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6.1.13

Jules Renard: do "Journal"





O trabalho pensa, a preguiça sonha.




RENARD, Jules. Journal. Paris, Gallimard, 1935.





19.11.12

Entrevista de Antonio Cicero ao jornalista Carlos de Souza




A seguinte entrevista, que concedi ao jornalista Carlos de Souza, foi publicada no jornal Tribuna do Norte, de Natal, no dia 15 do corrente:

1. Você é filósofo e poeta. Como você define as duas atividades?

O filósofo representa a razão radicalmente ambiciosa, a razão que pretende alcançar a verdade universal, necessária e absoluta no que diz respeito ao ente enquanto ente, no que diz respeito ao conhecimento e no que diz respeito aos valores éticos e estéticos.

O poeta é um artista que produz obras literárias em que não é possível separar forma de conteúdo, significante de significado, intelecto de imaginação, razão de emoção, conceito de sensação etc.

2. Você acha que a poesia perdeu sua capacidade de influir no mundo contemporâneo?

Acho que a poesia – principalmente a poesia escrita – jamais teve grande capacidade de influir no mundo contemporâneo a ela. A meu ver, seu sentido não é intervir no mundo, mas facultar àquele que a frui o acesso outras dimensões do ser, que não a dimensão pragmática, utilitária, instrumental, em que necessariamente passamos a maior parte das nossas vidas.

3. Como você faz diferença entre um poema bom e um ruim?

Um poema bom é um poema que, ao provocar um intenso jogo das nossas faculdades – razão, intelecto, imaginação, sensibilidade, emoção, sensualidade – entre si, dá ao leitor acesso a outras dimensões dos ser.

4. João Cabral de Melo Neto dizia que escrever poesia é transpiração. Você acredita em inspiração?

Sim, mas a inspiração não se separa da transpiração. É principalmente durante o trabalho, durante a luta com as palavras, que o poeta colhe as mais felizes intervenções do acaso e do inconsciente chamadas “inspirações”.

5. Você passou a ser conhecido do grande público através das letras de músicas escritas para sua irmã Marina Lima. Como você diferencia letra de música e poema?

A obra de arte em que a letra é normalmente apreciada é a canção, composta de letra e música. A letra é boa se contribuir para a composição de uma bela canção.

No que me diz respeito, como não componho música, faço letras para composições musicais que me são enviadas pelos meus parceiros. Por isso, ao fazer uma letra, levo em conta a música à qual ela se associará, o parceiro que a enviou e o cantor ou a cantora a que se destina.

Já quando faço um poema, não penso senão nas exigências dele mesmo.

Contudo, é possível que uma letra seja um excelente poema, e é possível que um poema se converta numa excelente letra, quando algum compositor faz uma música para acompanhá-la.

Nem o poema é automaticamente melhor do que a canção, nem vice-versa. Toda obra de arte deve ser julgada enquanto indivíduo, e não enquanto membro de uma espécie.

6. Você participou de alguns filmes, um de Bressane e outro de Caetano, se não me engano. Como foi essa experiência?

Caetano Veloso e Julinho Bressane são velhos amigos. Assim, foi um prazer trabalhar para eles. Por outro lado, como não sou ator, não gosto de me ver na tela, pois sempre fico muito crítico em relação ao meu desempenho.

7. Você também lançou um CD lendo seus próprios poemas e participou de outro, na companhia de outros artistas, lendo Drummond. Como é sua relação com as novas mídias?

Embora ache que os poemas, inclusive os meus, devem ser lidos, em primeiro lugar, por cada leitor individualmente, gosto de ler poemas – meus e de outros poetas – em voz alta.

Quanto à Internet, uso-a, em primeiro lugar, para me comunicar com outros, através de e-mails. Em segundo lugar, uso-a como uma grande enciclopédia ou biblioteca. Em terceiro lugar, mantenho um blog, onde posto pequenos textos que admiro, meus ou de outros.

8. Qual a afinidade entre você e a poesia de Carlos Drummond de Andrade?

Gosto muito, desde adolescente, da poesia de Drummond. Quando amo um poema, ele faz parte de minha vida, e eu o sinto como se ele fosse meu, como se eu o tivesse escrito. Ora, amo vários poemas de Drummond.

9. Sua obra ensaística toca sempre no assunto vanguardas. O poeta Ferreira Gullar diz que as vanguardas já nascem velhas. Isso procede?

Não conhecendo o contexto em que Gullar disse isso, não sei exatamente o que ele estava dizendo, de modo que prefiro não comentar.

Minha posição em relação às vanguardas é a seguinte. “Vanguarda” vem de “avant-garde”. “Avant-garde” é o destacamento que vai à frente do grosso das tropas, apontando o caminho que elas devem seguir. Historicamente, cada vanguarda artística apontou um caminho diferente para a arte. Nenhum desses caminhos foi seguido por todo o exército, mas, no total, as vanguardas abriram uma infinidade de caminhos. Graças a elas, hoje sabemos que nenhum caminho está a priori vedado à poesia. Sabemos que é sempre preciso considerar cada caso individualmente. Isso não é pouco. Entretanto, uma vez que isso já é algo conhecido, não precisa ser repetido. Assim, não há mais sentido nenhum em falar de “vanguarda”, pois não resta nenhum caminho a abrir. Continua a haver arte experimental, é claro. De certo modo, toda arte é experimental, mas a arte experimental não pretende mais estar à frente de todos os demais artistas, experimentais ou não, de modo que não pretende ser vanguarda. Além disso, historicamente, cada vanguarda, em sua luta por afirmar determinado caminho, acabava por desprezar os caminhos já abertos. Hoje estão abertos não só os caminhos apontados pela vanguarda e os que a arte experimental contemporânea está a trilhar, mas também os que a tradição havia antes aberto.

10. Seus livros O Mundo Desde o Fim e Finalidades Sem Fim, tem um espaçamento de dez anos entre a publicação de um e outro? Dá trabalho escrever filosofia?

Não só dá trabalho, como sou muito lento. E gosto mais de ler do que de escrever.

11. Os livros de poemas Guardar, A Cidade e os Livros e Livro de Sombras também guardam uma distância de épocas. É difícil escrever poesia?

Normalmente, demoro mais ainda para escrever um poema do que um ensaio ou um artigo. E um ensaio ou artigo eu escrevo num prazo relativamente determinado, ainda que longo. Já a um poema não se pode determinar um prazo. Ele tem seu tempo próprio. E nunca se sabe se um poema que se começa a escrever vai, afinal, ficar pronto. Pode não dar em nada.

12. Você também organizou algumas coletâneas, uma com o poeta Eucanaã Ferraz e outra com Waly Salomão. Como foi essa experiência?

A que fiz com Waly, chamada “O relativismo enquanto visão do mundo” foi a reunião de uma série de palestras organizadas por nós dois em São Paulo, em 1994, com filósofos de primeira linha, como, entre outros, Richard Rorty, Ernest Gellner, Peter Sloterdijk e Bento Prado Júnior.

A que fiz com Eucanaã foi uma nova antologia da obra de Vinícius de Moraes, poeta que ambos amamos. Escolhemos os poemas que tanto eu quanto ele considera os melhores do Vinícius.

13. Você está na coletânea Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século XX. Você se considera um poeta canônico?

Não.

14. Seus poemas lembram a poesia clássica. Quais são suas influências?

Muitas. Para mim, de fato, o poeta mais impressionante é o romano Horácio. Mas gosto de tantos poetas, desde os gregos e romanos... Não sei.

15. Quem está escrevendo poesia de qualidade hoje no Brasil?

Prefiro não responder, porque, sempre que respondo em alguma entrevista a essa pergunta, tenho problemas com os poetas que não me lembrei de citar.

16. Você tem um blog, homepage, na internet... Como é seu relacionamento com o público pela web?

Em geral, muito bom. Havia mais discussão – às vezes de alto nível, às vezes nem tanto – quando eu publicava no blog os artigos, frequentemente polêmicos, que escrevia para a Folha de São Paulo. Em geral eram os fanáticos – religiosos ou políticos (de direita e de esquerda) – que baixavam o nível. Hoje não escrevo mais para jornal nenhum, de modo que os textos que publicam são, em geral, poemas e, em geral, esses poemas são menos polêmicos do que os artigos que eu escrevia para a Folha.

17. Você se interessa por política? Se sim, como você vê o Brasil de hoje?

Penso que o Brasil melhorou muito, a partir da administração de Fernando Henrique. E gosto de Dilma.

18. Que conselhos você daria a um jovem poeta?

Que leia muita poesia; que conheça o máximo que consiga da poesia canônica.



16.11.08

João Cabral e o verso livre

O seguinte artigo foi publicado na minha coluna da "Ilustrada", da Folha de São Paulo, sábado, 15 de novembro:



João Cabral e o verso livre

Em 1953, o poeta João Cabral de Melo Neto declarou em entrevista a seu colega, Vinícius de Moraes: “Acho o verso livre uma aquisição fabulosa e que é bobagem qualquer tentativa de volta às formas preestabelecidas. Abrir mão das aquisições da poesia moderna seria para mim como banir a poesia do mundo moderno”.

Trinta e cinco anos depois, em 1988, ele afirmava a Mário César Carvalho que “uma das coisas fatais da poesia foi o verso livre. No tempo em que você tinha que metrificar e rimar, você tinha que trabalhar seu texto. Desde o momento em que existe o verso livre, todo o mundo acha de descrever a dor de corno dele corno se fosse um poema. No tempo da poesia metrificada e rimada, você tinha que trabalhar e tirava o inútil”.

Como se explica tal inconsistência? Teria João Cabral mudado radicalmente de idéia sobre esse assunto? Certamente houve uma mudança. Creio, porém, que, por trás de uma mudança apenas superficial, encontra-se a profunda coerência da sua concepção de poesia.

Cabral costumava dividir os poetas em dois grupos. O primeiro é o daqueles para quem tudo o que não é espontâneo – logo, tudo o que dá trabalho, tudo o que é difícil – é falso. O segundo, no qual ele mesmo se colocava, é o daqueles para quem tudo o que é espontâneo – logo, tudo o que dispensa o trabalho, tudo o que é fácil – é falso. Para ele, o fácil e espontâneo jamais passava de eco ou repetição inconsciente de vozes alheias. Como se verá, tanto ao defender o verso livre em 1953 quanto ao atacá-lo, em 1988, ele estava tomando posição contra o fácil, espontâneo e repetitivo, e a favor do difícil, trabalhoso e único em poesia.

“O poeta”, disse Cabral uma vez em entrevista a Arnaldo Jabor, “é aquele que nunca aprende a escrever”. Poderíamos também dizer que o poeta é aquele que está sempre aprendendo a escrever. Nas palavras do famoso “O lutador”, de Drummond: “Lutar com palavras / É a luta mais vã. / Entanto lutamos / Mal rompe a manhã”. O poeta luta para dar forma a um poema, isto é, a um objeto estético memorável – ou seja, a um objeto que mereça existir em virtude de seus próprios méritos, independentemente de servir ou não servir para nada ulterior – feito de palavras.

A predileção pelo fácil e espontâneo pode manifestar-se de dois modos. Em primeiro lugar, ela pode manifestar-se como o desprezo por todo trabalho e toda técnica. A “poesia” fica assim reduzida à facilidade de uma expressão pessoal em que a língua é usada, não para dar forma a um objeto de palavras, mas para dizer alguma coisa. Assim, ela exprime, espelha ou repete a vida cotidiana. Não ocorre a luta com as palavras ou a produção de um objeto estético memorável.

Em segundo lugar, a predileção pelo fácil, espontâneo e repetitivo também se manifesta como o artesanato da escrita tradicional de versos. Através de estudo e exercício, o versejador é capaz de adquirir destreza em, entre outras coisas, escrever redondilhas ou decassílabos, rimar versos, compor em formas fixas etc. Com a prática, ele aprende, por exemplo, a improvisar sonetos adequados às mais diversas ocasiões. Para o versejador que atingiu mestria em determinadas técnicas, nada parece mais fácil ou espontâneo do que fazer um “poema”, através da repetição do que é convencionalmente “poético”. Tampouco nesse caso ocorre a luta com as palavras ou a produção de um objeto estético memorável.

No fundo, o problema de Cabral era evitar todo tipo de facilidade, e não, ao contrário do que as duas citações do início deste artigo possam ter levado a crer, opor-se ao verso metrificado ou ao verso livre. Cabral achou um modo próprio de driblar tanto a facilidade dos versos livres e sem rimas quanto a facilidade do uso convencional das técnicas tradicionais. Quando jovem, ele usava versos livres, mas de um modo que – como uma vez explicou a Carlos Carvalhosa – lhe desse tanto trabalho quanto como se fosse metrificado. Mais tarde, passou a usar métrica, mas procurando evitar os ritmos associados a ela; e, embora empregasse rimas, não as fazia perfeitas, mas toantes. Naturalmente, tais soluções foram úteis para ele, mas não são universalizáveis. Elas indicam, entretanto, que, na prática, ele não estava tão preocupado em rejeitar nem procedimentos tradicionais nem procedimentos experimentais, e que seria capaz de usar uns ou outros, na medida em que aumentassem, e não na medida em que aliviassem, a dificuldade do seu trabalho.

Frente às tendências contemporâneas a dissolver e diluir a poesia e a arte, talvez os poetas – e os artistas em geral – devam refletir sobre essas idéias de Cabral. Longe de rejeitar toda regra ou de apelar a regras que facilitem a elaboração ou a recepção da obra, será talvez mais produtivo que o artista imponha a si mesmo determinadas condições – pouco importa se por ele inventadas ou se tomadas de empréstimo à tradição – que, dificultando o seu trabalho, tomem-lhe mais tempo e exijam dele um maior esforço de pensamento, elaboração e criatividade.

9.4.08

Valéry: dos "Cahiers"

alguém ou alguma coisa em mim que não quer (já são 10, 20 vezes que ele escoiceia) começar esse trabalho que devo fazer – cujas idéias estão aí – e até escritas. Mas esse recalcitrante não quer tentar. Ele não entrega a forma – inicial. Cada estratégia de começo o desgosta. O tédio é mais forte. Cata tentativa abandonada aumenta a repugnância.

– Reflexão. Eu disse: alguém. Pois é natural – primitivo – selvagem – personificar um desejo ou uma repulsa que se opõem a uma vontade conforme à pessoa; a pessoa sendo a razoável – a social e sociável – a previdente. (1932-33)

VALÉRY, Paul. Cahiers. Paris: Gallimard, 1973. p.9-10.

21.5.07

A poesia é um segredo dos deuses?

O seguinte artigo foi publicado na minha coluna da Folha de São Paulo, sábado, 19 de maio:


A poesia é um segredo dos deuses?


NUMA MESA-REDONDA de que participei recentemente, no encontro de escritores que tem lugar anualmente em Póvoa de Varzim, no norte de Portugal, o tema proposto para discussão foi: "A poesia é um segredo dos deuses". A propósito desse assunto, lembro que João Cabral dividia os poetas entre aqueles que tinham a poesia espontaneamente, como presente dos deuses, e aqueles -entre os quais ele mesmo se situava- que a obtinham após uma elaboração demorada, como conquista humana. Ora, o tema da nossa mesa havia sido proposto tanto para deixar à vontade os poetas do primeiro grupo, isto é, os que acreditam na inspiração, quanto para provocar os do segundo, isto é, os que não acreditam nela, de maneira que uns e outros se sentissem livres para expor as suas poéticas divergentes.

Quanto a mim, não sinto que caiba inteiramente em nenhum desses dois grupos. Certamente considero uma tolice pensar que a poesia seja pura inspiração, pura dádiva dos deuses; mas penso que há também um quê daquela violência que os gregos chamavam de "húbris", um quê de insolência e arrogância na tese de que ela seja o resultado plenamente consciente e calculado do trabalho.

“Inspiração” é o nome que damos à contribuição indispensável do incalculável, do inconsciente, do acaso e mesmo do equívoco à elaboração do poema. Nenhum grande poeta -nem mesmo João Cabral- jamais pôde deixar de se fazer disponível e receptível à irrupção dessas gratas e imprevisíveis contribuições. "A arte ama o acaso", diz Aristóteles, com razão, "e o acaso, a arte". E o acaso e a arte se encontram inextricavelmente entrelaçados na feitura do poema.

A tal ponto isso me parece verdade que não acho muita graça nas boutades segundo as quais a poesia seria 10% inspiração e 90% transpiração. Por quê? Porque elas sugerem a idéia comum e equivocada de que o poeta tem, em primeiro lugar, a inspiração, para depois ter o trabalho de desenvolvê-la e poli-la.

Ora, penso que é justamente durante o trabalho, na busca de alternativas ao imediato e fácil, ou na tentativa de solucionar problemas criados pelo desenvolvimento do próprio poema, que a inspiração é mais solicitada e bem-vinda; e, por sua vez, a incorporação do impremeditado ao poema exige sempre uma nova elaboração, de modo que jamais se pode saber ao certo quanto do resultado final se deve à inspiração ou ao trabalho.

O fato é que a mim são muito simpáticos os deuses que representam as fontes de inspiração dos poetas, como Apolo e as Musas. A estas, aliás, já dediquei, em gratidão, pelo menos um dos poemas que fiz. Entretanto, dado que também reconheço o papel indispensável do trabalho consciente na produção dos poemas, não acho correto dizer que a poesia seja um presente delas.

E, por duas razões, parece-me claro que a poesia não pode ser um segredo dos deuses. A primeira é que a poesia é um fenômeno humano, demasiadamente humano. Longe de consistir numa atividade puramente racional, ela lida com o que é particular, finito, humano. Ela usa palavras particulares de línguas particulares, finitas, humanas. Ela lida com a morte, a paixão, a perda, a ilusão, a esperança, o medo, a imaginação, o cômico, o trágico etc., que são realidades particulares, finitas, humanas. E a própria beleza da poesia é encarnada, sensual, particular, finita, humana. Os deuses -imortais, olímpicos, abençoados, oniscientes- não entenderiam tais coisas ou as desprezariam, pois se encontram muito acima delas. Conhecendo a poesia, o ser humano conhece uma maravilha que nenhum deus é capaz de conhecer.

Ademais, a poesia não pode ser um segredo, nem dos deuses, nem dos homens, nem mesmo do ponto de vista lógico. Por quê? Porque um segredo é algo que, em princípio, poderia ser revelado. Por exemplo, a fórmula de uma bomba ou a receita de um doce podem ser segredos, porque podem, em princípio, ser revelados. Se alguém diz que sabe um segredo, mas que não seria capaz de revelá-lo de modo nenhum, essa pessoa está mentindo. Um segredo tem que ser conhecido ao menos por uma pessoa ou um deus. Ora, é possível fazer um bom poema, mas não é possível, nem em princípio, saber como deve ser um poema, para ser bom. Essa é, na verdade, uma das poucas certezas que um poeta pode ter: é absolutamente inconcebível que haja fórmulas, receitas ou segredos -divinos ou humanos- para a feitura de um bom poema. Logo, a poesia não é um segredo dos deuses.