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domingo, 12 de setembro de 2021

Morre o ator Michael K. Williams, destaque em ‘The Wire’ e em ‘Boardwalk Empire’

 

Michael K Williams

Morre o ator Michael K. Williams, destaque em ‘The Wire’ e em ‘Boardwalk Empire’

O intérprete de 54 anos foi encontrado morto em seu apartamento em Nova York por, segundo a polícia, culpa de uma overdose. Em 13 dias, ele poderia ganhar seu primeiro Emmy, por ‘Território de Lovecraft’


Antonia Laborde
6 Sep 2021

O ator Michael K. Williams, de 54 anos, foi encontrado morto na segunda-feira em seu apartamento em Nova York. O intérprete afroamericano foi encontrado inconsciente às 14h00, horário local, na sala de jantar de sua luxuosa casa no Brooklyn, de acordo com a polícia, citada pela mídia local. Williams alcançou a fama interpretando o criminoso Omar Little em The Wire, um dos personagens mais memoráveis da icônica série de crimes. E conseguiu conseguiu mais um marco em sua carreira ao dar vida a Albert Chalky White em Boardwalk Empire.

As causas da morte não foram oficialmente comunicadas, mas o jornal que divulgou a notícia, The New York Post, afirma, citando fontes policiais, que Williams morreu de “uma suposta overdose”. A morte foi confirmada por sua representante, Marianna Shafran, noticia o The Hollywood Reporter.

Quatro vezes indicado ao Emmy, ele vinha recebendo elogios da crítica por seu trabalho desde 1995. Seu próximo projeto, anunciado na semana passada, era estrelar a biografia sobre o bicampeão mundial dos pesos pesados George Foreman, dirigido por George Tillman Jr. Em 13 dias, em 20 de setembro, os Emmys serão entregues, e Williams era o favorito na categoria de melhor ator coadjuvante em série dramática por Território Lovecraft.

Muitos dos personagens que Williams interpretou foram produto de uma sociedade discriminatória que os deixou à margem. Pessoas que tiveram que lidar com abuso racial, pobreza ou crime. A todos eles, o ator conseguiu injetar a humanidade necessária para aproximá-los do público e entender suas bússolas morais, tingi-los de claro-escuro e quebrar o imaginário de que o mundo está dividido entre o bem e o mal.

Omar Little mudou sua vida e sua poderosa interpretação para a jornada de The Wire, considerada uma das melhores séries da história da televisão. Seu trabalho durante as cinco temporadas da série que retrata a face mais crua da marginalização de Baltimore comoveu os espectadores e fez dele um personagem de culto. O próprio ex-presidente Barack Obama afirmou que era seu personagem favorito em The Wire. Em 2012, Donnie Andrews, o criminoso que inspirou Omar, morreu. “DEP o gangster original e um homem de alto a baixo, Donnie Andrews. O homem que inspirou Omar Little. Dedico minhas orações a ele “, escreveu Williams em sua conta no Twitter.

Os melhores papéis de Williams na série estão relacionados à HBO, a casa de televisão onde trabalhou por mais de 20 anos, dando vida a personagens em Boardwalk Empire, The Night Of e o já mencionado Território Lovecraft. Também atuou em outras séries como So they see us, Alias, Sopranos, F is for family e Law and Order. No cinema, ele apareceu em RoboCop, 12 anos de escravidão, Pure Vice, Medo da verdade, Assassin’s Creed, The Dealer, Orphans of Brooklyn, Rescue in the Red Sea, Os caça-fantasmas, O mensageiro, Road player.

Michael K. Williams nasceu e foi criado “nos primeiros 32 anos” de sua vida no bairro de Flatbush, no Brooklyn. “Apesar de tudo que é feio e ruim, eu não mudaria minha vida por nada, isso me fez quem eu sou. Tenho orgulho de dizer que cresci nessas ruas do Brooklyn. Tenho algumas cicatrizes, quase todas internas, mas elas me fizeram o homem que sou“, disse à CannesSeries em 2018. Aos 21 anos entrou em reabilitação e depois passou uma década em casa sem interesse por nada e de luta em luta (daí suas cicatrizes externas). Até que o balé, primeiro, e o cinema depois, graças a Tupac Shakur, tiraram-no de uma década infernal.

“Durante minha estada em The Wire percebi que o sucesso não é deixar sua comunidade, é ser bem recebido de volta”. Por isso ele se voltou para ações sociais em seu bairro e para produzir séries de documentários sobre temas que lhe interessavam. Em uma entrevista de 2017 para o The New York Times, argumentou que “o vício não desaparece”. “É uma luta diária para mim, mas estou lutando”, acrescentou.

EL PAÍS


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Prêmios Emmy / A fórmula do sucesso na televisão

Breaking Bad

A fórmula do sucesso na televisão

Os cinco prêmios Emmy para 'Breaking Bad' são a recompensa a um projeto pensado do início ao fim como uma totalidade



Aaron Paul e Bryan Cranston, ganhadores do Emmy, em uma cena de 'Breaking Bad'.
The Wire não ganhou nenhum Emmy. Em suas cinco temporadas só recebeu duas indicações, ambas de melhor roteiro de um capítulo, ambas para David Simon em colaboração (com Pelecanos e Burns). The Wire é, para muitos, a melhor série da história da televisão; e ainda assim continuamos acreditando no poder do Emmy, uma superstição coletiva tão histérica quanto a dos spoilers.
O Oscar da TV foi muito mais generoso com Breaking Bad, outra obra-prima de cinco temporadas, que se despediu em grande estilo. Melhor série dramática, melhores atuações, melhor roteiro. Os prêmios para os três atores principais apontam para a importância radical dos personagens naserialidade contemporânea. Particularmente relevante é o segundo Emmy para Anna Gunn, cujo papel de Skyler White foi visceralmente odiado pelos fãs (em níveis comparáveis apenas aos de Joffrey Baratheon em Game of Thrones), colocando a antipatia, a não-identificação, a rejeição moral dos protagonistas no centro do fenômeno serial. Nesse sentido, o triunfo de Breaking Bad sobre True Detective é o da obscuridade absoluta sobre a possibilidade do bem. Rust, o personagem de Matthew McConaughey, é um herói, atormentado, mas herói. Walter White, no entanto, é o vilão mais vilão já concebido pela televisão.

O Emmy não levou em conta essa questão temática ao privilegiar uma obra e não outra, mas sim outras questões de natureza artística, industrial e simbólica. Bryan Cranston tornou-se um monstro consagrado pela atuação na telinha, enquanto McConaughey, como tantos outros, é um turista brilhante que já tinha conquistado a fama, ainda que com um tipo de personagem diametralmente oposto, do cinema, seu país de origem. Na verdade, seu Oscar por Dallas Buyers Club deveu-se em pequena parte a O Lobo de Wall Street e em grande parte a True Detective. No roteiro da cerimônia, houve ironias sobre a relação entre as duas linguagens e indústrias, talvez pela primeira vez o Emmy esteve tão importante como o Oscar. Se não mais.
Outro conflito entre as séries de Vince Gilligan e Nic Pizzolatto passa pelos selos que as amparam. A AMC tornou-se nos últimos anos a marca das obras-primas, após a predominância da HBO com Six Feet UnderThe SopranosDeadwood e The Wire. Esta segunda década está sendo a de Mad Men e Breaking Bad, enquanto não se reconhece o poder de Game of Thrones e True Detective não se consolida. Porque premiar as cinco temporadas de Gilligan, em vez da única de Pizzolatto significa reconhecer a consolidação mais que o surgimento.

Esta década é a de Mad Men e Breaking Bad, enquanto não se reconhece o poder deGame of Thrones
E esse é o grande argumento, na minha opinião, para defender o grande vencedor de ontem. Vimos com Masters of sex, Ray Donovan e Rectify, para citar três exemplos recentes, como excelentes primeiras temporadas se convertem em segundas temporadas de menor qualidade. A renovação é, muitas vezes, uma condenação. Ao contrário de Pizzolatto, que aparentemente não tem um plano de longo prazo e nem sequer sabia o sexo dos protagonistas da segunda temporada quando a assumiu, Gilligan (assim como Simon) concebeu sua história com a antecipação e o rigor necessário para que, em seu conjunto, fosse uma obra-prima.

Sua equipe de roteiristas e ele mesmo foram escrevendo temporada por temporada, como é comum na indústria, mas souberam transformar os obstáculos em desafios e encaixar todas as peça. No excelente livro que a editora Errata Natura e dedicou à série, seu criador explica que Gus Fring surgiu porque o ator que sobre o qual recairia o peso da segunda temporada encontrou trabalho em outra série, ou que o carro que Walter dá a seu filho ou o videogame que Jesse usa para se distrair foram soluções criativas para o imperativo do product placement, tão fundamental para o financiamento como o público. Isolados em Albuquerque, sob a batuta de Gilligan, a orquestra de atores e técnicos soube criar a bolha de dedicação e obsessão que leva ao sucesso duradouro. Prova do trabalho em equipe é que foram indicados ao Emmy de melhor roteiro dois episódios de Breaking Bad, um escrito por Gilligan e outro por Moira Valley-Beckett: ganhou Ozymandias, o dela. Mas, na realidade, ganhamos todos.
Jorge Carrión é escritor e autor do estudo sobre a nova televisãoTeleshakespeare.