No texto seguinte, Sartre fala dos seguintes versos de Rimbaud:
O saisons, O châteaux!
Quelle âme est sans défaut ?
[Oh estações, oh castelos !
Que alma é sem defeito?]
Ninguém é interrogado; ninguém interroga: o poeta está ausente. E a interrogação não comporta resposta ou antes ela é sua própria resposta. Será uma falsa interrogação? Mas seria absurdo crer que Rimbaud tenha querido dizer “todo o mundo tem defeitos”. Como dizia Breton de Saint-Pol-Roux, “se tivesse querido dizê-lo, tê-lo-ia feito”. E tampouco quis dizer outra coisa. Fez uma interrogação absoluta; conferiu à palavra alma uma existência interrogativa. Eis a interrogação transformada em coisa, como a angústia do Tintoreto tornara-se céu amarelo. Não é mais uma significação, é uma substância; é vista de fora e Rimbaud nos convida a vê-la de dentro com ele, sua estranheza vem de que nos colocamos, para considerá-la, do outro lado da condição humana; do lado de Deus.
De: Qu'est-ce que la littérature? Paris: Gallimard, 1948, p.24.
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13.12.07
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