«O relatório e contas da FC Porto - Futebol, SAD referente ao exercício de 2008/09 cumpre, pela primeira vez, a recomendação da CMVM prevista no Código de Governo das Sociedades (II.1.5.5) e discrimina em termos individuais as remunerações atribuídas aos membros do conselho de administração da sociedade. De acordo com o texto divulgado na terça-feira, o presidente Pinto da Costa auferiu 700 mil euros, enquanto os restantes administradores receberam entre 375815 euros (Reinaldo Teles) e 420 mil euros (Adelino Caldeira, Fernando Gomes). Ao contrário do que acontece com os relatórios dos outros clubes europeus cotados em bolsa, as contas da SAD não distinguem, no entanto, as diferentes componentes recebidas individualmente. Adiantam, unicamente, que a remuneração global (1,9 milhões) inclui 1.075.815 euros de salários fixos e 840.000 euros de remunerações variáveis. Estes valores, curiosamente, são inferiores aos do exercício de 2007/08 (2,28 milhões, incluindo 700 mil euros de remunerações variáveis).
Os membros do conselho de administração da SAD portista têm direito, desde Agosto de 1997, a uma remuneração fixa e a uma remuneração variável que depende dos lucros registados no final de cada exercício económico (2% dos lucros para o presidente, 1% para os restantes administradores). A partir de 2007/08, essa remuneração variável deixou de atender exclusivamente à performance económica da SAD e passou a depender, igualmente, de objectivos desportivos cumpridos pela equipa principal do FC Porto. Os administradores da sociedade passaram a ter direito a uma bonificação variável "consubstanciada em percentagens sobre o respectivo salário bruto anual: campeão nacional (75%); vencedor da Taça UEFA (100%) e vencedor da Champions League (120%)". Aqueles 840 mil euros discriminados nas contas de 2008/09 correspondem a cerca de 78% dos 1.075.815 euros indicados como remuneração fixa, o que parece indicar que os prémios de performance económica não foram incluídos nesta secção (contactada por O JOGO, a administração da SAD recusou-se a adiantar qualquer esclarecimento).
Tal como se pode ver no quadro que reúne as remunerações anuais dos administradores dos principais clubes de futebol cotados em bolsa, os 700 mil euros auferidos pelo presidente Pinto da Costa em 2008/09 não destoam entre os montantes recebidos pelos pares europeus - sobretudo tendo em conta o impressionante êxito desportivo alcançado pelo clube sob a sua liderança. O presidente portista não entra, sequer, no Top 10 dos administradores mais bem pagos. E esta amostra, recorde-se, diz respeito unicamente a clubes cotados em bolsa e não inclui, portanto, administradores executivos de clubes milionários como Chelsea, AC Milan ou Manchester United, cujos salários concorrem certamente com os mais altos da tabela.
Em termos colectivos, no entanto, o panorama é diferente. A SAD portista está entre as que mais gasta - 2,063 milhões de euros, em 2008/09 - com remunerações totais pagas aos membros do conselho de administração. Este montante não está em linha com o nível de facturação/dimensão económica da sociedade nem com as práticas do mercado nacional em que está inserida. Apenas gigantes económicos como a Juventus ou o Arsenal pagaram mais aos respectivos administradores (o Ajax ainda não publicou as contas de 2008/09; no exercício anterior, o clube holandês despendeu 2,3 milhões de euros porque teve de pagar compensações a dois administradores cessantes). Ao contrário do que acontece na FC Porto - Futebol, SAD, os clubes europeus analisados contam com um número reduzido de administradores executivos - em geral dois, por vezes apenas um. Os restantes membros do conselho recebem subsídios ou salários meramente simbólicos. O conselho de administração do Roma, por exemplo, tem 11 membros, mas apenas as administradoras Rosella e Silvia Sensi tiveram remunerações de relevo. A Juventus tem oito, mas apenas Giovanni Cobolli Gigli e Jean-Claude Blanc receberam salários significativos. No Lyon, os 14 administradores são remunerados unicamente com senhas de presença, num total de 100 mil euros.»
Paulo Anunciação
in O JOGO, 18/10/2009
Interessante este artigo de Paulo Anunciação, o qual é complementado pelos seguintes quadros referentes aos principais clubes de futebol cotados em bolsa.
Remunerações anuais dos administradores (euros):
Jean-Claude Blanc, Juventus, 2.696.000
K. J. Friar, Arsenal, 1.541.000
Jean-Michel Aulas, Lyon, 1.408.000 (*)
Martin van Geel, Ajax, 1.136.000 (*)
Rosella Sensi, AS Roma, 1.100.000
Daniel Levy, Tottenham, 1.097.000 (*)
Peter Lawwell, Celtic, 811.000
Maarten Fontein, Ajax, 791.000 (*)
Martin Bain, Glasgow Rangers, 733.000 (*)
Ivan Gazidis, Arsenal, 732.000
Giovanni Cobolli Gigli, Juventus, 723.000
Pinto da Costa, FC Porto, 700.000
Hans-Joachim Watzke, Borússia Dortmund, 616.000
Matthew Collecott, Tottenham, 445.000 (*)
Thomas Treb Borússia, Dortmund, 440.000
Adelino Caldeira, FC Porto, 420.000
Fernando Gomes, FC Porto, 420.000
Karren Brady, Birmingham, 380.000
Reinaldo Teles, FC Porto, 375.815
Jeroen Slop, Ajax, 295.000 (*)
Eric Riley, Celtic, 253.000
Silvia Sensi, AS Roma, 250.000
Remunerações das administrações (milhões de euros):
Juventus, 3,529
Arsenal, 2,459
Ajax, 2,310 (*)
FC Porto, 2,063
Tottenham, 1,553 (*)
Lyon, 1,510 (*)
AS Roma, 1,491
Celtic, 1,261
Rangers, 1,087 (*)
Birmingham, 1,067 (*)
B. Dortmund, 1,056
(*) valores referentes ao exercício de 2007/08
Notas: As remunerações do presidente do Lyon, Jean-Michel Aulas, são pagas pela sociedade ICMI, a holding (de Aulas) que detém uma participação de mais de 34% no capital do clube; os valores referentes à remuneração do conselho de administração do Ajax incluem indemnizações/benefícios pela cessação de funções dos administradores Martin van Geel e Maarten Fontein; em 2006/07, as remunerações dos administradores do Ajax foram inferiores a 1,3 milhões de euros.Olhando para estes valores, não me impressiona o que ganha o Pinto da Costa, se atendermos a que é o responsável máximo do futebol portista. Contudo, há cinco aspectos que, para mim, suscitam discussão:
1) O valor global que é pago ao conjunto dos administradores executivos da FC Porto SAD o qual, no contexto europeu e comparando com clubes muitíssimo mais ricos que o FC Porto, me parece excessivo.
2) O facto dos administradores com os pelouros financeiro e jurídico terem remunerações como se fossem gestores do futebol. Não são e, particularmente na área jurídica, não me parece que se justifique um administrador com este nível de salários e prémios (!). Penso que um departamento jurídico de apoio seria mais do que suficiente.
3) Para além do presidente da SAD, faz sentido haver um outro administrador com o pelouro do futebol e, adicionalmente, haver também um director geral da SAD com o perfil e raio de acção do Antero Henrique?
4) Durante o período abrangido pelo exercício 2008/09, Reinaldo Teles teve um gravíssimo problema de saúde que o afastou da equipa (e do banco de suplentes) a partir da 6ª ou 7ª jornada. Ora, tendo estado ausente por razões de saúde, faz sentido que a sua remuneração seja praticamente igual à dos outros administradores?
5) Os salários dos administradores executivos da FC Porto SAD foram definidos por uma Comissão de Vencimentos (presidida por Alípio Dias, um ex-administrador do BCP), a qual estipulou que o título nacional é premiado com mais 75 por cento do valor bruto dos ganhos dos administradores, enquanto o segundo ou terceiro lugares merecem mais 50 por cento. Ora, mesmo sabendo que na última assembleia-geral da SAD a Administração rejeitou os prémios caso a equipa de futebol termine em segundo ou terceiro lugares, para quando a revisão desta regra escandalosa?
Imagem: DN