Soneto: a Wordsworth
Poeta da Natureza, o dissabor
choraste, que o que parte não regressa:
viço, amizades, o primeiro amor,
só doces sonhos, que a tua mágoa expressa.
Tais dores também sinto. Uma delas
tu a sentiste, mas só eu a lamento.
Lançaste luz, mais erma das estrelas,
em frágil barca, ao hibernal relento:
resististe, rochoso bastião,
contra a cega e violenta multidão:
na pobreza mais nobre, dedicaste
o teu canto à verdade e liberdade, —
e eis-me de luto, porque as desertaste,
que, por tal razão, deixes-nos saudade.
Sonnet: to Wordsworth
Poet of Nature, thou hast wept to know
That things depart which never may return:
Childhood and youth, friendship and love's first glow,
Have fled like sweet dreams, leaving thee to mourn.
These common woes I feel. One loss is mine
Which thou too feel'st, yet I alone deplore.
Thou wert as a lone star, whose light did shine
On some frail bark in winter's midnight roar:
Thou hast like to a rock-built refuge stood
Above the blind and battling multitude:
In honoured poverty thy voice did weave
Songs consecrate to truth and liberty, --
Deserting these, thou leavest me to grieve,
That having been, that thou shouldst cease to be.
SHELLEY, Percy. "Sonnet: to Wordsworth" / "Soneto: a Wordsworth". In:_____ Prometeu desacorrentado e outros poemas. Trad. por Adriano Scandolara. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.