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21.8.16

Sobre o jornal gay "Lampeão"



Agradeço ao poeta Glauco Mattoso por me ter chamado atenção para um documentário, dirigido por Livia Perez, sobre o jornal de vanguarda gay Lampeão, do final da década de 1970 e começo de 1980, que eu sempre lia. Ele me enviou também os seguintes links de teasers/trailers do filme da Livia Perez:





Aqui vocês podem assistir ao teaser que corresponde ao último desses links. Trata-se de um trecho do programa "Metrópolis", da TV Cultura:



23.6.16

Glauco Mattoso: "Madrigal usual"




Madrigal usual

Nenhuma lingua é “morta” emquanto alguem
a falla. Orthographia, assim tambem.

Vocabulo em “desuso” não existe.
Existe uso restricto duma forma
fallada, escripta, caso não conquiste
maior acceitação. Nenhuma norma
chamada “official”, de dedo em riste,
impõe de antigas praxes a reforma.



MATTOSO, Glauco. "Madrigal usual". In:_____. Madrigaes tragicomicos. São Paulo: Lumme, 2016.

26.12.14

Glauco Mattoso: "Soneto rodador [1001]"





Soneto rodador [1001]


Palíndromo perfeito é o "oroboro",
a cobra que devora o próprio rabo.
Com esse talismã começo e acabo
um tema que dos bruxos é namoro.

Porém, como sou falto de decoro
e de ser pornográfico me gabo,
engulo meu caralho, até me enrabo
e rindo dessa dor gozo meu choro.

Assim sempre vivi, juntando extremos,
tirando da agonia meu proveito,
casando maus anjinhos com bons demos.

Erótico e autofágico é o conceito,
portanto, do "oroboro": eis como vemos
a cobra do palíndromo perfeito.



MATTOSO,  Glauco. "Soneto rodador". In: CORONA, Ricardo (org.). Cobra. Curitiba: Medusa, 2014.

24.3.12

Glauco Mattoso: "Advertência cautelosa"




Advertência cautelosa [4146]

Só conto o que é veridico, e cuidado
convem tomar com tudo que é verdade,
pois pode succeder que desagrade
ao sceptico leitor o que é contado.

Tambem é natural não ser do agrado
de algum leitor mendaz o que lhe invade
a alcova, a conjugal privacidade,
o circulo domestico, o passado.

Mas, como bom poeta, não me calo:
escuto, memorizo e em verso passo,
ainda que pisando alguem no callo.

Portanto, é bem possivel que, no espaço
dum unico soneto, si eu contal-o,
o causo escripto valha um calhamaço.



MATTOSO, Glauco. Contos lyricos de Glauco Mattoso. São Paulo: Lumme Editor, 2012.

7.7.09

Glauco Mattoso: "Soneto contrariado"

.

Soneto contrariado (541)


Por ser o cedo tarde e o tarde cedo;
por ser tarde a manhã e a noite dia;
por ser gostosa a dor, triste a alegria;
por serem ódio amor, coragem medo;

Se o plágio é mais invento que arremedo;
se exprime mais virtude o que vicia;
se nada vale tudo que valia;
se todos já conhecem o segredo;

Por ser duplipensar barroco a língua;
por menos ter aquele que mais quer;
se a falta excede e tanto abunda a míngua;

Por nunca estar o nexo onde estiver,
desdigo o que falei e a vida xingo-a
de morte, se a cegueira é luz qualquer.



De: MATTOSO, Glauco. Poesia indigesta.. São Paulo: Landy, 2004.