vamo-nos separar os golfinhos a percorrer o tejo a caminho da barra os bailes de despedida dos banhistas no salão de festas dos bombeiros e agora senhoras minhas meus senhores o conjunto faz um pequeno intervalo damas ao bufete um enorme alguidar de zinco cheio de gelo e garrafas de vinho branco camilo alves, cada taça vinte e cinco tostões dois para esquerda um para a direita directrizes para o pezudo que sempre fui as férias da infância não se repetem o ruy belo que esperava pelo verão como por outra vida depois passei a odiar, o verão dou-me muito mal com o calor longe muito longe da sophia que dizia que metade da vida dela era maresia e eu a acreditar baixinho que o verão é um território do pecado, todos os pecados se confundem e de pecados fujo a sete pés e gozar que nem um perdido com a marilyn monroe num filme do billy wilder a dizer ao vizinho de baixo que se vai vestir à cozinha, o vizinho na cozinha porquê e ela a dizer que no verão anda nua pela casa e põe as cuecas no congelador o verão prestes a chegar o meu pai a dizer-me que em setembro voltamos a ser gente e sempre sempre os gatos selvagens e o verão a chegar sur la plage por fim mas não como última coisa há longos anos que deixei de passar férias e apenas sinto que as férias é que passam por mim a uma velocidade tão louca e muito longe da calma e serenidade das férias do sr. hulot ou brigitte bardot em 1955 de biquíni em saint-tropez, aquele grande sorriso e o resto que poderá ser um refresco de limão, muito gelo um dedal de gin e lembrar-me ainda que nunca usei óculos de sol

sábado, 30 de julho de 2022

A COR, AO LONGE, DO TEU TELHADO


Quase a chegar a Agosto.

Diziam os velhos: primeiro de Agosto, primeiro de Inverno.

Sou como o Manuel António Pina: detesto viajar. 

Ainda mal parti e começo logo a pensar no regresso. O Céline dizia que as grandes viagens são aquelas que se fazem através da imaginação.

A melancolia do regresso, diz o Pina.

Também há quem diga que os lugares mais longe são os que ficam dentro de nós. Não os conhecemos nunca.

Conta ÁlvaroMagalhães que em 1996, o jornalista Eugénio Alves, que dirigia uma revista do Inatel chamada Tempos Livres, pediu-lhe para fazer umas crónicas para, supostamente, incitarem as pessoas a viajar. As duas crónicas que ele escreveu tinham a mesma temática – o melhor nas viagens é o regresso. Numa delas dizia mesmo que não nos devíamos  afastar de casa mais do que nos permite a metade das nossas forças, que é para  termos sempre a outra metade para regressar. E sempre com a preocupação de não deixar de ver ao longe a cor no nosso telhado. Eugénio Alves acabou por o dispensar, apesar da qualidade literária das crónicas, dizendo que elas tinham o efeito contrário do desejado:: estavam a desencorajar as pessoas a viajar. 

Legenda: pintura de Jack Vettriano

terça-feira, 19 de julho de 2022

DIAS INFERNAIS...


O país continua a arder.

Temperaturas extremas em Londres – Londres a cinzenta, quem diria? –  danificaram uma parte da pista de aterragem e descolagem do aeroporto de Luton, a 55 quilómetros de Londres. A pista esteve fechada durante quase duas horas e obrigou a desviar e atrasar voos.

Por cá, ficamos a saber que as altíssima temperaturas voltam amanhã.

Dou-me pessimamente com o calor. Quando trabalhava, mandava as férias sempre para Setembro.

Vou agora ter com a Autobiografia  Woody Allen para ele me contar da Primavera e do Outono em Central Park.

«Veja, o verão em Nova Iorque são más notícias. É quente, sufocante, estão todos fora, e sim, podemos andar de um lado para o outro com menos trânsito, mas é entediante, tendo todos os amigos partido e estando tudo pegajoso e húmido. De qualquer maneira, chega o outono e a cidade começa a mexer. Os nova-iorquinos regressam de férias, o tempo arrefece. Quando eu era miúdo, em Brooklyn, os verões eram uma dádiva, porque significava que não havia escola e eu podia jogar à bola todo o dia e ir ao cinema. Era divertido, mas mesmo então, o outono significava que todas as raparigas giras regressavam dos campos de férias, e embora o pesadelo dos livros e das aulas pairasse no horizonte, pelo menos havia alguma anatomia sigmoide para acelerar o fluxo sanguíneo.»

Pelos dias quentes, vou também ter com o Billy Wilder, no filme O Pecado Mora ao Lado.

A imagem que encima o texto, tem Marilyn, da janela olhando, o vizinho do andar de baixo

Quando Marilyn Monroe, a regar as flores, numa daquelas noites do Verão de Manhattan, quase espeta com um tomateiro na cabeça de Tom Ewel que, no terraço em baixo, lê o jornal.

Ele levanta-se com uma fúria desmedida, mas depara com o rosto de Marilyn entre os vasos de flores, e convida-a para uma bebida.

Marilyn aceita o convite e acontece este delicioso diálogo:

- Vou à cozinha vestir-me.

- À cozinha?

- Sim! Quando está calor guardo a roupa interior no congelador. 

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

POR SETEMBRO


Recomeço.

Por Setembro, lembrando sempre o meu pai quando, em plenos calores estivais, dizia: «em Setembro voltamos a ser gente.»

Eugénio de Andrade conhecia Setembro pelo cheiro.

O ar ainda é quente, mas mais lá para a frente, começará a cheirar a Outono, e tardará  pouco para ir ao armário buscar uma lãzinha, talvez se encontrem uns trocos num qualquer bolso também o entusiasmado fumo dos vendedores de castanhas a espalhar-se pela cidade.

Em Setembro, planta, colhe e cava, que é mês para tudo.

Hão-de apanhar-se as uvas e tudo ficará a cheirar a mosto.

Ramo curto, vindima longa.

Cheiros e mais cheiros.

Setembro era também o mês do equinócio, único tempo de Verão em que havia ondas e marés vivas. Para o fim dele, as tardes faziam-se frias e As camisolas ou “pull-overs” eram de uso obrigatório. No fim do mês, choviam as primeiras chuvas e a terra encarnada da Arrábida ganhava um cheiro especial que nunca mais esqueci e que me volta ao nariz de cada vez que oiço a palavra afrodisíaco”, escreveu João Bénard da Costa ele que, por Setembro, como sempre dizia, ia “Arrabidar." 

sábado, 19 de setembro de 2020

Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar alguns textos que por aqui foram sendo publicados.

NA VIDA NÃO TENHO NADA DE MEU

Um atento leitor de  Cesare Pavese sabe que A Praia será o menos político dos romances de Pavese.

 A observação deixou-a, também, Pedro Mexia, no Expresso, quando em 2011 a Ulisseia reeditou A Praia.

 Pavese resume A Praia como um relato da amizade de dois rapazes que uma mulher, casada com um deles, ao mesmo tempo une e separa.

 Aparentemente nada acontece.

 Quando o tempo de Verão era outro, tão lento, no devagar depressa dos tempos, para citar Guimarães Rosa: bebidas, bailes, jogos na praia, paixões de Verão, que as mães diziam que ficavam enterrados na areia, pores-de-sol, ambientes, sensações, estados de espírito, melancolias, situações de que a maior parte não se conseguem entender mas que gostamos de olhar e sentir, as aparências que revelam mais do que iludem, o carácter efémero das coisas, nostalgias de tempos perdidos, ele, Jorge Silva Melo que, naquele tempo, quando andava a ler romances arrepende-se de não ter dançado o twist e andar de carro descapotável.

 No Verão todos os pecados se confundem.

 Rilke dizia que só o Verão vale a pena, ou Ruy Belo, mesmo que não conheças nem o mês nem o lugar caminha para o mar pelo Verão.

 Jorge Silva Melo lê A Praia em 1965 e, ficou a moer por dentro que a novela poderia dar um filme.

 Sempre li Pavese com os meus “jeans”, uma camisa aos quadrados vermelha e os cigarros Porto que então fumava, entre os postais que regularmente punha no correio.

 Dessas leituras, dessas melancolias, em 1987, Jorge Silva Melo fez um filme e chamou-lhe Agosto.

 La Spiaggia, de Cesare Pavese, cuja acção se passa nos 40, na Itália do pós-guerra, e aborda a ascensão da burguesia intelectual depois de alguns anos de recuperação económica. O meu filme fala do momento em que li a novela: é mais uma adaptação da leitura que fiz em 1965. Agosto é, se calhar, o filme que gostava de ter feito quando ainda não podia fazer cinema. E um filme que me faltou; é, talvez, o filme que gostava que a geração de João Bénard da Costa tivesse feito quando se encontravam na Arrábida.

Mas esse tal João Bénard da Costa percebe o recado, e de Agosto dirá: os anos 60 da Arrábida, que Jorge Silva melo imortalizou no seu belíssimo Agosto, ainda lhe revelaram coisas, a ele, que mais nenhum sítio de Portugal lhe podia revelar.

 De novo, Jorge Silva Melo a falar de Agosto:

 É um filme que tem saudades de um tipo de cinema que existia e era exibido em Lisboa. Um cinema que eu vi no Condes com salas cheias, que os meus pais viram, que as pessoas normais iam ver. Isto é, o cinema dos amores na praia. Esse género de filmes nunca foi feito em Portugal e este meu tem saudades desses filmes do tempo em que sonhávamos com as raparigas de «Vespa» na praia.

O meu filme fala do momento em que li a novela; è mais uma adaptação da leitura que fiz em 1965. Agosto é, se calhar, o filme que gostaria de ter feito quando ainda não podia fazer cinema porque foi um livro que mais me marcou depois de O Estrangeiro do Camus.

Todos pensamos que aquela prosa impessoal e tão tocante foi escrita apenas para cada um de nós, que foi um sussurro que nos chegou de Itália, um segredo que nos contaram, que foi realmente só para nós.

 A minha primeira leitura de A Praia foi encantadora, apressada como sempre são as minhas primeiras leituras de alguns livros, a que depois tenho, naturalmente, de voltar.

 E volto até que os olhos me doam.

 Gosto do filme do Jorge Silva Melo.

 Gostaria de vos dizer o porquê, mas faltam-me unhas…

É em A Praia  que Pavese deixa escrita a frase que pelos tempos fora tem sido repetida, e sempre continuará a ser, e que vem na pág. 154 da minha velhinha edição de bolso da Portugália Editora:

Começava a compreender que nada é mais inabitável do que um lugar onde se foi feliz.

Se fosse vivo, Cesare Pavese faria hoje 106 anos.

 E tão cedo que ele nos deixou, quando apenas tinha 42 anos, e com tanto ainda para nos dar.

 Em O Diabo Sobre as Colinas escreve que da sua infância só lhe ficara o Verão, e num daqueles muitos seus dias depressivos e tristes, escreveu: basta-me a companhia do mar. Não quero ninguém. Na vida não tenho nada de meu. Deixem-me ao menos o mar.

 Texto publicado em 9 de Setembro de 2014

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

RUY BELO QUE ME DESCULPE


Dou-me mal com o Verão, dou-me pessimamente com o mês de Agosto.
O Cais do Olhar sempre se ressentiu dos dias agostinianos. Nada flui como devia fluir.
Mas este Agosto tem sido o pior de todos os Agostos que pelo Cais já passaram.
Não sei as razões, talvez saiba mas daria uma trabalheira, uma inutilidade adiantar explicações.
Mas Agosto aproxima-se do seu fim e eu lembro-me sempre do meu pai:
«Em Setembro voltamos a ser gente»

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

PEQUENOS CADERNOS


Um recorte encontrado nos Caderdinhos. 
Acho-o uma maravilha.
É um velho recorte tirado do Público de há muitos verões atrás.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

QUOTIDIANOS


Se as coisas corressem normalmente, mas já nada corre com normalidade!, teria, há dias, colocado uma frase que li, algures, em Agustina Bessa-Luís:

«Aquela chuva do fim do Verão, ríspida e quase alegre.»

Mas todo este Setembro, que deveria ser um doce Setembro, «está de ananases» como escreveu o Eça na «Correspondência de Fradique Mendes».

Neste momento os termómetros, em Lisboa, marcam 33 graus!

Legenda: pintura de Édouard Manet

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

O PERFUME DO VERÃO


Deitámo-nos alegremente em leitos de juncos frescos.
Tinham podado há pouco as videiras e, sobre nós, os choupos
e ulmeiros murmuravam como a água que ali passava
vinda da gruta onde vivem as ninfas.
À sombra, mas quentes pelo sol, cantavam as cigarras e
sob as silvas coaxava uma rã. Ouviam-se
a cotovia e o pintassilgo, a rola arrulhava as abelhas,
douradas dançavam em volta da fonte.
Tudo cheirava ao tempo da fruta,
ao perfume do verão.

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

LÊ-SE SOMENTE PARA MELHOR VIVER


Agosto chega ao fim.

Como dizia o meu pai: «amanhã voltamos a ser gente».

Férias em Agosto, só lembro de as ter enquanto miúdo.

Quando comecei a trabalhar nunca escolhi o mês de Agosto para férias.

Os colegas agradeciam.

No entretento voltei a ouvir falar em livros para férias.

Ah! livros para férias!


Não há livros para férias, há livros para todo um ano.

Ler dá trabalho, é certo.

O destino dos livros para férias é regressarem a casa cheios de areia e não lidos.

Não é, porém, por falta de tempo que não se lê.

Agustina Bessa Luís, no seu Caderno de Significados, diz o que fazer com os livros para férias, ela, que a páginas 49, declarou que não gosta de férias:

«Um livro para férias não deve ser escolhido. O que se escolhe serve à personalidade, e as férias são o pretexto para sermos impessoais, fazer o que muitos fazem, ir para onde muitos vão. Pegue num livro que não pese mais de 200 gramas e leve-o consigo. Leia três páginas, esqueça-o na gare ou no banco das termas, na praia ou no restaurante, e aí, sobretudo, aí tenha a certeza que é o bom livro para férias; se você não tiver pena de o ter perdido».

Camilo Castelo Branco deixou escrito:


«A poderosa razão que o lavrador Roberto Rodrigues opunha para não mandar ensinar a ler o filho, era - que ele pai também não sabia ler, e mais arranjava
lindamente a sua vida. Esta vinha a ser a razão capital, reforçada por outras subalternas e praticamente bastante persuasivas.
- Se o rapaz souber ler – argumentava triunfantemente o idiota – assim que chegar a idade, às duas por três, fazem-no jurado, regedor, camarista, juiz ordinário, juiz de paz, juiz eleito. São favas contadas. Depois, enquanto ele vai à audiência ou à Camara, a Cabeçais, daqui uma légua, os criados e os jornaleiros ferram-se
a dormir a sesta de cangalhas à sombra dos carvalhos, e o arado fica também a dormir no rego. E ademais, isto de saber ler é meio caminho andado para asno e
vadio. E citava exemplos, personalizando meia dúzia de brejeiros que sabiam ler e eram mais asnos e vadios que os analfabetos.»


Terão razão os que dizem que não se vive para ler, lê-se somente para melhor viver?

Mas, agora, gostava de dizer que, durante muitos tempos de férias, havia um livro que ia sempre comigo: Cem Anos de Solidão do Gabriel Garcia Márquez.

Pegava-lhe sempre e ao acaso ia relendo esse livro fantástico centrado na imaginária terra de Macondo e das sete gerações da família Buendía, uma autêntica pérola do realismo mágico.

«Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo. Todos os anos, pelo mês de março, uma família de ciganos esfarrapados plantava a sua tenda perto da aldeia e, com um grande alvoroço de apitos e tambores, dava a conhecer os novos inventos.»

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

VELHOS RECORTES


Recorte de um suplemento de Verão do jornal «Público», s/d.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

MEU QUERIDO MÊS DE AGOSTO


Primeiro de Agosto, primeiro de Inverno, diziam os velhos.
E o «Meu Querido Mês de Agosto» não podia faltar.
Boas férias!

terça-feira, 25 de outubro de 2016

QUOTIDIANOS


Um verão inteiro a visitar-te para te olhar as mamas. um verão inteiro. ele fazia sempre o mesmo, logo após a hora do almoço, entrava na loja e dava uma volta pelas prateleiras, pelos expositores. foi logo no segundo ou no terceiro dia que ele te fez algumas perguntas avulsas sobre os livros. percebeste que ele podia estar ali para muitas coisas, mas não para comprar livros. mas todos os dias ele voltava, todos os dias do verão, para te olhar as mamas que o regalavam a sair do decote. a sua presença, um tanto inadequada nos primeiros dias, tornou-se habitual, quotidiana, agradável, quase. foi por isso que, apesar dele ter como único intuito olhar-te as mamas, tu sentiste a sua falta, no primeiro dia de frio deste ano.

Luís Filipe Cristóvão

Legenda: fotografia de Joshua Brooks

domingo, 18 de setembro de 2016

ANDORINHAS


Setembro.
Vão-se embora as andorinhas,
Guincham, voltejam incessantes
Em torno da minha casa de campo
(Que eu tenho uma cada de campo
Que, apesar de bem disposta
E muito branca e asseada,
     Ninguém compra).

Em voos de despedida,
Agora rentes ao chão
      E logo altas,
Como quem pede perdão
      Para as suas faltas,
(ai, penas, e asas minhas!)
Vão-se embora as andorinhas.

Afonso Duarte em Ossadas

Legenda: fotografia de Pedro Barata 

sábado, 10 de setembro de 2016

OLHAR AS CAPAS


A Praia

Cesare Pavese
Tradução: Alfredo Margarido
Capa: António Charrua
Colecção de Bolso nº 65
Portugália Editora, Lisboa s/d

Então voltou a calar-se outra vez. Eu pensava na estranheza do caso: tinha o dinheiro da viagem e não lho emprestava. Entretanto entrámos na ruazita, e a vista da oliveira irritou-me. Começava a compreender que nada é mais inabitável do que um lugar onde se foi feliz. 

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

QUOTIDIANOS


Caramba! …com o nada querido mês de Agosto a finar-se, já cheira a Setembro.
Amanhã, como então dizia o meu pai, voltamos ser gente.

Legenda; pintura de Mihai Criste

sábado, 27 de agosto de 2016

OLHAR AS CAPAS


 O Verão

Cesare Pavese
Tradução: Fernando Gil
Capa: João da Câmara Leme
Colecção O Livro de Bolso nº 77
Portugália Editora, Lisboa Abril de 1965

Naquele tempo tudo era festa. Bastava sair de casa e atravessar a estrada para ficarem como loucas; e era tudo tão belo, especialmente de noite quando, ao regressarem mortas de cansaço, esperavam ainda que qualquer coisa acontecesse, que um incêndio estalasse, uma criança nascesse em casa ou até que subitamente viesse a manhã e toda a gente saísse para a rua e pudessem continuar a caminhar, caminhar até aos prados e para lá das colinas.

domingo, 14 de agosto de 2016

POSTAIS SEM SELO


A gente sente-se não sei como quando sai e vê as mulheres com vestidos de Verão.

Cesare Pavese em Terras do Meu País