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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Voltar para casa / Descobrindo a vida em nosso próprio mundo


Voltar para casa

Descobrindo a vida em nosso próprio mundo

ALLANA ARAUJO
20 NOVEMBRO 2015


Quando penso em algo que me traz felicidade, logo penso em pegar o avião e voar. Sim, viajar é felicidade pura para mim. Mas tem que ser viagem grande, daquelas cansativas, que nos levam para o desconhecido. Porque são nestas viagens que a volta para casa é mais desejosa. E voltar para casa é remédio para a cura do tédio. Exatamente!
Não deixo de ver beleza nas viagens curtas, aquelas de final de semana, sabe? Mas, quando penso em viagem, e na descoberta do novo, penso em avião, em voar e, claro, em voltar.

Viajar é descobrir o desconhecido do mundo e transformá-lo em vida para abrilhantar nossa história. Viajar é um jeito bem lindo de fazer conteúdo para a vida, ou seja, é ter história para contar.
Mas, apesar de todo esse gosto pelas viagens, eu sempre desejo voltar para casa. Tem coisa melhor do que conhecer um monte de novidade, se deparar com uma cultura totalmente diferente, experimentar a gastronomia, aprender um idioma, conhecer gente e tudo mais que uma viagem nos proporciona...e ao final, ter para onde voltar?

Na minha visão, voltar para casa é como que trazer todo o tesouro descoberto na viagem para guardá-lo no baú das boas lembranças. Afinal, é em casa que a gente “rebobina” a fita e percebe que naqueles dias de viagens aconteceu uma verdadeira caça ao tesouro. O tesouro que existe em cada um de nós e por vários motivos, na correria do dia a dia, a gente não consegue perceber.
Voltar para casa também é um momento de redescoberta. É em casa que a gente percebe o que aprendeu com a viagem, é ali, no nosso cantinho, que a gente percebe as mudanças que a descoberta do novo nos transformou.

Tem um encanto em poder voltar para seu lar, seja lá onde for, e perceber que apesar de toda a beleza que há escondida no mundo, existe um lugar que é só seu: o seu mundo. E é lindo. Sem contar que ainda há muito o que descobrir ali mesmo.
Acho que é como as pessoas dizem: “olhar a situação de fora”. A gente viaja, descobre o mundo lá fora e, ainda, temos a oportunidade de avaliar o nosso próprio mundo.


Ah, também penso que voltar para casa não teria graça se a gente não tivesse as pessoas amadas para dividir tudo. Ter a oportunidade de reviver a viagem e contar todos os momentos vividos que, muitas das vezes, durante a própria viagem a gente nem se dá conta. É como se tivéssemos a oportunidade de viajar de novo, mas agora por meio das nossas lembranças.
Viajar é como viver em outro mundo, outra época, outra vida. Voltar para casa é como retornar ao mundo real, e perceber que na realidade temos uma vida bem linda, que ainda não foi descoberta por completo, e precisa ser vivida.



quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Palawan: P. Princesa El Nido ou Coron / Um canto de praias e parques marinhos

Bacuit Arquipélago (Filipinas): Cruzeiro através do labirinto Bacuit arquipélago
no norte de Palawan, praias, lagoas cristalinas passado e rocky ..


Palawan: P. Princesa, El Nido ou Coron

Um canto de praias e parques marinhos

Tatiana Sato
10 SETEMBRO 2014


De forma tímida, percebo que, pouco a pouco, as Filipinas começam a aparecem nos roteiros turísticos daqueles que decidem visitar o Sudeste Asiático. É verdade que a maioria daqueles que decidem passar alguns dias nessas ilhas faz parte de um grupo de pessoas que gostam de aventuras, mas as Filipinas oferecem muitos destinos incríveis que merecem ser incluídos no roteiro de qualquer pessoa que goste de paisagens incríveis ou praias paradisíacas.

Praias do arquipélago Palawan

O primeiro texto que escrevi para o WSI foi sobre Boracay. Desta vez, focarei em na província de Palawan, um arquipélago localizado em Mindoro, e conhecido pela belíssima região de El Nido cuja formação rochosa é similar àquela de Ha Long Bay, no Vietnam.
Existem muitas lendas sobre a origem da palavra "Palawan": enquanto alguns acreditam que seu nome vem do índio "palawans", que significa território, popularmente se acredita que é uma versão da palavra espanhola "paraguas", já que a ilha se assemelha a um guarda-chuva fechado. Outros, ainda, acreditam que ela é uma derivação do chinês "pa-lao-yu", que significaria, em uma tradução livre, terra das baías bonitas.

Imagem do Arquipélago Palawan

Três são os principais destinos escolhidos em Palawan: Puerto Princesa, El Nido ou Coron. A região, no entanto, conta com dois aeroportos principais, um em Puerto Princesa e outro em Busuanga, em Coron; para se chegar ao El Nido, além do voo, é necessária outra viagem, ou em barco (desde a cidade de Coron) ou em van (desde Puerto Princesa). El Nido conta apenas com um aeroporto minúsculo, mas poucas aerolíneas voam diretamente para lá e dizem que seus preços são bastante altos.
Embora a formação rochosa de El Nido seja bastante similar a de Ha Long Bay, sua atmosfera é completamente diferente. Se Ha Long Bay lembra a Terra do Nunca de Peter Pan, El Nido é uma região lotada de praias escondidas por trás de rochas ou dentro de cavernas. Se Ha Long Bay lembra um conto de fadas, El Nido parece mais uma região de praias escondidas e secretas, quase como se você fosse a única pessoa do mundo que a conhecesse.

Imagem do Arquipélago Palawan

A praia onde ficam os resorts não é muito atrativa, mas vale a pena reservar um dos hotéis ao longo da mesma pela localização: essa é a avenida onde estão muitos dos restaurantes e bares. Existem quatro tours oferecidos por todas as agências na região (deve-se barganhar. Aliás, barganha é um must no país inteiro e na Ásia, em geral) e os lugares a serem visitados oferecem paisagens maravilhosas, tanto dentro quanto fora da água. A última cena de Bourne Legacy, a quarta parte da saga Bourne estrelada por Jeremy Renner, Edward Norton e Rachel Weis, é filmada lá e, segundo o guia de um dos tours, embora o filme a Praia, de Leonardo de Caprio, tenha sido filmado em Koh Phi Phi na Tailândia, El Nido foi uma das inspirações para ele. Cada um dos tours dura um dia e o almoço, com peixes e/ou frutos do mar frescos, está incluído.
Caso o voo seja muito caro, existem formas mais baratas de se chegar à região, mas ambas requerem muita força de vontade: de Coron, se pode pegar um barco cuja viagem dura até oito horas; de Puerto Princesa, existem vans que o levam ao El Nido em uma viagem por uma estrada de terra que dura, aproximadamente, seis horas. Independente da forma escolhida, El Nido é uma das regiões que se tem que conhecer, uma vez que se visita Palawan.

Binturong (Arctictis binturong), também conhecido como o Bearcat asiático,
o Palawan Bearcat, ou simplesmente o Bearcat

A cidade de Puerto Princesa é a capital da província e, embora ela não tenha nada de muito especial (não se surpreendam: as cidades nas Filipinas, em geral, não são o forte do país) fica a aproximadamente 80km ou 50 milhas do Rio Subterrâneo (ou Underground River), localizado próxima à cidade de Sabang e considerado, em 2011, uma das Sete Maravilhas da Natureza. 
O parque natural no qual está localizado (Puerto Princesa Subterranean River National Park) é uma reserva natural e a sua praia serve somente para que os barcos possam chegar com os turistas: deitar-se na areia para tomar banho de sol é proibido. Considerado Patrimônio Mundial da UNESCO, o Rio Subterrâneo é navegável por apenas 4,3km de seus mais de 20km de extensão e sua formação inclui enormes estalactites e estalagmites que são iluminadas para que o turista possa apreciá-las.

Imagem do Arquipélago Palawan

De Puerto Princesa também se pode fazer o island hopping por Honda Bay que fica bem perto de lá. Essa baía é ideal para se praticar o snorkeling e muitas estrelas do mar podem ser encontradas por lá.
Por último, mas nunca em último, está a região de Coron. Arquipélago (convenhamos: todas as regiões nas Filipinas são arquipélagos!) localizado ao norte da província e conhecida por duas coisas: o safári localizado em Busuanga e os navios afundados localizados próximos à cidade de Coron.
O Calauit Wildlife Sanctuary é uma área de 3,800 hectares considerada santuário da vida selvagem durante a década de 70, no governo do infamo Ferdinand Marcos. As boas linguas dizem que essa foi a resposta de Marcos para o pedido feito pelo governo queniano a International Union for Conservation of Nature para a ajuda na conservação da sua vida selvagem. As más linguas dizem que foi investimento do governo filipino para incentivar o turismo. Independente da versão dos fatos, esse santuário recebeu, no final da década de 70, 104 animais selvagens africanos de 8 espécies distintas, entre eles girafas, empalas, zebras e gazelas. De todos eles, somente as zebras e as girafas sobreviveram e se reproduziram: as outras espécies africanas não se adaptaram à região e se extinguiram no final da década de 90.
Hoje, no entanto, além das zebras e girafas, é possível encontrar alguns animais que fazem parte da vida selvagem local como crocodilos, o veado de Calamian, o gato-almiscarado e o porco selvagem.

Agua e recifes de corais cercam Palawan, a província mais ocidental das Ilhas Filipinas

Do outro lado da ilha, encontra-se a cidade de Coron. A verdade é que a Coron pode designar a municipalidade, a cidade que fica na ilha de Busuanga ou a ilha localizada em frente à cidade, de domínio da população indígena local chamada Tagbanwa (ou Tagbanua), o que é bastante confuso.
Enfim, a região é linda e oferece uma infinidade de coisas para se fazer. Ainda que a cidade não tenha praia, a Malcapuya Island, uma ilha de areia branca sem construções, fica a um passeio de barco de distância e é um lugar onde se pode esticar o pareô e curtir o sol. O importante é lembrar-se de levar água e comida porque, como disse, não há construções na ilha.
A região ou arquipélago de Calmian é destino de muitos mergulhadores por suas belas paisagens subaquáticas. As maiores atrações da região, no entanto, são os barcos japoneses naufragados: em 24 de setembro de 1944, uma frota de navios japoneses que ali se escondia foi afundada por um ataque americano.
Quando imagino a cena, chego a arrepiar: um dia, uma calma região que se desenvolveu por seu potencial de mineração, desperta por barulho de bombas. De repente, da calma faz-se o caos, as pessoas gritam e correm de um lado para outro. Barcos são afundados, levando sua tripulação para baixo da água. E, do nada, de repente, faz-se o silêncio novamente. E os barcos que antes estavam aportados na baía de Coron não estão mais lá.
Esses barcos estão localizados a profundidades que variam de 3m a 43m. Embora a maioria só possa ser visitada por mergulhadores, dois deles (o Lusong Gunboat Wreck e o Skeleton Wreck) podem ser vistos com máscaras de snorkel já que estão muito próximos à superfície: é incrível ver como a natureza volta a dominar o que foi deixado pelo homem já que hoje, apenas 60 anos após o naufrágio, esses barcos tornaram-se corais incríveis.
A ilha de Coron tem 13 lagos considerados sagrados pelos locais Tagbanwas e apenas dois deles estão abertos ao público: o Barracuda Lake (nomeado em homenagem à barracuda que, supostamente, ali mora) e o Kayangan Lake, um lago de água doce de onde se tem a vista de um dos cartões-postais mais famosos da região.
Para se visitar e conhecer bem a região é necessário o mínimo de uma semana. E vale à pena. Como sempre comento, viajar pelas Filipinas pode não ser fácil, mas os destinos costumam ser incríveis.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Dublin / Roteiro de viagem


Dublin, roteiro de viagem

A capital irlandesa entre história e contemporaneidade

Tatiana Sato

11 AGOSTO 2014

Embora Dublin não seja uma das capitais-destinos quando se fala de viagens à Europa, ela é uma cidade cheia de história e mistérios que merece ser visitada. Localizada na província de Leinster, na costa leste da ilha, Dublin é a capital da República da Irlanda desde 1922. Embora os habitantes de Cork, cidade localizada na costa do Atlântico, na província de Munster, contestem com frequência o título de capital de Dublin, a cidade têm histórias incríveis para quem quiser ouvir e lugares lindos para se conhecer.
Dublin, The Audl Dubliner Irish Pub & Restaurant
Mural com o Velho Marinheiro

Um dos charmes da cidade (mas não fica restrito somente a ela porque isso acontece em todo o país) são os sinais bilíngues: em todos os lugares, em todas as placas de rua e destinos de ônibus, se podem ler os nomes em inglês e irlandês. Embora o irlandês seja falado por pouco mais de 130 mil pessoas no país, ele ainda tenta ser revivido e isso é notável em Baile Átha Cliath, o nome irlandês da cidade.

Dublin, Christ Church, vidrada (pormenor). Fotografia Tatiana Sato

O tempo em Dublin não ajuda… Em geral, os dias são cinzentos e é necessária uma dose de boa vontade para se sair pelas ruas dessa capital irlandesa ainda mais se a garoa começar a cair. Calma, esse é o tempo de Dublin.
Se isso acontecer, porque não passar pelo Temple Bar e entrar em algum dos pubs que lá estão? Localizada ao sul do rio, entre o Liffey e a Dame Street, o Temple Bar é provavelmente a região de Dublin mais conhecida pela concentração de pubs, como o Temple Bar Pub (o bar deu o nome ao bairro ou o bairro deu o nome ao bar?), o Porterhouse, o Oliver St. John Gogarty, o Turkʼs Head e o Purty Kitchen, entre vários outros que podem ser encontrados lá e em todos se pode tomar uma pint de Guinness, a tradicional cerveja irlandesa. E, embora seja conhecido pelos pubs, o Temple Bar é um bairro que oferece bastante cultura na qual se pode encontrar verdadeiras instituições culturais, como o Irish Film Institute, que apresenta alguns filmes internacionais em suas salas, o Irish Photography Centre, o Temple Bar Gallery and Studio, o Gaiety School of Acting, entre outros.
James Joyce, Ulysses, o mapa do itinerário

Do Temple Bar, se pode escolher algumas rotas: ou se atravessa o rio através da HáʼPenny Bridge, uma ponte pedestre assim chamada porque seu pedágio custava half a penny, ou subir até a Dame Street, de onde se pode ir até a Trinity College, onde está a biblioteca que inspirou a de Harry Potter e um dos escritos mais antigos do mundo, o Book of Kells, ou, caminhar até o Dublin Castle.
As cores de Dublin à noite, jogo de luz sobre o canal

HáʼPenny Bridge foi inaugurada em 1816 e foi eternizada pelo U2 em suas fotografias icônicas em preto e branco datadas do início da década de 80. Por falar em U2, é importante também mencionar o Clarence Hotel, localizado em Wellington Quay, no Temple Bar, que pertence ao Bono e ao The Edge. O Bono, aliás, vive ao redor de Dublin e já tocou na Grafton Street na época de Natal, uma das quais estive lá. A Trinity College é a universidade mais prestigiada da cidade e, como turistas, podemos visitá-la. Nos poucos dias ensolarados do verão irlandês, é possível encontrar em seus gramados irlandeses e estrangeiros deitados nos seus gramados e acompanhados de suas cervejas. Além de ser um passeio agradável se o dia estiver bonito, ela tem a maior biblioteca do país, com mais de 4,5 milhões de volumes, incluindo o Book of Kells, um manuscrito gospel escrito entre os séculos VI e IX em monastérios na Irlanda, Escócia e Inglaterra. Dizem que o interior dessa biblioteca é tão impressionante que foi usado como inspiração não só da biblioteca de Hogwarts nos filmes de Harry Potter como também, reza a lenda, é a inspiração dos arquivos Jedi do Episódio II de Star Wars.
Dublin, canal com barco vermelho. Fotografia Jake Perks

Dublin Castle é outro lugar que vale a pena conhecer. Sede do governo britânico na Irlanda até 1922, um governo considerado tirano e injusto para o povo irlandês, ele contém apenas uma torre de sua construção original (a Record Tower) porque o resto do castelo medieval foi destruído pelo incêndio de 1684. Lá, se pode encontrar uma estátua da justiça diferente, voltada para o Dublin Castle e não para o povo, sem vendas nos olhos e cujas balanças não são iguais: dizem que elas pendem para um lado quando chove. Isso demonstra o quão injusto o governo britânico era: a justiça era voltada para o governo e não para a população, não era cega e era tendenciosa… Coisas de Irlanda.
Dublin, a Costum House

Ao se caminhar pelas ruas por trás do Dublin Castle, se pode deparar com diversas surpresas agradáveis, como o George Street Arcade, uma passagem que liga a George Street a Dury Street e onde se pode encontrar alguns brechós, restaurantes e objetos de decoração.
Perto de lá e bem próxima a Trinity College, está a Grafton Street, um calçadão de pedestres onde se podem encontrar muitas lojas, como a BT2, a Brown Thomas e sua coleção de luxo, com todas as marcas que alguém possa imaginar, a Swarovski e high street fashion como a A/Wear e a Next. Além de ser uma rua de compras, a Grafton é conhecida pela quantidade de artistas de rua que lá se apresentam diariamente. Dizem que o U2 lá começou e, inclusive, ela foi um dos cenários de Once, filme irlandês de 2007 que ganhou o Oscar de melhor canção original.
Dublin, a Costum House

O tradicional Bewleyʼs Oriental Café é outro dos lugares que merece destaque. Estabelecido em 1840, foi frequentado por figuras clássicas da literatura irlandesa, como James Joyce (que também o mencionou em seu livro The Dubliners). O St. Stephenʼs Green, localizado ao princípio da rua, é um parque no meio da cidade que merece ser visitado.
Do St. Stephenʼs Green, é possível caminhar até o Merrion Square. Palco de várias apresentações de verão, o Merrion Square é o jardim georgiano localizado em Dublin 4 no qual se pode encontrar a estátua de um dos mais conhecidos escritores da cidade, Oscar Wilde (particularmente, um dos meus autores favoritos cujas citações são bastante atuais, como We are all in the gutter, but some of us are looking at the stars ‒ Estamos todos na sujeira, mas alguns de nós está olhando para as estrelas). Ao seu redor, se pode encontrar várias casas nas quais nasceram ou viveram outras personalidades importantes irlandesas. Esse também é um dos lugares onde se pode encontrar as famosas portas coloridas de Dublin, um dos cartões postais da cidade.


Dublin


Encontradas também em Baggot StreetLeeson Street e Mountjoy Square, essas portas têm estilo georgiano, assim chamado porque foi desenvolvido entre 1714 e 1830, período no qual reinaram quatro reis chamados George (ou Jorge). Entre as várias histórias que escutei de suas origens, a minha favorita nunca foi confirmada, mas diz que a Rainha Vitória que reinou entre 1837 até 1901, quando faleceu, afirmou que quando morresse, queria que todas as portas do Reino Unido fossem pintadas de negro, por luto. Durante o seu reinado, ocorreu a Grande Fome Irlandesa de 1845, na qual a praga da batata destruiu plantações pelos próximos quatro anos, o que fez com que a população evaporasse: mais de um milhão morreu e outro milhão emigrou. Quando ela morreu, em sinal de protesto, reza a lenda que os irlandeses pintaram suas portas de diversas cores.


Dublin

Não sei o quão verdadeira essa última história é, mas conhecendo a rebeldia irlandesa e seu senso de humor sarcástico, não duvido de sua veracidade.
Existe muito mais para se ver e conhecer nessa cidade. A Christ Church, que foi a primeira catedral da cidade fundada em 1028, fica a apenas alguns minutos de Dublin Castle. Há vários museus também, dos mais normais, com obras de artes, como o National Gallery of Ireland, até visitas a Jameson, a famosa destilaria do whiskey irlandês e a fábrica da Guinness, a St. Jamesʼs Gate Brewery.



Localizada em um terreno altamente valorizado em Dublin, Arthur Guinness assinou um contrato pelo mesmo por 9,000 anos (isso mesmo, nove mil anos) pelo qual pagaria uma quantia fixa de 45 libras irlandesas anuais. Na época, o valor era alto, mas o contrato nunca levou em conta a inflação ou cláusulas de renovação, motivo pelo qual a família Guinness, embora não o possua, o utiliza e paga somente esse valor por ano. E a família de Mark Ransford, que o possui, nada pode fazer a respeito (“yearly and every year during the residue of the said Term of nine Thousand Years unto the said Mark Ransford his heirs Executors Administrators or assigns the rent of forty five pounts sterling Lawfull Money of Great Britain by even and equall half yearly payments”). Esse contrato é legalmente válido e estudado, inclusive, em aulas de direito… Coisas de Dublin.



Aconselho fazerem um tour. Existe o tour no barco dos Vikings, Viking Splah Tour (1) no qual se sobe em um veículo anfíbio conhecido por Dukws e, em uma hora e quinze minutos, se percorre alguns dos principais pontos da cidade por terra, terminando o passeio dentro do Grand Canal Harbour. O barulho do veículo é alto então as explicações do guia podem ficar um pouco abafadas. Outro tour que recomendo é o Free Walking Tour da Sandemanʼs (2), uma companhia que oferece meus tours favoritos na Europa. Por uma gorjeta, um guia incrível apresentará a cidade à pé e contará muitas de suas histórias.
Se você preferir e já conhecer o suficiente sobre Dublin, agarre seu guia favorito ou simplesmente saia caminhando. Embora tenha escrito somente algumas linhas sobre alguns dos poucos lugares que essa cidade oferece, garanto que você descobrirá outros mais. Cheia de histórias, algumas engraçadas, outras trágicas, Dublin pode surpreender aquele que acreditava que essa capital não tinha nada a oferecer.
Notas
(1) www.vikingsplash.com
(2) www.newdublintours.com



quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

São Paulo / À descoberta da grande metropole do Brasil

São Paulo, Avenida Paulista. Fotografia Paulo Kawazoe



São Paulo

À descoberta da grande metropole do Brasil

TATIANA SATO
10 JULHO 2014

Falar de , para mim, é como falar de família porque tenho um carinho imenso pela cidade. Isso acontece porque sou paulistana da gema que, além de nascida e criada na cidade, pensava que moraria lá por toda a minha vida. O destino não o quis e a minha vontade de conhecer o mundo foi maior. No entanto, o sentimento familiar de carinho permanece.
São Paulo, Museu do Ipiranga. Fotografia Sidnei Carvalho, 2011

Sei que o Brasil está associado, na mente de vários estrangeiros, à praia e à natureza e, por isso, acredito que mereça à pena destacar alguns dos encantos da minha cidade natal. Afinal, São Paulo é uma metrópole em solo brasileiro, a maior cidade da América do Sul e uma das maiores do mundo. Com essas proporções, seria ilógico pensar que a cidade não tem coisas a oferecer.
A cidade não tem praia, mas tem parques entre os quais se destaca o Ibirapuera, uma enorme área verde em meio ao concreto da cidade. Nesse parque, desenhado pelo arquiteto Roberto Burle Marx, é destino de final de semana de muitos paulistanos e daqueles que foram adotados pela cidade. É o lugar onde se reunem com amigos ou família para caminhar ou andar de bicicleta.
São Paulo, vista do Pateo do Collegio. Fotografia Paulo Kawazoe

Outro destaque é a Praça Benedito Calixto, onde, todos os sábados, é realizada uma feira que é uma mistura de antiquário e brechó. Embora as barracas sejam encantadoras, os preços podem ser um pouco altos para aqueles que esperam comprar antiguidades por um bom preço. Lá perto, em uma das ruas que saem da Rua Harmonia, está o Beco do Batman, um local conhecido por suas paredes grafitadas que transformam esse lugar num museu a céu aberto.

São Paulo, Parque Ibirapuera. Fotografia Paulo Kawazoe

A Rua Harmonia está na Vila Madalena, um dos bairros boêmios da cidade, destino de fim de semana de vários paulistanos, seja por sua vida noturna de sábado, seja pelo clima de descontração que a região adota nos domingos à tarde. Ao passar por lá, recomendo que experimentem o caipilé que é um twist da caipirinha brasileira com um picolé de frutas, uma invenção que delicía os paladares em dias mais quentes.
Por falar em vida noturna, a cidade oferece inúmeras opções, quaisquer sejam seus gostos. Entre as centenas (para não dizer milhares) de opções, posso destacar o Pé na Jaca Bar (Rua Harmonia 117), na Vila Madalena, que oferece um ambiente artístico descontraído cujas paredes grafitadas remetem ao Beco do Batman e a Casa 92 (Rua Cristóvão Gonçalves, 92), um restaurante-bar-discoteca localizado em um casarão da década de 30 em Pinheiros cuja decoração retro lembra a de uma casa decorada por diversas pessoas, com sofás confortáveis, mesa de bilhar, jardim de inverno e quintal e, inclusive, cozinha que parece de vó (só que mais estilizada).
São Paulo, Pinacoteca do Estado. Fotografia Paulo Kawazoe

A gastronomia paulistana
Formada por imigrantes e migrantes que decidiram tentar a vida na cidade, não é de se surpreender que a gastronomia de São Paulo seja variadíssima. Particularmente, sempre que visito a minha cidade, engordo vários quilos porque não paro de comer. Aliás, essa é uma característica típica: sair e comer.
Não importa onde se vá, o que se fará, sempre vai ter comida envolvida. Saiu para andar no Parque do Ibirapuera? Passe na Frutaria São Paulo para tomar um açaí na tigela, algo bem típico brasileiro. Saiu para tomar um café com amigos? Certamente ele será acompanhado por um sanduíche ou pães de queijo. A copa de cerveja do happy hour de sexta será acompanhada por uma picanha na brasa. Enfim, comer é uma desculpa bem paulistana para socializar.




São Paulo, o Copan, desenhado pelo arquiteto modernista Oscar Niemeyer. 
Fotografia Paulo Kawazoe 

É possível encontrar qualquer tipo de comida de ótima qualidade a qualquer hora do dia. Claro que depende do quanto se quer gastar, mas poucas vezes me decepcionei com a comida nos lugares que fui.
Tenho lugares favoritos na cidade e pratos cuja lembrança fazem minhas papilas gustativas salivarem. A comida da minha mãe é a favorita de todos os tempos, mas, infelizmente ela não possui mais um restaurante. Comidas que recomendo, no entanto, e estão acessíveis ao público geral são o Penne com Melão e Presunto Cru, no Spot, um restaurante localizado atrás dos prédios da Caixa Econômica na Avenida Paulista, e os sushis do Sushibol (a mais nova unidade está na Mário Ferraz, no Itaim), com destaque para o Carpaccio de Salmão Especial e os Niguiris: os de vieiras e sal negro e o de salmão maçaricado são absolutamente incríveis. Todas essas são invenções do chef Danilo Miyabara.

São Paulo, Estação da Luz. Fotografia Paulo Kawazoe

O Bar Brahma, localizado na esquina da Ipiranga com a São João (eternizada pela canção de João Gilberto Sampa), é um bom lugar para se comer a tradicional feijoada (servida em todos os bares e restaurantes da cidade nas quartas e sábados), além de ser um dos lugares onde se pode ouvir e dançar música tradicional brasileira, como a bossa nova, o samba ou o MPB (música popular brasileira) nos sábados à tarde.

São Paulo
Os lugares
Não sei se todos dividem o mesmo amor que sinto pela Avenida Paulista. Não a considero a mais bonita do mundo nem a mais elegante, mas ela sempre fez parte da minha vida enquanto vivi em São Paulo. Seus quase 3 km de extensão, em minha opinião, representam, na forma de arquitetura, a mistura que é a cidade.
Em sua extensão, a avenida acolhe desde casarões da época da cultura do café (início do século XX) como a Casa das Rosas a edifícios modernistas como o MASP (Museu de Arte de São Paulo), prédio projetado pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi e que se destaca pelo seu vão-livre de mais de 70 m e pela incrível coleção de arte europeia, por muitos considerada a mais importante da América Latina. Uma média de 1,5 milhões de pessoas caminha por essa avenida que também abriga o consulado de vinte e um países e que, para mim, é o coração dessa imensa cidade.

São Paulo

O centro-histórico dessa cidade fundada pelos jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, espanhol das Ilhas Canárias, também merece uma visita. O Pateo do Collegio (em português arcaico) marca o lugar que deu início à cidade e, muito próximo de lá, se pode visitar a Catedral da Sé, uma construção neo-bizantina e o Teatro Municipal, cuja arquitetura externa é inspirada no Opéra de Paris. Várias outras construções localizadas no centro merecem uma visita. Da Estação da Luz, localizada em frente à Pinacoteca do Estado de São Paulo à Estação Júlio Prestes, com sua arquitetura no estilo beaux-arts que abriga a Sala São Paulo, construída no final década de 90 para ser a casa da Orquestra Sinfônica de São Paulo e onde se podem ouvir orquestras internacionais.
Poderia escrever linhas infinitas sobre a quantidade de coisas para se ver só no centro histórico, mas vou destacar quatro: o Mercado Municipal, onde se pode comer o famoso sanduíche de mortadela ou o pastel de bacalhau (lembrem-se que pastel, para o brasileiro, é uma pastelaria salgada e frita em óleo quente – vale a pena provar), o Copan, desenhado pelo arquiteto modernista Oscar Niemeyer, o Martinelli, primeiro arranha-céu da cidade datado de 1929 e o Banespa, cuja vista do topo tem a fama de ser a mais bonita da cidade.
São Paulo

A cidade é enorme e, talvez por isso, seus encantos, escondidos sob camadas de concreto, não possam ser percebidos por um recém-chegado. O ideal seria ter sempre um paulistano ao lado, daqueles apaixonados pela cidade, na hora de visitá-la, mas isso não significa que não se possa aproveitar a cidade caso não se conheça um local. Tome os devidos cuidados, não caminhe com a câmara fotográfica sempre exposta ou mostrando a carteira com dinheiro. Mas dê uma chance à cidade. Ela pode surpreender.



sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Ha Long Bay / Uma Visita à Terra do Nunca


Ha Long Bay, barco. Fotografia Tatiana Sato


Ha Long Bay

Uma Visita à Terra do Nunca

10 JUHNO 2014

Sim, a Terra do Nunca, de Peter Pan, existe. Ela está localizada na Província de Quảng Ninh no Vietname e é conhecida por Ha Long Bay.
Visitei o Vietname em dezembro, um passeio que duraria poucos dias que seriam divididos entre Hanói, a capital do Vietname, localizada ao norte do país e Ho Chi Minh, a antiga Saigon, localizada ao sul. Como o Vietname é um país comprido, a estação entre as duas cidades variava bastante, já que era inverno e, ao norte, fazia frio enquanto o calor úmido-tropical tomava conta das ruas de Ho Chi Minh.
Ha Long Bay, Động Thiên Cung Cave. Fotografia Tatiana Sato

A história do Vietname é bastante curiosa. Um resumo rápido, de apenas algumas linhas: sob domínio francês no século XIX, o país sofreu mudanças políticas e culturais, no qual um modelo de educação ocidental foi desenvolvido e o catolicismo romano foi propagado. Liderados por Ho Chi Minh, o líder revolucionário comunista cujo nome foi dado à antiga Saigon, o Vietname consegue sua independência em 1954, ano que teve início a Guerra Americana, nome pelo que a Guerra do Vietname é conhecida pela população local.
Os americanos só se envolveram na guerra por volta de 1964. Com táticas de guerra brilhantes, os Viet Congs expulsaram os americanos do país no episódio conhecido como Queda de Saigon em 1975. Embora vitoriosos, o país sofreu a morte de milhões de habitantes devido o uso da arma química conhecida como Agente Laranja.
Com uma história tão rica, não é de se surpreender que o país ofereça ao turista muito que ver e fazer. Ho Chi Minh, considerado herói por muitos, está em um mausoléu em Hanói, em cuja porta há uma fila para visitas. O país oferece também padarias incríveis e café de ótima qualidade, herança dos franceses, museus com reminiscências da guerra e passeios pelos túneis Củ Chi, em Ho Chi Minh, utilizado pelos Viet Congs como base de operações na Ofensiva de Tẽt de 1968 e que demonstra como eles lutaram naquela época.
Ha Long Bay, Động Thiên Cung Cave. Fotografia Tatiana Sato

Em minha opinião, no entanto, um dos lugares mais incríveis que conheci foi Ha Long Bay.
Localizada na Província de Quảng Ninh, Ha Long Bay é um lugar de beleza natural quase mágico. Quando cheguei à baía, tive a clara sensação de que estava na Terra do Nunca do Peter Pan embora acreditasse que ela só existisse na imaginação do novelista escocês J.M. Barrie.
A sensação não foi imediata, mas quando o barco que nos levou para o cruzeiro chegou a um lugar no meio das ilhas de calcário, quase pude ver o Jolly Roger aparecendo no meio do horizonte e ouvir o grito de guerra dos Meninos Perdidos. Foi assim de mágico.
Ha Long Bay, panorama. Fotografia Tatiana Sato

Uma das lendas que existem sobre a origem do nome (Ha Long) conta a história de uma família de dragões que cuspia jade e outras pedras preciosas pela baía. Eles foram enviados pelos deuses, quando o Vietname estava em formação, para ajudar o povo a defender sua terra. Magicamente, montanhas rochosas abruptamente apareciam do mar, causando o naufrágio dos navios invasores, o que garantiu a vitória da população local.
Declarada Patrimônio Mundial da UNESCO em 1993, essa região é formada por aproximadamente 1600 ilhas de calcários, segundo o site da organização, cobertas por vegetação, que contêm inúmeras praias, grutas e cavernas. Acredito que sua formação rochosa seja particular a apenas alguns lugares do mundo, como El Nido, nas Filipinas, e Koh Phi Phi, na Tailândia.

Ha Long Bay, panorama. Fotografia Tatiana Sato

A cidade de Ha Long (responsável pela administração da área) fica a aproximadamente 170 km de Hanói, no Vietname do Norte. A visita pode ser organizada desde Hanói por um agente de viagens, com o concierge do hotel onde se está hospedado ou com o operador do cruzeiro. Acredito que a melhor opção seja contratar o tour quando se chega a Hanói; na cidade, se podem pesquisar os preços e verificar o que realmente está incluído no pacote: traslados de ida e volta à cidade, refeições e hospedagem no barco, caso se decida pelo tour de dois ou mais dias. Os tours vendidos pela internet são, geralmente, muito mais caros e oferecem praticamente o mesmo que um tour contratado na cidade.
Os tours de dois ou mais dias oferecem, em geral, refeições e hospedagem no barco. Alguns tours oferecem até passeio de caiaque, mas recomendável ter a certeza do que estará ou não incluído no preço pago: lembrem-se, no Sudeste Asiático, sempre é bom se ter a confirmação do que está ou não incluso em algum pacote. É muito comum as pessoas locais quererem levar vantagem em cima do estrangeiro (dica de viagem Sudeste Asiático).

Ha Long Bay, panorama. Fotografia Tatiana Sato

Outra opção é ir até a cidade de Ha Long e, do porto, comprar o bilhete para o passeio no barco. O problema que o turista pode enfrentar é a barreira do idioma nas bilheterias porque muitos vietnamitas não falam inglês e, então, se terá que contatar um agente no local. Para evitar problemas, contratar-se o tour a partir de Hanoi é bastante recomendado.
Escolhi o tour de um dia que partia de Hanói, porque era o tempo que tinha disponível.
Durante o passeio, encontrámos alguns barqueiros vendendo frutas e verduras em seus barcos, um mercado flutuante no meio do oceano. No tour também estava incluída a visita a Thien Cung (Động Thiên Cung Cave), uma caverna com mais de 100 m de comprimento, dividida em câmaras por suas estalactites e estalagmites. Outra vez, fui arrebatada pela sensação de que estava na Terra do Nunca: talvez fosse a iluminação, mas tive a certeza de que Peter Pan e seus Meninos Perdidos poderiam dormir naquele lugar. Sentia como se estivesse em um ambiente de sonhos, no qual a fantasia e a realidade se misturavam.

  • Ha Long Bay, barcos. Fotografia Marc Stoeckel

O visto é necessário para a maior parte das pessoas que decidem visitar o Vietname. Segundo o site de turismo do Vietname, o visto é isento somente para cidadãos da Tailândia, Malásia, Singapura, Indonésia e Laos, para uma estadia de até 30 dias, e filipinos, para uma estadia de até 21 dias.
O visto pode ser submetido e pago online. Eu utilizei os serviços do My Vietnam Visa: submeti o formulário online, efetuei o pagamento e, dois dias depois, recebi a carta de aprovação. Quando cheguei à imigração do país, a apresentei e esperei na fila para que, finalmente, colocassem o adesivo do visto. O processo foi simples e sem complicações.