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sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Philip Gay / Isabelle Huppert


Philip Gay
Isabelle Huppert










segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Michael Haneke / “O mundo submergiu em águas turbulentas”

Michael Haneke
Rupert Smissen

70 FESTIVAL DE CANNES

Michael Haneke: “O mundo submergiu em águas turbulentas”

O cineasta austríaco apresenta ‘Happy End’, com que pode ganhar sua terceira Palma de Ouro

Michael Haneke passeia pelo Festival de Cannes como se fosse sua casa. Na realidade, poderia ser sua segunda residência. Toda a sua carreira está ligada à competição. Desde seus primeiros filmes, O Sétimo Continente e O Vídeo de Benny, que participaram da Quinzena dos Diretores, aos dois últimos, A Fita Branca e Amor, que ganharam a Palma de Ouro. Ele ri. Não é homem de muitas palavras. Prefere que sejam os filmes a contar suas próprias histórias. E em Happy End mostra a queda de uma família da alta burguesia francesa, um grupo com seus divórcios, suas solidões, seus filhos abandonados... e rodeados pela última onda de refugiados, já que vivem em Calais.
Esta é a quarta vez que Haneke filma com Isabelle Huppert, e a segunda com outra lenda do cinema francês, Jean-Louis Trintignant, que, aos 86 anos, discorreu sobre sua felicidade de ter atuado com o cineasta: “Sempre é um prazer trabalhar com Michael. Ele é muito bom na exploração psicológica. É um diretor muito preciso”. Sobre o final, aberto, no qual acaba submerso no mar, o ator explicou: “Filmamos a cena em três dias, e é muito ambíguo. Michael decidiu que seria assim, e, por isso, eu também estou contente”. E começa a rir. A seu lado, Haneke completa a descrição. “A água estava fria, o mar o congelava e não estávamos seguros de que tínhamos alcançado sua força visual”. Ao que o ator respondeu: “Pedi aos produtores que gravássemos o final já em Cannes, onde o tempo estaria melhor, e assim já ficaríamos por aqui”.
Haneke fez algumas descrições mais detalhadas de sua maneira de trabalhar. Por exemplo, com a violência, e com o fato de no filme haver diferentes momentos explosivos e um grande acidente laboral: “Nos meus filmes sempre há tomadas longas. Não gosto de mostrar a violência em primeiro plano. Para mim, a distância é a maneira mais correta de mostrá-la”. Em Happy End há uma presença constante das redes sociais, que o cineasta explica assim: “O mundo mudou muitíssimo nos últimos 20 anos. Submergiu em águas turbulentas. Não se pode descrever o mundo atual sem as redes sociais, mas não é esse o assunto do filme”. Mas em seguida destacou: “As redes sociais não são a vida real. Sua superficialidade marca as relações atuais”.


Curiosamente, quando acabou Amor, o diretor escreveu um roteiro que estava mais relacionado com as novas formas de comunicação, Flashmob. “Perdi dois anos nesse filme e decidi não fazê-lo, não tinha ele claro na cabeça. É verdade que alguns detalhes daquele roteiro estão neste”. O diretor escreve seus roteiros rapidamente e logo teve um novo: “Decidi olhar para a frente. Junto os personagens e suas vivências, e crio a trama. Não é tão fácil quanto parece porque na realidade não há grandes surpresas nem artifícios em Happy End. Mas, sim, queria que ficassem claras as linhas que sobrevoam o argumento. Minha aposta é mostrar o menos possível para que seja a imaginação do espectador que complete o filme”.
Essas lacunas a serem preenchidas pelos espectadores são o que levam Haneke a rejeitar muitas perguntas. Quando lhe pediram que aprofundasse a sequência na qual um grupo de refugiados subsaarianos acaba comendo em uma festa familiar, cortou a questão: “Não quero responder sobre os imigrantes, porque é você quem tem que responder a essa pergunta. Eu coloco pistas para o espectador e ele tem que encontrar suas respostas”. Fez o mesmo quando o moderador pediu a uma atriz que comentasse seu personagem, pouco delineado na tela: “Não descreva sua personagem. Essa é uma pergunta horrorosa que nunca se deve fazer”. O elenco completo, que o rodeava na entrevista, incluindo Isabelle Huppert, Mathieu Kassovitz e Toby Jones, tampouco trouxe à conversa mais do que um “Que prazer trabalhar com Michael, sempre estarei a postos quando ele me chamar de novo”.
Michael Haneke falou mais de seu trabalho com o diretor de fotografia, e após um longo discurso, resumiu, voltando à sua famosa precisão: “Em uma filmagem gosto que os atores me surpreendam, e não os aspectos técnicos”.

sábado, 3 de agosto de 2019

‘Elle’, de Paul Verhoeven, e a gestão pessoal da própria monstruosidade




‘Elle’, de Paul Verhoeven, e a gestão pessoal da própria monstruosidade

O filme propõe um olhar para uma nova moral, construído na convicção de que todos somos, em maior ou menor medida, monstros



JORDI COSTA
22 FEV 2017 - 14:36 COT

Definir esse filme esquivo como um thriller e, tacitamente, associá-lo com Instinto Selvagem (1992) é um desserviço à sua natureza, porque se Elle parece com algo é com as cerimônias da transgressão inventadas por Buñuel e Carrière: O Discreto Charme da Burguesia (1972) e O Fantasma da Liberdade (1974) presidem a árvore genealógica que brota esse filme em que uma mulher reage com uma gelidez perturbadora à sua violação e no qual a raça surpreendente de um recém-nascido não faz com que seu suposto pai saiba somar dois e dois.
Com personagens que parecem mostrar suas respectivas sombras junguianas como quem usa um broche de ouro na lapela, Elle fala da gestão pessoal da própria monstruosidade: uma monstruosidade que, aparentemente, distingue a protagonista interpretada por Isabelle Huppert, num de seus papéis de alto risco que, aos poucos, acaba definindo todos. Não é por acaso que apareça – como pano de fundo – a indústria de videogames, entendida como uma tecnologia a serviço das pulsões inconscientes. Não era o propósito de Djian fazer uma sátira sobre a instituição familiar, nem moralizar. Também não é esse o propósito de Verhoeven. O que Elle propõe é um olhar para uma nova moral, construído na convicção de que todos somos, em maior ou menor medida, monstros. Porque queremos. E o desejo é um animal selvagem.
EL PAÍS