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segunda-feira, 20 de novembro de 2023

CONVERSANDO

 Não tem telemóvel.

Parte da sua serenidade, ia escrever felicidade mas a palavra certa é serenidade, provém desse pormenor.

Nos transportes públicos ainda transporta, debaixo do braço, um jornal/revista, um livro, rodeado de cidadãos com telemóvel por todos os lados.

José Miguel Júdice escreve, hoje, no Diário de Notícias, como editorial, um interessante texto:

 «Há hoje quase 15 milhões de telemóveis em Portugal (14.906.434, para ser rigoroso, no ano passado). Falamos ao telefone com uma tagarelice que contraria aquela imagem do país sisudo e triste do antigamente. Se temos ou não alguma coisa interessante ou criminalmente inculpadora para dizer, fica ao critério de cada um, mas o facto é que, no ano passado, cada português falou 51 horas ao telemóvel. É uma média, claro, tem de se admitir que se há quem tenha sempre qualquer coisa para dizer, como o Prof. Marcelo, também há quem não tenha nada. E é um progresso. Em 1990 ainda os telemóveis eram poucos, cada um falava, em média, 21 horas por ano ao telefone.

Com o telemóvel tudo mudou. Quase triplicou. Hoje, o número de horas que os portugueses passam ao telefone por ano é de 510 milhões. 510.000.000. Para aqueles que têm alguma dificuldade com tantos milhões, incluindo ministros das Finanças e banqueiros, podem-se pôr as coisas de um modo mais simples. Há 510 milhões de horas, ainda havia mamutes a pastar no Alentejo e entre os nossos antepassados neandertais agitava-se um movimento político que urrava chega à invasão de homo sapiens, imigrantes ilegais que vinham ocupar as nossas cavernas e comer os nossos javalis.

Reduzidas assim às suas proporções, 15 mil escutados por ano num país de tagarelas nem é muito. Um pouco mais de esforço, por favor.»

domingo, 19 de novembro de 2023

POSTAIS SEM SELO


Silenciosamente, as bibliotecas invadiram o mundo.

Irene Vallejo em O Infinito Num Junco

 Legenda: Livraria Lello no Porto, imagem tirada da Wikipédia.   

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

FOLHAS DE LIVROS CAINDO...


Precisei de consultar O Mapa Cor de Rosa da Maria Velho da Costa e Não Percas a Rosa da Natália Correia e ambos, quando os abri, desfizeram-se em pequenos blocos por que as colas utilizadas pelas tipografias, escolhidas pelas Publicações Dom Quixote, eram de má qualidade e as páginas descolaram das lombadas.

Outros livros existem na Biblioteca da Casa que enfermam do mesmo problema.

É uma pena, mas não adianta chorar por cima de leite derramado, mas algumas editoras, apesar dos preços que aplicam, continuam a tratar pessimamente os livros.

domingo, 12 de novembro de 2023

SE OS LIVROS NÃO VOLTASSEM EM PERFEITO ESTADO...

«Na época do grande projecto alexandrino, não existia nada parecido com o comércio internacional de livros. Estes podiam comprar-se em cidades com uma longa vida cultural, mas não na jovem Alexandria. Os textos contam que os reis usaram as enormes vantagens do poder absoluto para enriquecerem a sua colecção. Confiscavam o que não podiam comprar. Se fosse preciso cortar pescoços ou arrasar colheitas para ficarem com um livro cobiçado, dariam a ordem para o fazerem dizendo a si próprios que o esplendor do seu país era mais importante do que os seus pequenos escrúpulos.

 A vigarice, como é óbvio, fazia parte do repertório de coisas que estavam dispostos a fazer para conseguirem atingir os seus objectivos. Ptolomeu III ansiava ter as versões oficiais das obras de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes conservadas no arquivo de Atenas desde a sua estreia nos festivais de teatro. Os embaixadores do faraó pediram os valiosos rolos emprestados para encomendarem cópias aos seus minuciosos amanuenses. As autoridades atenienses exigiram a exorbitante fiança de quinze talentos de prata, que, hoje em dia, equivale a milhões de dólares. Os egípcios pagaram, agradeceram com pomposas reverências, fizeram solenes juramentos de devolverem o empréstimo antes de passarem — digamos — doze luas, ameaçaram-se a si próprios com cruéis maldições se os livros não voltassem em perfeito estado e, de seguida, evidentemente, apropriaram-se deles, renunciando ao depósito. Os dirigentes de Atenas tiveram de suportar a ofensa. A orgulhosa capital dos tempos de Péricles tinha-se convertido numa cidade provinciana de um reino incapaz de rivalizar com o poderio do Egipto, que dominava o comércio dos cereais, o petróleo da época.»

Irene Vallejo em O Infinito Num Junco

sexta-feira, 1 de julho de 2022

AH! SIM, O COMEÇO DE LIVROS


O livro de José Carlos Barros, Um Amigo Para o Inverno é, segundo se pode ler na capa «a revisitação de uma história verdadeira mas quase desconhecida, do nosso passado recente», que também nos oferece episódios e palavras que marcam vidas. No capítulo I, página 13, determina-se: «Talvez seja verdade: quando tememos perder uma coisa é como se já a tivéssemos perdido» e a partir daqui arranca-se para a leitura que falará de algo que sempre me apaixonou: começos de livros:

«Miguel haverá de alertar-me para a importância das primeiras frases. Tantos os casos conhecidos. Os Cem Anos de Solidão e a fabulosa descoberta do gelo. O Quixote e o lugar de cujo nome o Autor não quer lembrar-se. A Ernestina e o binóculo capaz da transfiguração do olhar. Ninguém lê romances que começam com descabidas preocupações de estilo, a armar. Isso foi chão que deu uvas.»

Gosto de bons começos de livros.

Já comprei livros pelos começos, assim de repente lembro-me de A Morte é Um Acto Solitário do Ray Bradbury:

«Veneza, na Califórnia, tinha, nos velhos tempos, muito que a pudesse recomendasse a quem gostasse de estar triste. Era o nevoeiro quase todas as noites, e era, ao longo da costa, o gemer das máquinas nos poços de petróleo, e o bater da água suja nos canais, e o zumbir da areia a roçar as vidraças, quando o vento assobiava à volta das praças e ao longo das ruas desertas.

Era no tempo em que o pontão de Veneza, a cair aos bocados, morria no mar. E podia ver-se então gigantesca ossada de dinossauro, a montanha-russa, a coberto ou a descoberto, com o vaivém das marés.

No fim de um longo canal, viam-se as caravanas de um circo, decrépitas, para lá atiradas e abandonadas. E quem olhasse para as jaulas, à meia-noite, veria que lá dentro havia vida – peixes e camarões de água doce, que andavam ao sabor da maré. E tudo isto, afinal, era o circo do tempo, feito ruína, desfazendo-se em ferrugem.

O pai do Gin-Tonic deliciava-se com o começo de Thais de Anatole France:

«En ce temps-là le désert etait peuplé d’anachorètes.»

Maria Gabriela Llansol escreveu um livro, Na Casa de Julho e Agosto que começa assim:

«O começo de um livro é precioso. Muitos começos são preciosíssimos. Mas breve é o começo de um livro – mantém o começo prosseguindo. Quando este se prolonga, um livro seguinte se inicia. Basta esperar que a “decisão da intimidade” se pronuncie.»

Dinis Machado começa assim Reduto Quase Final:

«Abertura com a mais velha estação de comboios do mundo»  e acrescenta: «Qualquer maneira de começar é uma boa maneira de começar».                 

Poderia ainda falar do fabuloso começo de O Ano da Morte de Ricardo Reis de José Saramago:

«Aqui o mar acaba e a terra principia. Chove sobre a cidade pálida, as águas do rio correm turvas de barro, há cheia nas lezírias. Um barco escuro sobe o fluxo soturno, é o Highland Brigade que vem atracar ao cais de Alcântara. O vapor é inglês, da Mala Real, usam-no para atravessar o Atlântico, entre Londres e Buenos Aires, como uma lançadeira nos caminhos do mar, para lá, para cá, escalando sempre os mesmos portos, La Plata, Montevideo, Santos, Rio de Janeiro, Pernambuco, Las Palmas, por esta ou inversa ordem, e, se não naufragar na viagem, ainda tocará em Vigo e Boilogne-sur-Mer, enfim entrará o Tamisa como agora vai entrando o Tejo, qual dos rios o maior, qual aldeia. Não é grande embarcação, desloca catorze mil toneladas, mas aguenta bem o mar, como outras vezes se provou nesta travessia, em que, apesar do mau tempo constante, só os aprendizes de viajante oceânico enjoaram, ou os que, mais veteranos, padecem de incurável delicadeza do estômago, e, por ser tão caseiro e confortável nos arranjos interiores, foi-lhe dado, carinhosamente, como ao Highland Monarch, seu irmão gémeo, o intimo apelativo de vapor de família. Ambos estão providos de tombadilhos espaçosos para sport e banhos de sol, pode-se jogar, por exemplo, o cricket, que, sendo jogo de campo, também é exercitável sobre as ondas do mar, deste modo se demonstrando que ao império britânico nada é impossível, assim seja a vontade de quem lá manda. Em dias de amena meteorologia, o Highland Brigade é jardim de crianças e paraíso de velhos, porém não hoje, que está chovendo e não iremos ter outra tarde. Por trás dos vidros embaciados de sal, os meninos espreitam a cidade cinzenta, urbe rasa sobre colinas, como se só de casas térreas construída, por acaso além de um zimbório alto, uma empresa mais esforçada, um vulto que parece ruína de castelo, salvo se tudo isto é ilusão, quimera miragem criada pela movediça cortina das águas que descem do céu fechado.»

E ainda o estonteante. galopante começo de Trabalhos e Paixões de Benito Prada do Fernando Assis Pacheco:

«Quando o Padeiro Velho de Casdemundo teve a certeza de que Manolo Cabra lhe desfeiteara a irmã, em dois segundos decidiu tudo. Nessa mesma noite matou-o de emboscada, arrastou o cadáver para o palheiro e foi acender o forno com umas vides que comprara para as empanadas da festa de San Bartolomé.

O irmão do meio encarregou-se de cortar a cabeça ao morto. O Padeiro Velho amanhou-o e depois chamuscou-o bem chamuscado. Às duas da manhã untou o Cabra de alto a baixo com o tempero, enfiando-lhe um espeto pelas nalgas. Às cinco estava assado.
«Caramba», disse o irmão do meio, que admirava todas as invenções do mais velho, «é à segoviana!»
«Mas não lhe pões o dente», cortou o outro.
Entretanto o mais novo, regressado já do Pereiro, aonde fora avisar o Padre Mestre, manifestou desejos de capar Manolo Cabra. O do meio olhou muito sério para o Padeiro Velho. Este cuspiu enojado e decretou:
«É tudo para os cães. E agora tragam-me lá a roupa do fiel defunto, que já não tem préstimo senão no inferno.»
Se perguntassem ao Padeiro Velho o que mais queria naquele momento, teria respondido:
«Assar-lhe até a memória.»

Mas agora terei de abandonar a prosa : «tenho um javali ao lume».

sábado, 29 de agosto de 2020

ANTOLOGIA DO CAIS


Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar alguns textos que por aqui foram sendo publicados.

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE…

Numa recente entrevista que o escultor Alberto Carneiro deu ao Público, Anabela Mota Ribeiro perguntou-lhe:

Lia livros?

Alberto Carneiro respondeu-lhe:

Li imenso. A Gulbenkian tinha bibliotecas itinerantes. A carrinha passava todos os meses por São Mamede e eu requisitava livros. Li sempre muito, desde criança. Foi isso que me abriu os horizontes. O que é que requisitava? Aquilino Ribeiro, Miguel Torga. Camões. Do Pessoa, não me lembro.

Inestimável papel aquele que as Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian deram a este país que Salazar quis inculto, submisso, assustado. O suficiente era saber ler, escrever, contar, mas não valia a pena mais esforço. Havia campos para trabalhar, mares para pescar, gado para tratar, ruas para calcetar.

Mesmo os que sabiam ler, grande parte eram incapazes de compreender aquilo que liam.

Para Salazar, ser culto era um pecado mortal.

Camilo Castelo Branco em Os Vulcões de Lama:

A poderosa razão que o lavrador Roberto Rodrigues opunha para não mandar ensinar a ler o filho, era - que ele pai também não sabia ler, e mais arranjava lindamente a sua vida. Esta vinha a ser a razão capital, reforçada por outras subalternas e praticamente bastante persuasivas.
 - Se o rapaz souber ler – argumentava triunfantemente o idiota – assim que chegar a idade, às duas por três, fazem-no jurado, regedor, camarista, juiz ordinário, juiz de paz, juiz eleito. São favas contadas. Depois, enquanto ele vai à audiência ou à Camara, a Cabeçais daqui uma légua, os criados e os jornaleiros ferram-se a dormir a sesta de cangalhas à sombra dos carvalhos, e o arado fica também a dormir no rego. E ademais, isto de saber ler é meio caminho andado para  asno e vadio. E citava exemplos, personalizando meia dúzia de brejeiros que sabiam ler e eram mais asnos e vadios que os analfabetos.

Alberto Carneiro vivia numa aldeia perto do Porto, isolada, triste e a chegada das Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian funcionou como um pauzinho na engrenagem, uma possibilidade de os imperativos de Salazar não terem resultados mais funestos.

É assim que a Gulbenkian faz o resumo das suas Bibliotecas Itinerantes:


«Ainda em 1958, baseado na experiência pioneira de Branquinho da Fonseca e sob a sua direcção, foi criado pela Fundação Calouste Gulbenkian, instituição privada, o Serviço de Bibliotecas Itinerantes, com o intuito de tentar resolver um problema: o da educação pós-escolar dos cidadãos.
As bibliotecas itinerantes ou carros-biblioteca levavam a bordo cerca de dois mil volumes arrumados nas estantes. Nas prateleiras de baixo, encontravam-se os livros para crianças, nas prateleiras do meio a literatura de ficção, de viagens e biografias e, por fim, nas de cima os livros menos procurados, de filosofia, poesia, ciência e técnica.
Em 1962 existiam 47 bibliotecas itinerantes, o número de leitores rondava os trezentos mil e os livros emprestados atingiam os 3 milhões.
Durante a ditadura salazarista, que assentava a sua acção na manutenção da censura e do obscurantismo da sociedade portuguesa, o livro e a leitura eram um luxo e também, uma actividade arriscada. Foi, no entanto, a acção levada a cabo pela Fundação Calouste Gulbenkian que dotou o país de uma rede de bibliotecas coerente, com o objectivo principal de alcançar e promover o gosto pela leitura.»

Uma explosão de memórias leva-me até aos jardins da infância.

Em alguns jardins de Lisboa, existia um pequeno armário cinzento com alguns livros, mas as leituras mais disputadas eram o Condor Popular e afins.

Um funcionário da Câmara zelava pelo serviço.

Deslocava-me, então, da Penha de França até ao Jardim Constantino para, nessas pequenas, mas úteis, bibliotecas ler o Condor Popular, o velho Mandrake e os seus passe de mágica

O Carlos Alberto, cujo pai tinha mais posses do que os pais dos outros putos da rua, fazia com que o Cavaleiro Andante e o Mundo de Aventuras, passassem de mão em mão. Nenhum exemplar podia ficar mais de um dia nas mãos de cada puto. Se isso acontecesse, o Carlos Alberto determinava que para o prevaricador não havia leitura na semana seguinte.


Ainda hoje, quando passo pelo jardim Constantino, olho o espaço onde se encontrava o armário dos livros e revistas, que foi o meu pontapé de saída para outras aventuras romanescas que tiveram como referências Emílio Salgari, Júlio Verne, Walter Scott, misturados com as aventuras dos Cinco.

Mais tarde vim a saber pelo José Gomes Ferreira, que foi o seu pai, Alexandre Ferreira, também fundador da Universidade Livre e da Associação dos  Inválidos do Comércio que, como vereador da Câmara Municipal, lançou a ideia de instalar bibliotecas nos jardins públicos:

«Bibliotecas onde os leitores poderiam não só requisitar os livros para ler ali mesmo, na dureza dos bancos, mas, quando o desejassem, levá-los para casa com a condição de devolvê-los no dia seguinte.»
 (1)

Em 1961 a Câmara Municipal de Lisboa lançou as Bibliotecas Itinerantes que percorriam os bairros de Lisboa.

Já depois do 25 de Abril, lembro-me de ver uma carrinha estacionada na Praça Paiva Couceiro, também encontrei uma outra no jardim junto à Igreja da Encarnação.

Em Fevereiro de 2011, o Partido Ecologista Os Verdes entregou na Assembleia Municipal de Lisboa um requerimento questionando a Câmara sobre as razões da suspensão do serviço de Bibliotecas Itinerantes.

Ao que parece a interrupção teve a ver com custos de reparação das viaturas.

Nos tempos de internetes e coisas-que-tais, as bibliotecas itinerantes viraram dinossauros.

Das Bibliotecas Itinerantes da Câmara Municipal de Lisboa nunca mais houve notícia.

Alguém na Câmara terá concluído que já ninguém se desloca a um jardim para ir buscar um livro para ler.

Altura ideal para cortar nas despesas e aplicar o dinheiro em folclore.

Sempre dá mais nas vistas!...

Na Feira do Livro do ano passado puseram lá uma dessas Bibliotecas Itinerantes.

Se já não foram extintas, estão em vias de…

Mas as Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian e da Câmara fazem parte do imaginário de gerações.

E não é sem emoção que esses tempos renascem como gratas memórias.

Final de O Raio Verde de Júlio Verne:

«- Mas com efeito, minha querida Helena – argumentou Olivier Sinclair -, não o vimos, esse raio que quisemos tanto ver!
- Vimo-lo melhor – disse baixinho a jovem senhora. – Vimos a felicidade, aquela que a lenda ligava à observação deste fenómeno!... Visto que o encontrámos, meu querido Olivier, que ele nos baste, e abandonemos aos que não o conhecem, e quiserem conhecê-lo, a busca do raio verde!»

(1) José Gomes Ferreira em Relatório de Sombras, Moraes Editores, Lisboa Setembro de 1980.


Texto publicado em 26 de Agosto de 2013

quarta-feira, 27 de maio de 2020

DESRESPEITOS EDITORIAIS


Quem gosta de ler, compra livros pelo motivo primeiro desse gosto.

Mas também compro livros pelos seus começos, pelos seus finais, por um qualquer pedacinho perdido nas páginas e que calhou logo ler no folhear do livro na livraria, pela beleza das capas.

Era o tempo em que se folheavam livros no silêncio monástico das livrarias, o tempo em que os livreiros espalhavam pelos escaparates, à medida que iam chegando, as novidades e nunca por qualquer cunha ou pagamentos por debaixo da mesa de quem quer que seja.

É inadmissível que as editoras estraguem as capas dos livros com a prensagem de dizeres como um prémio com que o livro, ou o autor, tenha sido distinguido.

Gosto da capa que a equipa da Editorial Caminho concebeu para Os Livros Que Devoraram o Meu Pai de Afonso Cruz.

Mas não posso gostar de que no topo faça parte da capa que o livro é Prémio Literário Maria Rosa Colaço 2009 e no fundo do lado direito esteja que o livro faz parte do Plano Nacional de Leitura.

O prémio e  o Plano Nacional de Leitura são coisas recomendáveis e abonatórias, mas não têm que estar pespegadas na capa do livro.

Nos tempos em que se respeitavam os livros, estas coisas de prémios ou afins, surgiam numa cinta, envolvendo o livro, que se descartava e, quem quisesse, guardava dentro do livro.

Vou buscar este exemplo:


Pouco depois da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago, a Caminho publicou o 5º volume de Cadernos de Lanzarote, não estragou a capa do livro com a atribuição do prémio e colocou a tal cinta que referia o Premio e que ainda guardo no interior do livro.
Não sei o que as gentes das editoras pensam sobre estes incidentes, mas por mim não deixam de ser um total desrespeito pelos autores dos livros, os autores das capas, pelos leitores.  

terça-feira, 10 de julho de 2018

POSTAIS SEM SELO



Lê-se para ter prazer. Lê-se para ter inquietação.


José Cardoso Pires

domingo, 2 de julho de 2017

SARAMAGUEANDO


Há uma frase de Jorge Listopad:

As minhas bibliotecas foram-se fazendo e desfazendo com casamentos, divórcios, separações…

José Saramago fala de livros e divórcios no 1º Volume dos Cadernos de Lanzarote:

Na Feira aparece uma pessoa a comprar todos os meus livros. Põe-nos todos diante de mim para que os autografe, os grossos e os finos, os caros e os baratos, trinta e tal contos de papel, conforme vim a saber depois, e o que me desconcerta é que o homem não é um convertido recente ao “saramaguismo, um adepto de fresca data, um neófito disposto às mais loucas ousadias, pelo contrário, fala do que de mim leu com à vontade e discernimento. Resolvo-me a perguntar-lhe a razão da ruinosa compra, e ele responde simplesmente, com um sorriso onde aflorou uma rápida amargura: “Tinha-os todos, mas ficaram na outra casa.” Compreendi. E depois de ele se ir embora, ajoujado sob a carga, pus-me a pensar na importância dos divórcios na multiplicação das bibliotecas…

No 1º volume de O Caderno retoma o tema:

Por duas vezes, ou talvez tivessem sido três, apareceram-me na Feira do Livro de Lisboa, em anos passados, outros tantos leitores, os dois ou os três, ajoujados ao peso de dezenas de volumes novos, comprados de fresco, e em geral ainda acondicionados nos sacos de plástico de origem. Ao primeiro que assim se me apresentou fiz-lhe a pergunta que me pareceu mais lógica, isto é, se o seu encontro com o meu trabalho de escritor havia sido para ele coisa recente e, pelos vistos, fulminante. Respondeu-me que não, que me lia desde há muito tempo, mas que se tinha divorciado, e que a ex-esposa, também leitora entusiasta, havia levado para a sua nova vida a biblioteca da família agora desfeita. Ocorreu-me então, e sobre isso escrevi umas linhas nos velhos Cadernos de Lanzarote, que seria interessante estudar o assunto do ponto de vista do que nessa altura designei como a importância dos divórcios na multiplicação das bibliotecas. Reconheço que a ideia era algo provocadora, por isso deixei-a em paz, ao menos para não vir a ser acusado de colocar os meus interesses materiais acima da harmonia dos casais. Não sei, nem o imagino, quantas separações conjugais terão dado origem à formação de novas bibliotecas sem prejuízo das antigas. Dois ou três casos, que tantos são os que conheci, não foram suficientes para fazer nascer uma primavera, ou, por palavras mais explícitas, por aí não melhoraram nem os lucros do editor, nem a minha cobrança direitos de autor.

Legenda: pintura de Félix Vallotton

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

POSTAIS SEM SELO


Um bom livro será qualquer um que nos revele a verdadeira dimensão da nossa ignorância.

Bruno Vieira Amaral

sábado, 7 de janeiro de 2017

LER PODE SER MELHOR QUE VIVER


Pode-se viver sem ler?

Pode, mas vive-se pior.

Há discursos sagrados em redor dos livros mas nada impede que Pepe Carvalho, o célebre detective de Manuel Vasquez Montalban, doente pelo Barcelona, bom garfo, amante de um bom cognac e um “puro” , também de boleros, admirador de mulheres nas “ramblas”, pusesse o detective de Manuel Vasquez Montalban, todas as noites acender a lareira com as páginas das suas leituras preferidas.

Num país de iletrados não é difícil encontrar ignorantes.

Pena é que sejam burros ao ponto de, orgulhosamente, afirmarem que nunca leram um livro, como se isso fosse uma prova de entrada no reino dos céus.

Números velhos, talvez de 2004, mostravam que 1 em cada 10 portugueses não sabe ler ou escrever. São os analfabetos absolutos. Depois há os alfabetizados (teoricamente) que não lêem (90% dos portugueses) e os que lêem, mas não sabem interpretar, nem assimilar o que lêem.

Conheço criaturas que frequentaram, ou tiraram um curso superior, sem ter um único livro em casa, mesmo do que andaram a cursar.

Como tudo isto acontece?

Diz quem andou por lá, que há estupendas “sebentas” nas nossas faculdades.

Cabe aqui a história do petiz a quem o Raul Solnado perguntou se gostava de ler e que lhe respondeu: “Evito!”
       
          Os nossos livros estão empoeirados
           canecas de cerveja ensinam melhor,
           a cerveja dá-nos  prazer,
           os livros só aborrecimentos.

Fia-te nos que gostam de ler, desconfia quando alguém te diz que não tem tempo para ler, dizia o meu avô, um leitor compulsivo.

Os pobres não lêem porque não têm meios e os ricos porque não querem.

É mais fácil passar o tempo a olhar para a televisão. Outros há que desviam o dinheiro que têm para outras prioridades: comprar um carro topo-de-gama, comprar uma casa na praia, férias em Punta Cana ou qualquer outro lugar exótico.

Lê-se porque sim, porque não se pode deixar de ler. 

A leitura é um hábito que, no entanto, necessita de constante exercício porque quando se perde o hábito de ler, a necessidade de ler, o prazer de ler, corre-se o risco de não se recuperar.

Não é bem como andar de bicicleta...

François Truffautt adaptou ao cinema um livro de Ray Bradbury: Farenheit  451.

Filme e livro perturbantes.

Ler é pecado, quem pensa é um fora da lei.

 Não há só gaivotas em terra quando um homem se põe a pensar, cantava o José Afonso,  Mao Tsé Tung  dizia que ler demasiado é prejudicial, Júlio César, na peça de Shakespeare, desconfiava de Cássio porque era magro e porque lia muito.

Escreveu Paul Valery que os livros têm os mesmos inimigos que o homem: o fogo, a humidade, os animais, o tempo, e o seu próprio conteúdo.

William Wrigley, milionário da pastilha elástica, ao mobilar o seu sumptuoso apartamento, em Chicago, deu ordens à secretária: Meça-me aquelas prateleiras e compre-me os livros suficientes para mas encher. Arranje-me uma data de livros de um verde e um encarnado vivos e com uma batelada de letras douradas. Quero uma vista catita.

Livros para completar a mobília, dizia o Eça de Queiroz.

Jorge Luis Borges afirmou que o paraíso, se existe, tem a forma de uma biblioteca e o poeta francês Stéphane Mallarmé sabia que tudo no mundo existe para se transformar em livro.

Nota do Editor: o título é uma frase do Jorge Silva Melo


Legenda: pintura de Di Cavalcanti

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

ENTÃO, É NATAL!


Coisas que vou lendo de que gosto e aponto em caderninhos
À procura dessas coisas sobre o Natal encontrei esta mas, lamentavelmente, não tem a indicação do autor nem de onde a copiei.
Lamento.

Há um livro que seja de Natal?
Um livro que, no Natal, se possa oferecer como se ele resumisse todo o amor pelo livro e por aquele a quem se oferece um livro?
É, de qualquer modo, um costume fácil, o de oferecer livros como se neles, por eles, transitasse alguma coisa que nenhum outro meio pudesse dizer ou mostrar,
Assim seja o livro de Natal. Quer dizer: o livro de todo o ano.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

LER NÃO DÓI!


Marilyn lendo um livro ao contrário.

Mera caricatura.

Marilyn não foi a loura burra que durante toda a sua vida, Hollywood vendeu.
Marilyn lia, e muito.

Dizia mesmo que os livros eram a sua melhor companhia para as terríveis, devastadoras noites de insónia.

Após a sua morte, na sua casa foi encontrada uma biblioteca com mais de quinhentas obras e grande parte tinham anotações várias e estavam sublinhados.

Aparecem obras, entre outros, de James Joyce, Tcheckov,  Walt Whitman, Yeats, Beckett, Freud, Benjamin Spock, Graham Greene, William Faulkner, Aragon, Shakespeare, Somerset Maughan, Saint-Exupéry, Edgar Allan Poe, Dostoievsky, Flaubert, Bertrand Russell, Tolstoi, Robert Frost, Roger Vailland.

Gostava de Saul Bellow e Carl Sandburg, e tinha em Truman Capote um dos seus grandes amigos, par além de ter sido casada com Arthur Miller.

Em Librarything pode ser consultada a lista de alguns das obras da biblioteca de Marilyn.

Aas suas fotografias em que está a ler livros, o Ulisses de James Joyce, por exemplo, eram as suas favoritas, mas os jornalistas sempre entenderam que isso era uma mera encenação com vista a fugir à imagem da loura burra.

Enganaram-se.

Nunca a compreenderam.

As coi­sas nunca são o que pare­cem.

Sou uma dançarina que não sabe dançar, deixou escrito

sábado, 22 de outubro de 2016

POSTAIS SEM SELO


As livrarias fazem parte da minha família,

Alice Vieira em Bica Escaldada

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

POSTAIS SEM SELO


Uma livraria não deve ser visitada à pressa. É preciso sentir o cheiro dos livros e isso só se consegue com tempo.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

O PADRE QUE NÃO GOSTAVA DE LIVROS


Esta é uma velha fotografia das Carrinhas-Bibliotecas-Itinerantes-da Gulbenkian. 


Ao vê-la, lembrei uma carta que o poeta António José Forte, em tempos de ditadura, escreveu aos responsáveis da Gulbenkian.

A carta foi recordada por José do Carmo Francisco na Ler, revista do Círculo de Leitores, de que não tenho a indicação de data e número.

Ex.mos Senhores:
Um bem triste e lamentável episódio interrompeu ontem, dia 27, a marcha feliz e entusiástica que esta Biblioteca iniciou há pouco por terras do Baixo Minho. Foi o caso de um abade que se nos atravessou no caminho, não para suicidar-se. O que seria altamente honroso para ele, mas para apressar o suicídio dos seus submissos paroquianos, boa gente, diga-se de passagem, mas cegos como todos os suicidas involuntários.
«Estávamos nós estacionados em Parada de Baixo, terra célebre nestas redondezas pelas suas laranjas e outras frutas, quando o pároco da freguesia, zeloso da salvação das suas ovelhas, decidiu intervir. A intervenção foi ridícula e teatral por um lado e pelo outro infame e de franca má fé.
«Acusando-nos de estarmos a distribuir livros protestantes, ameaçou os paroquianos de excomunhão ipso facto (foram palavras textuais do padre) caso ousassem levar um único exemplar que fosse. E não contente com essa ameaça arrancou das mãos de alguns leitores as obras já requisitadas e atirou-as ao chão que, por sinal, estava um pouco enlameado. Em seguida, e para intimidar-nos, exigiu que nos identificássemos, o que recusámos gostosamente. Depois explicámos às pessoas, não ao padre, que aquela Biblioteca se tratava de uma instituição legal, e que pertencia à consciência de cada um escolher entre levar livros e devolvê-los. Graças ao Diabo houve uma minoria que se manteve firme, não abdicando da vontade própria, mas aos que estavam no que julgam ser a graça de Deus principiaram a devolver os livros, e da maneira mais correcta possível, quer atirando-os ao chão quer lançando-os para dentro do furgão. Claro que pelo padre estava a maioria das mulheres que se não poupavam a insultos e ameaças, o que, consequentemente, provocou uma atitude hostil por parte de alguns homens, os quais, homens, ocasionalmente é verdade, pois regressavam do trabalho, traziam ao ombro uma sachola de cabo bastante comprido. De modo que resolvemos retirar-nos.
A nossa próxima visita a Parada do Bouro está marcada para 27 de Janeiro [1961] e é nossa firme intenção lá voltar. Mas não podemos ir desprevenidos e por isso desejamos que nos autorizem a fazê-lo acompanhados pela Guarda Republicana, ou que nos enviem armas. Desnecessário se torna, naturalmente, sugerir que tentem proceder contra o padre (de sua graça Isac).
Por nós, participaremos hoje ou amanhã ao Presidente da Câmara de Vieira do Minho o ocorrido.
Aqui a indignação é, pode dizer-se, geral. Os correspondentes dos jornais Jornal de Notícias e Primeiro de Janeiro já enviaram notícias de protesto. Nós prosseguiremos.
Atenciosamente

Vieira, 28 de Dezembro de 1960.

António José Forte


Legenda: a fotografia é tirada do blogue Restos deColecção.

domingo, 17 de julho de 2016

UMA CASA BONITA


A Livraria Lello, no Porto, é uma das mais bonitas livrarias do Mundo.

O actor americano Harrison Ford, de visita ao norte do país, juntamente com sua mulher, a actriz Calista Flockhart, ficou deslumbrado com a centenária livraria.

E fez questão de deixar mensagem no Livro de Honra da Livraria:

O conhecimento merece uma casa bonita. Esta é uma delas.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

POSTAIS SEM SELO


O acto de ler reabre feridas. Nos livros
em que isso acontece, com frequência,
poderia ao menos haver um aviso na capa;
assim como se faz com as carteiras de tabaco,
embora se saiba que poucos deixam
de fumar
por isso.

Teresa Jardim em Resumo: A Poesia Em 2010, Edição Assírio &Alvim

Legenda: pintura de Michael Ancher

sexta-feira, 8 de abril de 2016

BEST-SELLER


Há quem lhe chame, por brincadeira, besta célere para caracterizar a qualidade mediana (tomada por média) desse produto cultural (agora tudo é cultural) e, ao mesmo tempo, a rapidez com que ele se esgota em sucessivas edições. O best-seller é um produto perfeita (ou eficazmente) projectado em termos de «marketing» editorial e livreiro. É para se vender — muito e depressa — que o best-seller é construído com os olhos postos num leitor-tipo que vai encontrar nele aquilo que exactamente esperava. Nem mais, nem menos. Os exemplos, abundantíssimos, nem vale a pena enumerá-los. Convém não confundir, pelo menos em todos os casos, best-seller com «topes» de venda. Embora seja cabeça de lista, o best-seller tem, em relação aos livros «normais», uma característica que logo o diferencia: foi feito propositadamente para ser um campeão de vendas. A sua razão de ser é essa e só essa. E aqui poderia dizer-se, recuperando o lugar-comum para um sentido sério, que «o resto é literatura».
Estou a pensar em besta céleres como "Love Story" ou "Aeroporto". Não estou a pensar em «topes» de venda como "O Nome da Rosa" ou "Memórias de Adriano". Estes últimos são boa, excelente literatura que, por razões pontuais e, muitas vezes extrínsecas à sua própria feitura, conheceram grandes êxitos de venda, o que é bastante diferente. Enquanto o best-seller é esquemático, quer dizer, não comporta mais do que o necessário, em termos de ingredientes, para comover (ou motivar, como é costume dizer-se) os simplórios, o livro «normal» nem pensa nisso. Nascido de uma necessidade interior, o livro «normal» chega ao leitor de dentro para fora. O best-seller é exactamente construído ao contrário: chega de fora para dentro ou, até, de fora para fora, visto que a sua penetração no leitor não é nenhuma, ao passo que a sua propagação é imensa.
Habitualmente, o best-seller, ao fim de alguns anos, está esquecido ou, então, foi posto em cinema ou em TV e será, durante uns tempos, ainda lembrado, quase nunca em termos de literatura, que não é, mas apenas de história. O cinema ou a TV não podiam senão tornar ainda mais liso o que liso e correntio era.
Editores com o sentido da oportunidade aproveitam, então, para lançar, ou desenterrar tiragens, que às vezes se vendem, outras não, mas sempre com inevitável cinta: um grande sucesso agora no cinema (ou na TV). Alimentam, deste modo, curiosidades menores do público: saber com antecipação o que vai acontecer (caso das série televisivas, aliás «adiantadas» na Imprensa diária e semanal) ou ver até que ponto o cinema respeitou ou não respeitou a história original.
O best -seller é feito a pensar num leitor «espremido» por computador e serve a esse leitor tanto quanto lhe pode servir qualquer outro objecto de conforto. É um típico produto da chamada indústria cultural. Toma, exteriormente, a forma de livro para melhor se confundir com verdadeiros livros.
É uma espécie de ornamento (do espirito, da estante ou do caixote do lixo...) e cumpre, quase sempre, o seu papel, virada a última folha.
O best-seller pode ser preparado com muita habilidade e, para os desprevenidos, constituir, até, uma obra de qualidade. A propaganda fará o resto. Mas isso será só ilusão. O best-seller tem a qualidade apenas necessária para não comprometer a quantidade que alcançou ou desejava alcançar. esse é o seu verdadeiro objectivo: quantidade e mais quantidade.
Hoje, que a literatura integra áreas cada vez mais vastas, uma há que não poderá integrar, a do best-seller, sob pena de se transformar no contrário de si mesma: o fabrico e o consumo desenfreado de um produto que por acaso se chama livro.


Alexandre O'Neill em Uma Coisa em Forma de Assim

quinta-feira, 7 de abril de 2016

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...




 Em 1970, plena ditadura marcelista, a Editorial Verbo, de parceria com a RTP, começou a publicar a «Biblioteca Básica Verbo – Livros RTP».

Durante dois anos, ao preço de quinze escudos, publicaram-se 100 volumes.

A novela Maria Moisés de Camilo Castelo Branco, foi o primeiro volume, sendo o  último Os Lusíadas.

Ao todo, calcula a Verbo que mais de 15 milhões de livros entraram nas casas dos portugueses.

Capa da responsabilidade de Sebastião Rodrigues.

A colecção constituiu um êxito da edição portuguesa.

Não restam dúvidas que, graças a estes livros, muitos portugueses, ganharam o gosto pela leitura. Outros terão aproveitado para completar a decoração da sala.


Para o efeito, cada volume trazia o prospecto que se pode ver acima.



Ao tempo, não foram escassos os que se manifestaram pela louvável iniciativa que permitia a muita gente o contacto com livros e autores.

Uma trintena, mais ou menos, dos livros da RTP, completou a Biblioteca da Casa.