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quinta-feira, 2 de maio de 2024

O OUTRO LADO DAS CAPAS

Há uma frase de Jorge Calado lida não lembro onde:

«O primeiro sintoma duma cultura é a culinária. Diz-me o que comes, dir-te-ei quem és.»

Para continuar uma outra frase, esta do jornalista Rodrigues da Silva, que há algum tempo nos deixou:

«…em miúdo, atraído pelo cheiros e antegozando os sabores, metia o bedelho na cozinha, minha mãe corria comigo de lá, dizendo-me assim: «Aprende a fazer o refogado, que depois mexes no tacho».

 Sempre gostei de comer em tascas, tabernas.

Liquidaram-nas. Umas viraram frutarias, outras bancos, outras lojas de artesanato, outras reles snacks, também restaurantes a armar ao pingarelho.

Deixei-me de comer em restaurantes. Cansaram-me Gosto de comer em casa. Coisas simples, insuportavelmente domésticas, banais, fáceis. Acresce que, nos restaurantes, para além de se comer mal, ou não comer muito bem, somos indecentemente roubados, pagamos balúrdios por coisas de nada. Dos vinhos nem se fala. Aquilo não é ganhar dinheiro, é roubar!...

Mas quando era miúdo, quando se comia fora, era uma festa.

O livro que trouxemos hoje ao Olhar as Capas, é um dos que constam na Biblioteca da Casa para acompanhar as experiências que vamos fazendo na arte petisqueira e serviram na perfeição nos tempos em que a Aida teve uma taberna em Almoçageme

A sugestão fomos encontrá-la no mestre José Quitério:

«Publicado em 1904, o Tratado conheceu êxito sólido. Quando apareceu, o último grande livro de culinária de autor português era o de João da Mata, de 1876, muito mais virado para a alta cozinha de recorte evidentemente francês. O Bento da Maia (como passou a ser identificado) é, sobretudo, uma súmula da cozinha burguesa que não descura a popular e regional portuguesa. Além das novecentas e quarenta e quatro receitas de iguarias diversas e das cento e noventa e oito dos doces, oferece amplos ensinamentos sobre tudo quanto se relaciona com a cozinha e a mesa, de maneira acessível para principiantes. Esta última característica valeu-lhe a popularidade: era o livro que se oferecia às noivas, para que pudessem trazer os maridos bem presos à rédea curta da boa petisqueira caseira.»

sábado, 6 de abril de 2024

CONVERSANDO


 A Conversa de hoje, chega a propósito da morte de António-Pedro Vasconcelos na 1ª página do Público, onde se lê: «O cineasta que acreditava no grande público».

Agora entendam o começo da prosa como uma brincadeira, quando se diz:

«Karen Blixen teve uma fazenda em África, a Aida teve um tasco em Almoçageme».

Comida simples mas a saber a comida.

Durante uns dias, o João César Monteiro albergou-se numa casa que sua mulher, a Margarida Gil, tinha em Almoçageme.

Num sábado e num domingo, acompanhado por alguém, almoçaram no tasco.

No sábado petinga frita com arroz de pimentos, no domingo cosido à portuguesa.

Toda a conversação com esse alguém, desenrolou-se em francês. Talvez alguém ligado àquele seu projecto da adaptação do filme «La Philosophie Dans le Boudoir», e talvez ainda não tivesse chegado a conversa sobre caralhos:

Extracto da carta para o produtor Paulo Branco em Uma Semana Noutra Cidade:

«O custo unitário dos caralhos oscilava, consoante os tamanhos entre os 45 e os 60 contos. Neste passo vislumbrei com bonomia, a carinha do produtor, a tua, meu caro_

-Pa ra que são preciso tantos caralhos?

- Não sei. Pergunta ao Max.»

Na parte popular do tasco, balcão, duas mesas corridas, pipos de vinho ao alto, tínhamos colocado uma série e cartazes de filmes da colecção do Luís Miguel Mira, excepto um enorme cartaz do Casablanca. João César, depois do almoço, cigarro na beiça, deslocou-se a essa parte do tasco, olhou os cartazes e disse que fazia filmes e se estivéssemos de acordo um cartaz do seu último filme talvez  ali ficasse bem.

Foi-lhe dito que ficariam mesmo muito bem. O filme era  «A Comédia de Deus».

Pensou-se que a história ficaria por ali e o cartaz talvez para nunca mais.

Errado!

Na segunda-feira, João César, estava no tasco a depositar um rolo de cartazes do filme para escolhermos.

De imediato se mandou fazer a moldura e ali ficou.

António Pedro Vasconcelos, juntamente com uns amigos e amigas, algumas vezes, amesentava no tasco.

História primeira

Olhou e perguntou;

- Como é que aquele cartaz do filme do João César está por aqui?

Foi-lhe contado como tudo aconteceu.

- Vou trazer-lhe um cartaz do meu filme «O Lugar do Morto».

- Excelente ideia, o meu pai, por causa das pernas da Anna Zanatti, viu o filme três vezes.

O António Pedro voltou mais vezes ao tasco, mas sem o cartaz.

História Segunda

A parte popular do tasco tinha uma pequena televisão e uma telefonia para ouvir os relatos da Antena 1.

Sábado. Benfica a jogar em Braga, transmissão televisiva.

Visitas rápidas do António Pedro ao tasco para se inteirar  do resultado e ficar alguns minutos para ver como a coisa estava a correr. Na parte do restaurante, os amigos continuavam a conversar.

História Terceira.

Uma noite, António Pedro a perguntar se a Alheira que estava na lista era de Mirandela.

- Oh! António Pedro como é que os 600$00: batatas fritas, uma forma de arroz, um ovo estrelado, poderiam comportar uma alheira de Mirandela?

- Eh pá! Tem razão! Desculpe lá!...

Um homem delicado, sensível tal como largamente se disse na hora da sua morte.

Quarta história

Havia os afazeres do tasco e aguardei uma das suas visitas para ter a oportunidade de lhe perguntar como é que um homem que tanto sabia de cinema, e tanto gostava de filmes, se batia ardorosamente sobre a dobragem de filmes. A pergunta que lhe faria, olhando o cartaz do Casablanca seria para lhe dizer, que com a dobragem, não ouvir a voz, o catarro do Bogart, mas sim um qualquer assomo de um tipo desconhecido.

Esta história não aconteceu.

O tasco começou a ter um excesso de clientela. A cozinha era exígua, havia que fazer obras, mas aquilo não nos pertencia, renda mensal de 100 contos, e, por impedimentos vários, uma delas uma antiga querela de herdeiros do proprietário, não poderíamos o tasco.

António-Pedro de Vasconcelos gostava de um cinema popular, um cinema para todos.

João César Monteiro, segundo Vitor Silva Tavares odiava espectadores, estava-se nas tintas para o público.

 Ainda se lembram, na estreia de Branca de Neve, à pergunta do jornalista respondeu:

“Eu quero que o público se foda”.

António Pedro e João César foram amigos, tempos do Vavá, ambos estiveram nessa maravilhosa aventura do Cinéfilo: António-Pedro Vasconcelos como chefe, João César Monteiro na redacção, Fernando Lopes director.

Depois… as histórias, e respectivas versões, são várias.

João César Monteiro, a propósito de uma cena do seu filme «Quem Espera por Sapatos de Defunto» no seu livros Os Que Vão Morrer Saúdam-te:

«Antes do mais, é conveniente esclarecer que este plano foi, a meu pedido, filmado pelo sr. António-Pedro Vasconcelos, atendendo a que, farto do filme, me deslocara, no entretanto, para Itália em viagem nupcial. Ao sr. Vasconcelos foram deixadas todas as indicações julgadas úteis para a boa execução do plano, tarefa de que ele se encarregou escrupulosamente, segundo creio, e pela qual lhe estou grato. Bem feia acção seria, pois, eu vir agora queixar-me do trabalho generosamente despendido por um colega em proveito de um filme meu, mas lá que o enquadramento é uma boa merda, isso é. Então eu tenho que gramar aquelas verticais todas abauladas sem ficar roxo de cólera? E quem é que o mandou, seu fantasista , pôr o senhor da senhora que está na cama a ler os Cahiers du Cinéma? Não vê que isso desvia a atenção do movimento obsessivo do plano? Era preferível ter posto o homem a brincar com a pila!»

domingo, 26 de fevereiro de 2023

CONVERSANDO


 Porque hoje é domingo.

E o que faz ele ao domingo?

Antes de o obrigarem a poupanças energéticas, o almoço de domingo era sempre um assado no forno.

Agora entretém-se  a ler a crónica  de Pedro Garcia no Fugas do Público.

A de ontem metia futebol e vinhos de Colares.

Durante muitos anos passou fins de semana e férias em Almoçageme.

O pai normalmente, ao lanche, matava, no Café do João, uma garrafinha de Colares branco com uma torrada aparada e mais mais para o final da garrafa, chegava um sandes de presunto em pão saloio.

O João nem sempre arranjava Colares e o pai ficava-se com um honesto Beira-Mar da velha António Bernardino Chitas.

A Biblioteca da Casa tem os livros do Eça bem como toda uma série de livros sobre o autor e em que se destacam Livros e Roteiros sobre os comeres e os beberes que abundam na sua obra, todos eles da autoria de Dario Castro Alves, um brasileiro que se encantou com a obra de Eça de Queiroz.

 Estes livros são um divertimento, ainda possíveis de serem encontrados nas feiras livrescas de ocasião, que se fazem em alguns bairros de Lisboa, também em  alfarrabistas.

Esses livros são 

Era Porto e Entardecia

Roteiro de Os Maias de Eça de Queiroz e de Todas as Comidas e Bebidas no Romance.

Era Tormes e Amanhecia 1º Volume2º Volume

 Mas vamos então ao final de crónica que Pedro Garcias escreveu no Fugas do Público:

«Quando chegámos aos tintos, para acompanhar um cozido, desiludimo-nos logo com um Dão pelo qual tínhamos muito afecto e a seguir com o mesmo Colares de 1980, que estava tão defeituoso como os que tínhamos bebido no Chiado. E foi aí que o meu amigo lembrou Eça de Queirós, julgando ser este pouco amigo dos vinhos de Colares e, pelos vistos, com razão. Para o comprovar, leu um excerto de O Mandarim, na voz do personagem Teodoro:

«Ah!, que dia! Jantei num gabinete do Hotel Central, solitário e egoísta, com a mesa alastrada de Bordéus, Borgonha, Champagne, Reno, licores de todas as comunidades religiosas - como para matar uma sede de trinta anos! Mas só me fartei de Colares. Depois, cambaleando, arrastei-me para o lupanar! Que noite!».

Eu e outro amigo comensal, benfiquista tão antiportista que é incapaz de pronunciar o nome do FC Porto, franzimos o sobrolho. Ambos percebêramos na descrição um elogio, não uma crítica aos Colares. Num exercício hermenêutico, lemos e relemos aquela passagem e a verdade é que, com um pouco de favor, a interpretação pode dar para os dois lados. Certamente que, ao escrever “mas só me fartei de Colares”, Eça queria dizer que, de entre tantos vinhos bons, só se tinha saciado com Colares, ao ponto de ficar tão radiante que foi acabar a noite a um lupanar (bordel). Fartar tinha ali o significado de saciar. Morra Marta, morra farta! Mas ao terminar a frase sem um ponto de exclamação, recurso que usara antes e depois daquela frase, também deixava no ar a possibilidade de só se ter fartado, no sentido de fastio, com os Colares - daí ter ido afogar as mágoas em colo feminino. Um ponto de exclamação acentuaria o sentido de agrado e acabaria com as dúvidas.

A tese do meu amigo sportinguista podia ganhar força nesta passagem de O Primo Basílio: «Ele teve um sorriso infeliz. - Cear! Se se podia chamar cear ir ao Grémio rilhar um bife córneo e tragar um Colares peçonhento!». Mas, se não bastassem as muitas garrafas de Colares que Eça de Queirós bebeu ao longo da vida em borgas com os amigos, há um trechinho n' Os Maias que equivale a uma verdadeira declaração de amor aos famosos e cada vez mais escassos vinhos de areia. Numa carta interesseira ao tio Guimarães, o rico e gordo Dâmaso Salcede escreve: “O meu querido tio sabe como eu gosto de si, que até estava o ano passado com tenção, se soubesse a sua morada em Paris, de lhe mandar meia pipa de vinho de Colares”.

Meia pipa é muito vinho. Dava para o homem se fartar. Julgo que o meu querido amigo sportinguista andou durante muito tempo enganado com os Colares de O Mandarim

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

UM VIVA A REPÚBLICA EM CASA DE RESPEITO

Um tasco em Almoçageme, no dia 5 de Outubro de 1966.

Mais tarde, esse tasco daria lugar à adega «Toca do Júlio», sucesso e sucesso, mais tarde mudou-se para a Estrada do Rodízio a caminho da Praia das Maças, o mesmo sucesso mas a perca de certo aconchego que num tasco é coisa fundamental.

Mas voltemos àquele 5 de Outubro.

Entramos no tasco e antes de s se pedirem os copos, o Helder Pinho lança um sonoro «VIVA A REPÚBLICA!»

Lança-se o tasqueiro numa corridinha ao longo do balcão e com cara de mau a dizer ao Helder, futuro D. Pipas:

- Aqui não se admitem coisas dessas, isto é uma casa de respeito.

quarta-feira, 18 de maio de 2022

OLHARES

A latada de uva morangueira que o Marcolino tinha na casa de Almoçageme, aquele perfume, um banco quase de jardim, o meu pai a olhar o silêncio, a ouvir a ronca do Farol do Cabo da Roca.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

OLHARES


O Valentim era um alentejano que vendia, aos fim- de-semana, naquela curva da Azoia que depois se encaminha para a estrada do cabo da Roca, produtos hortícolas que cultivava num pedaço de terreno que tinha junto à barraca em que vivia. Era um conversador nato, coisas da vida, nunca da vidinha, e, nestes dias, que já são prenúncio do Verão que há-de chegar, lembro-me de uma frase sua:

«Beber água entristece.»

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

À VOLTA DO CORETO ENTRE EMOÇÃO E MEDO


…Salazar, o professor de Coimbra, morria em farsa de Parque Mayer, vítima doméstica dos seus calos, não dizendo coisa com coisa à sua Senhora Maria, durázia, surpreendida fielmente (contava-se) em combinação, no quarto da clínica. Cada qual seu destino, devido «fatum», «Shiksal» nacional… Tempo é de o escrever – em respeito que pelos ditadores não pode haver, sem ódio nem piedade trinta anos de história decorridos. Pois que seja, nestas memórias, no desprezo que a história promete em sua moral! Eu encontrava-me em Almoçageme nesses dias, em casa do Fernando e da Emília Azevedos, com a Mahité, e saímos a ver as pessoas na praça da aldeia. Como pareciam elas? Olhando-se silenciosas, à volta do coreto, entre emoção e medo, decerto sinceros ambos, nas águas da mesma história longa, longamente vivida – sofrida por muitos, lucrada por poucos, inútil para todos. «Peçonha em água-benta» – dissera Afonso Lopes Vieira.

José-Augusto França em Memórias Para o Ano 2000

domingo, 6 de setembro de 2015

QUOTIDIANOS



Domingo à tarde.

O horizonte está roxo e dourado.
Quietude. Os homens estão á conversa no largo.

O largo de Almoçageme, com coreto ao meio, com um café, igreja, casa mortuária, creche, mercado de peixe, de frutas e legumes, quiosque de jornais, cemitério, o largo como o centro do mundo no velho dizer do Manuel da Fonseca.

O diálogo flui na mercearia do Dias, agarrado ao Café Adraga de João & João.

O rapaz pede uma cerveja estupidamente gelada.

Ao lado, Miguel Esteves Cardoso, há muito a viver por ali, pede desculpa e, de olhos a piscar, murmura:

Não só estúpida como inteligentemente gelada.

Ninguém pergunta de razões.

Lá fora a tarde cai caindo roxa e dourada.

O Manel cantoneiro encosta-se ao cantinho do muro de cemitério, geme um pouco e deixa lamento:

Mijar pouco na presta.


O quarto minguante desenha-se no céu.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

SOU UMA AMBULÂNCIA


As comemorações dos cem anos dos Bombeiros Voluntários de Almoçageme, que ocorreram em 1995, tiveram um vasto e variado leque de iniciativas.
Uma delas foi o convite dirigido às escolas da zona para que os alunos fizessem uma composição sobre os bombeiros.
Sou Uma Ambulância é a composição da Célia Isabel Ramos, na altura a frequentar o 7º ano.

Ontem, começaram os festejos dos 120 anos do Bombeiros Voluntários de Almoçageme.


sábado, 30 de agosto de 2014

O AGOSTO A FINDAR...

Agosto a chegar ao fim.
O meu pai e eu, no silêncio da noite, debaixo da parreira de uva morangueira no quintal da casa do Marcolino em Almoçageme:
- Em Setembro voltamos a ser gente.
E olhava o gelo a derreter-se, lentamente, no copo de Whisky.

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

ESTE DIA NÃO!


Como atempadamente a própria disse, a Aida teve um tasco em Almoçageme, ela bem me corrige, dizendo que era um Restaurante, mas para mim sempre foi um tasco porque é a palavra de que mais gosto para nomear sítios onde se come, onde se bebe, onde se conversa.
Enquanto por lá estivemos, muita gente entrou por aquelas portas dentro.
De entre os clientes lembro Duran Clemente.
Conversámos várias vezes, e questionado sobre tal, sempre me disse que teria que correr muita água por baixo das pontes para que um dia se saiba o que foi o 25 de Novembro de 1975. 
O livrinho que Duran Clemente já escreveu, publicado em 1976 pelas Edições Sociais, é apenas um alinhavar de notas e acontecimentos.
Não tinha qualquer intenção de referir a data, mas no blogue Entre as Brumas da Memória, Joana Lopes colocou um texto de Duran Clemente sobre o 25 de Novembro.
Porque é um texto importante, reproduzo-o com a devida vénia:

Manuel Duran Clemente deixou há dois dias este texto no meu mural do Facebook e, com a sua autorização, publico-o também aqui. Muitos leitores, provavelmente a maioria, discordarão do conteúdo e da forma peculiar e truculenta usada pelo autor. Mas é o que pensa hoje um dos ícones do (não) 25 do Novembro, aquele que ouvíamos naquela noite em nossas casas e a que foi retirada abruptamente a palavra, e faço questão de lhe «devolver» a voz.


Finalmente foram precisos mais de 38 anos para hoje toda a gente ou a sua maioria concluir que não houve nenhum golpe de esquerda...mas sim um razoável golpelho de "medrosos" (duma direita merdosa) a maior parte deles representando, conscientemente ou não, os que tinham perdido privilégios no 25 de Abril de1974 e aos quais os meus camaradas, pouco cultivados nestas coisas da política, incluindo Costa Gomes e outros experts - com Melo Antunes [a comandar os "nove"], que não sabia de politica mais do que eu - se associaram, não com medo do Partido Comunista nem dum guerra civil, mas sim com medo dos poderosos americanos , suas CIA e FBIs, que a pronto mataram J. Kennedy e Robert Kennedy, Luther King...Allende no Chile, Amilcar Cabral em Conakry, Mondelane em Moçambique, estudantes no México, o Black Power,...e toda a réstia de esperança dum ano de 1968 e de um Maio de 1968...E aqui na lusa pátria das lutas de 1962, 1969 e 1973.....e dos heróis mortos, feridos e presos do PCP...e dos de outras cores, católicos progressistas ou sociais-democratas, ditos socialistas, exilados ou refractários por Franças, Bélgicas, Alemanhas, Suiças, Holandas ou Escandinávias...terras das sereias.

No Portugal minimamente consciente…nunca ninguém teve medo do PCP, nem de Vasco Gonçalves, nem do MFA...mas toda a gente sofreu e teve horror ao fascismo, aos maus acólitos da igreja e aos nefastos caciques locais que hoje ainda perduram...na direita, na igreja e nas localidades...

Por isso Melo Antunes após este episódio fratricida de 25 de Novembro de 1975, que umas bestas pretendem ainda comemorar, debaixo do chapéu de chuva de R.Eanes...dizia (a meu ver, eu suspeitíssimo) para salvar a sua pele e a dos seus "alienados medrosos"... a democracia tem que contar com o PCP...que o mesmo era dizer a democracia tem de contar com todos nós que fizemos REVOLUÇÃO...que ele, como eu, fizemos...só com a diferença (por eu ser comunista deste os 30 anos..ou desde que nasci) não tenho a Medalha da Liberdade..(sendo dos primeiros dez a conspirar para o 25 de Abril). Coisa formal na qual me estou nas tintas… só nas tintas não. Completamente nas tintas...mas por mor dos meus pecados [acho que S.Pedro ma vai entregar à entrada do Purgatório...].

Com a incultura destes militares adeptos de Melo Antunes e de Vasco Lourenço e com pontas da lança dos EUA (desconhecidos destes e de outros genuínos capitães de Abril) (CIAs, FBIs E CARLUCCIs) infiltrados desde sempre no MFA e que me dispenso de nomear...até porque alguns jazem mortos ...que é que se poderia esperar deste saloio rectangulozinho à beira-mar plantado...??? As promessas europeias dessa outra figura "ignorante" (ignorante como revolucionário, sim...)??? Refiro-me a Mário Soares. É um intuitivo diletante que esteve sempre atrás do biombo da Revolução...como hoje está ...!!!

A diferença é esta...a esquerda "derrotada" estava e está com a Revolução...a dita "esquerda" vencedora está com o 25 de Abril...mascarada de 25 de Novembro.

Como não há 25 de Abril sem REVOLUÇÃO...para que serve o 25 de Novembro? Para, num momento destes, um dos mais graves da vida nacional, uns espertalhaços que ficaram adormecidos com os louros dos 25 de Abril/Novembro, conquistados por nós, se outorguem em dar força à direita e aos inimigos do povo português...

Ramalho Eanes....um andrógeno do 25 de Abril e da REVOLUÇÃO... teve o desplante [nesta era (hoje) sob resgate da troika] de aceitar ser homenageado no dia 25 de Novembro..Se fosse um homem genuíno, do 25 de Abril, devia ter dito que NÃO, redondamente e sem equívocos. Mas não..ao terceiro terço dos mistérios dolorosos, da santa madre igreja, após salvé rainhas...de oh clemente e oh piedoso.. que nem sei quem sois ..declarou aceitar a homenagem fracturante. Mas como tem uma missa em Alcains...(terra do meu apreço pelo belo cabrito que lá se esfola..) à qual prometeu não faltar...vai mandar a mulher (D.M.Portugal) e sua filha, alimentar, no dito jantar, a gula dos vampiros da nossa democracia...dos alegres e tristes algozes deste nosso burgo.

Mas sabem no fim disto tudo o que está em causa... é que alguns de nós que nascemos para chatear os malandros (de vários níveis) andamos para aí a espalhar que a culpa do que está a acontecer tem muito (quase tudo ou quase nada, ou qualquer coisa) a ver com uma certa data de um Outono de 1975....em que as nossas mais gloriosas esperanças (ao contrário dos dolorosos mistérios do terço da Virgem Maria) foram decapitadas por inconscientes medrosos ou por conscientes ao serviço do estrangeiro.

E, ao lado desse desígnio, militares, como Melo Antunes, (chefe dos "nove") que passando por Bissau em Agosto de 1974 ,transpirava (vulgo: suava) ao ter de enfrentar seus jovens Duran Clementes, Jorge Golias, Faria Paulinos, Bouça Serranos, Jorge Alves, Barros Mouras, Celsos Cruzeiros, Sousa Pintos, Matos Gomes e outros nobres capitães ou militares de ABRIL ..."assessores" ou "adjuntos" dum homem digno Carlos Fabião...Eu estava junto de Fabião que de Bissau mandou o General Spínola dar uma volta ao bilhar grande. Meus amigos, fui eu que traduzi, ao telefone, em Julho de 1973... Isto porque o general do monóculo queria teimoso aterrar em Bissalanca com as suas 27.000 fotografias para organizar mais um teatral e “falso” congresso do povo guineense…numa última tentativa de abafara descolonização e evitar o inevitável: a já declarada e reconhecida, por quase 100 países, independência da Guiné-Bissau!!! Nessa ocasião pasme-se Melo Antunes ainda andava indeciso com a problemática descolonização. Por isso, antes de morrer, declarou que ela tinha sido uma tragédia. Espero que tivesse, no seu íntimo, responsabilizado essa “proclamada desventura” a António Salazar, a Marcelo Caetano e à ditadura fascista.

Um exemplo da ética de Ramalho Eanes.

Mas ainda hoje se fala aos quatro ventos da ética de Ramalho Eanes. Pois bem, vou-vos contar este acontecimento. Em 1977 o Conselho da Revolução (CR) para apaziguar os militares resolveu promovera publicação dum Decreto-Lei que reintegrava todos os militares “expulsos” das Forças Armadas em consequência dos eventos do 11 de Março e do 25 de Novembro. A coisa foi noticiada em caixa alta nos jornais. Só que esta aparente generosidade de Eanes e dos seus membros do CR estava eivada dum manhoso subterfúgio. Os militares do 25 de Novembro não tinham sido formalmente expulsos, logo a lei não iria aplicar-se a eles.. Depois de termos dado conta disso avisou-se Vasco Lourenço (eu mesmo escrevi uma carta a Melo Antunes) inquirindo-os se tinham consciência do logro. Estes discutiram o facto com Eanes. Afinal a lei não contemplava os militares injustamente acusados de golpe no 25 de Novembro. Viemos a saber que a ética de Ramalho Eanes impediu que o texto da lei fosse adaptado e nos contemplasse. Éticas e manhas. Manhas e lógicas de medo e de falta de saber!!! Como hoje...

Continuarei ...se não houver problemas técnicos...há mais para contar!!!


Manuel Duran Clemente

sexta-feira, 7 de junho de 2013

PERGUNTAS DE ALGIBEIRA


Por um antigo Verão, quando ainda havia Verão, em Almoçageme, quando Almoçageme ainda era uma pacata aldeia, numa festa de bombeiros, quando ainda havia festas de bombeiros, o Miguel apareceu com uma rapaziada francesa, altos, médios quadros de uma importante empresa.

Sandes de isca para um lado, bifanas para outro, caldo verde, pelo meio jarros de vinho tinto.

Eis senão quando, num assomo de infantilidade a roçar a mais parva das idiotices, lembrei-me de questionar os franceses sobre se conheciam Roger Vailland, Camus, Roger Martin du Gard, Georges Brassens, Jean Ferrat, enfim, uma cachoeira de escritores e cantores franceses, a que os rapazes, rigorosamente, disseram nada.

Boca-comentário para o lado: ainda dizem que os portugueses é que são ignorantes!...

Corria o ano de 2007, Baptista-Bastos numa entrevista ao Público, dizia:

Há tempos estive em França e perguntei: “Como é que vamos de Roger Vailland. E ninguém sabia quem era. Vai fazer agora 100 anos!”

Uma cadeia de hotéis do Reino Unido realizou, há escassas semanas, um inquérito a dois mil alunos do ensino secundário para testar conhecimento histórico e encontrou dados surpreendentes. A maioria dos alunos, entre os 11 e os 16 anos, baralhou as personagens históricas e contemporâneas e fez associações erradas.

Segundo o jornal The Independent, que divulgou os dados deste inquérito, a maior parte dos adolescentes colocou  Delia Smith (apresentadora de programas de culinária), Jerry Hall (modelo) e Camila, duquesa da Cornualha e mulher do herdeiro da coroa britânica Carlos, na lista de mulheres de Henrique VIII.

Os inquiridos não souberam dizer que países estiveram envolvidos na II Guerra Mundial e consideraram que Rod Stewart (cantor), Bruce Forsyth (actor) e Alan Sugar (empresário) foram primeiros-ministros durante esse conflito.

Quando foi pedido que identificassem William Shakespeare, uma grande percentagem de inquiridos disse tratar-se de um apresentador da BBC.

 Já Nick Knowles, apresentador, foi identificado pelo menos por um aluno como construtor das pirâmides e  Anne Frank, a adolescente judia que morreu no Holocausto, foi identificada como apresentadora de um talk-show americano, a Peste Negra como  um grupo rock.

Legenda: aguarela de Roque Gameiro.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

DO BAÚ DOS POSTAIS


Piscina da Praia das Maçãs.

sábado, 28 de julho de 2012

DO BAÚ DOS POSTAIS


Almoçageme, Praia da Adraga, A Pedra de Alvidrar.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

DO BAÚ DOS POSTAIS


Almoçageme, Largo da República.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

DO BAÚ DOS POSTAIS

Almoçageme.

domingo, 23 de outubro de 2011

DO BAÚ DOS POSTAIS

Já vem de muito longe esta mania de coleccionar postais.
Em 14 de Agosto de 1968, de Almoçageme, a Josefina, o Miguel, o João Pedro mandavam-me estes moinhos.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

ITINERÁRIOS


Em 2003, a Adraga foi considerada, pelo diário britânico “The Times” uma das 20 melhores praias da Europa.

O meu pai teve, em Almoçageme, uma casa alugada ao ano e, em Agosto de 1968, pela primeira vez vi a Adraga.

Uma praia quase desértica, pescadores à beira-mar, nas rochas, a pescarem sargos. Quando a maré vazava os percebes ficavam à disposição para serem apanhados. Nunca comi outros tão saborosos.

O restaurante da Suzete, hoje a armar ao pingarelho-cee, era uma tasca de terra batida com umas canas a tapar o sol. A electricidade ainda não chegara lá abaixo e o frigorífico trabalhava a gás. Os sargos saíam da imensidão do oceano para o prato e também nunca comi outros tão saborosos. Os vegetais para as grandes saladas que apareciam à mesa, provinham das hortas do pai da Suzete: as alfaces, os tomates, os pepinos, os pimentos não tinham uma gota de químicos. O vinho justamente chamava-se “Adraga”, mais para o palhete do que para o tinto, e sabia a uvas.

Este postal é o mais antigo que há aqui pela casa, não tem qualquer data, mas já é posterior a 1968, porque se vê a então tasca da Suzete, com o aspecto que hoje apresenta.

E, obviamente, os automóveis não eram na quantidade que o postal mostra. Hoje é muito pior, e foi por causa da quantidade de automóveis que a carreira, ainda não era “Rodoviária”, impossibilitada de dar a volta para regressar, deixou de ir de Almoçageme à Adraga.

segunda-feira, 28 de março de 2011

TEMPO PARA AMAR, TEMPO PARA MORRER


Com este título Pedro Correia assina hoje, no “Delito Comum”, um texto comovente, um texto muito bonito.

Pode ser que a morte seja mais tranquila do que os nossos fantasmas murmuram. Mas sabemos que se pode morrer, mesmo quando não há razões aparentemente suficientes para isso.

O meu pai gostava de citar o Woody Allen, que não tinha medo da morte mas preferia não estar presente quando ela chegasse ao mesmo tempo que lembrava o Maiakovski a exigir a um qualquer químico do Futuro: “A primeira coisa que farás é ressuscitar-me, a mim que tanto amava a vida”

Acabou por se distrair e a morte, vestida não se sabe com que cor, surpreendeu-o.

A outra certeza é que não há químicos do Futuro, mas continuo a ouvir os clássicos, que volta e meia por aqui passam, com o meu pai.

E num click regresso àquele banco à porta da casa de Almoçageme,

Pouco falávamos, ouvíamos música num velho leitor de cassettes. O meu pai bebia o seu Whisky, eu, gin-tónico.

O cheiro das uvas morangueiras da parreira do quintal.

O silêncio.

terça-feira, 1 de março de 2011

JANE RUSSELL (1921-2011)


A actriz Jane Russell morreu esta madrugada, aos 89 anos, devido a problemas respiratórios.
Para ilustrar a triste notícia, outra imagem não poderia colocar que não fosse o cartaz de “The Outlaw”, filme de Howard  Hughes. Se, ao que dizem, Deus criou a mulher, Howard Hughes criou Jane Russel, qaundo um dia a descobriu como recepcionista de um consultório de dentista e os cinéfilos eternamente estão gratos ao “feeling” de Hughes.

Curiosamente, quando a Aida (re)abriu “A Mariazinha”, o Miguel ofereceu, para serem colocados nas paredes, uma série de molduras com posters de cartazes de filmes e este “The Outlaw" era um desses quadros. Jamais esquecerei a alegria do João César Monteiro, um dia que por lá almoçou, quando topou a Jane Russell na parede do tasco.

Por João César Monteiro hei-de um dia colocar aqui uma história à volta de cartazes de cinema e da loucura mansa do João.

Infelizmente, o micro clima de Almoçageme encheu de humidade alguns desses quadros, e o do filme de Hughes foi um deles.

Jane Russell, é também esse extraordinário “Os Homens Preferem as Loiras” de Howard Hawks, felizmente um realizador que nunca viu nenhum filme seu ser premiado com um “Óscar”, e eu digo felizmente, porque as gentes daquele ninho de lacraus que é a Academia, não gostam de cinema, tão pouco sabem o que isso é.
Por este filme, Marilyn Monroe protagonizou uma birra, pois entendia ser ela o primeiro nome do cartaz, porque ela é que era a loira. Não lhe fizeram a vontade. Há quem seja de opinião que, neste filme, Marilyn “esmaga” Jane Russell., mas não acompanho a ideia, antes se me afigura que estamos perante duas soberbas interpretações. No more!

Da história do cinema, faz parte aquela gloriosa cena de abertura, Jane Russell e Marilyn Monroe vestidas, da cabeça aos pés, de vermelho justíssimo, perna ao léu, a cantarem “We’re just two little girls from Little Rock”.

Hoje é o dia triste em que mais uma protagonista de desejos e paixões nos deixou.

Pobre que sou, mais pobre fico.