Era domingo - algures no início dos anos 90, não havia jornais desportivos diários e por ser domingo só havia o Record.
Era domingo e dia de jogo grande nas Antas: FC Porto - lagartos.
Era domingo e o jogo era à tarde, mas o pessoal tinha de ir para o estádio cedo para arranjar um bom lugar, e por isso dava jeito levar um jornal para ajudar a passar o tempo.
E como era domingo levava-se o Record, e nesse domingo a capa do Record era um tal de Ivkovic a dizer: "Sei como o Geraldão marca os livres".
Coisa que já tinha dito n vezes ao longo da semana, ele era "Eu estudei a forma como o Geraldão marca os livres, sei perfeitamente como ele faz aquilo, é sempre igual", ou "O Geraldão tem tido alguma sorte, isso não dura para sempre e, quando se conhece os truques das pessoas, as coisas ficam mais difíceis "
5 ou 10 minutos de jogo, mais minuto menos minuto, e alguém saca uma falta ali numa zona relativamente longe da área (uns 30-35 metros). Um tal de Geraldão pega na bola, posiciona-a e aí vai milho. O gajo que sabia como o Geraldão marcava os livres, seguiu-a com o olhar, e depois foi recolhê-la para que, a redondinha, fosse para o centro do terreno.
E vi pela primeira vez nas Antas uma coreografia espontânea: milhares de Records no ar, e uma pergunta a sair de milhares de bocas: "Então! Não sabias como o Geraldão marcava os livres?"
(que saudades daqueles livres)