28 novembro, 2024

CHABY, Manoel de -
TABOADA DO NOVO SYSTEMA LEGAL DE PESOS E MEDIDAS APPROVADA PELA JUNTA CONSULTIVA DE INSTRUCÇÃO PUBLICA para uso das escólas de instrucção primaria.
Por... Terceira edição. Lisboa, Lallemant Frères, Typographos, 1870. In-8.º (16x10,5 cm) de 67, [1] p. ; il. ; E.
Importante subsídio para o ensino da aritmética no ensino primário entre nós.
Ilustrado com desenhos esquemáticos, quadros e 22 tabelas em página inteira no interior.
Inclui ainda cinco folhas separadas do texto de várias dimensões, sendo três delas desdobráveis, representando os pesos e medidas.
"Achando-se extinctas a primeira e segunda edições da nossa Taboada do novo systema legal de pesos e medidas, que em tempos publicamos com official approvação, e que, desde a primeira edição permanece em uso nas escolas do reino, e sendo-nos indicada por alguns dignos professores de instrucção primaria, a conveniencia de uma nova publicação da mesma Taboada; por tal indicação, e confiado na benevolencia do publico, emprehendemos esta 3.ª edição, sem que nos afastamos das condições de simplicidade e claresa que devem ser caracteristico dos trabalhos deste genero, conservando todavia, as ampliações que na segunda edição realisamos, e o addicionamento de varias figuras, que então n os pareceram apropriadas para mais facil comprehensão do texto."
(Excerto da nota introdutória)
Manuel Bernardo Pereira de Chaby (1827-1908). "Ajudante do inspector-geral. Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria. Repartição de Pesos e Medidas."
(Fonte: https://arquivohistorico.sgeconomia.gov.pt/details?id=220125)
Encadernação simples, lisa, em percalina.
Exemplar em bom estado de conservação. Apresenta rubrica de posse - "Lobão" - na f. rosto. Apresenta algumas (poucas) folhas soltas.
Raro.
Com interesse histórico e educativo.
35€
Reservado

27 novembro, 2024

SOUSA, Felisberto de -
CARTAS DO SENHOR FELISBERTO DE SOUSA Ácerca da resposta Á Memoria Brilhante Impressa em Alcobaça no typ. de Antonio Coelho da Silva, 1878.
Suum cuique : O seu a seu dono. Preço: Dois patacos!... Lisboa, Typ. Rua do Bemformoso, 153, 1872. In-8.º (20x12,5 cm) de 31, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Polémica entre alcobacences, cuja figura central, alvo de calúnias e mote para a troca de folhetos, foi o Dr. António Brilhante (1821-1880), ilustre médico e escritor daquela vila, hoje cidade.
"Attendendo á minha desgraçada e prolongada doença, e por isso resentida com a temeridade dos dois notaveis em Alcobaça, Fausto de Menezes, e Antonio Coelho, typographo, não quiz um amigo deixar passar, sem correctivo, uma tal temeridade (pois que não haverá homem serio ao abrigo das pedradas dos garotos, que atirando-as, fogem e não apparecem, nem mesmo ha á venda uma tal preciosidade!), e mandou-me a inclusa e cathegorica apreciação, castigando com moralidade (se houver ainda quem a aprecie) a ousadia garotal. [...]
O rifão diz: Homem grande, besta de pau. Ha pois differença ente homens grandes e grandes homens!
Alcobaça tem tido numerosissimos homens grandes, e pequenissimo numero de grandes homens. A grandeza da materia faz os materialões, e a grandeza do espirito faz os grandes homens!"
(Excerto das Cartas)
Exemplar brochado, sem capas, em bom estado geral de conservação. Por aparar. Apresenta rasgão na f. rosto, sem perda de suporte.
Raro.
Com interesse regional.
25€

26 novembro, 2024

BRETES, Faustino
- CENTENÁRIO DO MUTUALISMO EM TORRES NOVAS : 1862-1962
. [S.l.], Edição do Autor, 1962. In-4.º (24x16 cm) de 53, [3] p. ; il. ;B.
1.ª edição.
A vinheta da capa foi expressamente desenhada por B. Benedy.
Importante contributo para a história do mutualismo torrejano.
Livro ilustrado com quadros no texto e com 3 estampas em página inteira.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa do autor - datada de 21/5/962 - ao seu "amigo e conterrâneo" Júlio Coutinho Coelho Tuna.

"Torres Novas, nobre terra,
Formoso rincão natal,
Por assim dizer encerra,
A essência de Portugal."

(Pórtico)

"Muitas pessoas costumam surpreender-se não só em presença, mas igualmente com a simples notícia das mais diversas ocorrências. Desta forma, parece acreditarem na suposta eficácia da bruxaria, como se, afinal, tudo fosse operado pelo especial sortilégio de mágico poder. E então, ou por ignorância das verdadeiras causas, ou ùnicamente por preguiça mental, usam, para cómoda explicação dos mais variados acontecimentos, socorrer-se das palavras «destino», «acaso», «fatalidade» e outras de idêntica significação.
Ora, no decorrer deste exórdio, procuraremos adoptar processo capaz de mostrar todo o vazio do proverbial recurso.
Esse processo consistirá em referirmos não pequena parte dos mais retumbantes casos no nosso país verificados durante convulsionado período histórico contemporâneo, para assim poder chegar-se à formulação de seguro juízo acerca das determinantes do «clima» que, em louvável exemplo, nesta vila tornou possível e mesmo indispensável a fundação do actual Montepio, cujo centenário é motivo deste despretensioso trabalho."
(Excerto de I - Alvorecer do mutualismo)
Índice:
Pórtico | Homenagem | Ligeira definição | I - Alvorecer do mutualismo. II - O mutualismo em Torres Novas. III - Tributo especial. | Lista dos fundadores [quadro c/ 8 pp.] | Primeiros Corpos Sociais Eleitos | Relação incompleta do número de sócios existentes em 31 de Dezembro [quadro] | Quotização através dos tempos [quadro] | «Luz do meu caminho» e a Imprensa.
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capa apresenta um ou outra mancha pouco expressiva.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e regional.
20€

25 novembro, 2024

O COISO : o semanário de maior penetração no país.
4 - 28 Março 75 - 5 escudos. Diretor: Ruy Lemos. Chefe de Redacção: Mário-Henrique Leiria. Lisboa, Editorial «República», 1975. In-fólio (42,5x30 cm) de 16 p. ; mto il. ; B
1.ª edição.
Jornal humorístico, exemplo da imprensa "ligeira" pós-25 de Abril, anunciando na capa, "em rigoroso exclusivo": «A vida amorosa do Dr. Salazar». Publicação efémera, como aliás a maioria dos jornais congéneres na época, saíram 13 números em 1975/76. Este número foi distribuído em pleno PREC.
Muito ilustrado no interior com fotografias, fotomontagens, desenhos e cartoons.
"A 7 de Março de 1975 saía o primeiro número de "O Coiso", o "semanário de maior penetração no país".
"O Coiso" nasceu dependente do diário "República", custava 5 escudos cada exemplar e, na sua "Declaração de Princípios", dizia "que as pessoas, já de si chatas, estão agora muito chatas, e levam-se cada vez mais a sério".
Estávamos em pleno "PREC", toda a gente era revolucionária e o riso poderia ser considerado uma cedência à reacção. Embora, finalmente, tivesse terminado a censura, graças ao "glorioso 25", havia coisas de que se não falava, por pudor revolucionário."
(Fonte: https://www.coiso.net/velhocoiso/causas.html)
Muito invulgar.
20€

24 novembro, 2024

ENNES, Guilherme José -
OS AMIGOS DAS CREANÇAS. Por...
Lisboa, Livraria Editora Viuva Tavares Cardoso, 1904. In-8.º (19x12,5 cm) de 128, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Estudo pioneiro relativo à protecção da criança. Trabalho devotado aos mais novos e aos "ambientes" favoráveis e propícios ao seu bem-estar e desenvolvimento.
A BNP não menciona este trabalho; entre outros de merecimento, o autor publicou no ano anterior (1903) Os inimigos das creanças, sendo que, o presente, não vem referenciado em nenhuma fonte bibliográfica.
"São muitos os inimigos das creanças. O abandono moral, intellectual e physico, a que são votadas muitas d'ellas, exigem, como instrumentos do bem, leis salvadoras dirigidas á questão e ao estado social das creanças. Por ellas, gemem todos os que proclamam a prioridade de educação sobre a instrucção, e a necessidade de manter em toda a sua pureza a alma e as faculdades das creanças.
Terreno novo, é preciso semeal-o todo do bem; só assim não ficara logar para a herva damninha.
Mas, contra os inimigos das creanças, combatem os «amigos das creanças». São todos os que teem uma viva sollicitude pela condição dos innocentes de mui tenra edade, todos os que cuidam incessantemente em os defender, confortar, e querer-lhes bem. Entre esses melhores amigos da infancia, não será, sem interesse, commemorar a mãe, a avósinha, a tia que não casou, a religiosa, o professor e a escola. De todos, e, em especial, do modo como é exercida a sua parte de influencia e sympathia para com as c reanças, nos vamos occupar nas notas seguintes. Constituem as mais fortes raizes e as mais firmes esperanças com que ellas entram no mundo, amparadas na familia somente, ou na familia substituida ou auxiliada por elementos extranhos, mas indispensaveis."
(Excerto de Parentes e Professores - I - As mães)
Indice:
1.ª Parte - Parentes e Professores. 2.ª Parte - A escola. 3.ª Parte - Colonias de férias.
Guilherme José Enes (1839-1920). "Estudou na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, terminando o curso em 1859. Neste ano, alistou-se no Exército. Fez parte de comissões encarregues de elaborarem formulários para os hospitais militares. Foi sub-chefe da 6.ª repartição do Ministério da Guerra e cirurgião-mor (1881), e director do Hospital de Chaves (1888). Em 1884, quando o cólera invadiu a Espanha, foi encarregado, com o Dr. Cunha Belém, de pôr em execução o plano de defesa sanitária, tendo organizado os lazaretos de Elvas e de Vilar Formoso. Em 1890, foi nomeado inspector dos lazaretos. Em 1891, foi nomeado director do Hospital da Estrela a que estava ligada desde o início da carreira militar. Exerceu os cargos de vogal da Junta Consultiva de Saúde Pública, membro do Conselho Geral de Saúde e Higiene do concelho de Lisboa. Instituiu o Parque Vacinogénico. Em 1903, por ter atingido o limite de idade, abandonou o serviço activo no posto de General de Brigada. Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências. Como delegado do Ministério da Guerra tomou parte em congressos internacionais ligados às questões da saúde e da higiene e medicina militar que decorreram nos anos 70 e 80 do século XIX, em Londres, Paris, Amesterdão, Genebra e Viena. Participou na conferência da Cruz Vermelha em 1887. Foi autor de artigos e estudos sobre saúde e higiene, entre eles sobre o cólera, e medicina militar, tendo colaborado com o Dr. Cunha Belém. Com este e João Vicente Barros da Fonseca, em 1877, publicou a Gazeta dos Hospitais Militares, até 1884. Era Conselheiro, Oficial das Ordens de Avis, Santiago, de Torre e Espada e de Cristo, Cavaleiro de Carlos III de Espanha; recebeu a cruz de 2.ª classe da Coroa de Ferro da Áustria e a cruz de 2.ª classe do Mérito Militar de Espanha. Foi o inventor do Formolizador Enes (aparelho destinado à desinfecção pelo formol, sob pressão, de quartos e de casas)."
(Fonte: file:///C:/Users/aassm/Downloads/Ol%C3%ADmpia%20de%20Jesus%20de%20Bastos%20Mourato%20Nabo.pdf)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa vincada. Lombada apresenta parte de selo de biblioteca no pé.
Muito raro.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
35€
Reservado

23 novembro, 2024

AMZALAK, Moses Bensabat -
AS TEORIAS MONETÁRIAS DO PADRE JOÃO DE MARIANA.
[Por]... Professor da Universidade Técnica de Lisboa. Lisboa, [s.n. - Impresso na «Gráfica Lisbonense» - Lisboa], 1944. In-4.º (26x19,5 cm) de 57, [7] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante estudo bio-bibliográfico sobre este religioso jesuíta quinhentista, e reprodução da sua obra maior - o Tratado y discurso sobre la moneda de vellon.
Tiragem limitada a 200 exemplares.
"O Tratado y discurso sobre la moneda de vellon quási que ia sendo fatal ao seu autor. Foi-lhe instaurado um processo pelo crime de lesa-magestade. [...]
«No relatório do Fiscal contra o Pe. Mariana êste ilustre autor é acusado do crime de lesa-magestade por ter ousado afirmar no seu tratado de monatae mutatione, sem o menor respeito devido a S. M. e aos seus Ministros, que a mudança operada no valor da moeda constituía um golpe pernicioso vibrado ao crédito do Estado e que os representantes da nação não tinham em vista senão o seu interêsse pessoal, não se importando com as calamidades públicas, desde que êles continuassem a têr a graça do Príncipe. Que mais adiante, no capítulo XIII do mesmo tratado, êle se ter referido injuriosamente contra o govêrno inculpando-o de venal.»
«Como consequência destas acusações, o Pe. Mariana foi prêso no convento dos religiosos franciscanos de Madrid, onde redigiu uma vigorosa e firme defesa na qual diz entre outras coisas que com a idade de 73 anos, quando esperava receber algum retribuïção pelas suas grandes fadigas padecidas no espaço de 56 anos empregados no serviço da religião e do Estado, êle só encontrara como recompensa o rigor duma prisão. [...]
«Por uma carta de Sua Magestade Católica dirigida a D. Francisco de Castro, cuja cópia se encontra no dito manuscrito, o rei havia ordenado que se comprassem e recolhessem com cuidado e sem barulho todos os exemplares dessa obra, com a ordem expressa de os queimar.»
O livro monetae mutatione publicado primeiramente em latim e depois em espanhol contém as teorias do Pe. João de Mariana sôbre a moeda. É dêle que nos ocuparemos no presente estudo. Como porém a edição latina é da maior raridade e a edição espanhola se acha esgotada, julgamos fazer um serviço aos estudiosos reproduzindo-o no capítulo seguinte, para depois o comentar à luz da história das doutrinas económicas."
(Excerto de I - Da vida e dos trabalhos científicos do Padre João de Mariana)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Muito invulgar.
15€

22 novembro, 2024

FONSECA, Pires de Lima da - A CASA DO OUTEIRO : romance
. Lisboa-Porto-Coimbra-Rio de Janeiro, "Lvmen" : Empresa Internacional Editora, 1925. In-8.º (19,5x12,5 cm) de 270, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Romance muito interessante, bem estruturado, com uma linguagem rica e cuidada. Trata-se da história dos Roiz, ilustre família titular do solar do Outeiro, residência ancestral votada ao abandono e esquecimento pela incúria dos últimos descendentes, com domicílio em Inglaterra. A história atravessa várias gerações de fidalgos, e decorre desde os tempos conturbados das guerras liberais, que conduziu ao exílio o titular de então - apoiante da causa miguelista - e os que se seguiram, até ao início do século XX, quando a última descendente - Maria da Graça - tudo vai tentar para reabilitar a casa e o nome de família.
"A casa ficava, num alto, sobranceira à grande mata de cédros, que um antepassado mandara plantar quando viera da Índia.
Á volta, no parque em que duas velhas magnólias há quási dois séculos lançavam a benção da sua sombra sôbre os herdeiros do nome, um desembargador amigo do sr. Dom. João V, companheiro de aventuras do príncipe artista e sumptuoso, mandara pôr aos quatro canto as imagens da Justiça, da Verdade, do Direito e do Trabalho. E havia assim naquele parque debruado de buxos, com seus caramanchões onde tanto casamento se esboçara nas tardes alegres de jôgo da cabra-céga, o tom grave e sevéro das estátuas, que nas suas roupágens de pedra assistiam impassíveis e desdenhosas ao correr das gerações.
A casa do Outeiro era velha.
Nos pergaminhos da freguesia que vinha catolizando aqueles campos desde os meados do século XII, encontravam-se já referências aos nobres senhores do Outeiro, e, hómens lidos em arqueologia, vivendo na austéra convivência dos códices, julgavam poder assegurar que os fundamentos da casa tinham sido lançados na época tumultuosa da conquista gôda."
(Excerto do Cap. I)
"O Outeiro tornára-se  grande sepulcro da fé política de Dom Pedro Roiz.
O filho, depois de uma educação que o levara a matricular-se na Universidade, penetrara-se do espírito liberal que invadira Coimbra e a dominava desde as repúblicas da Alta onde se declamava Garrett às lojas da Calçada, em que comerciantes graves, de barba passa-piôlho, trovejavam contra os malandros dos frades que a mão forte de Aguiar tinha pôsto fora do reino."
(Excerto do Cap. II)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Manuseado. Lombada apresenta falha de papel no pé. Com alguns cadernos soltos.
Muito invulgar.
35€
Reservado

21 novembro, 2024

CONDE DE RIO MAIOR, Antonio -
UMA OPINIÃO SOBRE OS EXPOSTOS DA SANTA CASA DA MISERICORDIA DE LISBOA. Pelo...
Lisboa, Imprensa Nacional, 1866. In-8.º (22,5x13,5 cm) de [2], 173, [7] p. ; il. ; E.
1.ª edição.
Importante contributo para a história dos enjeitados em Portugal. Trata-se do relatório sobre os expostos da SCML, publicado pouco tempo antes das profundas transformações operadas pela novel política de recolhimento de crianças abandonadas, a partir de 1870, motivada por questões financeiras.
Ilustrado com quadros e tabelas estatísticas no texto.
Raro. Com interesse histórico.
"Nomeado pelo governo adjunto do provedor da Santa Casa da Misericordia de Lisboa, fui obrigado, pouco tempo depois de ter tomado posse do logar, a sair do reino por motivos de saude. Entendi que devia aproveitar a occasião para visitar alguns estabelecimentos de caridade no estrangeiro, e procurar documentos, que instruindo-me principalmente na questão dos expostos, um dos problemas mais graves que a mesa da Santa Casa deseja resolver, me ajudassem a formar uma opinião sobre esta difficil e importante materia.
São estes estudos que venho publicar hoje...[...]
A ordem que seguirei no exame das m,aterias é a seguinte:
1.º Tratarei das rodas, procurando provar que, no estado em que nos achâmos, a sua supressão imediata é impossivel.
2.º Emquanto aos socorros ás mães, distinguirei as casadas das solteiras, e para umas e outras a conveniencia ou inconveiencia d'estes mesmos socorros, a creação de premos, a organisação de associações religiosas, finalmente a necessidade da fiel execução de boas leis contra a exposição.
3.º Fallarei da inspecção e das amas, distinguindo dois periodos da vida do exposto.
4.º Finalmente direi o que entendo a respeito do hospital dos expostos na Santa Casa de Lisboa, e as reformas que julgo poderem ali introduzir-se."
(Excerto da Introducção)
António José Luís de Saldanha Oliveira Juzarte Figueira e Sousa, 1.º marquês de Rio Maior (1836 - 1891). "Era filho dos 3.ºs Condes de Rio Maior, João Maria de Saldanha Oliveira Juzarte Figueira e Sousa Mãe e Isabel Maria José de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos, foi o 4.º Conde e 1.º Marquês de Rio Maior. Foi bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, oficial-maior da Casa Real com o cargo de mestre-sala, Par do Reino e deputado. Foi adido honorário da Legação em Paris, provedor da Santa Casa da Misericórdia em Lisboa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa."
(Fonte: https://monarquiaportuguesa.blogs.sapo.pt/antonio-jose-de-saldanha-oliveira-e-970381)
Bonita encadernação meia de pele com rótulo e ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação.
Ostenta ex-libris dos Viscondes de Santarem e de Villa Nova da Rainha no verso da pasta anterior e na folha que precede o ante-rosto.
Raro.
85€

20 novembro, 2024

CLARO, Rogério -
O DRAMA DE BOCAGE.
Conferência proferida no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Setúbal, em 15 de Setembro de 1948. Setúbal, [s.n. - Execução gráfica da Escola Tipográfica do Orfanato Municipal de Setúbal - 1949], 1949. In-4.º (25x19 cm) de 28, [4] p. ; [1] f. il. ; B.
1.ª edição.
Homenagem do autor a Bocage, o "poeta do Sado".
Bonita edição, impressa em papel de superior qualidade, ilustrada extra-texto com o retrato do vate setubalense.
"Na forma do ano passado, comemoramos hoje, com funda alegria, o nascimento, em Setúbal, de um dos seus filhos mais ilustres que foi também um das figuras mais destacadas das páginas literárias da Nação Portuguesa.
Este festa tem, simultâneamente, dois objectivos: o primeiro, prestar homenagem a quem foi, pelo seu génio, um grande e alto valor nacional; o segundo, unir espiritualmente em alto pensamento todos os que aqui nasceram ou aqui criaram fundas razão de amor."
(Excerto da alocução do Dr. Miguel Rodrigues Bastos, Presidente da CMS)
"Ao ler atentamente toda a obra poética de Bocage, uma pergunta imediata se formulou no meu espírito: Até que ponto foi a vida do poeta um aturdimento à angústia que o sufocava?
Poderá parecer estranho falar-se de angústia num homem que viveu tantas aventuras libertinas e que tantas vezes tem sido apresentado como um chalaceador optimista e brincalhão.
Mas o facto não pode ser negado, tal a evidência com que se nos apresenta: Bocage viveu um intenso drama e, se na literatura ocupa um lugar de acentuado relevo pela forma como soube exprimir os sentimentos vários que o agitavam, no campo da especulação filosófica a sua figura aparece-nos cheia de elevação moral."
(Excerto da Conferência)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e biográfico.
15€

19 novembro, 2024

SUBTIL, Manuel -
AURAS : versos.
Prefacio de J. A. Caldeira Rebollo. Portalegre, Typographia Fragoso & Leonardo, 1898. In-8.º (21,5 cm) de VIII, 74, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Edição original daquela que será a primeira obra do autor, não referenciada na Biblioteca Nacional, recolha poética da sua mocidade.
"Em 1891, n'uma manhã d'Outubro, entrou em minha casa, na rua da Rosa, o moço poeta, que agora me entala n'estas paginas. Quem me havia de dizer?
Acompanhava-o seu pae, o sr. José Joaquim Subtil, um portuguez de lei, de rosto aberto e franco emôldurado n'umas pequenas suissas, a que vulgarmente chamam patarras, no Alentejo. Cultiva umas pequenas geiras de terra em Valle do Pezo e vinha trazer o rapaz, dizia, para frequentar a Escola Normal. [...]
Em meados de 1894 frequentava o meu pupilo o 3.º e ultimo anno do seu curso; appareceu-me na repartição do Ministerio do Reino, onde eu, como tantos outros ganho o pão quotidiano atrophiando o espirito com a rotina dos officios de chapa, e afferrolhando todos os ideiaes, na negrura estupida da manga d'alpaca. Pareceu-me mais timido do que d'outras vezes.
- O que traz aqui Manuel?
O Manuel saccou acanhadamente de um quarto de papel, cuidadosamente dobrado, e respondeu-me com o olhar velado de quem pede coisa assaz difficil.
- Trazia-lhe isto para o senhor publicar n'O Leão...
O isto que elle me trazia era a Pescadora, uma das mais bellas manifestações poeticas do seu estro brilhante, que o leitor vae admirar em seguida, tanto mais se tiver o cuidado de lembrar-se de que foi escripta dos 18 para os 19 annos por um alumno da Escola Normal. [...]
Um dia, já terminado o curso, e quando elle leccionava no Collegio Collipolense, aconselhei-o a junctar em livro todas as suas poesias... [...]
Do meu conselho nasceu o presente livro, um livro sadio e bom, que nos ensina a amar tudo quanto ha de nobre no coração humano, tudo quanto ha de bello na Natureza sempre fecundante, num livro singelo e perfumado como são perfumadas e singelas as flores da paysagem, que elle nos canta com hymnos melodiosos de formosissimo sentimento artistico."
(Excerto de Prefacio)

"Vem commigo, pescadora,
deixa o rude labutar,
larga o barco, deixa o mar,
solta a rêde e vem-te embora,
deixa o rude labutar,
vem commigo, pescadora.

Vem-te embora, faz-me medo
o rugido cavernoso
que o mar solta furioso
la nos antros do rochedo;
o rugido cavernoso,
que o mar solta, faz-me medo.

Nuvens colossaes, diversas,
quaes gigantes desconformes,
ora se cruzam disformes,
ora apparecem dispersas,
quaes gigantes desconformes,
nuvens collossaes, diversas...

Vem commigo, pescadora,
deixa o rude labutar,
larga o barco, deixa o mar,
solta a rêde e vem-te embora,
deixa o rude labutar,
eu amo-te, ó pescadora."

(Excerto de Pescadora)

Manuel Subtil (1875-1960). "Professor e Educador, nasceu na Freguesia de Vale do Peso (Crato), a 05-02-1875, e faleceu em Lisboa, a 15-04-1960. Diplomado pela Escola Normal de Lisboa, Manuel Subtil, frequentou, posteriormente, o Instituto Industrial e Comercial. Foi professor primário, exerceu funções em Loures, Arronches e Lisboa. Em 1902, participou como Subinspector no processo de criação de várias Escolas no círculo de Portalegre. A partir de 1913, leccionou, como Professor interino, na Escola Normal de Lisboa. Também desempenhou funções lectivas no ensino particular, nomeadamente nas Escolas Nacional e Académica. Entre 1925 e 1944, integrou o corpo docente do Instituto de Orientação Profissional, na sequência de um convite de Faria de Vasconcelos. No biénio de 1926-1928, foi membro do Conselho Administrativo da Universidade Popular de Lisboa. Fez parte de várias comissões de serviço ligadas à organização e administração do ensino primário. Publicou, em conjunto com Cruz Filipe, Faria Artur e Gil Mendonça, um Dicionário Escolar, Cadernos de Exercícios e Manuais Escolares de Leitura e Aritmética para as várias classes do Ensino Primário, que atingiram várias dezenas de edições. Assinou, com Faria de Vasconcelos e Fernando da Costa Cabral, diversas monografias profissionais."
(Fonte: https://ruascomhistoria.wordpress.com/2019/06/19/quem-foi-quem-na-toponimia-do-municipio-do-crato/)
Exemplar brochado em razoável estado de conservação. Capas frágeis com defeitos, rasgões e pequenas falhas de papel. Lombada apresenta tosco restauro com fita gomada. Pelo interesse e raridade justifica encadernar.
Raro.
Sem registo na BNP.
Indisponível

18 novembro, 2024

ALVES, Padre Gonçalo -
O FIM DOS TEMPOS OU O FIM PROXIMO DO MUNDO.
A Segunda Vinda de Christo, ás Portas. Porto, Imprensa Nacional de Jayme Vasconcellos, [19--]. In-8.º (19x13,5 cm) de 124, [4] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Ensaio complexo e algo insólito de um padre católico que interpreta fenómenos inexplicáveis à luz da Bíblia.
Ilustrado com dois desenhos em página inteira.
Estudo raro e muito curioso, publicado, julgamos, na primeira/segunda década do século XX. Nada foi possível apurar acerca desta obra ou do seu autor por total ausência de referências biobibliográficas. A Biblioteca Nacional não menciona.
"Os estudos feitos, n'este livrinho sobre assumptos tão momentosos e de tão difficil comprehensão e interpretação, eu os declaro inteiramente pessoaes, por mim investigados sobre a Sagrada Escriptura e doutrina dos Santos Padres e Doutores da Igreja."
(Excerto do preâmbulo - Protestação)
"O obscuro sacerdote que elaborou as humildes paginas d'este livrinho, tem colhido já da vida as mais duras desillusões. Tendo viajado assaz atravez de terras e mares, tem aprendido a conhecer o mundo, os seus enganos, todas as suas protervias, toda a immensa degradação moral a que tem baixado a especie humana. A sua educação religiosa bebida com o leite maternal, lapidada mais tarde atravez da leitura, da meditação e do estudo, alicerçou-lhe bem fundo n'alma conclusões seguras e inabalaveis sobre o futuro do homem, post mortem, sobre a origem celeste e immortalidade do espirito humano, sobre, emfim, todas as doutrinas da Biblia, que considera, após todas provas e contra-provas, a que a tem sugeitado, como sendo um livro d'inspiração divina, a autentica palavra de Deus ensinada aos homens, o unico codigo as verdades eternas e irrefragaveis que devem illuminar e guiar as intelligencias e os corações de todas as almas que na terra caminham para o incognoscivel infinito."
(Excerto de Palavras prévias)
Index:
[Protestação] | Palavras prévias | I - Signaes dos tempos. II - A Prophecia. III - A Tradição. IV - A Historia e a Mystica. V - A Razão. VI - O Anticristo. VII - A Ressurreição dos mortos. VIII - O Millenio. IX - O Renovamento do Ceu e da Terra. X - O numero dos Eleitos. XI - Ultimas palavras.
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Com sublinhados e notas a tinta nas últimas páginas do livro.
Raro.
Sem registo na BNP.
Indisponível

17 novembro, 2024

FREIRE, João -
A INSTRUÇÃO E O USO DE ARMAS BRANCAS NA MARINHA. [Lisboa], Academia de Marinha, 2018 [2019]. In-4.º (24x17 cm) de 47, [1] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Ensaio histórico sobre o ensino e manejo de armas brancas na Armada Portuguesa.
Ilustrado no texto com fotografias a cores.
Exemplar valorizado pela dedicatória autógrafa do autor.
Estudo interessante e muito curioso, para colecção.
Tiragem limitada a 200 exemplares.
"Neste estudo, que se refere à Armada portuguesa desde finais do século XVIII até à actualidade, consideramos sucessivamente o caso do emprego do sabre-de-abordagem nos últimos tempos da marinha de vela, a esgrima-de-baioneta aprendida pelo pessoal da infantaria-de-marinha e, por último, o ensino da esgrima na Escola Naval."
(Excerto da introdução - "A Instrução e o Uso de Armas Brancas na Marinha")
Índice:
"A Instrução e o Uso de Armas Brancas na Marinha" | 1 - O Sabre de Abordagem, na Marinha de Vela. 2 - Esgrima de Baioneta, para a Infantaria de Marinha. O emprego do punhal nos fuzileiros. 3 - O Ensino da Esgrima na Escola Naval. A instrução de esgrima na EN depois de 1910.
Exemplar em brochura, bem conservado.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e bibliográfico.
30€

16 novembro, 2024

MOREIRA, António Soares -
O MAJOR OU TENENTE-CORONEL EANES
. Porto, Edição do Autor, 1977. In-8.º (18,5x12,5 cm) de 15, [1] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Curioso opúsculo da época, crítico de Ramalho Eanes, - "militar e político português, notório por ter sido o 16.º presidente da República e o primeiro democraticamente eleito após a Revolução de 25 de Abril de 1974", - cuja meteórica progressão na hierarquia militar é o ponto de partida e pretexto para "implicar" com a figura do general.
Ilustrado com retrato do autor no verso da f. rosto.
"No fim do jantar ligaram a televisão e mais uma vez nos impressionou aquele rosto excessivamente sério, talhado em material tão áspero que nenhuma espiritualidade foi possível transmitir-lhe. Esforçamo-nos por procurar naqueles traços pouco definidos, apenas esboçados, secos, algo de delicado. Aquelas linhas duras, espessas, compactas, antipáticas, a expressão imóvel, o olhar parado, carregado, dá-nos que pensar.
No major ou tenente-coronel Eanes não se descortina nada de interessante. De interessante é o que tem a menos. Tudo neste homem muito teso e inexpressivo lembra um «robot», ou, quando muito, uma anatomia de museu anatómico, uma câmara funerária, os sentidos pêsames. Mas, vistas bem as coisas, estudado o homem e a sua acção, ele não é tão hermético como isso. Concluímos ser um indivíduo pouco inteligente que, por má interpretação da História julga ter uma missão a cumprir. [...]
*A insistência com que o autor utiliza as palavras - major ou tenente-coronel Eanes - não deve ser atribuída à preocupação de se fazer ironia fácil. O facto justifica-se porque o autor tentou informar-se sobre qual o posto do sr. Eanes no exército, e não conseguiu obter um esclarecimento definitivo, embora tenha interrogado muitos oficiais com os postos de capitão, major, tenente-coronel, coronel e general."
(Excerto de O major ou tenente-coronel Eanes)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa apresenta leve sombreado por acção da luz.
Invulgar.
10€

15 novembro, 2024

FRANCO, Chagas - AS SACRIFICADAS (memorias duma madrinha de guerra). Lisboa, Livraria Editôra Guimarães & C.ª, [1918?]. In-8.º (18 cm) de 255, [1] p. ; E.
1.ª edição.
Relato pungente, verídico, da saga de uma moça portuguesa - Suzana - que vai ao encontro do namorado, um oficial português do C.E.P., de licença em Paris, seguindo depois com ele para a Flandres, onde fica instalada a 20 kms do front. A história acaba mal. Dois meses depois, Fernando de Ataíde - o noivo da rapariga - encontra-se preso ao leito num hospital de Mervillle, ferido de morte nos combates que antecederam a batalha do Lys; por se recusar a abandonar a cabeceira do rapaz e bater em retirada com os demais, Susana foi importunada e seviciada por soldados alemães, sendo mais tarde resgatada pelas forças inglesas.
A Segunda Parte é integralmente dedicada à correspondência de Fernando para Susana- não censurada - aqui reproduzida.
"Uma noite, no pequenino hospital de Dohen, entre os dois habituais bombardeamentos de Saint-OMer, contaram-me esta impressionante historia.
Tempos depois, em Paris, conheci a admiravel mulher que coligia as «Memorias» que vão ler-se: ela era tão santa na sua resignação como tinha sido nobre no seu sacrificio.
Nada, ou quasi nada, tive de alterar nas suas notas tão documentadas pela dôr, tão vividas, tão humanas, tão flagrantes: elas tinham sido a esperança, a anciedade, o frémito, a agonia de cada minuto do seu coração; elas exprimem a vida daqueles tragicos tempos - elas são a verdade
Possa a comoção dos meus leitores engrandecer a minha homenagem - a homenagem do meu respeito alargado do luto dessa mulher sublime ao de todas aquelas que «sofrêram para a redenção do mundo», de todas que, como ela, fôram sacrificadas."
(Preâmbulo)
"Meu tio, já no estribo, abraçára-me, beijára-me quasi rudemente, com uma lagrima na face:
- Adeus! Juizo e boa fortuna...
Era noite já; e, debruçada á portinhola, subito comovida, eu via-o ainda á luz dos arcos voltaicos, com as suas malas e o seu casacão de viagem, muito amplo, côr de mel, ao longo dessa gare de Bordeus, onde êle tivera de deixar-me.
Ficava assim completamente entre estranjeiros; e o meu sonho parecia-me agora mais temerario e mais vão e a minha coragem mais frouxa, quási fatigada já - e todo o nobre impulso do meu coração, correndo após o amor, uma quimera apenas distinta num mundo de quimeras. [...]
Eu ia só, aos vinte anos, nesse país que o meu espirito havia tanto amava, em demanda do meu amor saudoso - mas ele estava áquela hora bem longe sem me poder valer no fundo ignorado de uma trincheira escura, e nos sucessos daquela noite claramente eu via a dissolução desse país em guerra, os ultrajes que me esperavam."
(Excerto da Primeira Parte - Cap. I)
"Hoje de manhã, quando desci á primeira linha, num intervalo breve da trovoada, sob o sol de fogo, o Patachão aproximou-se de mim, tristemente:
- Deixe-me saltar o parapeito, deixe-me ir busca-lo...
Logo o Evaristo, o cabo de olhos negros, habitualmente tão silencioso e tão grave, me explicou o caso estranho: durante a noite, um dos da patrulha, o José da Roleta, patricio do Patachão, tinha lá ficado sem dizer ai, crivado pelos estilhaços. E a sessenta metros apenas, no meio dos arames contorcidos, emaranhados pela metralha, negros das chuvas e dos gazes, eu via o cadaver com os baços abertos, a face caída na lama, todo inteiriçado, enorme, singular no seu abandono.
- Deixe-me ir buscá-lo...
Neguei. Afastei-me contrariado. [...]
- Os ratos vão comê-lo. Deixe-me ir buscá-lo.
E eu fui ao telefone pedir para o batalhão a licença necessaria. Mas o major declinou a responsabilidade, telefonou para a brigada. Por fim, resmungadamente, veio o indeferimento que eu esperava.
Então, num desespero que eu não pude conter, que ninguem podia conter, o Patachão saltou no parapeito, só e sem armas, prescrutando, um momento com os grandes olhos meridionais, vagamente loucos, a trincheira inimiga. Depois começou a correr pela Terra de Ninguem, através dos charcos e das crateras, desesperadamente, abrindo as enormes pernas em passadas tão vivas, tão loucas, como se, aproveitando o assombro de todos nós, fôsse a desertar.
Alguns tiros isolados vindos do parapeito contrario não conseguiram detê-lo; estava já no meio dos arames, junto do cadaver.
Depois, um momento, todos vimos a face do morto soerguer-se na lama, os seus braços agitarem-se, logo cairem como duas hastes rigidas, pesadamente, em cruz. [...]
Mas era evidente que um homem só nada poderia contra aquela imobilidade marmorea, tão querida e tão pesada.
Então o Evaristo correu a ajudá-lo, sem uma palavra, no seu grave silencio - e eu quasi lhe gritei um «bravo!» ao vê-lo correr assim.
Todos os meus homens estavam agora de pé no parapeito, palidos, ansiosos, esquecendo o perigo, esquecendo as armas! E lá em baixo, defronte de nós, na trincheira alemã, outros soldados erguiam-se, porventura palidos tambem, esquecendo tambem a guerra, abandonadas tambem as armas. Depois, quando o morto foi transportado enfim, livida a face, as pernas já tumefactas, bamboleantes, escorrendo lôdo dos charcos fétidos, os soldados alemães e os nossos simultaneamente fizeram a mesma continencia nobilissima nessa funerea tregua inesperada, triste confraternização da morte."
(Excerto da Segunda Parte - IV)
Sezinando Raimundo das Chagas Franco (1878-1944). Militar, escritor, político e professor português. Major de Infantaria, integrou as forças do C.E.P. em França, onde combateu. Foi professor de História no Colégio Militar e "leitor" de Língua e Literatura Portuguesa na Universidade de Rennes, França (1921).
Encadernação em meia de pele com ferros a negro e a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Raro.
Com interesse histórico.
85€
Reservado

14 novembro, 2024

CRESPO, Gonçalves - NOCTURNOS. Lisboa, 18, Rua Oriental do Passeio [Imprensa Nacional], 1882. In-8.º (19 cm) de 164, [ ] p. ; E.
1.ª edição.
Edição original de uma das mais apreciadas obras do autor, dedicada a Maria Amália Vaz de Carvalho, sua mulher.

"Aquelle que alli vae triste e cançado
E mais tremente que os juncaes do brejo
Foi outrora o mais bello e o mais amado
Entre os moços do antigo logarejo.

Nas fitas d'esse labio desmaiado
Quantas mulheres tremulas de pejo
Não sorveram os néctares do beijo
Dos trigaes sobre o leito perfumado!

Hoje é velhinho, e falla dos francezes
Aos rapazes da eschola, e ás raparigas
Que não cançam de ouvil-o... As mais das vezes

Sobre a ponte, sósinho, ouve as cantigas
Das que lavam no rio, e o olhar extende
Ao sol que ao longe na agonia esplende..." 

(O Velhinho)

António Cândido Gonçalves Crespo (Rio de Janeiro, 1846 - Lisboa, 1883). Natural do Rio de Janeiro, Brasil. Veio residir para Portugal aos 10 anos de idade. Inscreveu-se na Universidade de Coimbra onde se viria a formar em Direito. Aí iniciou-se nas lides literárias, como colaborador de A Folha, fundada em 1868 por João Penha, por muitos considerado o introdutor do «Parnasianismo» em Portugal,  corrente a que aderiu. Foi o autor de Miniaturas (1870) e Nocturnos (1882), expressando-se em poemas com reminiscências da vida familiar e cenas do quotidiano. Gonçalves Crespo foi ainda deputado pela Índia, nas legislaturas de 1879 e 1882, e trabalhou no Diário da Câmara dos Pares, assim como colaborou no Jornal do Comércio, Artes e Letras, Cenáculo e na revista Ocidente. Ainda estudante, em 1874, casou-se com a conhecida escritora Maria Amália Vaz de Carvalho cuja tertúlia literária frequentava. Escreveram em conjunto Contos para os Nossos Filhos (1886).
Encadernação em meia de percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Escritos numa página no interior do livro e pequenas manchas de acidez. Dedicatória coeva (não do autor) na f. ante-rosto.
Raro.
25€
Reservado

13 novembro, 2024

NORONHA, Eduardo de – DIARIO DE UM POLICIA.
Scenas da politica e da rua, anotadas pelos jornaes
. Lisboa, Guimarães & C.ª, 1919. In-8.º (18,5 cm) de 232 p. ; E.
1.ª edição.
Obra satírica e muito invulgar sobre a Lisboa "subterrânea" da época, das menos conhecidas da bibliografia do autor.
Trata-se do Diário do guarda 444, Bonifácio da Madre de Deus, da 12.ª esquadra de Lisboa.
Obra não mencionada na Biblioteca Nacional.
"Vejamos quem era essa prestante entidade policial, que, de indole curiosa, methodica, systematica, por inspiração sua ou por suggestão alheia, se lembrou de redigir um Diario onde, n'uma serie de apontamentos lançados á pressa, um tanto atabalhoadamente, sem preoccupações gramaticaes, é certo, registou todos os acontecimentos que presenceava ou de que tinha conhecimento. O seu espirito de ordem levou-o a authenticar, ou melhor, a condimentar esse Diario collando ao lado as noticias referentes a esses successos publicadas nos jornaes de maior circulação. O diario regorgitava de notas, de factos, de observações, constituia um vasto, um amplo repositorio dos incidentes e episodios da vida politica e social de Lisboa."
(Excerto do texto)
Indice:
I – Atroz desapontamento. II – Episodios e caricaturas. III – Gatunos e receptadores. IV – Larapios e rufias. V – Arruaças e arruaceiros. VI – Artistas de… cabeça. VII – Casamentos e lôgros. VIII – O «flirt» do animatographo. IX – Subsistencias e… falsificações. X – A nove I… XI – Somnambulas e videntes. XII – Superstições e candices.
Encadernação em percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação.
Raro.
Sem registo na BNP.
30€

12 novembro, 2024

DUMAS, Alexandre - A MÃO DO FINADO.
Segunda parte do Conde de Monte-Christo. Por... Edição illustrada para Portugal e Brazil
. Rio de Janeiro : Lisboa, Editora - Empreza Litteraria Fluminense de A. A. da Silva Lobo, [18--]. In-4.º (23,5 cm) de 366, [2] p. ; [10 f. il. ; E.
1.ª edição brasileira.
Anunciado como a continuação do Conde de Monte Cristo, e dada por inúmeras fontes bibliográficas como mais um romance de Dumas, a presente obra foi afinal escrita pelo portuguesíssimo Alfredo Hogan a instâncias de um editor - também ele português - pouco escrupuloso no que à questão dos direitos de autor diz respeito, como aliás era usual na época. Originalmente publicado em 1853 (e traduzido para o francês(!) no mesmo ano), A mão do Finado é uma verdadeira pérola para os apreciadores do romance de "capa e espada", bem como da obra de Hogan (ainda pouco divulgada), e porque não dizê-lo, de Alexandre Dumas, autor de culto da literatura romântica-histórica, cuja produção atingiu o apogeu em meados do século XIX com a publicação das conhecidas obras Os três Mosqueteiros (1844) e O Conde de Monte Cristo (1844-46), e que terá tentado - sem sucesso - junto de algumas editoras internacionais desmentir a paternidade deste título. Resta dizer que, posteriormente, seriam publicadas outras sequelas do best seller de Dumas, sendo a mais conhecida O filho do Monte Cristo (1881), de Jules Lermina, com tradução para o português (1897).
Versão brasileira não datada (anos 80/90 do século XIX). Trata-se de uma variante ilustrada com 10 belíssimas estampas litografadas a cores em folhas separadas do texto.
"Quando a desgraça e a fatalidade nos opprimem, não falta quem venha, como o sorriso nos labios e o prazer n'alma, para nol-o fazer compartir, se a miseria não quebrou positivamente o prestigio dos nossos antigos haveres.
É esse prestigio o que attrae ao nosso lado todas as pessoas que nos conheceram e vêem vergados ao peso da fatalidade.
A baroneza Danglars, se bem que houvesse soffrido esse peso formidavel, reunia ainda em sua casa os principaes cavalheiros do Gand e tinha o prazer de ouvir nomear as suas douradas salas em Paris, como as que melhor sabiam receber e accomodar, por espaço de algumas horas, a todos esses impios elegantes do panno verde, a quem parece nunca faltar o ouro e a vontade de jogar, comtanto que não se procure conhecer os variados systemas da sua vida privada.
O espirito de orgulho e ambição da interessante baroneza Danglars, a sua figura esbelta e o seu rosto aristocraticamente pallido, onde brilhavam ou se amorteciam dois bellos olhos negros, conforme aquelle seio de rijas carnes se dilatava com a expansão d'um brando sentimento, ou se comprimia dominado pela ambição, não era o que menos attrahia numerosa concorrencia ás suas salas.
Aos que vivem de commoções fortes, nunca desagrada uma mulher como a baroneza Danglars. As suas risadas de orgulho, o seu gesto determinado e arrogante, mas submisso e meigo quando se deixava vençer, o seu olhar eloquente e sagaz, a sua extrema verbosidade, tudo concorria para que os mancebos do tom a inscrevessem no rol da leôas, apezar de ter passado já a primavera da vida.
Tal era a consideração em que estava a baroneza Danglars no anno de 1837."
(Excerto do Cap.I - Quem já havia jogado na alta e baixa dos fundos)
Alfredo Possolo Hogan (1830-1865). "Nasceu e faleceu em Lisboa. Funcionário dos correios, cultivou a literatura negra, tornando-se um romancista e um dramaturgo bastante popular em Lisboa. Nas suas obras notam-se influências de Eugène Sue e Alexandre Dumas. Escreveu vários romances históricos, como Marco Túlio ou o Agente dos Jesuítas (1853), Mistérios de Lisboa (romance em 4 volumes, 1851), Dois Angelos ou Um Casamento Forçado (romance em 2 volumes, 1851-1852), etc. Das peças de teatro, destacam-se: Os Dissipadores (1858), A Máscara Social (1861), Nem Tudo que Luz É Oiro (1861), A Vida em Lisboa (em parceria com Júlio César Machado, 1861), O Dia 1º de Dezembro de 1640 (1862), As Brasileiras; Segredos do Coração e O Colono. Foi-lhe atribuída a autoria do romance A Mão do Finado (1854), publicado anonimamente em Lisboa, pretendendo ser a continuação de O Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas."
(Fonte: http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/hogan.htm)
Alexandre Dumas (1802-1870). "Nasceu em Villers-Cotterêts, Aisne, França. Foi um romancista e dramaturgo francês, autor das obras Os Três Mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo, clássicos do romance de capa e espada de grande aceitação popular. Em 1818, passando por dificuldades financeiras, trabalhou num cartório da cidade. Conheceu Adolphe von Leuven, nobre sueco refugiado em França. Em 1821, junto com o amigo Leuven, escreveu a peça O Major de Strasburgo. Em 1823, foi morar em Paris. Em busca de emprego foi recebido pelo General Foy, amigo de seu pai, que ao ver a sua bela caligrafia concluiu que Dumas poderia secretariar o Duque de Orléans, futuro rei Luís Filipe. O emprego garantiu-lhe o sustento e abriu-lhe o caminho para a Comédie Française."
(Fonte: wook)
Encadernação meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Assinatura de pertença na f. ante-rosto. Páginas ligeiramente oxidadas. A 9.ª estampa está "pegada" à folhinha de protecção.
Raro.
Peça de colecção.
60€