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quinta-feira, 18 de março de 2010

Relembrando: Azumir, "o Bola de Prata"

“Estamos em Alvalade. Fevereiro de 1962. Faltam 2 minutos para acabar o jogo e o marcador está 0-0. O Hernâni arranca por ali abaixo. Quando se aproxima da área do Sporting, grita: ‘Serafim! Serafim!’ Os lagartos vão ao Serafim mas o Hernâni cruza para o Azumir. A bola bate-lhe na canela e entra! É golo! É golo! Gooooooolo do Poooorto! Gooooooolo! Tudo aos saltos na bancada! Alto, a lagartada não gosta e vira-se a nós! Porrada nos gajos, carago! Ó, vem aí a bófia! Estamos f------! Mas não, carago! O polícia é de Miragaia e vira-se a eles! Porrada nos lagartos! Pooooortooo! A-zu-mir! A-zu-mir! A-zu-mir!”



Foi deste modo efusivo e saltando à minha frente como se ainda estivesse em Alvalade que, mais de 30 anos depois, o Sr. Reis, grande portista e veterano de muitas campanhas, me descreveu aquela inesquecível jornada da época de 1961/62.

O autor do golo da vitória, o brasileiro Azumir, de seu nome completo Azumir Luís Casimiro Veríssimo, nascido em 1935, viera do Vasco da Gama para o F.C. Porto naquela época. Não era um primor de técnica e habilidade, mas “facturava” a bom “facturar”, nem que fosse quase por acidente e com a canela, como naquele fim de tarde de Alvalade. Nessa época tornar-se-ia o primeiro jogador do F.C. Porto a conquistar a “Bola de Prata”, troféu instituído pelo jornal A Bola na década de 50 para o melhor marcador do campeonato português. E durante longos anos, mais precisamente até 1977 e Fernando Gomes, seria o único portista a figurar naquela prestigiosa galeria. Em 1961/62 Azumir marcaria 23 golos. O F.C. P. terminaria o campeonato em 2º lugar, a 2 pontos do campeão, o Sporting, e com mais 5 pontos que o Benfica, que naquele ano se sagraria campeão europeu pela segunda (e última) vez. A equipa era inicialmente treinada pelo húngaro György Orth, entre nós conhecido por Jorge Orth, que falecera subitamente em Janeiro e fora substituído por Francisco Reboredo.

Na época seguinte, sob o comando do também húngaro Janos Kalmar, o F.C.P. terminaria de novo em 2º lugar, desta vez a 6 pontos do campeão, o Benfica. Azumir, esse, voltaria a ser o melhor marcador da equipa, com 17 golos apontados (a "Bola de Prata" seria ganha pelo benfiquista José Torres , “o Bom Gigante”, com 26 golos). A pontaria mantinha-se. Contudo, em 1963/64, os dotes de “artilheiro” do Azumir começavam a empalidecer. Utilizado em apenas 5 jogos, o brasileiro marcaria 3 golos (Jaime, “o Ventoinha”, seria o melhor marcador da equipa, com 12 golos). Otto Glória substituíra Kalmar e o F.C. Porto alcançaria mais uma vez aquele que foi o seu lugar típico na primeira metade da década de 60: o 2º, de novo a 6 pontos do Benfica (de notar que as vitórias valiam apenas 2 pontos). E nessa época de 1963/64 terminava a carreira de Azumir no F.C. Porto. Curta mas memorável. Do Porto partiu para o Covilhã onde ficaria uma época.

Mas o Estádio das Antas ainda voltaria a ser palco de uma façanha do Azumir: numa noite de sábado do mês de Setembro de 1965 disputava-se o desafio da 1ª jornada do campeonato da época de 1965/66. O F.C. Porto, treinado por Flávio Costa, que regressava ao clube oito anos depois da sua anterior passagem pelas Antas, recebia o neo-primodivisionário Barreirense. Na frente de ataque desta equipa surgia Azumir. Num dos resultados mais surpreendentes dessa época o Barreirense venceria por 1-0. Autor do golo? Adivinharam, foi mesmo o Azumir… Mas desta vez, decerto que o Sr. Reis não saltou de euforia…

O Azumir representaria ainda o Barreirense na época seguinte, e jogaria no Desp. Beja em 1967/68. Depois disso, despediu-se de Portugal. Para nós continuou a ser “o Bola de Prata”.