Mostrar mensagens com a etiqueta Cecília Meireles. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Cecília Meireles. Mostrar todas as mensagens

sábado, 16 de março de 2024

POSTAIS SEM SELO


Que tudo é menos que o vento.

Cecília Meireles

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

POSTAIS SEM SELO

 Há homens que desparecem e logo se descobre que estavam mortos desde muito cedo. Há homens que ficam connosco, pessoas que nos acompanham como tesouros silenciosos no fundo do mar.

Há pessoas que nos falam e nem as escutamos; há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam.

Mas há pessoas que, simplesmente, aparecem em nossa vida e que marcam para sempre...

Cecília Meireles                  

sexta-feira, 4 de maio de 2018

POSTAIS SEM SELO


Ah, mas que palavras podem os vivos dizer aos mortos?

Cecília Meireles

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

OLHAR AS CAPAS


Antologia Poética

Cecília Meireles
Posfácios: José Bento e João Bénard da Costa
Capa: Fernando Mateus
Relógio d’Água, Lisboa, Outubro de 2002

Canção


Não te fies do tempo nem da eternidade,
que as nuvens me puxam pelos vestidos,
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!

Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
ó lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te escuto!

Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo...
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te digo... 

domingo, 23 de março de 2014

SARAMAGUEANDO


Há homens que desparecem e logo se descobre que estavam mortos desde muito cedo. Há homens que ficam connosco, pessoas que nos acompanham como tesouros silenciosos no fundo do mar.
Há pessoas que nos falam e nem as escutamos; há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam.
Mas há pessoas que, simplesmente, aparecem em nossa vida e que marcam para sempre...

Cecília Meireles                  

sexta-feira, 1 de março de 2013

CHEGARÁ SEMPRE


A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, - e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododentros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, - e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol. Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, - e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz. Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, - e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou. Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a euforia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor. Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, - por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade.
Saudemos a primavera, dona da vida - e efêmera.


Cecília Meireles

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

POSTAIS SEM SELO


Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como reflectidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.

Cecília Meireles

Legenda: Pintura de Andrew Wyeth