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30.9.21

Percy Bysshe Shelley: "A lament" / "Um lamento": trad. por Adriano Scandolara

 



Um lamento


Ó mundo! Ó vida! Ó tempo!

cujos degraus, tremendo,

de novo escalo e chego aos teus finais;

quando retorna a glória do momento?

não mais – ah, nunca mais!


Pela noite e o dia,

fugaz prazer fugia;

frescor do estio e alvores hibernais

ferem meu peito em dor, mas de alegria

não mais – ah, nunca mais!





A lament


O world! O life! O time!

On whose last steps I climb,

Trembling at that where I had stood before;

When will return the glory of your prime?

No more—Oh, never more!


Out of the day and night

A joy has taken flight;

Fresh spring, and summer, and winter hoar,

Move my faint heart with grief, but with delight

No more – Oh, never more!










SHELLEY, Percy Bysshe. "A lament" / "Um lamento". In: Prometeu desacorrentado e outros poemas. Trad. por Adriano Scandolara. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

4.8.21

Percy Shelley: "Sonnet: to Wordsworth" / "Soneto: a Wordsworth": trad. por Adriano Scandolara

 



Soneto: a Wordsworth


Poeta da Natureza, o dissabor

choraste, que o que parte não regressa:

viço, amizades, o primeiro amor,

só doces sonhos, que a tua mágoa expressa.

Tais dores também sinto. Uma delas

tu a sentiste, mas só eu a lamento.

Lançaste luz, mais erma das estrelas,

em frágil barca, ao hibernal relento:

resististe, rochoso bastião,

contra a cega e violenta multidão:

na pobreza mais nobre, dedicaste

o teu canto à verdade e liberdade, —

e eis-me de luto, porque as desertaste,

que, por tal razão, deixes-nos saudade.






Sonnet: to Wordsworth


Poet of Nature, thou hast wept to know

That things depart which never may return:

Childhood and youth, friendship and love's first glow,

Have fled like sweet dreams, leaving thee to mourn.

These common woes I feel. One loss is mine

Which thou too feel'st, yet I alone deplore.

Thou wert as a lone star, whose light did shine

On some frail bark in winter's midnight roar:

Thou hast like to a rock-built refuge stood

Above the blind and battling multitude:                                  

In honoured poverty thy voice did weave

Songs consecrate to truth and liberty, --

Deserting these, thou leavest me to grieve,

That having been, that thou shouldst cease to be.









SHELLEY, Percy. "Sonnet: to Wordsworth" / "Soneto: a Wordsworth". In:_____ Prometeu desacorrentado e outros poemas. Trad. por Adriano Scandolara. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.

23.5.21

Percy Bysshe Shelley: "A dirge" / "Uma nênia": trad. por Adriano Scandolara

 



Uma nênia



Tufão, que tanto geme,

  luto ao canto mudo;

se, ao vento à noite, freme,

  negro, o céu profundo;

    tormenta em vãos lamentos,

    sarçal curvado aos ventos,

    a furna e mar violentos, ―

urram o error do mundo!





A dirge



Rough wind, that moanest loud

  Grief too sad for song;

Wild wind, when sullen cloud

  Knells all the night long;

    Sad storm whose tears are vain,

    Bare woods, whose branches strain,

    Deep caves and dreary main,

Wail, for the world's wrong!







SHELLEY, Percy Bysshe. "A dirge" / "Uma nênia". In:_____. Prometeu desacorrentado e outros poemas. Trad. por Adriano Scandolara. Belo Horizaonte: Autêntica Editora, 2015. 

3.1.19

P.B. Shelley: "Time" / "Tempo": trad. por Adriano Scandolara



O tempo

Ó insondável Mar! marulho de anos,
      Tempo em cujos pelágios fundas mágoas
Salmouram só do pranto dos humanos!
      Maré sem margens, sob as vossas águas
Podeis os fins do ser mortal tocar
      E, nauseado, a uivar, pedindo mais,
Em suas margens vis os restos vomitais;
Pérfido na bonança, atroz na fúria,
   Quem vai vos desbravar,
   Ó insondável Mar?




Time

Unfathomable Sea! whose waves are years,
      Ocean of Time, whose waters of deep woe
Are brackish with the salt of human tears!
      Thou shoreless flood, which in thy ebb and flow
Claspest the limits of mortality!
      And sick of prey, yet howling on for more,
Vomitest thy wrecks on its inhospitable shore;
      Treacherous in calm, and terrible in storm,
         Who shall put forth on thee,
         Unfathomable Sea?





SHELLEY, Percy B. “Time” / “O tempo”. In:_____. Prometeu desacorrentado e outros poemas. Trad. por Adriano Scandolara. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

21.8.17

P.B. Shelley: "Lines (That time is dead forever...)" / "Versos (Perdeu-se a era...)": trad. de Adriano Scandolara



Lines (That time is dead for ever...)

That time is dead for ever, child!
Drowned, frozen, dead for ever!
We look on the past
And stare aghast
At the spectres wailing, pale and ghast,
Of hopes which thou and I beguiled
To death on life’s dark river.

The stream we gazed on then rolled by;
Its waves are unreturning;
But we yet stand
In a lone land,
Like tombs to mark the memory
Of hopes and fears, which fade and flee
In the light of life’s dim morning.



Versos (Perdeu-se a era...)

Perdeu-se a era, Ó criança!
gelada, fugaz, perdida!
e vê-se o passado
de olhar assombrado,
enquanto geme o espectro, afogado,
dos nossos devaneios de esperança,
no rio sombrio da vida.

O rio que vimos noutro momento
deságua em tempos de outrora;
e todavia
em terra vazia,
jazemos feito monumentos
de esperança e medo, fugindo lentos
na réstia vital desta aurora.




SHELLEY, P.B. "Lines (That time is dead forever...)". In:_____. Prometeu desacorrentado e outros poemas. Trad. por Adriano Scandolara. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

8.7.16

Percy Bysshe Shelley: "Love's philosophy" / "Filosofia do amor": trad. Adriano Scandolara




Filosofia do amor

As fontes se unem com o rio,
e esses rios ao Mar caminham,
os ventos pelos Céus, com brio,
uns nos outros se aninham;
nada está no mundo a sós;
num só espírito, dita o Céu,
tudo encontra a foz.
Por que não eu e o teu?

Os montes beijam nuvens sem chão,
e cingem-se as ondas também;
condena-se a flor-irmã que, do irmão,
vier a ter desdém;
e o raio de sol cinge o vale,
e o luar vem beijar os mares:
de que tudo então me vale
se não me beijares?




Love’s philosophy

The fountains mingle with the river,
And the rivers with the Ocean;
The winds of Heaven mix forever
With a sweet emotion;
Nothing in the world is single;
All things by a law divine
In one spirit meet and mingle
Why not I with thine? –

See, the mountains kiss high Heaven
And the waves clasp one another;
No sister-flower could be forgiven
If it disdained its brother;
And the sunlight clasps the earth,
And the moonbeams kiss the sea:
What is all this sweet work worth,
If thou kiss not me?



SHELLEY, Percy Bysshe. "Love's philosophy" / "Filosofia do amor". In:_____. Prometeu desacorrentado e outros poemas. Tradução de Adriano Scandolara. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.



26.9.15

P.B. Shelley: "Mutability" / "Mutabilidade": trad. de Adriano Scandolara





Mutabilidade

Quais nuvens somos, que ao luar são um véu;
E, aflitas, brilham, oscilam e se apressam,
Riscando a treva em luz! — mas logo o céu
Se fecha em noite, e para sempre cessam:

Ou cordas várias de uma frágil lira
Esquecida, de acordes dissonantes;
Qualquer que seja o zéfiro que as fira,
Nota alguma soará como as de antes.

Em sono — vêm os sonhos, venenosos;
Vigília — desvarios poluem a hora;
Sentir, pensar, alegres, lastimosos;
Guardar a mágoa ou lançá-la embora:

É a mesma coisa! — ao júbilo ou tormento,
Para sua fuga ainda há liberdade:
Ao homem vai-se e não volta o momento;
Nada dura — só Mutabilidade.




Mutability

We are as clouds that veil the midnight moon;
How restlessly they speed, and gleam, and quiver,
Streaking the darkness radiantly!—yet soon
Night closes round, and they are lost for ever:

Or like forgotten lyres, whose dissonant strings
Give various response to each varying blast,
To whose frail frame no second motion brings
One mood or modulation like the last.

We rest.—A dream has power to poison sleep;
We rise.—One wandering thought pollutes the day;
We feel, conceive or reason, laugh or weep;
Embrace fond woe, or cast our cares away:

It is the same!—For, be it joy or sorrow,
The path of its departure still is free:
Man's yesterday may ne'er be like his morrow;
Nought may endure but mutability!




SCHELLEY, P.B. "Mutability" / "Mutabilidade". Trad. de Adriano Scandolara. In:_____. Prometeu desacorrentado e outros poemas. Trad. de Adriano Scandolara. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.