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5.6.20

Heinrich Heine: "Und bist du erst mein ehlich Weib" / "Quando eu te desposar, teus dias"




Quando eu te desposar, teus dias


Quando eu te desposar, teus dias
     Serão dignos de invejas;
Desfrutarás mil alegrias
     E ociosidade régia.

Hei de perdoar-te mau humor,
     E queixas mas -- é claro –
Se não cobrires de louvor
     Meu verso, eu me separo.




Und bist du erst mein ehlich Weib


Und bist du erst mein ehlich Weib,
     Dann bist du zu beneiden,
Dann lebst du in lauter Zeitvertreib,
     In lauter Pläsier und Freuden.

Und wenn du schiltst und wenn du tobst,
     Ich werd es geduldig leiden;
Doch wenn du meine Verse nicht lobst,
     Laß ich mich von dir scheiden.





HEINE, Heinrich. "Und bist du erst mein ehlich Weib" / "Quando eu te desposar". In: ASCHER, Nelson (trad. e org.). Poesia alheia. 124 poemas traduzidos. Rio de Janeiro: Imago, 1998

20.4.19

Heinrich Heine: "Es kommt der Tod" / "Chegou a morte": trad, por André Vallias



Chegou a morte

Chegou a morte – agora vou
Dizer o que o orgulho não
Me permitiu: meu coração
Tão só por ti pulsou, pulsou.

Já estou fechado no ataúde,
Descem-me à cova. A calmaria
Me abraça enfim, mas tu, Maria,
Por mim irás, muito amiúde,

Chorar, e pra quê, afinal?
Consola-te, este é o destino
Humano: o que há de bom e fino
E grande sempre acaba mal.




Es kommt der Tod

Es kommt der Tod -- jetzt will ich sagen,
Was zu verschweigen ewiglich
Mein Stolz gebot: für dich, für dich,
Es hat mein Herz für dich geschlagen!

Der Sarg ist fertig, sie versenken
Mich in die Gruft. Da hab ich Ruh.
Doch du, doch du, Maria, du
Wirst weinen oft und mein gedenken.

Du ringst sogar die schönen Hände --
O tröste dich -- Das ist das Loos,
Das Menschenloos: -- was gut und groß
Und schön, das nimmt ein schlechtes Ende.






HEINE, Heinrich. "Es kommt der Tod" / "Chegou a morte". In:_____. Heine, heim? Poeta dos contrários. Org. e trad. por André Vallias. São Paulo: Perspectiva: Goethe Institut, 2011.

26.1.19

Heinrich Heine: "Die Fräulein stand am Meere" / "Uma garota, lá na praia": trad. de André Vallias



Uma garota, lá na praia,
Acompanhando o pôr do sol,
Com olhos rasos d’água solta
Suspiros fundos e alguns ais.

Ora, garota, paciência!
É sempre a mesma velha história:
Agora o astro sai de cena –
De manhãzinha, está de volta.





Das Fräulein stand am Meere
Und seufzte lang und bang,
Es rührte sie so sehre
Der Sonnenuntergang.

Mein Fräulein! seyn Sie munter,
Das ist ein altes Stück;
Hier vorne geht sie unter
Und kehrt von hinten zurück.




HEINE, Heinrich. "Die Fräulein stand am Meere" / "Uma garota, lá na praia". In:_____. Heine, heim? Poeta dos contrários. Org. e trad. por André Vallias. São Paulo: Perspectiva, 2011. 

13.8.18

Heinrich Heine: "Ein Fichtenbaum steht einsam" / "Solitário na montanha": trad. de André Vallias



Solitário, na montanha,
Um pinheiro no hemisfério
Norte dorme sob a manta
Branca de gelo e de neve.

Ele sonha com a palmeira
Do Oriente, tão distante,
Que calada se lamenta
Sobre o penhasco escaldante.




Ein Fichtenbaum steht einsam
Im Norden auf kahler Höh’.
Ihn schläfert; mit weißer Decke
Umhüllen ihn Eis und Schnee.

Er träumt von einer Palme,
Die, fern im Morgenland,
Einsam und schweigend trauert
Auf brennender Felsenwand.





HEINE, Heinrich. "Ein Fichtenbaum steht einsam" / "Solitário, na montanha". In: VALLIAS, André (org. e trad.). Heine, hein?: Poeta dos contrários. São Paulo: Perspectiva: Goethe Institut, 2011.

24.1.18

Heirich Heine: "Ich stand in dunkeln Träumen" / "Num sonho escuro, eu": trad. de André Vallias



Num sonho escuro, eu
Olhava o seu retrato,
Então o rosto amado –
E imóvel – se moveu.

Nos lábios vi pousar
O riso mais bonito,
E, como umedecido,
Reacender o olhar.

Das lágrimas também
Meu rosto está molhado –
Eu não aceito o fato
Que te perdi, meu bem!



Ich stand in dunkeln Träumen
Und starrte ihr Bildniß an,
Und das geliebte Antlitz
Heimlich zu leben begann.
 
Um ihre Lippen zog sich
Ein Lächeln wunderbar,
Und wie von Wehmuthsthränen
Erglänzte ihr Augenpaar.
 
Auch meine Thränen flossen
Mir von den Wangen herab –  
Und ach, ich kann es nicht glauben,
Daß ich dich verloren hab'!



HEINE, Heinrich. "Ich stand in dunkeln Träumen" / "Num sonho escuro, eu". In: VALLIAS, André (org. e trad.). Heine, heim? Poeta dos contrários. São Paulo: Perspectiva: Goethe Institut, 2011.

6.10.14

Heinrich Heine: "Os anjos" / "Die Engel": trad. André Vallias




Os anjos

Eu, incrédulo Tomé,
Já não creio na doutrina
Que o rabi e o padre ensinam:
Nesse “céu” não levo fé!

Mas nos anjos acredito,
Dou aqui meu testemunho:
Perambulam pelo mundo,
Impolutos e bonitos.

Só refuto essa bobagem
De anjo aparecer de asinha;
Sei de muitos, Senhorinha,
Desprovidos de penagem.

Com carinho e claridade,
De olho atento nos humanos,
Nos protegem, afastando
O infortúnio e a tempestade.

Amizade tão discreta
Reconforta toda gente,
Tanto mais o duplamente
Judiado, que é o poeta.



Die Engel.

Freylich ein ungläub’ger Thomas
Glaub’ ich an den Himmel nicht,
Den die Kirchenlehre Romas
Und Jerusalems verspricht.

Doch die Existenz der Engel,
Die bezweifelte ich nie;
Lichtgeschöpfe sonder Mängel,
Hier auf Erden wandeln sie.

Nur, genäd’ge Frau, die Flügel
Sprech’ ich jenen Wesen ab;
Engel giebt es ohne Flügel,
Wie ich selbst gesehen hab’.

Lieblich mit den weißen Händen,
Lieblich mit dem schönen Blick
Schützen sie den Menschen, wenden
Von ihm ab das Mißgeschick.

Ihre Huld und ihre Gnaden
Trösten jeden, doch zumeist
Ihn, der doppelt qualbeladen,
Ihn, den man den Dichter heißt.



HEINE, Heinrich. "Poema do tempo". In:_____. heine hein? poeta dos contrários. Introdução e traduções de André Vallias. São Paulo: Perspectiva, 2011.

5.8.14

Heirich Heine: "Ich tanz nicht mit, ich räuchre nicht den Klötzen" / "Não entro nessa dança, não incenso": trad.: André Vallias




Não entro nessa dança, não incenso
Os ídolos de ouro e pés de barro;
Tampouco aperto a mão desse masmarro
Que me difama e distribui dissenso.

Não galanteio a linda rapariga
Que ostenta sem pudor suas vergonhas;
Nem acompanho as multidões medonhas
Que adoram seus heróis de meia-figa.

Eu sei: carvalhos têm que desabar,
Enquanto o junco se abaixando espera
Passar o vento forte da intempérie.

Mas do que pode um junco se orgulhar?
Tirar poeira de capacho ao sol,
Curvar-se para a linha de um anzol.



Ich tanz nicht mit, ich räuchre nicht den Klötzen,
Die außen goldig sind, inwendig Sand;
Ich schlag nicht ein, reicht mir ein Bub die Hand,
Der heimlich will den Namen mir zerfetzen.

Ich beug mich nicht vor jenen hübschen Metzen,
Die schamlos prunken mit der eignen Schand;
Ich zieh nicht mit, wenn sich der Pöbel spannt
Vor Siegeswagen seiner eiteln Götzen.

Ich weiß es wohl, die Eiche muß erliegen,
Derweil das Rohr am Bach, durch schwankes Biegen,
In Wind und Wetter stehn bleibt, nach wie vor.

Doch sprich, wie weit bringt’s wohl am End’ solch Rohr?
Welch Glück! als ein Spazierstock dient’s dem Stutzer,
Als Kleiderklopfer dient’s dem Stiefelputzer.



HEINE, Heinrich. "Sonetos-afresco". In:_____. heine hein? poeta dos contrários. Introdução e traduções de André Vallias. São Paulo: Perspectiva, 2011. 

20.4.13

Heinrich Heine: "Die blauen frühlingsaugen" / "Esses olhos-primavera": trad. André Vallias







Esses olhos-primavera,
Me fitando azuis na relva
São amáveis violetas
Que escolhi para um buquê.

Vou colhendo enquanto penso:
O que vem ao pensamento
E no coração me dói,
Cantam alto os rouxinóis.

O que eu penso eles cantam
Estridentes – num instante
Minha sina mais secreta
Espalhou-se na floresta.




Die blauen Frühlingsaugen
Schau'n aus dem Gras hervor;
Das sind die lieben Veilchen,
Die ich zum Strauß erkor.

Ich pflücke sie und denke,
Und die Gedanken all,
Die mir im Herzen seufzen,
Singe laut die Nachtigall.

Ja, was ich denke, singt sie
Lautschmetternd, daß es schallt;
Mein zärtliches Geheimnis
Weiß schon der ganze Wald.



HEINE, Heinrich. "Die blauen Frühlingsaugen" / "Esses olhos-primavera". Trad. André Vallias. In: VALLIAS, André. Heine hein? Poeta dos contrários. São Paulo: Perspectiva, 2011.



25.12.12

Heirich Heine: "Ehmals glaubt ich, alle Küsse" / "Acreditava antigamente": trad. André Vallias






Acreditava antigamente
Que todo beijo que me tiram,
Ou que recebo de presente,
Fosse por obra do destino.

Deram-me beijos e beijei,
Antes com tanta seriedade,
Como se obedecesse às leis
Que regem a necessidade.

Agora sei como é supérfluo
E não me faço de rogado,
Vou dando beijos em excesso,
Incrédulo e despreocupado.





Ehmals glaubt ich, alle Küsse,
Die ein Weib uns gibt und nimmt,
Seien uns, durch Schicksalsschlüsse,
Schon urzeitlich vorbestimmt.

Küsse nahm ich, und ich küßte
So mit Ernst in jener Zeit,
Als ob ich erfüllen müßte
Thaten der Notwendigkeit.

Jetzo weiß ich, überflüssig,
Wie so manches, ist der Kuß,
Und mit leichtern Sinnen küß ich,
Glaubenlos im Überfluß.



HEINE, Heinrich: "Uma gaivota. Poemas, 1830-1839". In:_____. VALLIAS, André (org., intr. e trad.). Heine, heim? Poeta dos contrários. São Paulo: Perspectiva, Goethe Institut, 2011.

29.5.11

Heinrich Heine: "Laß die heil'gen Parabolen" / "Larga as parábolas sagradas": tradução de André Vallias




Larga as parábolas sagradas,
Deixa as hipóteses devotas,
E põe-te em busca das respostas
Para as questões mais complicadas.

Por que se arrasta miserável
O justo carregando a cruz,
Enquanto, impune, em seu cavalo,
Desfila o ímpio de arcabuz?

De quem é a culpa? Jeová
Talvez não seja assim tão forte?
Ou será Ele o responsável
Por todo o nosso azar e sorte?

E perguntamos o porquê,
Até que súbito – afinal –
Nos calam com a pá de cal –
Isto é resposta que se dê?



Laß die heil'gen Parabolen,
Laß die frommen Hypothesen -
Suche die verdammten Fragen
Ohne Umschweif uns zu lösen.

Warum schleppt sich blutend, elend,
Unter Kreuzlast der Gerechte,
Während glücklich als ein Sieger
Trabt auf hohem Roß der Schlechte?

Woran liegt die Schuld? Ist etwa
Unser Herr nicht ganz allmächtig?
Oder treibt er selbst den Unfug?
Ach, das wäre niederträchtig.

Also fragen wir beständig,
Bis man uns mit einer Handvoll
Erde endlich stopft die Mäuler -
Aber ist das eine Antwort?



HEINE, Heinrich; VALLIAS, André. Heine, hein? : Poeta dos contrários. São Paulo: Perspectiva; Goethe Institut, 2011.

5.3.11

Heinrich Heine: "An Edom!" / "A Edom!": tradução de André Vallias





A Edom!*

Há dois milênios já perdura
A convivência tão fraterna –
Quando eu respiro, tu me aturas,
Se te enraiveces, eu tolero.

Algumas vezes, convenhamos,
Cruzaste as raias do mau gosto,
As santas unhas mergulhando
Na tinta rubra do meu corpo!

Nossa amizade agora cresce
A cada dia e nunca para;
Virei alguém que se enraivece,
Estou ficando a tua cara.



An Edom!*

Ein Jahrtausend schon und länger,
Dulden wir uns brüderlich,
Du, du duldest, daß ich atme,
Dass du rasest, dulde Ich.

Manchmal nur, in dunkeln Zeiten,
Ward dir wunderlich zu Mut,
Und die liebefrommen Tätzchen
Färbtest du mit meinem Blut!

Jetzt wird unsre Freundschaft fester,
Und noch täglich nimmt sie zu;
Denn ich selbst begann zu rasen,
Und ich werde fast wie Du.

[1824]


*Edom: do hebraico = 'vermelho'; nome dado a Esaú e ao povo que dele descende; por extensão, aplicado às nações inimigas de Israel [nota de André Vallias].






VALLIAS, André. Heine heim? Poeta dos contrários. São Paulo: Perspectiva, 2011 (no prelo).

A tradução, por André Vallias, desse e de outros poemas de Heinrich Heine, acaba de ser publicada na revista Piauí, nº 54 (março).