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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A Literatura de Horácio Quiroga


A Literatura de Horácio Quiroga


A América Latina apresentou ao mundo grandes escritores que hoje são considerados verdadeiros clássicos da literatura universal. Artistas nascidos numa sociedade localizada na periferia do capitalismo, dona de rara heterogeneidade cultural e refém de gritantes clivagens sociais, desenvolveram uma maneira peculiar de expressar as contradições e injustiças do desenvolvimento do capital.
Portanto, grandes artistas como Gabriel Garcia Marques, Arthur Engrácio, Machado de Assis, Milton Hantoum, Pablo Neruda, Mario Vargas Llosa ou Graciliano Ramos, estão expondo, numa linguagem própria, o sofrimento, as angustias e os desejos coletivos do povo latino americano, bem como o andar melancólico e trágico da implantação da modernidade em sociedades subalternas — processo este que passaria despercebido aos escritores vindos do “centro” do mundo.
Entre estes autores quem mais chama atenção é o escritor uruguaio Horacio Quiroga (1878-1937) cuja singularidade não está necessariamente na critica social de suas narrativas, ao contrário de outros artistas mais engajados comoRamos, Engrácio ou Marques — a critica social de Quiroga, quando surge, é um simples adorno complementar na narrativa. Seu grande trunfo estilístico reside na forma como sua imaginação literária extraiu toda a tragédia e as decepções de sua vida para criar grandes obras primas do conto sul-americano.
Em certos aspectos a obra e a vida de Quiroga convergem, exatamente como convergem vida e obra de uma de suas maiores influências, Edgar Allan Poe(1809-1849). A morte, a tragédia e a decepção parecem ter pairado sobre a existência do autor uruguaio, exatamente como ela se agarrou à curta vida do autor de A Queda da Casa de Usher, que viveu pouco, sofreu muito e tornou-se um dos mais célebres contistas da literatura universal. Quiroga é direto, conciso, consegue dizer muita coisa em poucas palavras, com uma linha ele é capaz de criar todo um arco dramático ou descrever satisfatoriamente uma paisagem inteira; em muitos momentos lembra um escritor de nossa terra, Arthur Engrácio, em outras, pela sua força em armar historias trágicas, se parece muito com seu mestre Poe.
A primeira tragédia da vida do autor de o Travesseiro de Plumas ocorreu quando ainda era uma criança — o pai morreu durante uma caçada, num suposto acidente. Quando adolescente presenciou o padrasto paralítico se matar com um tiro de escopeta na boca; pouco depois, enquanto manuseava uma pistola, acabou matando seu melhor amigo, Frederico Fernando. Na vida amorosa também não fora feliz, seus dois casamentos naufragaram.
O universo literário de Quiroga esta prenhe destes temas: decepções, tragédias que se abatem prematuramente sobre vidas que parecem ter sido marcadas com a insígnia do infortúnio. A narrativa O Solitário, por exemplo, mostra a condição enfermiça do casamento entre um velho e hábil joalheiro e sua jovem esposa, que não o ama, mas que deseja as jóias que não o pertencem. A intensidade da história vai evoluindo até desembocar de maneira inteligente para um terrível desfecho.
Já no conto A Galinha Degolada, um dos mais assustadores e cruéis do autor, é retratado o cotidiano de uma família que se deteriora por completo em virtude dos pais não conseguirem gerar um filho normal. Esta narrativa é prenhe de uma tensão e de um prenúncio cujo leitor sente logo na primeira frase — um artifício que o uruguaio aprendeu muito bem lendo Poe. A historia nos permite perceber a situação de extremo preconceito a que eram submetidos no inicio do século XX os deficientes intelectuais: O dia todo, sentados num banco no quintal, estavam os quatro filho idiotas do matrimônio Mazzini-Ferraz. Tinham a língua entre os lábios, os olhos estúpidos, e viravam a cabeça com a boca toda aberta.
No já citado e famoso O Travesseiro de Plumas, é narrada a decadência lenta e angustiante da vida de uma jovem moça que é vitimada por um parasita que lhe sorve todo o sangue.
O autor, que também residiu por muito tempo na região rural da Argentina, retratou com maestria o estilo de vida da região. Em À Deriva, por exemplo, narra a má sorte de um trabalhador rural que, ao ser picado por uma jararacuçu, morre horrivelmente em sua canoa sobre o rio, quando tentava chegar ao povoado vizinho para conseguir assistência médica. O leitor pode perceber como naquela região era difícil o acesso á medicamentos em situações de emergência — não muito diferente do que acontece na Amazônia com as comunidades tradicionais mais afastadas dos grandes centros.
Os Mensá é o conto de maior cunho social de Quiroga. Conta a historia de dois lenhadores da região das missiones, cansados de serem explorados pelo senhor de terras, empreendem uma arriscada fuga, que termina de uma maneira inusitada: trágica, cômica e irônica. Aqui podemos perceber que a escravidão por dividas, endêmica até hoje na Amazônia e no Nordeste, não foi um privilegio destas regiões, mas ocorre em qualquer região rural onde o poder público é incapaz de coibir a dominação de uma aristocracia sedenta de lucros sobre trabalhadores e trabalhadoras desemparados. O nível de degradação moral e econômica a que são submetidos assemelha-se muito com a dominação que Arthur Engrácio retratara como poucos ao narrar a vida da decadente economia extrativista na Amazônia.
Há outras histórias que procuram mostrar a vida rural dos pampas hispânicos, são Arame Farpado, Yguaí e o sinistro A Insolação. Todos estes contos são envoltos numa atmosfera trágica onde a morte não é apenas um prenúncio, mas uma certeza…
A decepção amorosa também é explorada no bucólico Uma estação de Amor, que narra um namorico de um jovem de quinze anos, pertencente a uma família aristocrática, que terá serias consequências muitos anos depois em sua vida; e no belíssimo A morte de Isolda, da qual Quiroga nos mostrar a impossibilidade de encontrar o amor verdadeiro, e mesmo quando este surge perante nós e temos total facilidade para agarrá-lo, não o fazemos por estarmos tão cegos diante dos prazeres da vida.
Como todo grande artista, Quiroga consegue adaptar sua arte para explorar com maestria os mais variados temas como exploração, morte, doenças, insanidade, tristeza, doença ou amor. Ao escrever o famoso texto Decálogos do Contista, um trecho chama especial atenção por ser a descrição exata de seu método literário: Pegue seus personagens e conduza-os pela mão até o final, sem deixar que nada o desvie do caminho traçado. Não abuse do leitor. Um conto é um romance depurado de resíduos.




segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Horacio Quiroga / À deriva






Horácio Quiroga

À deriva
Tradução de Jádson Barros Neves 





O homem pisou algo brando e mole e, em seguida, sentiu a picada no pé. Saltou para frente, e ao se voltar com um palavrão, viu a jararacuçu que se recolhia sobre si mesma; preparava outro ataque.
      
O homem lançou uma rápida olhada a seu pé, de onde duas gotinhas de sangue engrossavam dificultosamente, e então sacou o facão da cintura. A víbora viu a ameaça, e fundiu mais a cabeça no centro mesmo de sua espiral; porém o facão caiu sobre ela, deslocando-lhe as vértebras.
      
O homem abaixou-se para olhar a mordida, limpou as gotinhas de sangue, e durante algum tempo contemplou. Uma dor aguda nascia dos dois pontinhos violeta, e começava a expandir-se por todo o pé. Apressadamente, amarrou o tornozelo com o lenço que trazia amarrado à cintura, e seguiu pela picada até seu rancho.
      
A dor no pé aumentava, e de repente, o homem sentiu dois ou três fulgurantes pontadas que como relâmpagos haviam-se irradiado da ferida, até a metade da panturrilha. Movia a perna com dificuldade; uma sede metálica na garganta, seguida de uma sede ardente, arrancou-lhe outro palavrão.
      
Chegou finalmente ao rancho, e abraçou a roda do moinho. O dois pontinhos violeta desapareciam agora na monstruosa inchação do pé inteiro. Parecia-lhe enfraquecida, e a ponto de ceder, de tão tensa. O homem quis chamar sua mulher, mas sua voz se quebrou num grunhido rouco de garganta ressecada. A sede o devorava.
      
__ Dorotea! – conseguiu lançar um grito. – Me dá cachaça!
      
Sua mulher correu com um copo cheio, que o homem sorveu de três tragos. Porém não havia sentido gosto algum.
      
 __ Te pedi cachaça, não água! – rugiu de novo. – Quero cachaça!
__ Mas é cachaça, Paulino! – protestou a mulher, espantada.
__ Não, me deste água! Quero cachaça, te digo!
      
A mulher correu outra vez, voltando com o garrafão. O homem bebeu um atrás do outro três copos, porém não sentiu nada na garganta.
      
__ Bom, isto está feio... – murmurou então, olhando seu pé lívido e já com um brilho gangrenoso. Sobre a intensa atadura do lenço, a carne transbordava como uma pavorosa morcela.
      
As dores fulgurantes sucediam-se em relâmpagos contínuos, e chegavam agora à virilha. Além disso, a atroz sequidão da garganta que o esforço parecia esquentar mais, aumentava. Quando pretendia encorpar-se, um fulminante vômito manteve-o meio minuto com a testa apoiada na roda de madeira.
      
Mas o homem não queria morrer, e descendo à costa, subiu em sua canoa. Sentou-se na popa e começou a remar até o centro do Paraná. Ali, a correnteza do rio, que nas imediações do Iguaçu corre por seis milhas, o levaria antes de cinco horas a Tacurú-Pucú.
      
O homem, com fatigada energia, pode efetivamente chegar até o meio do rio; no entanto, ali suas mãos dormentes deixaram cair o remo na canoa, e por causa de um novo vômito – de sangue esta vez -, dirigiu um olhar ao sol que transpunha a montanha.
      
A perna inteira, até metade da coxa, era já um pedaço disforme e duríssimo que rompia a roupa. O homem cortou a ligadura e abriu a calça com a faca: a parte inferior desbordou inchada, com grandes manchas lívidas e terrivelmente dolorosas. O homem pensou que não poderia jamais chegar sozinho a Tacurú-Pucú, e decidiu pedir ajuda a seu compadre Alves, embora fizesse muito tempo estivessem intrigados um com o outro.

A correnteza do rio precipitava-se agora para a costa brasileira, e o homem pode facilmente atracar. Arrastou-se pela picada costa acima, porém a vinte metros, exausto, ficou estendido de costas.

__
 Alves! – gritou com a força que pode; e prestou atenção em vão.
__
 Compadre Alves! Não me negue este favor! – clamou de novo, levantando a cabeça do solo.

No silêncio da selva, não se ouviu um só rumor. O homem teve ainda forças para chegar até sua canoa, e a correnteza, apoderando-se dela de novo, levou-a à deriva.

O Paraná corre ali no fundo de uma imensa depressão, cujas paredes, com altura para lá de cem metros, estreitam funebremente o rio. Desde as margens cercadas de negros blocos de basalto eleva-se o bosque, negro também. Adiante, às costas, sempre a eterna muralha lúgrube, em cujo fundo o rio afunilado se precipita em incessantes erupções de água lodosa. A paisagem é agressiva, contudo, sua beleza sombria e calma cobra uma majestade única.

O sol havia já havia caído, quando o homem, estendido no fundo da canoa, teve um violento calafrio. E, de repente, com assombro, pôs na vertical pesadamente a cabeça: sentia-se melhor. Somente a perna lhe doía, a sede apagava-se, e seu peito, livre já, abria-se em lenta inspiração.

O veneno começar a ir-se, não havia dúvida. Achava-se quase bem, e embora não tivesse forças para mover a mão, contava com a vinda do orvalho para repor-se todo. Calculou que antes de três horas estaria em Tacurú-Pucú.

O bem-estar progredia e, com ele, uma letargia cheia de recordações. Não sentia mais nada na perna nem no ventre. Viveria ainda seu compadre Gaona em Tacurú-Pucú? Por acaso veria também seu ex-patrão, mister Dougald, e o encarregado de obras?

Chegaria repentinamente? O céu, a poente, abria-se agora num resplendor de sangue, e o rio se havia avermelhado também. Da costa paraguaia, já em trevas, a montanha deixava cair sobre o rio sua frescura crepuscular, em penetrantes eflúvios de flores de laranjeiras e mel silvestre. Um casal de araras cruzou o céu muito alto e em silêncio até o Paraguai.

Lá embaixo, sobre o rio de ouro, a canoa derivava velozmente, girando de tempos em tempos sobre si mesma, ante a erupção de um remoinho. O homem que ia nela se sentia cada vez melhor, e pensava no tempo justo em que havia passado sem ver seu ex-patrão Dougald. Três anos? Talvez, não tanto. Dois anos e nove meses? Talvez. Oito meses e meio? Isso sim, certamente.

De repente, sentiu que estava gelado até o peito. Que seria? E a respiração...

Ao madeireiro de mister Dougald, Lorenzo Cubilla, havia conhecido em Puerto. Esperança em Sexta-feira Santa...Sexta-feira? Sim, ou quinta-feira...

O homem estendeu lentamente os dedos da mão.

__
 Uma quinta-feira...

E parou de respirar.      


Horacio Quiroga (1878 – 1937), nasceu em Salto, no Uruguai, foi poeta, romancista, diplomata e dramaturgo. Sua vida foi marcada por acontecimentos trágicos — a morte violenta do pai, o suicídio do padrasto, o falecimento de dois de seus irmãos, o suicídio da primeira esposa e, posteriormente à sua morte, também por suicídio ao saber que sofria de um câncer gástrico, seus três filhos se suicidaram. Conviveu em Paris com Rúben Darío, foi professor de castelhano em Buenos Aires – Argentina, trabalhou como fotógrafo em uma expedição às ruínas jesuíticas de Misiones, onde morou. Algumas de suas obras: Los arrecifes de coral (1901 – Os recifes de coral), Cuentos de amor, de locura y de muerte (1917 – Contos de amor, de loucura e de morte), Cuentos de la selva (1918 – Contos da selva), Los desterrados (1926 – Os desterrados), e Más Allá (1935 – Mais além), última obra do autor.
 
(O conto acima foi extraído do livro "Cuentos de amor, de locura y de muerte", constante na obra TODOS LOS CUENTOS, da Editora ALLCAXX/SCIPIONE CULTURAL.)  




domingo, 13 de agosto de 2017

Horacio Quiroga / A galinha degolada


Horácio Quiroga
A galinha degolada

O dia inteiro sentados num banco do pátio, ficavam os quatro filhos idiotas do matrimônio Mazzini-Ferraz. Tinham a língua entre os lábios, os olhos estúpidos vazios e se voltavam com a boca aberta. O pátio era de chão batido, fechado a oeste por um muro de ladrilhos. O banco ficava paralelo a ele, a uma distância de cinco metros, e ali os filhos se mantinham imóveis, com os olhos fixos nos ladrilhos. O sol desaparecia detrás do muro e, ao declinar, os idiotas faziam festa. A princípio, a luz alucinante chamava sua atenção e, pouco a pouco, seus olhos se animavam: riam finalmente estrepitosos, congestionados pela mesma hilaridade ansiosa, contemplando o sol com uma espécie de alegria bestial..

Outras vezes, alienados no banco, zumbabam horas inteiras, imitando o bonde elétrico. Os ruídos violentos sacudiam desta forma sua inércia e então corriam, mordendo a própria língua e bramando, ao redor do pátio. Contudo, quase sempre estavam apagados, imersos na profunda letargia do idiotismo, e passavam todo o dia sentados em seu banco, com as pernas suspensas e quietas, empapando a calça de uma saliva grossa.

O mais velho tinha doze anos e o menor, oito. Em todo seu aspecto sujo e miserável, notava-se a falta absoluta de um mínimo cuidado maternal..

Esses quatro idiotas, no entanto, tinham sido um dia o encanto de seus pais. Com três meses de casados, Manzzini e Berta orientaram seu estreito amor de marido e mulher, mulher e marido, para um futuro muito mais vital: um filho. Que maior felicidade para dois apaixonados que essa honrosa consagração de seu carinho, libertado já do vil egoísmo de um mútuo amor sem fim nenhum e o que é pior para o amor mesmo, sem esperanças possíveis de renovação?

Assim estavam Mazzini Berta, e quando o filho nasceu, aos catorze meses de casamento, acreditaram cumprida sua felicidade. A criança cresceu bela e radiante, até um ano e meio. Porém, no vigésimo mês, sacudiram-na uma noite convulsões terríveis, e na manhã seguinte não conhecia mais seus pais. O médico  examinou-o com essa atenção profissional de quem está visivelmente buscando o mal nas enfermidades dos pais.

Depois de alguns dias, os membros paralisados recuperaram o movimento; porém a inteligência, a alma, até o instinto se haviam ido tudo: tinha ficado profundamente idiota, babão, pendente, morto para sempre sobre os joelhos da sua mãe.

— Filho, meu filho querido!— soluçava esta, sobre aquela espantosa ruína de seu primogênito.

O pai, desolado, acompanhou-a ao médico.

— A você se pode dizê-lo. Creio que é um caso perdido. Poderá melhorar, educá-lo com todas as limitações de seu idiotismo, porém não mais longe.

— Sim…! Sim — assentia Mazzini. — Porém, diga-me: você acredita que é hereditário, que...?

— Quanto à hereditariedade paterna, já lhe disse o que acreditava quando vi seu filho. Respeito sua mãe, mas há ali um pulmão que não sopra bem. Não vejo nada mais, porém há um sopro um pouco áspero. Faça com que ela o examine bem.

Com a alma destroçada pela aflição, Mazzini redobrou o amor a seu filho, o pequeno idiota que pagava pelos excessos do avô. Teve assim mesmo que consolar, prestar apoio sem trégua a Berta, ferida no mais profundo por aquele fracasso de sua jovem maternidade.

Como é natural, o casamento pôs todo seu amor na esperança de outro filho. Nasceu este, e sua saúde e seu riso límpido reacenderam o futuro entinto. Porém, aos dezoito meses as convulsões do primogênito se repetiram, e no dia seguinte amanheceu idiota.

Desta vez, os pais mergulharam em profundo desespero. Logo seu sangue, seu amor estavam malditos! Seu amor, sobretudo! Vinte e oito anos ele; vinte e dois, ela, e toda sua apaixonada ternura não conseguia criar um átomo de vida normal. Já não pediam mais beleza e inteligência como no primogênito; mas apenas um filho! Um filho, como todos!

Do novo desastre brotaram novas labaredas do dolorido amor, um louco desejo de redimir uma vez para sempre a santidade de sua ternura. Vieram gêmeos, e ponto por ponto, repetiu-se o processo dos dois mais velhos.

Mas, por cima de sua imensa amargura, ficava em Mazzini e Berta uma grande compaixão por seus quatro filhos. Teve que arrancar do limbo da mais funda animalidade, não já suas almas, senão o instinto mesmo abolido. Não sabiam deglutir, trocar de lugar, nem mesmo sentar-se. Aprenderam finalmente caminhar, porém se chocavam contra tudo, por não se dar conta dos obstáculos. Quando os banhavam, mugiam até injetar-se de sangue o rosto. Animavam-se somente ao comer, ou quando viam cores brilhantes ou quando ouviam trovões. Riam-se, então, jogando para fora a língua e rios de baba, radiantes de frenesi bestial. Tinham, em troca, certa faculdade imitativa; porém não se pode obter nada mais. Com os gêmeos parecia haver-se concluído a aterradora descendência. Contudo, transcorridos três anos, desejaram de novo ardentemente outro filho, confiando em que o longo tempo transcorrido houvesse serenado a fatalidade.

Não satisfaziam suas esperanças. E nesse ardente desejo que se exasperava,  em razão de sua infrutuosidade, acidularam-se. Até esse momento, cada qual havia tomado sobre si a parte que lhe correspondia na miséria de seus filhos; porém a desesperança de redenção ante as quatro bestas que haviam nascido deles, jogaram fora essa imperiosa necessidade de culpar aos outros, que é patrimônio específico dos corações inferiores..

Iniciaram-se com a troca do pronome: teus filhos. E, além do insulto, havia a insídia, a atmosfera se carregava.

—Me parece — disse-lhe uma noite Mazzini, que acabava de entrar e lavava as mãos— que poderias deixar mais limpos os meninos.

Berta continuo lendo como si não o houvesse ouvido.

— É a primeira vez — refez-se a tempo— que te vejo inquietar-te pelo estado de teus filhos.

Mazzini voltou um pouco a cara para ela com um sorriso forçado:

— De nossos filhos, me parece?

— Bom; de nossos filho. Fica bem assim? —levantou ela os olhos.

Desta vez,  Mazzini expressou-se claramente:

— Creio que não vais dizer que eu tenho a culpa, não?

—Ah, não! — sorriu Berta, muito pálida — porém eu tampouco, suponho...! Não faltava mais...! —murmurou

— O quê, não faltava mais?

— Que se alguém tem a culpa, não sou eu, entenda-o muito bem! Isso é o que queria te dizer.

Seu marido olhou-a por um momento, com um brutal desejo de insultá-la.

— Deixemos! — articulou, secando-se por fim as mãos.

— Como quiseres; porém se quiseres dizer….

— Berta!

— Como quiseres!

Este foi o primeiro choque, e lhes sucederam outros. Porém, nas inevitáveis reconciliações, suas almas uniam-se com duplo arrebatamento e loucura por outro filho.

Nasceu assim uma menina. Viveram dois anos com a angústia à flor da pele, esperando sempre outro desastre. Nada aconteceu, entretanto, e os pais puseram nela toda sua complacência, que a pequena levava ao mais extremos limites do mimo e da má criança.

Se assim nos último tempo Berta cuidava sempre de seus filhos, ao nascer Bertita, esqueceu-se quase de todo dos outros. Só sua recordação a horrorizava, como algo atroz que a houvessem obrigado a cometer. A Mazzini, bem que em menor grau, acontecia o mesmo.

Não por isso a paz havia chegado a suas almas. À menor indisposição de sua filha, corria para fora, com o terror de perdê-la, os rancores de sua descendência podre. Tinham acumulado ressentimento de sobra para que o vaso ficasse tenso, e ao menor contato o veneno o veneno se esvaziasse para fora. Desde o primeiro desgosto inoculado, haviam-se perdido o respeito; e se há algo que o homem se sente trasladado com cruel gozo é quando já se começou a humilhar de todo a uma pessoa. Antes se continham pela mútua falta de êxito; agora que este havia chegado, cada qual, atribuindo-o a si mesmo, sentia maior a infâmia das quatro aberrações que o outro lhe havia forçado a conceber.

Com estes sentimentos, não houve já para os quatro filhos maiores nenhum afeto possível.  A empregada doméstica os vestia, dava-lhes de comer, deitava-os, com visível brutalidade. Quase nunca os banhava. Passavam quase todo o dia sentados de frente para o muro, abandonados de qualquer remota carícia.

Deste modo, Bertita cumpriu quatro anos, e nessa noite, por causa dos doces que era aos pais absolutamente negar-lhe, a menina teve calafrios e febre. O temor de vê-la morrer ou tornar-se idiota, tornou a reabrir a eterna ferida.

Fazia três horas que não se falavam e o motivo foi, como quase sempre, os fortes passos de Manzini.

— Meu Deus! Não podes caminhar mais devagar? Quantas vezes...?

— Bem, é que me esqueço. Acabou-se. Não o faço de propósito.

Ela sorriu com desdém:

— Não, não te acredito tanto!

— Nem eu, jamais, tinha acreditado tanto em ti....tisiquinha!

— Quê! Quê disseste...?

— Nada!

— Sim, ouvi algo de ti! Olha, não sei o que disseste; porém te juro que prefiro qualquer coisa a ter um pai como o que tens tido tu!

Manzini ficou pálido.

— Por fim! —murmurou com os dentes cerrados.— Por fim, víbora, hás dito o que querias!

— Sim, víbora, sim! Porém eu tive pais sadios! Ouves? Sadios! Meu pai não morreu de delírios!Eu havia de ter tido filhos como os de todo o mundo! Esses são filhos teus, os quatro, teus!

Mazzini explodiu por sua vez:

— Víbora tísica!Isso é o que lhe disse, o que quero te dizer! Pergunta-o ao médico, pergunta ao médico quem tem a maior culpa da meningite de teus filhos: meu pai ou teu pulmão doente, víbora!

Continuaram cada vez mais com maior violência, até que um gemido de Bertita selou instantaneamente suas bocas. À uma da manhã, a ligeira indigestão havia desaparecido, como acontece fatalmente com todos os casais jovens que têm se amado intensamente uma vez sequer, a reconciliação chegou, tanto mais efusiva quanto  mais ofensivos foram os ultrajes. 

Amanheceu um dia esplêndido, e enquanto Berta se levantava, cuspiu sangue. As más emoções e a má noite passada tinham, sem dúvida, grande culpa. Mazzini a reteve abraçada um longo tempo, e ela chorou desesperadamente, porém sem que nenhum se atrevesse a dizer uma palavra..

Às dez decidiram sair, depois de comer. Como mal tinham tempo, ordenaram à empregada 
que matasse uma galinha.

O dia radiante havia arrebatado os idiotas de seu banco. De modo que enquanto a empregada degolava na cozinha a ave, dessangrando-a com parcimônia (Berta havia aprendido de sua mãe este bom modo de conservar a carne mais fresca), acreditou sentir algo como respiração atrás dela. Voltou-se, e viu aos quatro idiotas, com os ombros emparelhados um ao outro, olhando estupefatos a operação...Vermelho...Vermelho....

— Senhora, os meninos estão aqui na cozinha.

Berta chegou; não queria que jamais pisassem ali. E nem ainda nessas horas de pleno perdão e felicidade reconquistada, podia evitar-se essa horrível visão! Porque, naturalmente, quando mais intensos eram os  êxtases de amor a seu marido e sua filha, mais irritado era seu humor com os monstros.

— Que saiam, Maria! Expulse-os! Expulse-os, lhe digo!

As quatro pobres bestas, sacudidas, brutalmente empurradas, foram para seu banco.

Depois de almoçar, saíram todos. A empregada foi a Buenos Aires, e o casal a passear pelas chácaras. Quando o sol baixou voltaram, porém, Berta quis saudar um momento suas vizinhas de frente. Sua filha escapou-se em seguida rumo a casa.

Entretanto os idiotas não se haviam movido todo o dia de seu banco. O sol já havia transposto o muro, começava a fundir-se, e eles continuavam contemplado os ladrilhos, mais inertes do que nunca.

De repente, algo se interpôs entre seu olhar e o muro. Sua irmã, cansada de cinco horas junto ao pai, queria observar por sua conta. Parada ao pé do muro, olhava pensativa o cume. Queria subir, isso não oferecia dúvida. Por fim decidiu-se por uma cadeira, sem fundos, porém faltava mais. Recorreu então a uma caixa de querosene e seu instinto topográfico fez-lhe colocar o móvel na vertical, com o qual triunfou.

Os quatro idiotas, com o olhar indiferente, viram como sua irmã lograva pacientemente dominar o equilíbrio, e como, na ponta dos pés, apoiava a garganta sobre o topo do morro, entre suas mãos delicadas. Viram-na olhar para todos os lados, e buscar apoio com o pé para elevar-se mais.

Porém o olhar dos idiotas havia se animado. Uma mesma luz insistente estava fixa em suas pupilas. Não afastavam os olhos de sua irmã, enquanto uma crescente sensação de gula bestial ia transtornando cada linha de seus rostos. Lentamente avançaram até o muro. A pequena, que tendo conseguido calçar um pé, ia já montar a cavalo no muro e a cair do outro lado, seguramente, mas sentiu-se segura pela perna. Debaixo dela, os oito olhos cravados nos seus lhe deram medo.

— Solta-me! Deixa-me! —gritou sacudindo a perna. Porém foi atraída.

— Mamãe! Ai, Mamãe! Mamãe, papai! — chorou imperiosamente. Tratou ainda de agarrar-se à borda, porém sentiu-se arrancada e caiu.

— Mamãe, aí! Ma... — Não conseguiu gritar mais. Um deles lhe apertou o pescoço e os outros arrastaram-na por uma só perna até a cozinha, onde essa manhã haviam dessangrado a galinha, bem submissa, arrancando-lhe a vida por segundos.

Mazzini, na casa em frente, acreditou ouvir a voz de sua filha.

— Me parece que te chama — disse-lhe Berta.

Prestaram atenção, inquietos, porém não ouviram mais nada. Contudo, um instante depois se separaram, e enquanto Berta ia deixar seu chapéu, Manzzini avançou no pátio:

—Bertita!

Ninguém respondeu.

— Bertita! —elevou mais a voz, já alterada.

E o silêncio foi tão fúnebre para seu coração sempre aterrorizado, que a coluna se lhe gelou de um horrível pressentimento

— Minha filha! — correu já desesperado até os fundos. Porém ao passar em frente da cozinha, viu no piso um mar de sangue. Empurrou violentamente a porta entreaberta, e lançou um grito de horror.

Berta, que já se havia lançado correndo por sua vez ao ouvir o aflito chamado do pai, ouviu o grito e respondeu com outro. Porém ao precipitar-se na cozinha, Manzini, muito lívido, interpôs-se, contendo-a.

— Não entres! Não entres!

Berta conseguiu ver o piso inundado de sangue. Só pôde jogar seus braços sobre a cabeça e abraçar-se ao marido com um áspero suspiro.


Horacio Quiroga / A almofada de penas


domingo, 19 de outubro de 2014

Horacio Quiroga / A almofada de penas


 Horacio Quiroga

Sua lua-de-mel foi um longo estremecimento. Loura, angelical e tímida, o temperamento duro do marido gelou suas sonhadas criancices de noiva. Ela o amava muito, no entanto, às vezes, sentia um ligeiro estremecimento quando, voltando à noite juntos pela rua, olhava furtivamente para a alta estatura de Jordão, mudo havia mais de uma hora. Ele, por sua vez, a amava profundamente, sem demonstrá-lo.

Durante três meses — tinham casado no mês de abril — viveram numa felicidade especial.

Sem dúvida ela teria desejado menos severidade nesse rígido céu de amor, mais expansiva e incauta ternura; mas a impassível expressão do seu marido a reprimia sempre.

A casa em que viviam influenciava um pouco nos seus estremecimentos. A brancura do pátio silencioso — frisos, colunas e estátuas de mármore — produzia uma outonal impressão de palácio encantado. Por dentro, o brilho glacial do estuque, sem o mais leve arranhão nas altas paredes, acentuava aquela sensação de frio desagradável. Ao atravessar um quarto para outro, os passos encontravam eco na casa toda, como se um longo abandono tivesse sensibilizado sua ressonância.

Nesse estranho ninho de amor, Alicia passou todo o outono. Porém tinha terminado por abaixar um véu sobre os seus antigos sonhos, e ainda vivia dormida na casa hostil, sem querer pensar em nada até o marido chegar.

Não é incomum que emagrecesse. Teve um ligeiro ataque de gripe que se arrastou insidiosamente dias e mais dias; Alicia não melhorava nunca. Por fim uma tarde pôde sair ao jardim apoiada no braço dele. Olhava indiferente para um e outro lado. De repente Jordão, com profunda ternura, passou a mão pela sua cabeça, e Alicia em seguida se quebrou em soluços, e o abraçou. Chorou demoradamente seu discreto pavor, redobrando o choro diante da menor tentativa de carícia. Depois, os soluços foram-se acalmando, e ainda ficou um longo tempo escondido no seu ombro, quietinha, sem pronunciar uma palavra.

Foi o último dia que Alicia esteve de pé. No dia seguinte amanheceu desacordada. O médico de Jordão a examinou com toda a atenção, recomendando muita calma e repouso absolutos.

— Não sei — disse para Jordão na porta da casa, em voz ainda baixa. — Tem uma grande debilidade que não consigo explicar, e sem vômitos, nada... Se amanhã ela acordar igual a hoje, você me chama depressa.

No dia seguinte ela piorou. Houve consulta. Constatou-se uma anemia agudíssima, completamente inexplicável. Alicia não teve mais desmaios, mas ia visivelmente andando para a morte. Durante o dia todo, o quarto estava com as luzes acesas e em total silêncio. As horas se passavam sem se ouvir o mínimo barulho. Alicia dormitava. Jordão vivia quase que definitivamente na sala, também com as luzes acesas. Andava sem cessar de um extremo para outro, com incansável obstinação. O tapete abafava seus passos. Algumas vezes entrava no quarto e continuava seu mudo vaivém ao longo da cama, olhando para sua mulher cada vez que caminhava na sua direção.

Não demorou muito para Alicia passar a sofrer alucinações, confusas e flutuantes no início, e que desceram depois até o chão. A jovem, de olhos desmesuradamente abertos, não fazia senão olhar para os tapetes que se encontravam a cada lado da cama. Uma noite ela ficou repentinamente com o olhar fixo. Em seguida abriu a boca tentando gritar, e suas narinas e lábios se molharam de suor.

— Jordão! Jordão! — gritou, rígida de espanto, sem parar de olhar o tapete.

Jordão correu para o quarto, e, ao vê-lo aparecer, Alicia deu um brado de horror.

— Sou eu, Alicia, sou eu!

Alicia olhou para ele com olhar extraviado, olhou para o tapete, voltou a olhar para ele, e depois de um longo momento de estupefata confrontação, serenou. Sorriu e pegou entre as suas as mãos do marido, fazendo carícias e tremendo.

Entre suas alucinações mais obstinadas, houve um antropóide, apoiado no tapete sobre os próprios dedos, que mantinha os olhos fixos nela.

Os médicos voltaram inutilmente. Havia ali, diante deles, uma vida que se acabava, dessangrando-se dia após dia, hora após hora, sem se saber absolutamente por quê. Na última consulta, Alicia jazia em estupor, enquanto eles a pulseavam, passando de um para outro o pulso inerte. Observaram-na um longo momento em silêncio e encaminharam-se para a sala.

— Pst... — Deu de ombros, desanimado, seu médico. — É um caso sério... pouco se pode fazer...

— Era só o que me faltava! — gritou Jordão. E tamborilou bruscamente sobre a mesa.

Alicia foi-se extinguindo no seu delírio de anemia, que se fazia mais grave pe!a tarde, mas que cedia sempre nas primeiras horas da manhã. Durante o dia, sua doença não avançava, mas de manhã ela amanhecia lívida, quase em síncope. Parecia que unicamente à noite a sua vida se fosse em novas asas de sangue. Tinha sempre ao acordar a sensação de sentir-se derrubada na cama com um milhão de quilos por cima. A partir do terceiro dia esse desmoronamento não a abandonou mais. Apenas podia mexer a cabeça. Não deixou que pegassem na sua cama, nem sequer que arrumassem a almofada. Seus terrores crepusculares avançaram na forma de monstros que se arrastavam até sua cama e subiam com dificuldade pela colcha.

Perdeu depois o conhecimento. Nos dias finais, delirou sem cessar a meia-voz. As luzes continuavam fúnebres e acesas no quarto e na sala. No silêncio agônico da casa, não se ouvia mais que o delírio monótono que saía da cama, e o rumor abafado dos eternos passos de Jordão.

Alicia morreu, por fim. A empregada, que entrou depois para desfazer a cama, já vazia, olhou um momento com estranheza para a almofada.

— Senhor! — chamou ao Jordão em voz baixa. — Na almofada há manchas que parecem ser de sangue.

Jordão se aproximou rapidamente. Também se agachou. Efetivamente, sobre a fronha, de ambos os lados da cavidade que tinha deixado a cabeça de Alicia, se viam algumas manchinhas escuras.

— Parecem picadas — murmurou a empregada depois de um momento imóvel na observação.

— Aproxime-o da luz - disse Jordão.

A moça levantou a almofada, mas em seguida deixou-a cair, e ficou olhando para ele, lívida e trêmula. Sem saber por quê, Jordão percebeu que seus cabelos se eriçavam.

— O que é que há? — murmurou com voz rouca.

— Pesa muito — falou a empregada, sem parar de tremer.

Jordão levantou a almofada; pesava extraordinariamente. Saíram com ela, e sobre a mesa da sala Jordão cortou a fronha e a capa. As penas superiores voaram, e a empregada deu um grito de horror com a boca inteiramente aberta, levando as mãos crispadas às bandós. Sobre o fundo, entre as penas, mexendo devagar os pés aveludados, havia um animal monstruoso, uma bola viva e viscosa. Estava tão inchada que quase não se lhe via a boca.

Noite após noite, a partir do dia em que Alicia tinha ficado doente, ele tinha aplicado sigilosamente sua boca — sua tromba, melhor dizendo — às têmporas da mulher, chupando-lhe o sangue. A mordida era quase imperceptível. A remoção diária da almofada tinha impedido sem dúvida seu desenvolvimento, mas assim que a jovem não conseguiu mais se mexer, a sucção foi vertiginosa. Em apenas cinco dias e cinco noites, tinha esvaziado Alicia.

Esses parasitos das aves, diminutos no seu meio habitual, chegam a adquirir proporções enormes em certas condições. O sangue humano parece ser para eles particularmente favorável, e não é raro encontrá-los nas almofadas de penas.

(Cuentos de amor, de locura y de muerte)
 
Contos Latinio-Americanos Eternos
Editora Bom Texto, Rio de Janeiro, 2005, pág. 173



Horacio Quiroga (1878 – 1937), nasceu em Salto, no Uruguai, foi poeta, romancista, diplomata e dramaturgo. Sua vida foi marcada por acontecimentos trágicos — a morte violenta do pai, o suicídio do padrasto, o falecimento de dois de seus irmãos, o suicídio da primeira esposa e, posteriormente à sua morte, também por suicídio ao saber que sofria de um câncer gástrico, seus três filhos se suicidaram. Conviveu em Paris com Rúben Darío, foi professor de castelhano em Buenos Aires – Argentina, trabalhou como fotógrafo em uma expedição à ruínas jesuíticas de Misiones, onde morou. Algumas de suas obras: Los arrecifes de coral (1901 – Os recifes de coral), Cuentos de amor, de locura y de muerte (1917 – Contos de amor, de loucura e de morte), Cuentos de la selva (1918 – Contos da selva), Los desterrados (1926 – Os desterrados), e Más Allá (1935 – Mais além), última obra do autor.