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sábado, 8 de fevereiro de 2014

Woody Allan / Tiros em Woody


Tiros em Woody


Nova York é um grande teatro, e Woody Allen decidiu interpretar o papel do neurótico

A cidade se rendeu a ele. Até aceitou seu amargo rompimento com Mia Farrow e o casamento com a filha adotiva da atriz. Até ela acusá-lo de abusar da filha de 7 anos

O caso foi arquivado por falta de provas. Mas agora, 20 anos depois, ressuscita. E não na boca, desta vez, de uma mulher desprezada, mas no chocante relato da própria suposta vítima

O cineasta Woody Allen com a filha Dylan Farrow em 1987, então uma criança de dois anos. /CORDON
O Upstate Films é o cinema de arte e experimentação de Woodstock, Nova York; o povoado em que Bob Dylan, David Bowie, Van Morrison e tantos outros decidiram morar depois do mítico concerto de 1969. “Não posso acreditar que exibam filmes desse senhor, Steve. Quer vergonha!”, diz ao dono uma mulher que ainda mostra nos cabelos grisalhos traços dos tempos de hippie. Esse senhor é Woody Allen, e o filme em cartaz, Blue Jasmine. Vinte anos depois de seu escabroso rompimento com Mia Farrow, voltaram a lançar contra o cineasta a pior das acusações: ter abusado sexualmente da filha. E desta vez não é o testemunho de uma mãe desprezada, mas o relato chocante da suposta vítima em uma carta ao New York Times. Declarações que ele logo em seguida tachou de “falsas e vergonhosas”. “Eu programo Woody Allen porque como diretor é um gênio, não pelo que faz ou deixa de fazer em sua vida privada”, se defende Steve Lieber ao lado do cartaz com Cate Blanchett. Mas não convence sua interlocutora. Inocente ou culpado, o dano está feito.
Enquanto isso, Woody Allen continua sendo Woody Allen. Gesticula dando golpes no ar. Vai ao Madison Square Garden assistir a uma partida de basquete. Corrige trechos de seu novo roteiro em sua velha máquina de escrever. E não está consciente do que ferve no Twitter porque vive sem conexão de Internet.
Se Nova York fosse somente uma cidade, Woody Allen não teria existido. Mas Nova York é um gigantesco cenário de teatro em que cada habitante decide ao se levantar o papel que quer representar nesse dia. E sempre, por mais chocante que possa parecer ao restante do planeta, o personagem que alguém escolha pode encontrar milhares de almas dispostas a seguir seu papel de modo entusiasmado. Como na programação do Apollo, há espetáculos para todo tipo de público. Ninguém se espanta com nada. Aceita-se todo mundo. E se a caracterização é crível, a cidade é toda sua e o único limite é a linha do horizonte.

Mia Farrow brinca no parque com sua filha adotiva Dylan em 1990. / GETTY
Allen decidiu ser um neurótico e para as pessoas isso lhe caiu bem. Em suas primeiras atuações o público o deixava tão apavorado que ele tapava os olhos com as mãos quando aplaudiam suas piadas. Mas Nova York o aceitou com prazer. Talvez porque na declaração aberta de sua fobias refletia as ansiedades ocultas que temos dentro de nós – mas ele se atrevia a revelar sua insegurança, a admiti-la diante das câmeras, mostrando-se como um ser humano desprotegido. Tão frágil que muitos, ao vê-lo em pessoa, se surpreendem com sua altura (1m65) porque o imaginavam muito mais baixinho ainda.
Woody também resolveu incorporar a sua realidade judaica na interpretação e elevar à quinta potência a perseguição histórica de seu povo, na forma de um catastrofismo que o consome. Um sem-viver com a eterna suspeita de que alguém pretende lhe passar a perna e a permanente desconfiança na divindade. “Se ao menos Deus me mandasse um sinal, como, por exemplo, fazer um grande depósito em meu nome em uma conta na Suíça...”.
Claro, às segundas-feiras, como todo ator coadjuvante, Allen decidiu consagrar ao descanso. Nesses dias não há trabalho e ele se dedica a tocar clarinete no Café Carlyle. Na 76 com a Quinta. Pontual. Às 20h45 e em companhia da banda de jazz de Eddy Davis. Qualquer um pode checar por 200 dólares, com jantar incluído.
Mas Woody Allen só é Woody Allen em Nova York. Fora de sua cidade o personagem não se ajusta. Não funciona. Sente enjoos só de pensar que tem de abandonar Manhattan. E é normal, porque em outros lugares do país o público não seguiria o seu enredo. Seu personagem é entendido nas grandes cidades, e especialmente nas que contam com numerosa população judaica, como Los Angeles e Miami. Mas o restante dos EUA, rural e protestante, não dedica especial devoção a um neurótico de cabelo liso. Não o entende. O que não significa que não o conheçam. Mas como não conhecê-lo... se tem 42 filmes!

Woody só é Woody Allen em Nova York. Fora da cidade, em um país prortestante e rural, o personagem não se ajusta
Nos primeiros, você rolava de rir. Depois retratou uma Nova York com a qual todos os espectadores sonham. Os seguintes passaram sem castigo nem glória; Acusaram-no de preguiça. De se repetir. De se retratar várias vezes fazendo o mesmo escritor fracassado e torcedor dos Knicks que havia séculos não cravavam uma cesta. E nisto houve o amargo rompimento com Mia Farrow e o surpreendente casamento com a filha adotiva da atriz. Falou-se de final de carreira. Não por que os Estados Unidos não tolerem as famílias disfuncionais e os múltiplos casamentos. Que seja. Há muitos casos mais complexos. Os cinco filhos do presidente Roosevelt, por exemplo, somam ao todo 19 casamentos. O que acontece é que em 1993 Mia acusou Woody de ter abusado sexualmente da filha de ambos: uma menina de 7 anos. Palavras importantes. Mas a investigação não encontrou provas convincentes e o caso foi arquivado.
Allen seguiu seu ritmo de produção: um filme por ano. Dmonstrando seu talento arrebatador. Conseguindo, como dizia Juan Ramón Jiménez em referência aos livros, obras que, sem ser redondas, continham capítulos de um brilhantismo sublime. E assim foi atravessando os tempos; se superando pouco a pouco até que o produtor Jaume Roures lhe ofereceu a oportunidade de rodar na Europa. Woody lhe mostrou um roteiro, Vicky, Cristina, Barcelona, tão cheio de clichês que parecia escrito para cumprir uma obrigação e assinar o contrato. Roures lhe pediu que pelo menos mudasse a profissão de Bardem, que tinha posto como toureiro, e Woody concordou em transformá-lo em pintor. Mas não muito mais. Foi um sucesso. Custou 16 milhões de dólares e arrecadou 77. O mérito foi de Penélope Cruz, que cobrou menos por sua atuação que o orçamento de um mobiliário de cozinha –porque esse é outro aspecto: como tem fila de atores que querem trabalhar com ele, Woody paga um salário baixo– mas conseguiu o Oscar para ela e para toda a Espanha.


Dylan, em uma foto em seu blog.
Depois veio Meia-Noite em Paris(custou 30 milhões de dólares e arrecadou 155), que lhe devolveu um reconhecimento profissional que não desfrutava desde os tempos deHannah e suas irmãs. Depois, a homenagem à sua carreira no Globo de Ouro. A indicação de Blue Jasmine,filme maduro em que ninguém na tela tem a sua voz... E de repente, outra vez o escândalo!
Hoje, como no conto de As Maçãs do Senhor Peabody, escrito por Madonna, a sombra da dúvida se estende pelos EUA como as penas de um travesseiro lançadas ao vento. E logo, mesmo que se demonstre que a acusação era infundada... ponha-se a recolher penas, uma a uma, e a colocá-las de novo na fronha.
Verdade ou mentira, o mal está feito. “Para acusar um pai de algo tão grave é preciso ter muita coragem. Que mulher passaria por esse infortúnio se não fosse verdade?”, se pergunta uma estudante cética da NYU. O musical baseado em Tiros na Broadway estreia em 11 de março. As entradas estão à venda e os produtores, entre os quais a irmã de Allen, Letty Aronson, estão preocupados, segundo publicou o Daily News. Em 18 de abril estreia Fading Gigolo, comédia de humor negro dirigida e escrita por John Turturro, que também atua no filme, com Allen, ambos como protagonistas. O ruivo dos óculos de aro escuro é metade do cartaz, e a outra metade deve estar roendo as unhas.

Interiores

  • A relação. Woody Allen e Mia Farrow se conhecem em 1979 e mantêm um relacionamento até 1992. Nunca se casam nem moram juntos.
  • Os filhos de Mia. No total, são 14. Com o segundo marido, Andre Previn, diretor de orquestra, tem três e adota outros três, incluindo Soon Yi (em 1978 com 5 ou 7 anos; seu nascimento na Coreia não está documentado). Já com Allen, adotam Moses e Dylan (depois dos supostos abusos é rebatizada como Malone). Em 1987 têm um filho biológico: Satchel (depois, Ronan), embora em 2013 a atriz tenha dito que o pai é “possivelmente” Frank Sinatra, seu primeiro marido. Depois de romper com Allen, Farrow adota outras cinco crianças, e a uma delas dá o nome do juiz que lhe concedeu a custódia dos filhos com Allen.
  • Soon Yi. Em 1992 Farrow descobre que a filha, com 19 ou 21 anos, tem um relacionamento com seu namorado, de 56. Allen e Soon Yi continuam juntos e têm duas filhas adotivas.
  •  O abuso. Durante o julgamento pela custódia dos filhos, Mia denuncia Woody por abusar de Dylan (7 anos). Não são encontradas provas para incriminar o diretor.
  • O revival. Em novembro de 2013 Mia e Dylan voltam a falar sobre o abuso na Vanity Fair. Em janeiro, durante o Globo de Ouro, Mia e Ronan escrevem no Twitter que está sendo premiado um pedófilo. Em 1 de fevereiro Dylan publica uma carta detalhando o abuso..
  • Com papai ou com mamãe? Ronan apóia a mãe e irmã; Moses, o pai.
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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Woody Allen chama as acusações de sua filha de “falsas e vergonhosas”

Woody Allen
Woody Allen chama as acusações 

de sua filha de “falsas e vergonhosas”

Uma porta-voz de Allen afirma que o cineasta responderá de forma direta "muito breve" à denúncia de abusos sexuais de Dylan Farrow



    Woody Allen, em um fotograma do documentário 'Woody Allen, o documentário', dirigido por Robert Weide.
    O cineasta norte-americano Woody Allen chamou neste domingo de "falsas e vergonhosas" as acusações feitas por sua filha Dylan Farrow em uma carta aberta no diário norte-americano The New York Times, na qual afirmou que o diretor abusou sexualmente dela quando era uma criança. Os supostos abusos à filha adotiva vieram à tona pela primeira vez em 1993, que foi a raiz da ruptura com Mia Farrow.
    A agente de Allen, Leslee Dart, afirmou que o cineasta responderá de forma direta "muito breve" e lembrou que "os especialistas determinaram (depois das acusações) que não havia provas críveis sobre os abusos, que Dylan Farrow não era capaz de distinguir a fantasia da realidade e que provavelmente era induzida (a fazer as acusações) por sua mãe, Mia Farrow". Allen, que depois da publicação da carta foi visto em uma partida de basquete em Nova York, se recusou a fazer comentários aos jornalistas, segundo jornais locais.
    A separação de Allen e Mia Farrow protagonizou dezenas de capas de jornais e tabloides, e gerou muita polêmica na época. O cineasta não foi culpado de qualquer acusação e negou ter cometido abuso sexual.
    "Qual é teu filme favorito de Woody Allen?". Com esta pergunta começa e conclui a carta publicada neste sábado, na que critica Cate Blanchett, a protagonista do último filme de Allen, Blue Jasmine; e atrizes como Diane Keaton e Scarlett Johansson que ignoraram essas circunstâncias. A filha do cineasta sustenta que, com as "últimas indicações ao Oscar, desta vez, se recusou a entrar em colapso" depois que, durante todo este tempo, "a aceitação de Woody Allen a silenciou".
    Depois que Woody Allen não foi condenado por nenhum crime, ainda que existam "provas" que poderiam ter gerado um processo judicial, segundo Dylan, ela se sentiu "atingida pela culpa de permitir que (seu pai) estivesse perto de outras crianças". "Especialistas estavam dipostos a atacar minha credibilidade. Médicos queriam disfarçar a criança a abusada", lamenta.

    Carta de Dylan Farrow

    Qual o seu filme favorito de Woody Allen? Antes de responder, é bom que você saiba: quando eu tinha sete anos, Woody Allen me levava pela mão para o sótão da minha casa. Ele me mandava deitar de bruços e brincar com o trenzinho elétrico do meu irmão. E me atacava sexualmente. Ele falava comigo enquanto o fazia, sussurrando que eu era uma menina boa e que aquele era o nosso segredo, me prometendo que iríamos a Paris para que eu estrelasse um dos seus filmes. Lembro-me de olhar para o trenzinho, prestando atenção em como ele se movia em círculos pelo sótão. Até hoje eu tenho dificuldades para olhar para trens de brinquedo.
    Até onde posso me lembrar, meu pai fazia coisas das quais eu não gostava. Não gostava como de como ele frequentmente me afastava de minha mãe, parentes e amigos para ficar sozinha com ele. Não gostava quando ele colocava o dedão da mão na minha boca. Não gostava quando eu tinha que entrar debaixo dos lençóis enquanto ele estava apenas de cuecas. Não gostava quando ele colocava sua cabeça no meu colo nu, inspirando e expirando. Eu me escondia embaixo das camas e me trancava no banheiro para evitar os encontros mas ele sempre me achava. Estas coisas aconteciam frequentemente, rotineiramente e tão habilmente escondidas de uma mãe que teria me protegido se soubesse o que eu achava ser normal. Eu achava que essa era a maneira que pais mostravam carinho às suas filhas. Mas o que acontecia comigo no sótão parecia diferente. Eu não conseguia mais guardar o segredo.
    Quando perguntei à minha mãe se o pai dela fazia com ela o que Woody Allen fazia comigo, eu honestamente não sabia qual seria resposta. Também não sabia da tempestade que a pergunta provocaria. Não imaginava que meu pai usaria sua relação sexual com minha irmã para cobrir o abuso que ele praticou contra mim. Não sabia que ele acusaria minha mãe de plantar o abuso na minha mente e a me chamar de mentirosa por me defender. Não sabia que eu teria que recontar a história muitas vezes, médico após médico, na tentativa de que eu admitisse que mentia em prol de uma briga judicial a qual eu não entendia. Em certo momento, minha mãe sentou-se comigo e me disse que eu não teria problema se eu estivesse mentindo - que eu poderia retirar tudo o que eu havia dito. Eu não podia. Era tudo verdade. Acusações de assédio sexual contra os poderosos enfraquecem-se muito facilmente. Especialistas estavam dipostos a atacar minha credibilidade. Médicos queriam disfarçar a criança a abusada.
    Depois que os juízes negaram ao meu pai o direito de visitar os filhos, minha mãe desistiu de continuar o processo criminal, apesar das conclusões do Estado de Connecticut - por conta do que foi definido pelo promotor como fragilidade da "vítima infantil". Woody Allen nunca foi condenado por nenhum crime. O fato de ele ter escapado das acusações me assombrou enquanto amadurecia. Fui vítima de sentimentos de culpa de que eu havia permitido a proximidade dele com outras crianças. Eu fiquei aterrorizada de ser tocada por outros homens. Desenvolvi um transtorno alimentar. Comecei a me cortar. E o tormento foi agravado por Hollywood. Muitos (dos meus heróis) fizeram vista grossa. Muitos acharam mais fácil aceitar a ambiguidade dos fatos argumentando que "ninguém pode dizer o que aconteceu" e fingir que nada esteve errado. Atores o idolatram em festas de premiações. Críticos o colocam em revistas. Cada vez que vejo o rosto do meu algoz - num poster, numa camiseta, na TV - eu só conseguia esconder meu pânico até encontrar um lugar para ficar sozinha e desmoronar.
    Na semana passada, Woody Allen foi indicado para o mais recente Oscar. Desta vez, me recuso a desmoronar. Por muito tempo, a aceitação de Woody Allen me silenciou. Era uma reprovação pessoal, como se os prêmios fossem uma maneira de me mandar calar a boca e ir embora. Mas os sobreviventes de abuso sexual que chegaram até mim - para me apoiar e dividir os medos de seguir em frente, de serem chamados de mentirosos, da sensação de ouvir de outros que as lembranças não são lembranças - me deram motivação para não ficar calada, para que outros saibam que não devem ficar calados também.
    Hoje me considero uma pessoa de sorte. Sou casada, feliz, tenho o apoio dos meus irmãos e irmãs. Tenho uma mãe que encontrou dentro de si mesma uma fonte de força que nos salvou do caos que um predador trouxe ao nosso lar.
    Mas outros ainda estão assustados, vulneráveis e ainda lutando com coragem de contar a verdade. A mensagem que Hollywood manda é importante para eles.
    E se fosse com a sua filha, Cate Blanchett? Louis CK? Alec Baldwin? E se fosse com você, Emma Stone? Ou você, Scarlett Johansson? Você me conheceu quando criança, Diane Keaton. Você esqueceu de mim?
    Woody Allen é um testemunho vivo da maneira como a nossa sociedade fracassa em defender sobreviventes de assédio e abuso sexuais.
    Então, imagine sua filha de sete anos sendo levada até um sótão por Woody Allen. Imagine se ela passa uma vida inteira sendo atingida por náusea diante da menção dele. Imagine um mundo que celebra o seu torturador?
    Imaginou? Agora, diga: qual o seu filme favorito de Woody Allen?
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