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18.5.21

Eucanaã Ferraz: "Rápidos e vão embora"

 



Rápidos e vão embora



Dizem nada como um dia após

o outro


como se o dia seguinte viesse

inevitável um remédio


um diamante mas há dias em que

o dia após o outro não é nada


mais que um dia idêntico

ao de ontem


um dado

com todos os lados o mesmo relógio


magro desses que nos devoram

rápidos e vão embora o diabo o dá


o diabo o leva

o dia seguinte


pode ser só a res-

saca ou aquele em que desaba


a catástrofe um dia após o outro dizem

como se nos ensinassem a nadar:


os braços assim, à frente, o outro

agora o outro, isso,


e lá vamos nós adiante braçadas

contra o calendário


até que – às vezes é assim

morremos hoje – um após


o outro virão dias

e dias sem nós


sem que nunca venha

o dia do juízo.






FERRAZ, Eucanaã. "Rápidos e vão embora". In:_____. Escuta. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

7.1.21

Eucanaã Ferraz: "18.05.1961"

 



18.05.1961



Nasci num lugar pobre,

onde o hospital era longe,

onde era longe a estrada

e os anjos não conheciam:


Nasci mês de maio, azul

de tardes macias,

de pai José,

mãe Maria.


Batizaram-me: Terra Prometida.

Terra pobre, onde a felicidade passa 

longe, mas daqui eu a vejo

e todo o meu corpo brilha.






FERRAZ, Eucanaã. "18.05.1961". In:_____.  Livro primeiro. Rio de Janeiro: Edições do autor, 1990. 

11.8.17

Eucanaã Ferraz: "Graça"



Graça

Milhões de palavras derramadas inúteis
mas teu rosto não; árvores tombadas livros
partidos tudo se vende mas teu rosto não;
sangue de cidades e crianças mas teu rosto
segue limpo; em cada canto um inimigo;
no teu rosto não: rosto onde não cabe
a guerra; rosto sem irmão; teu rosto
o teu nome o diz.



FERRAZ, Eucanaã. "Graça". In:_____. Escuta. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

21.10.16

Antonio Cicero e Angélica Freitas com Eduardo Coelho, no Núcleo de Estudos de Poesia


No dia 11 do corrente, participei, no PACC -- Programa Avançado de Cutura Contemporânea da UFRJ -- junto com a poeta Angélica Freitas, de uma mesa do Núcleo de Estudos sobre Poesia, concebido pelos professores Eduardo Coelho, Eucanaã Ferraz e Heloisa Buarque de Hollanda. Vejam no YouTube, aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=2s3U-haYooA



21.8.16

Adriana Calcanhotto: "canção sem seu nome"




canção sem seu nome

Eu vi você atravessar a rua
Molhando a sombra na água
Eu vi você parar a lagoa parada

Você atravessou a rua na direção oposta
Pisando nas poças, pisando na lua
E a poesia refletida ali me deu as costas

E pra que palavras se eu não sei usá-las?
Cadê palavra que traga você daquela calçada?

Você atravessou a rua na direção contrária
E a poesia que meu olho molhava ali
Quem sabe não me caiba
Quem sabe seja sua
Ali, atravessando a chuva
E toda a lagoa parada
Você na direção errada
E eu na sua



CALCANHOTTO, Adriana. "cancão sem nome". In:_____. Pra que é que serve uma canção com essa? Org. por Eucanaã Ferraz. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2016.


31.1.16

Eucanaã Ferraz: "Aqueles"




Aqueles


Acreditavam que era possível fazer a beleza.
Acreditavam na beleza e no fazer.

Resolveram emendar o que restava
partido
entre humanos e o divino.

Diziam deuses diziam natureza disseram espada
mas era só a beleza o que sentiam.

Trocavam o bem pelo belo.
Perderam-se de tudo e aqui
estamos.




FERRAZ, Eucanaã. "Aqueles". In:_____. Trenitalia. Rio de Janeiro: Megamini, 2016

15.9.15

Escrito em voz alta: com Antonio Cicero, Eucanaã Ferraz e João Bandeira

No Centro Universitário Maria Antonia, às 20h de amanhã:

Clique para ampliar:

4.9.15

Exposiçao Narrativas Poéticas no Rio de Janeiro

A curadoria geral da exposição NARRATIVAS POÉTICAS é de Helena Severo; a curadoria especial de artes plásticas é de Franklin Espath Pedroso; e a curadoria especial de poesia é de Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz.

Clique para ampliar:

17.4.15

Eucanaã Ferraz: "Escuta"




Visão

Seria fácil comparar as araucárias a candelabros.
Mas eu digo que elas se parecem com aquele rapaz

que, braços, cabelos, surgiu devagar
sob a luz de junho, úmida de orvalho.

Veio em minha direção.

E trazia o horizonte
nos seus ombros largos.



FERRAZ, Eucanaã. "Visão". In:_____. Escuta. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

1.4.15

Antonio Cicero lê o poema "Na curva deste minuto", de Eucanaã Ferraz

No seguinte vídeo, leio o poema "Na curva deste minuto", de Eucanaã Ferraz. O poema se encontra no novo livro de Eucanaã, intitulado Escuta. Publicado pela Companhia das Letras, ele será lançado na quinta-feira, dia 16, às 19h, na Livraria da Travessa de Ipanema.



5.8.13

"Poesia Marginal" no IMS, na próxima sexta-feira, das 18h às 22h








                          Clique na imagem, para ampliá-la:


19.3.13

Antônio Cícero e Eucanaã Ferraz conversam sobre poesia em Laranjeiras







Encontro acontece na Casa da Leitura e tem entrada gratuita

Dois marcantes nomes da poesia brasileira contemporânea, Antônio Cícero e Eucanaã Ferraz, são os convidados do evento “Conversa com o autor”, que acontece na Casa da Palavra -- à rua Pereira da Silva, 86 Laranjeiras - Rio de Janeiro, em Laranjeiras -- na próxima quinta feira, 21/03, às 15h.

O encontro, com mediação do professor de Letras da PUC-Rio Júlio Diniz, terá como tema “A nova Poesia Brasileira”.

Formado em filosofia e literatura, Antônio Cícero é poeta, letrista e ensaísta. Além da poesia, publica livros de estética e filosofia.

Eucanaã Ferraz é poeta, professor, ensaísta e autor de literatura infantil, além de especialista em literatura lusófona. Publicou aclamadas antologias em torno de Caetano Veloso e Vinícius de Moraes.

A entrada é gratuita. O evento começa às 15h.

8.2.13

Eucanaã Ferraz: "Recebei as nossas homenagens"






Recebei as nossas homenagens

Único homem acordado nesta noite, o apartamento
apertado parece imenso; vagueio desacordado de tudo
e sobretudo em desacordo comigo, único homem
acordado no mundo; o teatro estreito assim vazio

parece largo, perambulo absoluto, príncipe estragado;
não dormir é meu palácio; a Dinamarca, diminuta,
parece dilatar-se enquanto palmilho o ar do quarto.
Vem o dia, e o fantasma de meu pai não me aparece.




FERRAZ, Eucanaã. Sentimental. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

19.11.12

Entrevista de Antonio Cicero ao jornalista Carlos de Souza




A seguinte entrevista, que concedi ao jornalista Carlos de Souza, foi publicada no jornal Tribuna do Norte, de Natal, no dia 15 do corrente:

1. Você é filósofo e poeta. Como você define as duas atividades?

O filósofo representa a razão radicalmente ambiciosa, a razão que pretende alcançar a verdade universal, necessária e absoluta no que diz respeito ao ente enquanto ente, no que diz respeito ao conhecimento e no que diz respeito aos valores éticos e estéticos.

O poeta é um artista que produz obras literárias em que não é possível separar forma de conteúdo, significante de significado, intelecto de imaginação, razão de emoção, conceito de sensação etc.

2. Você acha que a poesia perdeu sua capacidade de influir no mundo contemporâneo?

Acho que a poesia – principalmente a poesia escrita – jamais teve grande capacidade de influir no mundo contemporâneo a ela. A meu ver, seu sentido não é intervir no mundo, mas facultar àquele que a frui o acesso outras dimensões do ser, que não a dimensão pragmática, utilitária, instrumental, em que necessariamente passamos a maior parte das nossas vidas.

3. Como você faz diferença entre um poema bom e um ruim?

Um poema bom é um poema que, ao provocar um intenso jogo das nossas faculdades – razão, intelecto, imaginação, sensibilidade, emoção, sensualidade – entre si, dá ao leitor acesso a outras dimensões dos ser.

4. João Cabral de Melo Neto dizia que escrever poesia é transpiração. Você acredita em inspiração?

Sim, mas a inspiração não se separa da transpiração. É principalmente durante o trabalho, durante a luta com as palavras, que o poeta colhe as mais felizes intervenções do acaso e do inconsciente chamadas “inspirações”.

5. Você passou a ser conhecido do grande público através das letras de músicas escritas para sua irmã Marina Lima. Como você diferencia letra de música e poema?

A obra de arte em que a letra é normalmente apreciada é a canção, composta de letra e música. A letra é boa se contribuir para a composição de uma bela canção.

No que me diz respeito, como não componho música, faço letras para composições musicais que me são enviadas pelos meus parceiros. Por isso, ao fazer uma letra, levo em conta a música à qual ela se associará, o parceiro que a enviou e o cantor ou a cantora a que se destina.

Já quando faço um poema, não penso senão nas exigências dele mesmo.

Contudo, é possível que uma letra seja um excelente poema, e é possível que um poema se converta numa excelente letra, quando algum compositor faz uma música para acompanhá-la.

Nem o poema é automaticamente melhor do que a canção, nem vice-versa. Toda obra de arte deve ser julgada enquanto indivíduo, e não enquanto membro de uma espécie.

6. Você participou de alguns filmes, um de Bressane e outro de Caetano, se não me engano. Como foi essa experiência?

Caetano Veloso e Julinho Bressane são velhos amigos. Assim, foi um prazer trabalhar para eles. Por outro lado, como não sou ator, não gosto de me ver na tela, pois sempre fico muito crítico em relação ao meu desempenho.

7. Você também lançou um CD lendo seus próprios poemas e participou de outro, na companhia de outros artistas, lendo Drummond. Como é sua relação com as novas mídias?

Embora ache que os poemas, inclusive os meus, devem ser lidos, em primeiro lugar, por cada leitor individualmente, gosto de ler poemas – meus e de outros poetas – em voz alta.

Quanto à Internet, uso-a, em primeiro lugar, para me comunicar com outros, através de e-mails. Em segundo lugar, uso-a como uma grande enciclopédia ou biblioteca. Em terceiro lugar, mantenho um blog, onde posto pequenos textos que admiro, meus ou de outros.

8. Qual a afinidade entre você e a poesia de Carlos Drummond de Andrade?

Gosto muito, desde adolescente, da poesia de Drummond. Quando amo um poema, ele faz parte de minha vida, e eu o sinto como se ele fosse meu, como se eu o tivesse escrito. Ora, amo vários poemas de Drummond.

9. Sua obra ensaística toca sempre no assunto vanguardas. O poeta Ferreira Gullar diz que as vanguardas já nascem velhas. Isso procede?

Não conhecendo o contexto em que Gullar disse isso, não sei exatamente o que ele estava dizendo, de modo que prefiro não comentar.

Minha posição em relação às vanguardas é a seguinte. “Vanguarda” vem de “avant-garde”. “Avant-garde” é o destacamento que vai à frente do grosso das tropas, apontando o caminho que elas devem seguir. Historicamente, cada vanguarda artística apontou um caminho diferente para a arte. Nenhum desses caminhos foi seguido por todo o exército, mas, no total, as vanguardas abriram uma infinidade de caminhos. Graças a elas, hoje sabemos que nenhum caminho está a priori vedado à poesia. Sabemos que é sempre preciso considerar cada caso individualmente. Isso não é pouco. Entretanto, uma vez que isso já é algo conhecido, não precisa ser repetido. Assim, não há mais sentido nenhum em falar de “vanguarda”, pois não resta nenhum caminho a abrir. Continua a haver arte experimental, é claro. De certo modo, toda arte é experimental, mas a arte experimental não pretende mais estar à frente de todos os demais artistas, experimentais ou não, de modo que não pretende ser vanguarda. Além disso, historicamente, cada vanguarda, em sua luta por afirmar determinado caminho, acabava por desprezar os caminhos já abertos. Hoje estão abertos não só os caminhos apontados pela vanguarda e os que a arte experimental contemporânea está a trilhar, mas também os que a tradição havia antes aberto.

10. Seus livros O Mundo Desde o Fim e Finalidades Sem Fim, tem um espaçamento de dez anos entre a publicação de um e outro? Dá trabalho escrever filosofia?

Não só dá trabalho, como sou muito lento. E gosto mais de ler do que de escrever.

11. Os livros de poemas Guardar, A Cidade e os Livros e Livro de Sombras também guardam uma distância de épocas. É difícil escrever poesia?

Normalmente, demoro mais ainda para escrever um poema do que um ensaio ou um artigo. E um ensaio ou artigo eu escrevo num prazo relativamente determinado, ainda que longo. Já a um poema não se pode determinar um prazo. Ele tem seu tempo próprio. E nunca se sabe se um poema que se começa a escrever vai, afinal, ficar pronto. Pode não dar em nada.

12. Você também organizou algumas coletâneas, uma com o poeta Eucanaã Ferraz e outra com Waly Salomão. Como foi essa experiência?

A que fiz com Waly, chamada “O relativismo enquanto visão do mundo” foi a reunião de uma série de palestras organizadas por nós dois em São Paulo, em 1994, com filósofos de primeira linha, como, entre outros, Richard Rorty, Ernest Gellner, Peter Sloterdijk e Bento Prado Júnior.

A que fiz com Eucanaã foi uma nova antologia da obra de Vinícius de Moraes, poeta que ambos amamos. Escolhemos os poemas que tanto eu quanto ele considera os melhores do Vinícius.

13. Você está na coletânea Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século XX. Você se considera um poeta canônico?

Não.

14. Seus poemas lembram a poesia clássica. Quais são suas influências?

Muitas. Para mim, de fato, o poeta mais impressionante é o romano Horácio. Mas gosto de tantos poetas, desde os gregos e romanos... Não sei.

15. Quem está escrevendo poesia de qualidade hoje no Brasil?

Prefiro não responder, porque, sempre que respondo em alguma entrevista a essa pergunta, tenho problemas com os poetas que não me lembrei de citar.

16. Você tem um blog, homepage, na internet... Como é seu relacionamento com o público pela web?

Em geral, muito bom. Havia mais discussão – às vezes de alto nível, às vezes nem tanto – quando eu publicava no blog os artigos, frequentemente polêmicos, que escrevia para a Folha de São Paulo. Em geral eram os fanáticos – religiosos ou políticos (de direita e de esquerda) – que baixavam o nível. Hoje não escrevo mais para jornal nenhum, de modo que os textos que publicam são, em geral, poemas e, em geral, esses poemas são menos polêmicos do que os artigos que eu escrevia para a Folha.

17. Você se interessa por política? Se sim, como você vê o Brasil de hoje?

Penso que o Brasil melhorou muito, a partir da administração de Fernando Henrique. E gosto de Dilma.

18. Que conselhos você daria a um jovem poeta?

Que leia muita poesia; que conheça o máximo que consiga da poesia canônica.



28.10.12

Aderbal Freire Filho: programa "Arte do Artista", da TV Brasil, com participação dos poetas Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz





Eis o programa da TV Brasil "Arte do Artista", dirigido e estrelado por Aderbal Freire Filho, de que, a convite dele, participamos eu e Eucanaã Ferraz:


19.10.12

Eucanaã Ferraz: "Papel tesoura e cola!



O seguinte poema faz parte do livro Sentimental, que será lançado por Eucanaã Ferraz na próxima terça-feira, 23 do corrente, na Livraria Travessa de Ipanema, a partir das 19h:


Papel tesoura e cola


Dia de verão na Vista Chinesa. Eu, sozinho,
era um mandarim frio; mas vendo tudo

do alto, tomado pela beleza, achei que
em meu coração a tristeza era mesquinha;

pensar em mim e em você me pareceu avareza,
tendo em vista que nós somos bem menores

vistos do Alto da Boa Vista. Janeiro bicicletas
bem-te-vis entraram pelos meus olhos

abrindo em cheio meu peito; que sombra
demoraria à luz de tantas lanternas?

Mesmo a noite mais profunda logo se incendiara
e, decerto, morreríamos só depois da madrugada.

Era uma tarde chinesa, tarde de mim sem você,
quando vi que nós dois juntos não valíamos

a cena.

16.10.12

Lançamento de livro do poeta Eucanaã Ferraz




Terça-feira, 23 de outubro, às 19h, será lançado na Livraria da Travessa de Ipanema o livro de poemas Sentimental, de Eucanaã Ferraz. Todos os frequentadores do Acontecimentos estão convidados.



Clique na imagem para ampliá-la:



28.4.12

Eucanaã Ferraz: "Passando em frente"




Passando em frente

ao antigo, imponente
prédio:

o leão, velho, pára
e repara, atento,
naquele seu estranho parente.

Repara nas patas
bem postas,
pesadas, afiadas,

nos pelos, nos olhos,
em tudo que, granítico,
jamais apodrece.

O leão velho vê
a si mesmo
e inveja o irmão de pedra.

Pensa, por exemplo, que
não poderia guardar
entradas de edifícios

como faz o pétreo
leão de guarda,
impávido, perfeito.

Enquanto medita, moscas
fazem festa em volta de sua juba,
um tanto suja,

não há como negar, e
todo ele, desse jeito, mostra
uma ternura engraçada,

de palhaço,
de palhaço velho,
mais doce por isso.

O leão de pedra,
ao contrário, é,
depois de um século,

todo empáfia,
um rei
que não morresse,

que não morre,
que permanece, e
mais rei por isso.

O leão de pedra, imóvel,
guarda a entrada do templo,
enquanto o outro

procura por nós, igual
a nós, dentro
do tempo.




FERRAZ, Eucanaã. Desassombro. Vila Nova de Famalicão: Quasi, 2001.

3.12.11

Eucanaã Ferraz: "Setembro"




Eucanaã Ferraz

Setembro

Nunca mais será setembro,
nunca mais a tua voz dizendo
nunca mais, eu lembro,

nunca mais, eu não esqueço,
a pele, nunca mais,
o teu olhar quebrado,

dividido, vou esquecê-lo,
é o que te digo, nunca mais
a minha mão no teu sorriso,

a tua voz cantando,
vou apagá-la para sempre,
e os nossos dias, setembro, lembro

bem, dentro a tua voz dizendo não
(ouço ainda agora), como se quebrasse
Um copo, mil copos, contra o muro.

Rasgarei o que não houve, o que seria,
mesmo que tudo em mim me diga não
(e diz), mas é preciso.

Como não se pensa mais um pensamento,
quero, prometo:
nunca mais será setembro.



FERRAZ, Eucanaã. Cinemateca. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.