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18.3.21

Giuseppe Ungaretti: "I ricordi" / "As lembranças": trad. por Geraldo Holanda Cavalcanti

 



As lembranças


As lembranças, infinito inútil,

Mas sós e unidas contra o mar, intacto

Em meio a estertores infinitos…


O mar,

Voz de uma grandeza livre,

Mas inocência inimiga nas lembranças,

Rápido em apagar as doces pegadas

De um pensamento fiel…


O mar, suas blandícias acidiosas

Quão ferozes e quão, quão esperadas,

E no momento da agonia,Sempre presente, renovada sempre,

No pensamento atento, a agonia…


As lembranças,

Revolver em vão

A areia que se move

Sem pesar sobre a areia,

Breves ecos prolongados,

Mudos, ecos de adeuses

De instantes que pareceram felizes…







I ricordi


I ricordi, un inutile infinito

Ma soli e uniti contro il mare, intatto

In mezzo a rantoli infiniti..


Il mare,

Voce d’una grandezza libera,

Ma innocenza nemica dei ricordi,

Rapido a cancellare le orme dolci

D’un pensiero fedele…


Il mare, le sue blandizie accidiose

Quanto feroci e quanto, quanto attese,

E alla loro agonia,

Presente sempre, rinnovata sempre

Nel vigile pensiero l’agonia..


I ricordi,

Il riversarsi vano

Di sabbia che si muove

Senza pesare sulla sabbia,

Echi brevi protratti,

Senza voce echi degli addii

A minuti che parvero felici…







UNGARETTI, Giuseppe. "I ricordi" / "As lembranças". In:_____. Poemas. Seleção e Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti. Prefácio de Alfredo Bosi. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2017.


15.1.19

Alex Varella: "Ela é de Alexandria" e "O pombo flâneur"



Ela é de Alexandria

A luz negra de seu corpo ilumina todo o porto.
Ela é de Alexandria, da baía de Alexandria.
Eu venho de Sírias,
pelo Egito, por Jônia,
por Creta,
pela Grécia.
Em meu corpo corre o sangue do mar.




O pombo flâneur

Todo pombo é flâneur, mas o carioca ainda mais.
Conta Paulo Mendes Campos que era verão,
e dois deles tinham marcado um encontro,
às cinco azul em ponto,
nos céus do Rio de Janeiro.
Os tradicionais relógios da Mesbla e da Central marcavam a hora,
mas não marcavam o tempo,
(nenhum relógio marca o tempo).
Atravessando a cidade num fio de luz,
a vista ardendo de azul,
aquele pombo se atrasou
e, arrulhando,
em uma sentença se explicou:
“-- Desculpe , meu amor,
mas o dia estava tão bonito que eu vim andando;
eu tinha de vir andando!”




VARELLA, Alex. "Ela é de Alexandria" e "O pombo flâneur".

11.8.09

Alex Varella: "Negra grega" e "Barcelona"

Ouça o poeta Alex Varella recitando seus poemas "Negra grega" e "Barcelona", que republico abaixo:





NEGRA GREGA


Negra negra
Grega grega
de palavras & mercancias
no Porto das Palavras
de Alexandria
beleza é o ser visível
ser é visível
negra grega
da África Clássica
próprio da beleza é o aparecer



BARCELONA
(para Alex Pessoa)
Barcelona é uma arte
Ora mar Ora cidade
Perdi meu último heterônimo em Barcelona
(Alex Pessoa)
Onde tudo tem dois nomes,
mundo heteronômico
Barcelona é uma arte
Ora mar
Ora cidade


VARELLA, Alex. Alexandrias. In blog "A cidade sou eu".