"Depois do 25 de Abril, era natural ter reuniões no Porto com administradores de bancos e de companhias de seguros. O próprio BPI e BCP, que nasceram na CCDR-Norte, já não têm a administração no Porto. Hoje em dia, um jovem quadro da banca que esteja no Porto está sem perspectivas de evoluir na carreira."
"Há cerca de uma década, o PIB per capita da Galiza e do Norte de Portugal era idêntico e agora a diferença é superior a 40%. A grande diferença entre as duas regiões ibéricas reside na organização do respectivo sistema político."
"Se imaginássemos que os Estados centrais implodiam, a Galiza e o Norte de Portugal formam claramente um país, partilhando características muito próprias."
Estas três frases foram proferidas por José Silva Peneda, ex-ministro de Cavaco Silva, ex-eurodeputado do PSD e presidente do Conselho Económico e Social, numa entrevista publicada pelo JN em 19 de Dezembro passado.
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O governo português e o Turismo de Portugal não estão interessados nisso? Admito que não, mas para que servem a CCDR-N e os deputados eleitos pelos distritos do Porto, Braga, Viana do Castelo, Vila Real e Bragança?
E o desporto?
Na aproximação à Galiza o FC Porto já deu um pequeno passo, quando organizou uma edição do Dragon Force na localidade galega de Redondela, província de Pontevedra, entre os dias 20 e 24 de Julho de 2009. Isto para além do actual treinador da equipa sénior de basquetebol - Moncho López - ser galego (natural de Ferrol), o que pode potenciar algum intercâmbio transfronteiriço ao nível desta modalidade.
Também existe (existiu?) uma Copa Gallaecia de selecções de futebol jovens, cuja 2ª edição foi realizada em 2007 envolvendo selecções das Associações de Braga, Porto, Bragança, Viana do Castelo, Vila Real, Coruña, Ferrol, Lugo, Ourense, Pontevedra, Santiago e Vigo. Contudo, foi uma iniciativa com pouca ou nenhuma visibilidade e, por isso, sem qualquer impacto público.
Ora, como fenómeno de massas, o futebol é um meio privilegiado que poderia ser usado no aprofundamento da integração entre o Norte e a Galiza, mas para isso seria necessário envolver os principais clubes desta Euro-região. Nesse sentido, o Eixo Atlântico seria a entidade ideal para dinamizar a organização de um Torneio de Verão que juntasse clubes como o FC Porto, Braga, Vitória Guimarães, Gil Vicente, Chaves, Deportivo Corunha, Celta Vigo, Santiago Compostela, Pontevedra entre outros, com edições anuais a serem realizadas, alternadamente, no Norte de Portugal e na Galiza. Para além dos municípios dos clubes envolvidos, estou convencido que não seria difícil arranjar patrocinadores dos dois lados da fronteira, bem como descontos da hotelaria (com preços mais favoráveis para os adeptos) e, para uma maior divulgação, contar também com o apoio da comunicação social local e regional (TV Galicia, Porto Canal, Jornal de Notícias, Faro de Vigo, Diário do Minho, etc.).
A aproximação à Galiza, por si só, resolve o problema deste centralismo sufocante da capital que está a abafar o país? Não, mas a luta contra o centralismo é uma “guerra” de muitas “batalhas”, que só poderá ser vencida se a população e os principais actores da região se unirem nesta luta. A propósito do vergonhoso caso Red Bull Air Race, um participante galego escreveu o seguinte no Fórum Gallaecia:
"Dende a Crunha quero mandar un conselho... a loita polo proprio comeza nas pequenas victorias que um mesmo pode acadar para o país. Mostrar um descontento a nível social grande pode fazer recuar a Lisboa, e mesmo o político de turno. Forza!"
Haja líderes no Norte, políticos, empresários, académicos, agentes culturais, etc., que tenham visão estratégica e queiram travar esta "guerra", que eu estou convencido que não faltarão "soldados" para engrossar as fileiras.
P.S.1 Gallaecia ou Callaecia era o nome de uma província romana que abrangia o território do noroeste peninsular e que corresponde, aproximadamente, às actuais regiões da Galiza, Asturias (parte Oeste) e Norte de Portugal. Gallaecia vem do nome Kallaico referente a uma tribo que vivia nas margens do rio Douro - os calaicos - que prestavam culto a Cal-Leach. Em 137 a.C., depois de ter derrotado os lusitanos (e da morte de Viriato), Decimus Junius Brutus venceu a batalha do Douro e avançou, de Sul para Norte, para a conquista daquilo que viria a ser designado pelos romanos por Gallaecia (um ano depois o Senado romano concedeu-lhe o título de Callaicus, "o calaico"). Ao contrário do que os manuais escolares nos querem fazer crer, o povo originário de Portugal não é (apenas) os lusitanos e não foi concerteza por acaso que os romanos decidiram separar a Gallaecia das restantes regiões da Hispânia, incluindo da Lusitânia.
P.S.2 Um vídeo sobre a Gallaecia e a herança Celta.
P.S.3 Penso que seria escusado dizê-lo, mas mais uma vez repito que nada me move contra os "alfacinhas". O cancro que suga o país e que é preciso combater não é Lisboa, mas sim o centralismo, em que muitos dos seus protagonistas (Cavaco Silva, Durão Barroso, José Sócrates, João Cravinho, Pacheco Pereira...) nem sequer são lisboetas de origem.