segunda-feira, 18 de março de 2024

VIAGENS POR ABRIL


       Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


Neste dia 18 de Março, os jornais dedicavam-se a colocar nas suas primeiras que a tranquilidade era geral em todo o país.

O pasquim «Época», realçava que o Mercado das Caldas da Raínha, num domingo igual aos outros, registara «o movimento normal de forasteiros que habitualmente ali se deslocam para abastecimento, sobretudo de fruta, uma das melhores do País. E não só. Também nas pastelarias, onde se fabricam as apetitosas «cavacas», não decresceu o movimento dos apreciadores.»

Num qualquer dia de Março é atribuída a Marcelo Caetano a seguinte frase: «Cuidado com os capitães. O perigo vem deles, pois não têm ainda idade suficiente para poderem ser comprados.»

Diga-se ainda que a insurreição do Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Raínha teve a ordem de avançar de António de Spínola porque sabia que o MFA estava num quase de tempo de não voltar atrás, e tentou um golpe antecipativo. Sabendo-se isto, e algo mais, há, pois, quem se espante de Spínola ter sido chamado, após o 25 de Abril, para a presidência da República.

Percorrendo o livro de Diniz de Almeida «Origens e Evolução do Movimento de Capitães», pode ler-se na página 297:

«Mesmo nas proximidades do 25 de Abril, a falta de politização da esmagadora maioria dos oficiais do Quadro Permanente era aterradora.»

Mais à frente:

«A derrota do 16 de Março desanimou numerosos sectores do Movimento. Em certos sectores, o pânico degenerou mesmo em debandada. Muitos, porém, não cederam perante o fracasso e retomaram rapidamente a iniciativa. Daí em diante seria uma corrida contra o tempo. A pesada máquina jurídica movia-se contra nós e atingir-nos-ia em breve.»

Entretanto a «Época», pela pena do seu director-fascista Barradas de Oliveira, interrogava-se em editorial:

«QUEM SÃO ELES»!

Quem alimenta as forças terroristas que actuam contra nós em Àfrica? Quem sustenta os focos da agitação interna?»

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