Pensem um pouco para pensar. Imaginam a história do futebol português se todos os árbitros fossem como o polaco Szymon Marciniak. Imaginam que bonito seria ter árbitros que realmente apitam o que há que apitar e que expulsam o que há que expulsar, sem medo de incomodar os adeptos da casa. Imaginam uma distribuição de títulos bem diferente não é? Pois é. Hoje, em Roma, o FC Porto foi melhor equipa que uma equipa romana que teve pouco futebol, zero ideias e um espirito de hara-kiri, mas também contou com uma das arbitragens mais sérias de que há memória no futebol europeu. Marciniak não fez nenhum favor ao Porto, e aqueles seis minutos extra serão históricos num play-off de Champions. Não foi uma arbitragem amiga mas foi uma arbitragem séria. O homem do apito geriu o jogo com a coragem de que muitos árbitros carecem, sobretudo na Europa e em estádios tão intimidantes como o Olimpico. Duas expulsões, sem qualquer discussão, e um jogo resolvido e gerido com tranquilidade desde muito cedo selam o apuramento para a liga dos milhões.
O FC Porto foi uma equipa em três versões. A que entrou bem, pressionante, confiante, serena e segura de si mesma, uma equipa de personalidade, e que se manifestou assim até ao intervalo saindo a vencer de forma mais do que justa. Convém recordar que antes de De Rossi, numa entrada assassina, sair expulso por vermelho direto já o Porto ganhava, com um belo golpe de cabeça de Felipe - estás perdoado - e era a melhor equipa em campo. Depois, logo ao inicio do segundo tempo, a segunda expulsão, de Emerson, numa entrada criminal daquele que tinha entrado precisamente para fazer o lugar de De Rossi, selou as contas.
Ironicamente, contra nove, vimos o pior Porto, um Porto nervoso, sem capacidade de gestão da bola, ansioso e mais preocupado com não deixar a Roma jogar do que em gerir o jogo. O golo de Layun - que luxo ter um suplente como Layun dirão muitos - fechou definitivamente o resultado e acabou com a ânsia. De aí saiu um Porto mais dominador para os minutos finais que procurou e conseguiu o terceiro golo, merecidissimo. No fundo houve muito pouca Roma, com 11 e com 10 e também com 90 e houve muito Porto a abrir e a fechar e muito pouco na fase intermédia. É um trabalho para Nuno gerir e natural numa equipa jovem, com poucos jogadores experientes nestas lides e que se viu diante de um cenário que nunca imaginaria. Mas não se pode voltar a repetir perder assim o controlo de um jogo que esteve demasiado tempo equilibrado no marcador para o que realmente passava em campo.

A Roma foi um rival dócil contra todo o prognóstico. Entre as bolas areas a Dzeko e as arrancadas de Salah estava tudo o que tinham para oferecer o que era, manifestamente pouco. Se a isso juntamos o golo cedo dos Dragões, o seu poder de reacção viveu mais de erros do Porto, sobretudo em perdas a meio-campo, do que mérito da sua construção ofensiva. Casillas esteve bem quando foi necessário, Felipe não comprometeu e Layun, sobretudo ele, foi imperial pela direita, onde entrou para render Pereira, que se ressentiu da dura entrada que levou á expulsão do capitão romano. Ao 4-2-3-1 inicial, com Octávio e André André em permuta posicional, seguiu-se uma versão mais afunilada do jogo azul e branco com a chegada de Sérgio Oliveira - não pode um jogador entrar para render um amarelado e levar logo amarelo Sérgio, não pode - para o posto de um esforçado Otávio, a quem falta ainda um plus fisico para render ao mais alto nivel. Essa foi a pior etapa do Porto. Faltou criatividade, engenho e paciência e sobrou desacerto no passe e falta de apoio na constução. A segunda expulsão da Roma ajudou ainda mais e o erro de outro polaco, Szceszny, permitiu o golo a Layun e a fechar as contas que Corona, de menos a mais, tratou de confirmar quando em campo estava já um inexistente Adrian Lopez.
A mais do que justa e merecida vitória em Roma selou um apuramento fundamental e deixou também em evidência que Nuno está a construir uma equipa com mais caracter e personalidade do que jogo - e quando o primeiro falha, como sucedeu do minuto 52 ao 71 fica facilmente exposta ao rival, porque a ideia de jogo colectivo está verde e não deslumbra propriamente - e que o técnico carece também de opções de ataque a tal ponto que, quando o jogo pedia contra-ataque e velocidade, no banco só estava Varela, o homem-bala em pessoa. Provavelmente os mihões da Champions desbloqueiem entradas e saídas - outra coisa não seria aceitável - mas foi extremamente injusto forçar o treinador e o grupo a suportar um exigente mês de Agosto com as calças na mão por erros de gestão a que eles são alheios. O Porto estará no sorteio da máxima competição europeia e pode superar com laude o primeiro mês do novo projecto no próximo domingo. Pena que em Alvalade não arbitre um homem como Marciniak.