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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Em queda livre

Reproduzo, em baixo, um artigo publicado pelo jornal Público há cerca de duas semanas atrás mas que, obviamente, despertou muito menos interesse e debate entre os adeptos, do que o golo marcado em fora-de-jogo, ou de que o penalty bem/mal assinalado, de um qualquer jogo dos três grandes disputado neste mesmo período de tempo.

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Bolsa, o jogo que os clubes de futebol estão a perder
06.12.2011
Hugo Daniel Sousa

Ver o comportamento dos clubes de futebol em bolsa é o mesmo que dizer que os “três” grandes nacionais estão a ser goleados pelos mercados de capitais. As acções das Sociedades Anónimas Desportivas (SAD) de FC Porto, Sporting e Benfica valem actualmente menos 90% do que quando foram admitidas à cotação.

O FC Porto e o Sporting foram os primeiros a lançar-se na aventura bolsista. As acções portistas fecharam na sexta-feira [02/12/2012] a 50 cêntimos contra os 7,64 euros da primeira sessão (-93%). Algo parecido ocorre com as acções “leoninas”, que valem agora 48 cêntimos, quando abriram a primeira sessão a 7,48 euros (-94%). O Benfica tem uma história mais curta no mercado de capitais, pois só está em bolsa desde Maio de 2007, mas a narrativa não é diferente: as acções abriram a primeira sessão a valer seis euros e agora estão a 72 cêntimos (-88%). Outro indicador elucidativo desta quebra é que a capitalização bolsista (estimativa do valor da empresa em que se multiplica o número de acções pelo valor da sua cotação) das três SAD é agora 113 milhões inferior.


É certo que os tempos que correm também não são fáceis para quem está na bolsa. Dados do Millennium BCP, a que o PÚBLICO teve acesso, mostram que nos últimos dez anos alguns índices europeus caíram significamente: o PSI-20 de Lisboa baixou 24,4% e o CAC de Paris desceu 25,3%, embora, por exemplo, o Ibex de Madrid (15,2%), o Footsie de Londres (10%) e o Dax de Frankfurt (34,7%) tenham todos saldos positivos.

Esta comparação mostra que o comportamento dos clubes de futebol em bolsa é pior do que o das outras empresas. “Os clubes tentam gerar o máximo de receitas para cobrir despesas, mas não têm perspectivas de criar valor para os accionistas. E é suposto que quem esteja cotado em bolsa gere mais-valias”, aponta António Samagaio, professor de Economia no ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão), salientando que começa aqui a “incompatibilidade” entre os clubes de futebol e os mercados de capitais.

Mesmo comparando com clubes estrangeiros também cotados, as descidas dos “grandes” portugueses são mais significativas. Desde o início do ano, o Stoxx Europe Football (um índice que reúne as cotações de 22 clubes europeus, entre eles Benfica, FC Porto e Sporting) caiu 35%. Se olharmos para os três “grandes” nacionais, as quebras são piores, à excepção do Sporting, cujo “papel” iniciou o ano a 69 cêntimos e “só” caiu 30%, contra 52% no Benfica e 44% no FC Porto.

Um facto curioso é que, salvo raras excepções (ver infografia), os resultados desportivos não têm influenciado o desempenho na bolsa. “A evolução das acções da FC Porto SAD não apresenta um comportamento economicamente racional”, queixa-se a SAD portista no último relatório anual, sublinhando que, apesar de ter lucros há cinco anos seguidos e bons resultados desportivos, a “cotação das acções tem vindo a diminuir progressivamente desde 2003-04.”

António Samagaio apresenta uma explicação, que vale para o FC Porto e para as outras SAD: a forma como são geridas estas sociedades, que acumulam quase 270 milhões de euros de prejuízos desde a sua criação.

“Se olharmos para o modelo de gestão das SAD, o que temos visto é que há uma primazia do desportivo em relação ao financeiro. O que interessa é ganhar campeonatos, mesmo que isso tenha reflexos nos resultados financeiros”, aponta Samagaio, para quem esta política está bem evidente na forma como os administradores são remunerados.

“No relatório e contas de 2009-10 do FC Porto, em que toda a administração é paga, diz-se claramente que a remuneração variável dos administradores não tem em vista o desempenho a longo prazo da empresa. O que interessa é vencer, mesmo que isso hipoteque o futuro”, salienta este professor no ISEG.

Dan Jones, chefe de negócios da área de desporto da Deloitte, aponta “duas razões para os clubes não se darem bem com as bolsas”. “Uma é que os mercados de capitais impõem regras que muitas vezes são difíceis de cumprir pelos clubes. Por exemplo, quando se negoceia a transferência de um jogador, o clube quer tratar disso rapidamente e não estar a comunicar que está em negociações”, diz, prosseguindo: “A segunda razão é que não são bons a pagar dividendos e a fazer lucros, coisas que os accionistas querem quando investem.”

E, de facto, FC Porto, Sporting e Benfica nunca distribuíram dividendos, além de a quebra quase contínua das acções também não permitir muitas oportunidades para gerar mais-valias, vendendo a melhor preço do que se comprou. “Os investidores estão dispostos a comprar se tiverem dividendos ou um ganho potencial”, diz António Samagaio, para quem a melhor prova de que as SAD não são um bom investimento é o facto de muitos dos administradores não terem acções ou deterem montantes reduzidos.

Gostam tanto do clube, mas eles próprios não investem. Parece que não acreditam no sucesso financeiro destas sociedades”, argumenta o professor no ISEG.

Na SAD portista, Pinto da Costa detém 165.670 acções (1,1%), enquanto Reinaldo Teles tem somente 9850 acções (0,07%). Os restantes administradores (Adelino Caldeira, Angelino Ferreira e Jaime Lopes) não têm acções.

No Benfica, Luís Filipe Vieira detém 850.000 acções (3,7%), enquanto Rui Costa tem apenas 10.000 (0,04%), Rui Cunha 500 e Rui Gomes da Silva 100. Domingos Soares Oliveira não detém qualquer acção.

No Sporting, Godinho Lopes tem só 322 acções (0,001%) e Luís Duque 100. José Filipe Nobre Guedes, o administrador financeiro, não tem qualquer uma, tal como os homólogos do Benfica e FC Porto.


Chegados a este ponto, a pergunta que se coloca é se os clubes devem (ou querem) manter-se na bolsa. Nenhum dos administradores das SAD esteve disponível para responder ao PÚBLICO.

Em Inglaterra, vários emblemas (como Manchester United e Chelsea) deixaram os mercados quando foram comprados por investidores estrangeiros, mas em Portugal ainda não se chegou a esse ponto.

Os “grandes” portugueses estão agora um pouco entre a espada e a parede. Se continuarem cotados, a tendência é de continuar a perder – basta dizer que as acções do Braga (que estão no mercado sem cotação, uma espécie de segunda divisão) valem somente dez cêntimos. Mas sair também não é fácil, porque teriam de comprar as acções que estão dispersas, o que implicaria um investimento importante, numa altura em que não têm liquidez. Fontes do sector explicaram ainda ao PÚBLICO que uma saída de bolsa dificultaria o acesso a alguns mecanismos de financiamento, como empréstimos obrigacionistas e emissão de papel comercial. A resposta parece ser esperar para ver...

Fonte: PUBLICO

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Acções das SAD's em queda livre


O texto seguinte foi extraído de um artigo do Jornal de Negócios.

«Quando o Sport Lisboa e Benfica se estreou em campo na temporada de futebol do ano passado, as acções em bolsa estavam a negociar nos 2,5 euros. Um ano depois, um dia antes da estreia na época 2011/2012, os títulos acumulam uma perda de mais de metade desse valor, nos 1,03 euros.

A desvalorização de 59% desde Agosto de 2010 dos encarnados é a maior entre os três grandes do futebol nacional, mas nem o Futebol Clube do Porto (FCP) nem o Sporting Clube de Portugal (SCP) evitaram perdas superiores a 30% no período de um ano.

Esta semana, a 9 de Agosto, as acções da SAD liderada por Luís Filipe Vieira desceram para um mínimo histórico, nos 0,92 euros. Desde que está em bolsa, os títulos nunca tinham deslizado abaixo da "barreira" de 1 euro. A queda seguiu-se às dúvidas relativas à venda do guarda-redes Roberto ao Saragoça por 8,6 milhões de euros, que levaram até à suspensão das suas acções. Aliás, Roberto foi um dos protagonistas de uma temporada que não correu bem à equipa da Luz. O colectivo teve de se contentar com um segundo lugar e ficou sem dois dos jogadores de maior destaque no plantel. David Luiz viajou para o Chelsea por 25 milhões de euros (na época de transferências de Janeiro) e Fábio Coentrão passou para os quadros do Real Madrid, numa transferência de 30 milhões de euros (em Julho).

O Porto começa a época com um novo treinador - Vítor Pereira, após a saída de André Villas Boas -, com a participação garantida na Liga dos Campeões e com o título de campeão nacional. Mas, na bolsa, o desempenho não corre tão bem.
A 13 de Agosto de 2010, quando a bola começou a rolar na liga de futebol que viria a ganhar, as acções do FCP estavam nos 1,03 euros. Ontem, encerraram a sessão nos 0,7 euros. Uma perda de 32% num período de 12 meses. E, à semelhança do SLB e de várias cotadas na bolsa nacional, também a SAD liderada por Pinto da Costa registou um custo por acção que nunca tinha marcado nas últimas semanas. A 21 de Julho, as acções azuis e brancas caíram para 0,65 euros.

Por sua vez, o SCP terminou ontem nos 0,67 euros. Há um ano, cotava nos 1,10 euros. Cada acção cedeu 39% num ano. A temporada 2010/2011 foi difícil para os leões e as acções sofreram as consequências.
Em Março, Godinho Lopes assumiu a presidência da SAD, em substituição de José Eduardo Bettencourt, mas foi incapaz de evitar um deslize, em Maio, para os 0,51 euros, um mínimo histórico da cotada.
Contudo, com o anúncio da chegada de Domingos Paciência à liderança do colectivo, vindo de um Braga prometedor, as acções têm recuperado. Desde o fim da temporada passada, a 14 de Maio, as acções já subiram quase 20%.

Apesar de ter registado a maior desvalorização desde Agosto de 2010, o Benfica continua a ser o campeão em termos de capitalização bolsista. Com as cotações de fecho de ontem, os encarnados têm um valor de mercado de 15,45 milhões de euros. Os dragões seguem, neste aspecto, no segundo lugar, com 14,07 milhões de euros, ao passo que o Sporting apresenta uma capitalização em bolsa de 10,5 milhões de euros.
Já se analisarmos a média de transacções de acções dos últimos seis meses, o Porto ocupa o primeiro lugar do pódio, embora com uma magra diferença. Transaccionaram, em média, 1.771 acções por sessão, enquanto trocaram de mãos 1.766 títulos do SLB. Os leões apresentam-se distantes, com um volume de 788 acções por dia.»
in www.jornaldenegocios.pt


A capitalização bolsista da FC Porto SAD é inferior ao que o Chelsea pagou para contratar André Villas-Boas e equivale a 1/3 da cláusula de rescisão de Radamel Falcao!

Sinceramente, perante o desempenho bolsista que tiveram desde que entraram em Bolsa (não estamos a falar apenas dos últimos 12 meses), faz algum sentido que as SAD's dos três grandes estejam cotadas na Bolsa?

Nota: Os destaques no texto a negrito são da minha responsabilidade.

sábado, 4 de junho de 2011

Juros de 8%

«Andamos há mais de um ano a dizer que “a culpa é dos mercados”. Mas quando podemos, portamo-nos como eles. Exigir 8% para comprar obrigações do Porto é especulação?

Este exemplo do Porto é claro para compreender o que são, afinal, “os mercados”. Ontem, o Porto comemorou 13 anos de cotação em Bolsa. Se as ações tivessem o desempenho da equipa de futebol, os acionistas da Porto SAD estavam hoje a passear de jato privado com o Cristiano Ronaldo. Mas se as ações (isto é, capital próprio) dão pouco, as obrigações (ou seja, capital alheio) dão muito. 8% ao ano é o dobro do que estão a pagar neste momento os melhores depósitos a prazo. E porquê? Porque o risco das obrigações do Porto é superior ao risco dos depósitos. Diz quem? Dizem os mercados.

A colocação de obrigações feita ontem pelo Porto foi um sucesso: para uma oferta de 10 milhões de euros houve procura de quase 100 milhões, o que levou a um rateio de 10 vezes. No total, houve quase três mil investidores que se inscreveram para comprar estas obrigações, ou seja, que emprestaram dinheiro ao Porto a três anos, por 8% ao ano. (Bom, 8% brutos, o que dá 6,37% de rentabilidade líquida, pois o Estado também quer o seu quinhão).

Quando Portugal passou a pagar mais de 7% por títulos de dívida pública, tornou-se óbvio que a situação era insustentável. Então, muitos disseram que os mercados estavam a especular “contra” Portugal (e muitos estavam mesmo), o que era uma ignomínia. Mas esta colocação do Porto mostra que a SAD teve de pagar 8% para atrair os investidores, a maioria dos quais é portuguesa. Ou seja, os credores, investidores, especuladores – escolha você mesmo o termo – somos nós. Nós somos os mercados. E o Futebol Clube do Porto não se queixou. Nem um bocadinho.»
Pedro Guerreiro
in Record, 03/06/2011



Para além de benfiquista e cronista do Record, Pedro Guerreiro é também director do Jornal Negócios e, quando centra as suas crónicas na economia, diz coisas com algum interesse.

A questão mais relevante é perceber porque razão a FC Porto SAD teve de se comprometer a pagar juros de 8% ao ano.

A resposta parece-me óbvia. Se a FC Porto SAD fosse financiar-se à Banca teria de pagar um juro superior ou, pior ainda, nesta altura a Banca portuguesa não estava em condições de emprestar os 10 milhões de euros que a SAD portista precisa para financiar a sua actividade corrente.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

As SADs e a Bolsa


Anteontem, as acções da FC Porto Futebol SAD desvalorizaram 39,52%, fechando a sessão a valer 0,75 euros.
Ontem, no último dia da semana, as acções da sociedade desportiva portista valorizaram 66,67%, valendo agora 1,25 euros.
Este tipo de variações não fazem qualquer sentido.
Aliás, cada vez é mais notório que faz muito pouco sentido as acções das sociedades desportivas portuguesas estarem cotadas em bolsa.