Na sequência do artigo do José Rodrigues sobre os
jogadores do FC Porto que estão emprestados, acho interessante destacar um artigo de António Tadeia, publicado no Diário de Notícias do passado sábado, onde ele analisa as virtudes e os defeitos dos empréstimos de jogadores.
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«Oportunidade. Os grandes clubes fazem investimento sobre investimento e ficam com talentos que não podem utilizar. Para não os ver desvalorizar, emprestam-nos a clubes menos ricos, que assim melhoram o seu potencial desportivo. Mas nem tudo são rosas, porque se o jogador for mesmo bom, a separação chegará rapidamente.
A maior fatia do investimento feito pelo Sporting nos últimos anos foi no exercício dos direitos de opção sobre jogadores emprestados como Romagnoli, Izmailov ou Grimi.
No Benfica, grande parte do sucesso da equipa na Liga explica-se com o rendimento de Suazo, um atacante que pertence ao Inter de Milão e veio para Portugal em busca de tempo de utilização.
O FC Porto é, dos três grandes, quem menos recorre aos empréstimos - nos últimos anos assim estiveram Fucile e Luís Aguiar, o primeiro resgatado, o segundo não -
optando antes pela co-propriedade com fundos de investimento a que também o Benfica recorre com frequência.
A dispersão do valor dos jogadores por investidores ou o recurso a cedências de emblemas financeiramente mais fortes é cada vez mais uma realidade que se impõe a um futebol onde o dinheiro não abunda. E, embora haja problemas, toda a gente acha o esquema positivo.
A questão fundamental tem a ver com o profissionalismo do jogador emprestado.
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Há jogadores que chegam e se encostam ao contrato, mas quando o profissionalismo é a 100 por cento, o empréstimo pode ser encarado como uma oportunidade para demonstrar que quem emprestou estava enganado ou para atrair o interesse de um novo mercado", sustenta Carlos Freitas, actual director desportivo do Sp. Braga que, nos anos que passou enquanto responsável pelo mercado no Sporting recorria regularmente aos empréstimos de clubes estrangeiros.
Depois, há a noção de que, como salienta Carlos Carvalhal, treinador que levou o V. Setúbal à vitória na Taça da Liga com cinco emprestados entre os titulares, a situação tem que estar clara para toda a gente.
Equipa do V. Setúbal, Taça da Liga 2007/08 (fonte: VIII Exército)
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Só se deve pedir um jogador emprestado se se tiver uma utilidade específica para ele", diz Carvalhal, consciente de que a operação deve satisfizer as três partes nela implicadas: o jogador, que se mostra e valoriza; o clube que o recebe, que melhora o potencial desportivo; e o clube que o cede, que vê crescer um activo.
Esta época, entre os casos de não cumprimento destas regras basilares destacam-se, por exemplo, Celsinho ou Saleiro. O primeiro foi emprestado pelo Sporting ao Estrela da Amadora e, a julgar pelos problemas disciplinares que já enfrentou, não terá encontrado no passo atrás a motivação para trabalhar mais. Já Saleiro, que teve sucesso na passagem pelo Fátima, na época passada, tem tido poucas oportunidades para jogar, a ponto de já ter questionado publicamente a opção pelo V. Setúbal.
Por outro lado, o futebol português tem, este ano, um caso evidente de sucesso, que é o Olhanense, líder da II Liga e candidato à subida de divisão com seis emprestados, cinco deles (
os portistas Vitória, Stephane, Castro e Ukra e o sportinguista João Gonçalves) habituais titulares.
Jorge Costa, Olhanense (fonte: Record)
Jorge Costa, o treinador do Olhanense, não esconde a felicidade por ter melhorado o plantel de uma forma que normalmente não estaria ao alcance do clube. "
Tive a felicidade de o FC Porto e o Sporting me terem emprestado jogadores de qualidade, na maioria jovens internacionais, e de ter no grupo uma série de jogadores experientes que me deram uma ajuda muito grande a enquadrá-los", destaca Jorge Costa.
Mas o antigo defesa central do FC Porto e da selecção nacional sabe que nem tudo são rosas. Basta recordar a sua própria experiência como jogador emprestado, primeiro ao Penafiel e ao Marítimo, ainda enquanto jovem em busca de afirmação, e mais tarde, quando teve problemas com Octávio Machado, ao Charlton, de forma a poder jogar e justificar a convocatória para o Mundial.
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A primeira situação foi semelhante à dos jogadores que tenho agora. Era um jovem que queria fazer carreira e mostrar qualidades. E consegui-o, em dois anos fantásticos, nos quais cresci como homem e jogador. A segunda situação teve contornos mais infelizes, mas foram seis meses que me correram muito bem e nos quais consegui o objectivo", recorda. Houve, porém, uma infelicidade. "
No Marítimo, numa das vezes que joguei contra o FC Porto, tive a infelicidade de fazer um autogolo [ndr: em Fevereiro de 1992, a desempatar o jogo a favor dos portistas]. Foi complicado, mas quem joga está sempre sujeito a isso. É por isso que, embora saiba que para um emprestado não há melhor ocasião do que aquela para mostrar valor, acho que o ideal é mesmo proteger os jogadores e não os utilizar nessas situações", considera o treinador do Olhanense. Esta época, uma vez que joga um escalão abaixo de FC Porto e Sporting, Jorge Costa não terá de enfrentar essa situação na Liga. Já será diferente se subir de divisão e ficar em Olhão.
Aí, porém, pode ter de confrontar-se com a perda dos jogadores, já valorizados, outro dos problemas de quem recorre a emprestados. "
Em tese é mais interessante um clube partir para um investimento que possa dar frutos do ponto de vista desportivo mas também financeiro", concorda Carlos Freitas, consciente de que ao acolher jogadores cedidos os clubes estão a valorizar-se activos alheios.
Carlos Freitas (fonte: Record)
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Mas sou claramente favorável aos empréstimos, sobretudo em clubes portugueses. A capacidade dos nossos clubes intervirem num primeiro ou mesmo num segundo mercado é esporádica e surge sempre num contexto de oportunidade e não de intervenção consolidada", explica Freitas que, apesar de tudo, no Sp. Braga só tem um emprestado: o colombiano Rentería, que pertence ao FC Porto. No futuro talvez cheguem mais: "
convém manter o contacto, não apenas nas janelas de mercado mas durante todo o ano, para estar sempre a par de quem pode vir a estar disponível", defende.»
António Tadeia
in DN, 13/12/2008
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O FC Porto tem sido, essencialmente, um clube que empresta jogadores, recorrendo poucas vezes a empréstimos de jogadores de outros clubes.
Nos últimos anos, os casos de maior sucesso foram Benny McCarthy, que na segunda metade da época 2001/02 jogou no FC Porto por empréstimo do Celta de Vigo, e Fucile, que veio como um desconhecido e se impôs como um dos melhores laterais do plantel.
Na época passada Luis Aguiar também veio por empréstimo mas, apesar das boas exibições que o uruguaio fez na Académica, a SAD portista não exerceu o direito de opção e o jogador foi contratado pelo Braga (onde tem sido um dos esteios da equipa desta época).
Deveria o FC Porto recorrer mais vezes a empréstimos de jogadores cujo passe pertença a outros clubes?
Nota: A escolha das fotos e os negritos são da minha responsabilidade.