Por José Maria Montenegro
Isto de um treinador não querer treinar o Porto e preferir o Watford, por muitos desmentidos que se publiquem, é embaraçoso e merece reflexão.
O Porto pode já não ser suficientemente sedutor desportiva e financeiramente. Pode-se dizer que fica exposta, com uma eloquência penosa, a fragilidade da estrutura, tal como a vêem de fora. E sobretudo poder-se-á alegar que é indisfarçável a desorientação de uma administração que, em gritante contraste com um passado recente, já não convence quem convida.
Mas - tenham lá paciência - também não fica bem aos treinadores desta vida que se prestam à nega a um clube como o Porto. Com todo o respeito pelos Watfords, pelas Premier Leagues, e pelo dinheiro, nunca é um marco (não forcei a palavra) na carreira de um treinador de 40 anos ter dito não ao Porto. Um "não" para poder estar à frente de uma equipa que luta por não descer de divisão e que augura celebrar um "campeonato tranquilo". Seja essa equipa de que país for. É que para mais - convém lembrá-lo - nesses campeonatos tão sedutores e com tão generosas remunerações há muito poucos clubes com presenças assíduas na Champions League, com apuramentos mais ou menos regulares para os oitavos de final da Champions, que conquistam ou que lutam todos os anos pelo título de campeão. E já não falo do currículo europeu (nesses campeonatos dourados não são mais que 2, e às vezes nem isso, os clubes que tem semelhante folha de glória). Cada uma dessas negas ao Porto é no fundo expressão de impotência, de medo ou de parca ambição.
A mim interessa-me o Porto. É com o Porto que me preocupo. Tenho a certeza que regressaremos. Não saberei quando. Mas talvez seja mais cedo do que a razão sugere. Afinal foi contra todas as probabilidades, contra essa mesma razão, que conquistámos e nos fizemos maiores que esses ricos e sedutores. E é com cada uma dessas negas que o nosso regresso será mais saboroso.
Nota: o Reflexão Portista agradece ao José Maria Montenegro a elaboração deste artigo.