"A minha vontade é sair"
Fernando, não a nenhum jornal mas via Facebook*, é rotundo. Não renovou, não vai renovar, quer sair já, se ficar é contrariado e quer um grande para ir ao Mundial do Brasil. É provavelmente o maior problema para o novo treinador resolver. E um borrão na gestão desportiva da SAD se a situação não for resolvida rapidamente, como espero.
Faz-me lembrar o caso Doriva, na altura brilhantemente gerido por Pinto da Costa. E tantos outros de jogadores que acham que o FCP lhes fica pequeno. Têm direito a pensá-lo. Afinal a liga portuguesa - com estádios vazios, polémicas constantes, terrorismo mediático por parte de um clube aos restantes e uma falta de qualidade técnica preocupante - não motiva muita gente. Uns vão pelo dinheiro - e ele fala de uma oferta irrecusável - , outros pela ambição de ir à selecção (uma forma mais educada de dizer que se vai pelo dinheiro) e ainda há os que vão porque sentem que fecharam um ciclo.
O Fernando podia ser o último caso. Merecia-o. Nos últimos anos foi regularmente um dos melhores jogadores da Europa na sua posição. Foi uma brilhante descoberta da SAD, provou o que valia quando andou a rodar na Amadora e fez-se muito bem com o posto. Tornou-se insubstituível. Com Jackson Martinez, é o único jogador no plantel sem alternativa. Não há. Nem Castro, nem Defour, nem Herrera nem quem vocês quiserem. Ali ficará sempre um vazio difícil de preencher. Porque Fernando esteve sempre acima de qualquer suspeita.
Para o jogador vir ao Facebook desmentir notícias públicas - dando a sensação de que acha que foi alguém de dentro a filtrar falsa informação - é sinal de que está farto. De que vai ser um problema no balneário, principalmente para um treinador que chega novo e sem o controlo da situação. Nós sabemos bem que um jogador, quando quer sair, sai. A diferença é sair a bem (rendendo bom dinheiro) ou sair a mal (e desvalorizado). O Fucile ainda anda por aí a treinar sozinho, o Palito esteve para valer 20 milhões e saiu como saiu. Sinais importantes para ter em atenção. Fernando é muito bom e vale cada cêntimo que o FCP peça por ele. Sair por menos é um crime. Mas para isso é preciso gerir a situação melhor.
Eu entendo a postura da SAD - não falo da equipa técnica, porque ainda não existe, oficialmente - de querer segurar os seus melhores jogadores. Mas quando se chega a um ponto de não retorno (e eles sabem qual é muito antes que nos chegue a nós) o melhor é gerir os casos de forma silenciosa e que beneficie o clube. Financeiramente, depois do encaixe de Moutinho e James, o FCP não precisa de vender. Mas que ter um jogador contrariado sem o contrato renovado no plantel? Um possível foco de instabilidade? Acho que não.
Por outro lado, depois de Fernando, pode vir Jackson ou Mangala com o mesmo discurso. Aí, tem de valer o peso da duração do contrato (superior) e a firmeza da SAD em declarar publicamente que o ciclo de Fernando chegou ao fim (algo que o de jogadores deste perfil ainda não aconteceu) para estancar a hemorragia. Sacar o máximo dinheiro possível (e se a oferta existe, espreme-la bem até ao último cêntimo) e embrulhar o jogador num lacinho. E claro, ter muito bom olho para encontrar um substituto à altura, numa posição muito delicada.
Honestamente, é difícil para um adepto simpatizar com um jogador que quer sair, seja por dinheiro, por ir à selecção ou porque está farto do tempo do Porto (como disse o Guttman há 60 anos). Mas entendo a sua posição. São profissionais, não têm uma ligação emocional ao clube e à cidade e querem seguir o seu caminho. Que o façam, mas que tentem fazer um esforço, publico pelo menos, de sair com a cabeça bem alta. Porque se há jogador que merece uma ronda de aplausos pelo que deu ao clube enquanto cá esteve, esse foi sem dúvida o "Polvo"!
* Procurei na conta oficial do Fernando as declarações. Não estão. Vi vários print screens com elas e não me parece montagem. Mas ao já não estarem significa que alguém lhe deu um toque sério. Lamentavelmente estas coisas quase nunca sucediam no FCP. Mas hoje em dias as redes sociais são uma arma que os jogadores têm e que escapa ao controlo dos clubes. Antes se falavam com um jornal, o clube sabia-o e podia cortar o mal pela raíz. Agora vivemos novos tempos, não é senhor Reges?