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domingo, 27 de março de 2022

Orgulho e Preconceito de Jane Austen: resumo e análise do livro


Orgulho e Preconceito 

de Jane Austen: 

resumo e análise do livro


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Orgulho e preconceito é a obra-prima da escritora britânica Jane Austen que tem como pano de fundo a burguesia inglesa do início do século XIX.

Vemos no romance como as relações movidas por amor e dinheiro podem ser promíscuas e mesquinhas, encobertas pelo véu da sociedade burguesa.

O clássico inglês foi adaptado para o cinema quatro vezes, a versão mais consagrada ganhou as telas em 2005 sob a direção de Joe Wright.

Resumo

O enredo de Orgulho e preconceito gira em torno da família Bennet, composta por marido, mulher e cinco filhas (Jane, Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia).

A história se passa em uma zona rural da Inglaterra durante o início do século XIX.

Elizabeth Bennet, a segunda filha mais velha, será a protagonista da trama. Uma jovem bela, orgulhosa, de personalidade forte e vanguardista para o seu tempo, Lizzie, como é chamada pelos íntimos, carrega dentro de si inquietações com as convenções sociais do seu tempo.

Sua mãe, ao assistir as opiniões e atitudes da filha, a considera um caso perdido em relação a possibilidade de conseguir um casamento.

Vale lembrar que na Inglaterra, durante esse período histórico, o único papel social da mulher era ser mãe e esposa, não possuindo qualquer hipótese de ambição profissional.

Em termos sociais, as mulheres valiam tão pouco que, em caso de falecimento do patriarca, o patrimônio deixado deveria seguir para o filho varão e, caso não houvesse, a fortuna seria encaminhada para o homem mais próximo da família.

A trama do romance se desenrola com a chegada de dois jovem solteiros afortunados na região (Mr.Bingley e Mr.Darcy). A mãe das meninas vê no surgimento dos rapazes uma oportunidade para resolver os problemas da família.

Mr.Bingley, um homem muito sóbrio e distinto, se apaixona por Jane Bennet, a mais velha das irmãs. Caroline Bingley, a irmã do rapaz, mostra-se porém contra a relação devido a classe social da moça.

Mr.Bingley se aproxima de Jane e vai contra a opinião da irmã. No entanto, o jovem subitamente desaparece da cidade, deixando Jane sem qualquer explicação.

O amigo Mr.Darcy, por sua vez, cai de encantos pela irmã Elizabeth, embora num primeiro momento se recuse a assumir os sentimentos que tinha por saber que a jovem era de origem humilde. Elizabeth, contudo, acha Mr.Darcy um homem arrogante e o repudia.

A relação entre os dois é, portanto, pautada pelo preconceito, pela atração, pela paixão e pela raiva. Um misto de sentimentos completamente discrepantes.

Mr.Darcy, porém, afinal toma coragem e pede a moça em casamento. Elizabeth, contudo, permanece firme nos seus ideais e recusa o pedido ao enxergar nele um homem prepotente e inescrupuloso.

Aos poucos, a jovem acaba por perceber que o rapaz tem boa índole e admite os seus sentimentos. As coisas mudam especialmente depois do recebimento de uma carta que Mr.Darcy escreve à ela justificando as suas atitudes. Após a leitura, Elizabeth consegue ver que há ali um homem de bem. Felizmente Mr.Darcy reitera o pedido de casamento e Elizabeth afinal aceita. O casal vai viver em Pemberley.

O final feliz também acontece para Jane, irmã de Elizabeth. Mr.Bingley retorna à cidade e explica as suas motivações para ter ido embora repentinamente. O rapaz suplica o perdão à amada e a pede em casamento. Ela aceita o pedido e os dois ficam vivendo em Netherfield.

Personagens principais

Sr. e Sra. Bennet

Inquietos com o futuro da família, o casal tem como preocupação central casar bem as cinco filhas. A mãe foca a sua energia em procurar (e apresentar) bons genros para as meninas. O próprio narrador constata: "A única preocupação da sua vida era casar as filhas. Seu consolo, fazer visitas e saber novidades.". O pai, por sua vez, parece ser mais descontraído, curioso, dono de um humor sarcástico, embora também fosse bastante preocupado com o futuro financeiro do clã.

Elizabeth Bennet

Protagonista da história, Lizzie é descrita como uma jovem bela, culta e inteligente. Inconformada com a ordem social, ela não se subjuga e decide casar apenas por amor. Uma das características centrais da personagem é o forte senso de independência que possui, Elizabeth é definitivamente uma mulher deslocada do seu tempo histórico. Num contexto em que as meninas eram criadas para serem esposas e mães, Lizzie enxerga além, não se conformando em seguir o status quo e reproduzindo relações por conveniência.

Jane Bennet

A primogênita da família Bennet, considerada uma moça dócil e sonhadora, muito próxima da irmã Elizabeth, com quem trocava frequentemente confidências. A irmã mais velha do clã Bennet é descrita como sendo profundamente tímida, recatada e extremamente bela.

Mary

Uma das irmãs Bennet, é aquela que tem obsessão por livros e a que mais cultiva o intelecto. É considerada por todos uma moça de muito juízo e de grande sabedoria devido a infindável curiosidade que herdou do pai.

Kitty e Lydia

As irmãs caçulas não são quase mencionadas, o pouco que se sabe é que elas costumavam arranjar problemas. Sabe-se que Lydia tinha extremo senso de humor e era a irmã mais extrovertida do grupo. Kitty, por sua vez, tinha em Lydia a sua melhor amiga, as duas costumavam cochichar em voz baixa partilhando segredos.

Mr. Bingley

Um jovem muito rico, de boa família, que aluga a mansão de Netherfield e se encanta rapidamente por Jane Bennet. Mr. Bingley parece ser um bom rapaz, que carrega valores sólidos, mas acaba por ser um tanto influenciável pela opinião alheia e demonstra possuir uma personalidade fraca, sendo dominado principalmente pela mãe e pela irmã. Logo que Mr. Bingley aparece na trama, os pais das irmãs Bennet demonstram interesse em casa-lo com uma das filhas.

Mr. Darcy

Grande amigo de Mr. Bingley, descrito como fechado e distante, não nutre a princípio nenhum afeto pelas irmãs Bennet, que considera serem de estatuto inferior. No princípio da narrativa, Mr. Darcy carrega um ar arrogante e superior, como se estivesse deslocado do universo da família Bennet. No entanto, com o passar do tempo e com a convivência com as irmãs, acaba por se apaixonar por Elizabeth.

Caroline Bingley

Irmã de Mr.Bingley, condena veementemente a relação do rapaz com Jane Bennet por acreditar que ela pertence a uma classe social inferior. Carolina é, de certa forma, arrogante e acredita que o seu sobrenome não deve ser misturado com o de famílias consideradas reles.

Análise de Orgulho e Preconceito

Um retrato da época

O enredo é bastante rico e há uma preocupação nítida da autora em retratar detalhadamente a sociedade inglesa do século XIX com a sua cultura, os seus hábitos e os seus valores morais. Como rapidamente se percebe, a dualidade entre o amor e o dinheiro é a engrenagem que faz mover a narrativa.

Observamos ao longo do texto, por exemplo, a forte importância dada ao dinheiro e o preconceito dos personagens em relação a origem das famílias dos indivíduos. É certo que Austen muitas vezes faz de seus personagens caricaturas sociais, no entanto, através do comportamento deles é possível encontrar uma espécie de retrato da sociedade inglesa da época.

A história de Orgulho e Preconceito é das mais adaptadas para o cinema, para o teatro e para a televisão. Jane Austen é tida como a autora inglesa mais importante para o país depois de Shakespeare.

A partir do exemplo de Meryton, o subúrbio rural imaginado por Austen localizado nos arredores de Londres, podemos reconstruir um pouco da atmosfera da aristocracia rural inglesa durante o século XIX .

O romance como uma crítica à lei do morgadio

A história construída por Jane Austen tece uma forte crítica à sociedade da sua época, regida pelas ambições econômicas e por relações construídas a partir do interesse. Não por acaso a primeira frase que inicia o enredo é:

“É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro na posse de uma bela fortuna necessita de uma esposa.”

Os casamentos são vistos como meros acordos comerciais e vemos, ao longo das páginas, como a mesquinhez e o interesse permeiam as relações humanas.

Austen aborda e denuncia a lei do morgadio, isto é, a organização familiar baseada a partir da noção de uma linhagem. Nesse tipo de sociedade as propriedades eram inalienáveis e indivisíveis e eram transmitidas ao primogênito descendente varão.

No caso da família Bennet, que protagoniza o romance, como se tratava de cinco meninas, não havia um filho varão que herdasse as propriedades.

Ou seja, segundo as normas da época, apesar de haver descendência direta, os bens deveriam seguir para o parente mais próximo do sexo masculino. Na família Bennet, o patrimônio não seria herdado nem pela mulher nem pelas filhas, e sim por Mr.Collins, um primo. É a essa organização social que Austen dirige as suas maiores críticas.

Elizabeth Bennet e o protofeminismo

A crítica costuma enxergar em Elizabeth Bennet uma protofeminista porque, ao contrário das mulheres da sua geração, ela não persegue um casamento promissor achando que vai encontrar em um homem a solução para os seus problemas financeiros e sociais.

Elizabeth luta contra uma sociedade conservadora e machista:

— Seu plano é bom — replicou Elizabeth — quando está em jogo apenas o desejo de se casar bem; e, se eu estivesse decidida a arranjar um marido rico, ou um marido qualquer, seria este o plano que adotaria. Mas estes não são os sentimentos (...)

A personagem discute e se rebela com o seu contexto porque deseja ser independente, repudiando um casamento movido pela conveniência. Não é que a moça fosse propriamente contra o matrimônio, o que ela detestava eram os valores que moviam as mulheres a encontrarem um marido abastado.

O comportamento de Elizabeth é extremamente peculiar para a época. Desde muito cedo a menina se rebelou contra aquilo que ficou conhecido como a santíssima trindade, isto é, o poder do pai, do tutor ou do marido. Às mulheres da época cabia o espaço da casa e a regência da família, enquanto os homens dominavam os espaços públicos, as propriedades e as finanças.

A jovem Lizzie é extremamente admirada pelo pai, um curioso incurável, mas é profundamente criticada pela mãe, que teme pelo futuro de Elizabeth devido as suas ideias consideradas revolucionárias.

História da publicação

A obra-prima de Jane Austen teria tido originalmente outro título: First impressions (em português Primeiras impressões) acabou sendo alterado para Pride and Prejudice.

Escrito entre 1796 e 1797, o romance que a autora chamava de "meu filho querido", foi lançado somente em janeiro de 1813.

Apesar de ter sido escrito há tantos anos, até hoje Orgulho e Preconceito continua ocupando o top livros mais lidos. A cada ano são comercializados 50.000 exemplares apenas no Reino Unido.

Uma curiosidade sobre o clássico: um exemplar da primeira edição foi encontrado e levado a leilão, em Londres, no ano de 2003. A obra foi arrematada por cerca de 58 mil euros.

Frontispício da primeira edição de Pride and prejudice (Orgulho e preconceito).
Frontispício da primeira edição de Pride and prejudice (Orgulho e Preconceito).

Em 2009 foi publicada uma paródia de terror do livro que teve imenso sucesso. Pride and Prejudice and Zombies (em português Orgulho e Preconceito e zumbis) foi adaptado para o cinema em 2016 sob a direção de Burr Steers (confira abaixo o trailer).

Filme Orgulho e Preconceito

Em 2005, o clássico romance de Jane Austen ganhou a sua mais famosa adaptação cinematográfica.

Antes disso, a obra-prima já tinha recebido outras três adaptações para o cinema (uma realizada em 1940, outra em 2003 e mais uma em 2004).

A produção de 2005 foi dirigida por Joe Wright e o roteiro adaptado foi assinado por Deborah Moggach.

O longa metragem foi indicado aos Óscares de melhor atriz (Keira Knightley), melhor figurino, melhor trilha sonora e melhor direção de arte. O filme também foi indicado ao Globo de Ouro em duas categorias (melhor filme e melhor atriz). Por fim, Orgulho e Preconceito levou para casa o Bafta de melhor revelação (pelo trabalho de Joe Wright).

Confira o trailer abaixo:

Para saber mais, leia: Filme Orgulho e Preconceito: resumo e comentários

Quem foi Jane Austen

Jane Austen nasceu no dia 16 de dezembro 1775, em plena era georgeana, em Hampshire, Inglaterra, filha do casal de boa reputação Cassandra e George Austen. O pai, um intelectual, sempre estimulou o lado criativo dos filhos e fez de tudo para que frequentassem a sua farta biblioteca pessoal.

Encantada pelo mundo dos livros, já durante a adolescência Jane começou a escrever pequenos romances em cadernos de espiral. Outras paixões importantes na vida da autora foram a música (especialmente o piano) e a dança.

Em 1801, Jane mudou-se com a família para Bath. Quatro anos mais tarde o pai veio a falecer. Como consequência, a família passou a enfrentar dificuldades financeiras que obrigaram a sucessivas mudanças.

Aos 30 anos, Jane Austen começou a publicar anonimamente os seus escritos. A autora não recebeu propriamente reconhecimento em vida, tendo ganhado popularidade a partir de 1869.

Jane faleceu jovem, aos 41 anos, no dia 18 de julho de 1817, em Hampshire.

CULTURA GENIAL




sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Ana Maria Machado / Biografia


Ana María Machadp
BIOGRAFÍA

Sexta ocupante da Cadeira nº 1, eleita em 24 de abril de 2003, na sucessão de Evandro Lins e Silva e recebida em 29 de agosto de 2003 pelo acadêmico Tarcísio Padilha.
Ana Maria Machado nasceu em Santa Teresa, Rio de Janeiro, a 24 de dezembro de 1941. É casada com o músico Lourenço Baeta, do quarteto Boca Livre, tendo o casal uma filha. Do casamento anterior com o médico Álvaro Machado, Ana Maria teve dois filhos.
Estudou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no MoMa de Nova York, tendo participado de salões e exposições individuais e coletivas no país e no exterior, enquanto fazia o curso de Letras (depois de desistir do curso de Geografia). Formou-se em Letras Neolatinas, em 1964, na então Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, e fez estudos de pós-graduação na UFRJ.
Deu aulas na Faculdade de Letras na UFRJ (Literatura Brasileira e Teoria Literária) e na Escola de Comunicação da UFRJ, bem como na PUC-Rio (Literatura Brasileira). Além de ensinar nos colégios Santo Inácio e Princesa Isabel, no Rio, e no Curso Alfa de preparação para o Instituto Rio Branco, também lecionou em Paris, na Sorbonne (Língua Portuguesa) e na Universidade de Berkeley, Califórnia – onde já havia sido escritora residente.
No final de 1969, depois de ser presa pelo governo militar e ter diversos amigos também detidos, deixou o Brasil e partiu para o exílio. Na bagagem para a Europa, levava cópias de algumas histórias infantis que estava escrevendo, a convite da revista Recreio. Lutando para sobreviver com seu filho Rodrigo ainda pequeno, trabalhou como jornalista na revista Elle em Paris e no Serviço Brasileiro da BBC de Londres, além de se tornar professora de Língua Portuguesa na Sorbonne. Nesse período, participou de um seleto grupo de estudantes na École Pratique des Hautes Études cujo mestre era Roland Barthes, e terminou sua tese de doutorado em Linguística e Semiologia sob a sua orientação, em Paris, onde nasceu seu filho Pedro. A tese resultou no livro Recado do Nome, sobre a obra de Guimarães Rosa.
Como jornalista, trabalhou no Correio da Manhã, no Jornal do Brasil, no O Globo, e colaborou com as revistas RealidadeIstoÉ e Veja e com os semanários O PasquimOpinião e Movimento. Durante sete anos, chefiou o jornalismo do Sistema Jornal do Brasil de Rádio. Criou e dirigiu por 18 anos, com duas sócias, a primeira livraria do país especializada em livros infantis, a Malasartes. Também foi editora, uma das sócias da Quinteto Editorial.  Há 25 anos vem exercendo intensa atividade na promoção da leitura e fomento do livro, tendo dado consultorias, seminários da UNESCO em diferentes países e sido vice-presidente do IBBY (International Board on Books for Young People).
Escondida por um pseudônimo, ganhou o prêmio João de Barro pelo livro História Meio ao Contrário, em 1977. Abandonou o jornalismo em 1980, para a partir de então se dedicar ao que mais gosta: escrever seus livros, tantos os voltados para adultos como os infantis. Sua filha Luísa nasceu em 1983. Em 1993 a acadêmica se tornou hors concours dos prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
Recebeu vários prêmios no país e no exterior, entre eles o Casa de Las Americas (Cuba, 1980), Personalidade Cultural (União Brasileira de Escritores, 1981), Prêmio CREFISUL de Literatura (Banco Crefisul de Investimento e Jornal de Letras, 1981), Personalidade Cultural (União Brasileira de Escritores, 1994), Prêmio Adolfo Aizen (Literatura infantil e conjunto da obra, União Brasileira dos Escritores, 1994); Prêmio Internacional José Marti, "Menção Especial" (Conjunto da Obra, Costa Rica, 1995),  Prêmio Hans Christian Andersen, internacional (Conjunto da obra infantil, 2000), Prêmio Jornalista Amigo da Infância (Agência de Notícias dos Direitos da Infância, Brasília, 2001), Prêmio Machado de Assis (Conjunto da obra, Academia Brasileira de Letras, 2001), Personalidade  Cultural Internacional (União Brasileira de Escritores, 2003), Prêmio Vento Forte (Teatro Infantil, 2004), Prêmio Mulher da Paz (Associação Mil Mulheres para o Nobel da Paz, Suíça, 2005), Prêmio Ibero Americano de Literatura Infantil e Juvenil - "Hors Concours" (Fundação SM, 2006), Mulher do Ano (Conselho Nacional de Mulheres do Brasil, 2006), Mérito Cultural (Academia Brasileira de Filologia e Faculdade CCAA, 2007), Prêmio Lifetime Achievement Award (Miami, 2007), Prêmio de Cultura do Rio de Janeiro (2010) e Príncipe Claus (Holanda, 2010). Foi agraciada também com o Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional, para romance, e recebeu, em alguns casos mais de uma vez, prêmios como: Jabuti, Prêmio Bienal de SP, João de Barro, APCA, Cecília Meireles, O Melhor para o Jovem, O Melhor para a Criança, Otávio de Faria, Adolfo Aizen, e menções no APPLE (Association Pour la Promotion du Livre pour Enfants, Instituto Jean Piaget, Génève), no FÉE (Fondation Espace Enfants, Suíça) e Americas Award (Estados Unidos).


Obras premiadas
ABC do Brasil
- Altamente Recomendável – Informativo – FNLIJ, 2010
Abrindo o caminho
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 2003.
- Prêmio Ofélia Fontes – “Hors Concours” - Melhor para Criança, -  FNLIJ, 2003.
- Seleção White Ravens / Munique,  2005.
Alguns medos e seus segredos
- Altamente Recomendável – Criança - FNLIJ, 1984.
Amigos secretos 
- Altamente Recomendável -  Jovem -  FNLIJ, 1996.
Aos quatro ventos 
- Prêmio Otávio de Faria - Melhor romance do ano - União Brasileira de Escritores, 1994.
- Finalista do prêmio Jabuti, Câmara Brasileira do Livro, 1994.
A audácia dessa mulher 
- Prêmio Machado de Assis, Biblioteca Nacional, 1999.
Balaio: livros e leituras 
- Altamente Recomendável -  Teórico -  FNLIJ, 2007.
Beijos mágicos
- Prêmio Espace Enfant, Instituto Jean Piaget, Suíça, 1998.
Bem do seu tamanho 
- Prêmio Fernando Chinaglia, União Brasileira de escritores, 1979.
- Altamente Recomendável, FNLIJ, 1979.
Bento-que-Bento-é-o-Frade 
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 1977.
Bisa Bia, Bisa Bel 
- Prêmio Maioridade Crefisul -  para originais inéditos -  1981.
- Melhor livro infantil do ano,  Associação Paulista de Críticos de Arte, 1982.
- Selo de Ouro - Melhor livro  juvenil do ano -  FNLIJ, 1982.
- Prêmio Jabuti, Câmara Brasileira do Livro ,1983.
- Lista de Honra do IBBY, 1984.
- Prêmio Noroeste  -  Melhor livro Infantil do biênio -  Bienal de São Paulo, 1984.
- Nova Escola - Os 40 Livros Essenciais -  1996.
- Américas Award for Children's and Young Adult Literature, Consortium of Latin American Studies Programs (CLASP), 2003.
Camilão, o comilão 
- Fundalectura - Altamente Recomendável -   Bogotá / Colômbia, 1996.
O canto da praça 
- Altamente Recomendável -  Jovem -  FNLIJ, 1986.
- Prêmio Bienal de São Paulo - Melhor obra juvenil do biênio -  1988.
O cavaleiro do sonho: as aventuras e desventuras de Dom Quixote De La Mancha 
- Altamente Recomendável -  Reconto - FNLIJ, 2005.
- Prêmio Figueiredo Pimentel, “Hors Concours” -  Melhor livro Reconto -  FNLIJ, 2006.
Clássicos de verdade: mitos e lendas greco-romanos 
- Altamente Recomendável -  Reconto, Tradução e Adaptação, 2006.
Como e por que ler os clássicos universais desde cedo
- Altamente Recomendável -  Teórico -  FNLIJ, 2002.
- Prêmio Cecilia Meireles -  Melhor livro Teórico - FNLIJ, 2003.
Contracorrente
- Altamente Recomendável -  Teórico – FNLIJ, 1992.
- Prêmio ALIJA, Buenos Aires, 1999.
- Altamente Recomendável – Teórico -  FNILIJ, 1999.
- Premio Cecilia Mireles - Melhor livro Teórico -  FNLIJ, 1999.
De carta em carta 
- Prêmio Ofélia Fontes – “Hors Concours” -  Melhor livro  Criança -  FNLIJ, 2002.
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 2002.
De fora da arca 
- Prêmio Cocori – para inéditos - “Menção de Honra” -  Ministério da Cultura de Costa Rica, 1993.
- Menção especial – “Hors Concours” - para originais inéditos - União Brasileira de Escritores, 1994.
De olho nas penas 
- Prêmio Casa de las Américas -  Literatura Brasileira -  Havana/Cuba, 1981.
- Melhor Livro Infantil do ano, Associação Paulista de Críticos de Arte, 1981.
- Selo de Ouro -  Melhor Livro Juvenil do ano - FNLIJ, 1981.
Democracia: cinco princípios e um fim 
- Altamente Recomendável -  Informativo -  FNLIJ 1996.
Dia de chuva
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 2002.
- “Hors Concours”, FNLIJ 2003. 
Era uma vez três - Prêmio Associação Paulista de Críticos de Arte, 1980.
Fiz voar o meu chapéu 
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 1999.
- Prêmio Ofélia Fontes, “Hors Concours” -  Criança -  FNILIJ, 1999.
- Prêmio Jabuti, 2000. 
O gato do mato e o cachorro do morro 
- Prêmio “Melhores do Ano”, Biblioteca Nacional da Venezuela, 1981.
História meio ao contrário
- Prêmio João de Barro, Prefeitura de Belo Horizonte, 1977.
- Prêmio Jabuti, Câmara Brasileira do Livro, 1978.
- Lista "Melhores do Ano", Fundalectura, Bogotá, 1994.
Histórias à brasileira 1: a Moura Torta- Prêmio Figueiredo Pimentel, “Hors Concours” – Reconto -  FNLIJ, 2002.
- Altamente Recomendável -  Reconto -  FNLIJ, 2002.
Histórias à brasileira 2: Pedro Malasartes
- Altamente Recomendável -  Reconto -  FNLIJ, 2004.
Hoje tem espetáculo 
- Prêmio Dramaturgia Infantil, Fundação Teatro Guaíra, Paraná, 1979.
Ilhas no tempo: algumas leituras 
- Altamente Recomendável -  Teórico -   FNLIJ, 2004.
Isso ninguém me tira 
- Altamente Recomendável -  Jovem, FNLIJ, 1994.
- Prêmio Reconocimiento, Toluca, México, 2003.
A jararaca, a perereca, a tiririca
- Prêmio Alejandro Cabassa, “Hors Concours”, União Brasileira de Escritores, 2000.
Melusina, a dama dos mil prodígios 
- Altamente Recomendável -  Reconto -  FNLIJ, 2000.

Menina bonita do laço de fita 
- Menção honrosa do Prêmio Bienal de São Paulo, uma das cinco melhores obras do biênio, 1988.
- Biblioteca Nacional – “Melhores do Ano” – Caracas, 1995.  
- Fundalectura - Altamente Recomendável –  Bogotá/Colômbia, 1996.
- Prêmio ALIJA - Melhor Livro  Infantil Latino-americano -  Buenos Aires, 1996.
- Prêmio Americas - Melhores livros latinos nos EUA – 1997.
-  Prix Octogone – França, 2004;
O menino e o maestro- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 2006.
- Seleção White Ravens / Munique, 2007.
O menino Pedro e seu boi voador 
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 1980.
- Lista de Honra do IBBY, 1982.
O menino que virou escritor 
- Altamente Recomendável -  CRIANÇA -  FNLIJ, 2001.
Mensagem para você
- Altamente Recomendável – Jovem – FNLIJ, 2009.
Mistérios do mar oceano 
- Altamente Recomendável -  Jovem -  FNLIJ, 1992.
Na praia e no luar, tartaruga quer o mar 
- Altamente Recomendável – Informativo -  FNLIJ, 1992.
No barraco do carrapato 
-  Altamente Recomendável  -  Criança -  FNLIJ, 1985.
Palavra de honra 
- Prêmio Alejandro Cabassa, União Brasileira de Escritores, 2006.
Palavras, palavrinhas, palavrões 
- Prêmio APPLE, Instituto Jean Piaget, Genebra / Suiça, 1988.
Para sempre 
- Prêmio - Ficção – União Brasileira de Escritores, 2002.
Ponto a ponto 
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 1998.
Portinholas
- Altamente Recomendável -  Criança - FNLIJ, 2003.
A princesa que escolhia 
- Altamente Recomendável – Criança -  FNLIJ, 2006.
Procura-se lobo
- Prêmio Ofélia Fontes, “Hors Concours” -  melhor livro para crianças -  FNLIJ, 2005.
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 2005.
Raul da ferrugem azul 
- Selo de Ouro -  Melhor Livro infantil do ano -  FNLIJ, 1979.
Romântico, sedutor e anarquista 
- Altamente Recomendável -  Teórico -  FNLIJ, 2006.
Sinais do mar
- Seleção White Ravens / Munique, 2009.
O tesouro das cantigas para crianças 
- Altamente Recomendável – Reconto -  FNLIJ, 2001.
Texturas
- Prêmio Cecilia Meireles, FNLIJ,2001. 
- Altamente Recomendável -  Teórico -  FNLIJ, 2001.
Um avião, uma viola
- Altamente Recomendável, FNLIJ, 1982.
- Prêmio Noma - Ilustração -  Japão, 1982.
Um heroi fanfarrão e sua mãe bem valente  
- Altamente Recomendável -  Criança -  FNLIJ, 1994.
Uma vontade louca 
- Altamente Recomendável -  Jovem -  FNLIJ, 1990.
Curvo ou reto - Olhar secreto
Com Luisa Baeta. Rio de Janeiro: Global Editora, 2010 
Curvo ou reto - Olhar secreto 
- Altamente Recomendável -  Jovem -  FNLIJ, 1990.
Curvo ou reto - Olhar secreto
Com Luisa Baeta. Rio de Janeiro: Global Editora, 2010 
Traduções
Alice no país das maravilhas,
- Altamente Recomendável -  Tradução para Criança -  FNLIJ, 1997.
Belo trabalho lobinho
- Altamente Recomendável -  Tradução para Criança -  FNLIJ1999.
Café Van Gogh
- Altamente Recomendável - Tradução Jovem - FNILIJ, 1998.
O califa cegonha
- Altamente Recomendável -  Tradução e Adaptação Teórico para  Jovem -  FNLIJ, 2007.
Clássicos de verdade: mitos e lendas greco-romanos
- Altamente Recomendável – Reconto – FNLIJ, 2006
Cuidado com o menino
- Altamente Recomendável -  Tradução para Criança -  FNLIJ, 1999.
Duas vidas, dois destinos
- Prêmio Monteiro Lobato – Melhor Tradução para Jovem -  FNLIJ, 1998.
Esportes e jogos
- Altamente Recomendável -  Tradução Informativo -  FNLIJ, 2001.
O jardim secreto
- Altamente Recomendável -  melhor texto traduzido, FNLIJ, 1993.
A joaninha rabugenta
- Altamente Recomendável –  Tradução para Criança -  FNLIJ, 1998.
Lineia no jardim de Monet
- Altamente Recomendável – Melhor Texto Traduzido -  FNLIJ, 1992.
Maia
- Lista de Honra do IBBY, 1982. 
A maldição da coruja
- Altamente Recomendável -  Tradução para Jovem -  FNLIJ, 1999.
Melusina: Dama dos mil prodígios
- Altamente Recomendável -  Reconto – FNLIJ, 2000
O mestre das marionetes
- Altamente Recomendável - Tradução para jovem -  FNILIJ, 1999.
Meu cachorro é um elefante
- Altamente Recomendável – Tradução, Adaptação para  Criança – FNLIJ, 2009.
Minha irmã Sherazade: contos das mil e uma noites
- Altamente Recomendável -  Tradução para Criança -  FNLIJ, 2001.
Outroso: Um outro mundo
- Altamente Recomendável - Tradução para jovem, FNLIJ, 1999.
- Prêmio Monteiro Lobato – Melhor Texto para Jovem – FNLIJ, 1999.
Peter Pan
- Altamente Recomendável - Melhor Texto  traduzido,  FNLIJ, 1992.
-  Lista de Honra do IBBY, 1994.
Ponte para Terabítia
- Altamente Recomendável - Tradução para Jovem -  FNLIJ, 2000. 
Que sexta-feira mais pirata!
- Altamente Recomendável - Tradução para Jovem -  FNLIJ, 1994.
A redação
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É membro do PEN Clube do Brasil e do Seminário de Literatura da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Recebeu a Ordem do Mérito Cultural, no grau de Grão-Mestre, a Medalha Tiradentes e a Grande Ordem Cultural da Colômbia. Membro da Academia Brasileira de Letras desde 2003.
Publicou mais de cem livros no Brasil, muitos deles traduzidos em cerca de vinte países.


quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Ana Maria Machado / O Brasil é um país moderno, mas ainda muito desigual


Ana Maria Machado

“O Brasil é um país moderno, 

mas ainda muito desigual”

Ana Maria Machado, presidente da Academia Brasileira de Letras: "A cultura da desigualdade entre nós é arcaica"

     

Ana Maria Machado.
Ela é a segunda escritora, depois de Nélida Piñon, e a primeira representante da literatura infantil a presidir, há uma década, a Academia Brasileira de Letras, fundada pelo gênio Machado de Assis. Aos 72 anos, Ana Maria Machado é também um monumento literário nacional (possui o prêmio Hans Christian Andersen, equivalente infantil do Nobel) e publicou mais de cem livros, embora também tenha trabalhado como jornalista durante seu exílio após o golpe militar, razão pela qual recebe como uma boa notícia o nascimento do El País em português. “Ele nos revelará que estamos mais próximos do que pensamos”, afirma.
Entrar para o encontro no austero edifício da Academia, fundada em 1897, é como pisar na representação cultural e literária de um país que se sente um império. “Somos metade da América Latina”, responderá Machado à pergunta de se os brasileiros deveriam aprender espanhol, ou se os demais latino-americanos deveriam aprender português.
No interior do edifício, os acadêmicos – chamados de “imortais”, por se tratar de um cargo vitalício – andam com a consciência de serem alguém e com uma elegância e amabilidade que chegam a causar estranheza a um europeu.
O galanteio é de alta diplomacia. O jornalista é esperado por um funcionário que o acompanhará como que pelos claustros silenciosos de um monastério, indicando com um gesto de autoridade que o convidado não pode perder tempo em trâmites identificativos. Vai repetindo: “Está sendo esperado pela presidente”.
Assim é até chegar ao elegante assessor de imprensa, Antonio Carlos Athayde, que foi adido cultural da Embaixada do Brasil em Buenos Aires e mantém um ligeiro acento portenho em seu espanhol perfeito.


Ele me apresenta a vários acadêmicos, todos magnificamente trajados, que também esperam uma audiência. Já conhecem o projeto da edição do El País em português. Eles o elogiam, e o fazem falando espanhol.
Quando chega Ana Maria Machado, carregando sua figura elegante, todos se põem de pé. Ela me cumprimenta com dois beijos e me avisa que antes receberá um acadêmico, porque nosso encontro era às 15h30, e faltam 20 minutos. Ao ouvido, Athayde me sussurra: “A pontualidade é sagrada para ela”.
Apesar de sua biografia cultural e acadêmica de prestígio, com vários doutorados, a autora de Alice e Ulisses foi presa durante a ditadura, em 1969. Instalou-se no Reino Unido e na França durante a ditadura militar e voltou ao Brasil em 1972, onde fundou, sete anos depois, a primeira livraria dedicada à literatura infantil, com o nome de Malasartes.
Durante nossa conversa, os telefones não tocam e nenhuma secretária entra com recados. Eu lhe pergunto se ela vê algum simbolismo especial no fato de o maior jornal em língua espanhola ter decidido apostar no português, no Brasil: “Eu vejo isso como a culminação de simbolismos que reforçam nosso caráter ibérico. Nossas tradições, história e paixões. Tradições de lutas, mas também de tolerância com os outros povos. É uma história de aceitação dos mouros, dos judeus, com aquela carga de conversões fingidas, de mudanças de nomes, a fim de se salvar. História de uma triste Inquisição, mas também de revolta contra ela, de denúncia”.
A acadêmica insiste que as diferenças são menores que “as semelhanças”, porque temos um “substrato comum que facilita um entendimento, que é feito de histórias de sangue, dolorosas, feias, mas também de lutas pela liberdade”.
Nesse cruzamento de leituras nos dois idiomas irmãos, Machado vislumbra para o futuro um enriquecimento mútuo “ao nos lermos e conhecermos melhor”.
Qualifica a aposta jornalística de “didática” e considera “irresistível ler o mesmo texto em duas línguas que quase se entendem”, já que a leitura de um jornal, e ainda mais se for bilíngue, pode ser surpreendente. Ela lembra que, quando da introdução da nova ortografia do português, em princípio houve estranheza, mas depois, graças aos jornais, ela foi aceita com naturalidade.
Ela menciona com prazer que as relações entre a Academia Brasileira de Letras e a Real Academia da Língua Espanhola são excelentes, embora sejam duas instituições muito diferentes. A brasileira, com apenas 40 membros, foi criada sob o padrão da Academia Francesa, a qual, além de se dedicar ao fomento e defesa do idioma com uma vocação altamente lexicográfica, como ocorre na Espanha, é também uma representação da alta cultura do país.
Machado sente e vive as coisas com paixão. E quase se emociona, orgulhosa, quando destaca a positiva anomalia da literatura infantil brasileira, que tem uma densidade cultural e literária sem paralelo em outros lugares, inclusive na Europa, com exceção do Reino Unido.
A razão é que isso começa com a tradição de Monteiro Lobato, “um rebelde que lutou durante a ditadura de Getúlio Vargas” e criou uma geração de escritores que surgiria 20 anos mais tarde. “Nós nos criamos sobre os ombros dele”, diz.
Se a literatura infantil brasileira possui hoje essa qualidade reconhecida por todos é porque o que amedrontava a ditadura eram o cinema, o teatro e a música. Os livros para crianças passavam praticamente despercebidos. “Entramos naquela literatura para poder dizer coisas com liberdade, e não trabalhávamos com crianças. Viemos do jornalismo, do cinema, da universidade. Eu mesma acabava de fazer o meu doutorado sobre Guimarães Rosa, dirigida por Roland Barthes e que acabei de escrever durante meu exílio em Paris”, conta.
Acrescenta que a literatura infantil no Brasil não se cria, como em outros lugares, a partir das exigências do mercado editorial voltado para as escolas, e sim como literatura propriamente dita, razão pela qual os adultos a leem com prazer.
Durante a conversa, adentramos a velha história sobre o que é o português do Brasil – que é e ao mesmo tempo não é uma nova língua.
Machado explica que o fato de os portugueses verem sua língua cada vez mais como o “português europeu” já é reconhecer que o do Brasil é, de alguma forma, outro português, falado por muito mais gente e com características especiais, que consistem na grande influência da tradição linguística africana e indígena. “A africana privilegia as vogais, que são mais pronunciadas, enquanto que o português europeu tende a comer as vogais, o que o faz parecer mais duro que o brasileiro.” A tradição indígena, que é enorme no português do Brasil, “tende a aglutinar, cria derivados, prefixos, inventa uma enormidade de palavras. Milhares de nomes de cidades brasileiras são de origem indígena”.
Por último, o português do Brasil é do século XVI, quando se falava mais devagar, se pronunciava de outra forma. Camões, por exemplo, usava rimas que em português lusitano não rimam, mas aqui, sim.
Machado, além de ser um monumento literário, não esconde sua paixão pela política e pelas lutas em defesa das liberdades civis.
Eu lhe pergunto se falta hoje algo para o Brasil ser um país moderno, em sintonia com as grandes democracias do mundo.
“É um país moderno, mas ainda desigual. Suas instituições são surpreendentemente fortes, mas nossa democracia padece ainda de uma grande desigualdade”, diz, e acrescenta: “A cultura da desigualdade entre nós é arcaica. Baseia-se numa herança de compadrios, de burocracias, de patrimonialismos. Ainda sofremos de uma herança retrógrada”. Resume ela: “Demos passos para frente, somos uma democracia, mas ainda muito desigual”.
E, ao final, o tema inevitável da corrupção e da impunidade que domina o debate nacional. Para ela, a corrupção e a impunidade, tanto política quanto empresarial ou mesmo cidadã, têm duas origens: “A lentidão da Justiça e os baixos níveis de educação”, algo em que coloca muita ênfase. Segundo ela, é difícil criar cidadãos pensantes, que não se corrompam, com uma escola que ainda não é “de período integral” e que, portanto, não pode formar bem as pessoas. Para ela, “ter todas as crianças na escola não basta”. E sentencia: “Mente-se muito no Brasil, e é fácil acreditar nas mentiras quando a bagagem educacional das pessoas é baixa”.
Como todos os que sofreram na pele o flagelo da falta de liberdade de expressão e a amargura do exílio em busca de liberdades perdidas, Machado, na controvérsia em curso no Brasil sobre proibir ou não as biografias não autorizadas de famosos, já se posicionou a favor da liberdade de publicação. Contra os possíveis abusos, estão aí os tribunais, segundo ela.
A liberdade de expressão para ela não admite adjetivos. Ou é ou não é. Por isso, “quanto mais jornais e quanto mais informação, e de qualidade, melhor para a democracia”, diz.