Mostrar mensagens com a etiqueta Fundos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Fundos. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Entrada de investidores nas SAD

A ausência dos fundos é um problema para os clubes do Sul da Europa

Estamos no advento da entrada dos investidores nas SAD

Se os acionistas não forem capazes de suprir essas necessidades [de financiamento], terão de ser os investidores externos a fazê-lo

teremos de recorrer à entrada de investidores estrangeiros, que só seria evitável se as sociedades [SAD’s] fizessem um programa de ajustamento e viessem para um nível [de financiamento] mais baixo

Se os clubes tiverem de abrir o capital a investidores, eles vão definir as regras do jogo

Por que saiu do F. C. Porto?
Já disse em tempos o que tinha a dizer. Foram divergências de gestão na sociedade que determinaram o meu afastamento da SAD depois de 23 anos


Angelino Ferreira (fonte: JN, 26-12-2014)

Este conjunto de afirmações de Angelino Ferreira foram extraídas de uma entrevista de duas páginas, publicada no JN no dia 26 de Dezembro e, talvez por isso, tenha passado quase despercebida (foi muito pouco comentada).
Mas, penso que são afirmações que justificam alguma reflexão.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Partilha de risco

O futebol é uma atividade de (elevado) risco, em que o sucesso de um futebolista num clube de topo, como é o caso do FC Porto, depende de variadíssimos factores.
Um desses factores, que é crítico, são as lesões.

Esta época, tivemos três exemplos de jogadores jovens que, à partida, pareciam ter tudo para darem o grande salto nas suas carreiras e, afinal, têm passado o tempo quase todo lesionados ou a recuperar de lesões.

Gonçalo Paciência (fonte: O JOGO, 09-09-2014)

Mikel (fonte: O JOGO, 05-01-2015)

Otávio (fonte: O JOGO, 06-01-2015)

Sou dos que penso que o recurso aos Fundos foi (é) fundamental para a competitividade das equipas portuguesas a nível europeu (o caso do SC Braga é o exemplo mais flagrante).

E uma das razões que me levam a ser favorável ao recurso aos Fundos (mediante regras claras) é precisamente a partilha do risco.

Porque investir, à cabeça, 8, 10 ou 15 milhões de euros no passe de um jogador, além de ser um investimento muito grande para uma SAD de um clube português, tem de ter retorno e não pode ficar demasiado sujeito a fatores imponderáveis, como é o caso das lesões.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

A luta do Sporting pela “transparência”

«Presidente do Banco Espírito Santo Angola (BESA), Álvaro Sobrinho, tem 18 milhões congelados em vários processos e foi na tarde de ontem constituído arguido num processo que envolve suspeitas de burla ao estado angolano.
O gestor foi interrogado no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, pelo juiz Carlos Alexandre, e será suspeito do crime de branqueamento de capitais
DN, 16 novembro 2011


«Escreve hoje o Expresso que o BES Angola (BESA) não sabe a quem emprestou 5.7 mil milhões de dólares. A administração atual acredita que 745 milhões foram parar às mãos de Álvaro Sobrinho, presidente do banco até 2012. Dinheiro serviu para negócios da sua família e parte chegou a Portugal para financiar o jornal Sol.»
DN, 07 junho 2014


Pelos vistos, há fortes indícios que dinheiro emprestado pelo BES ao BESA, tenha ido parar às mãos de Álvaro Sobrinho, que foi o presidente do BESA entre 2000 e 2012.
E, pelos vistos, há suspeitas que parte desse dinheiro tenha servido para financiar o jornal Sol.

Mas o que é que o Sporting tem a ver com os dinheiros de Álvaro Sobrinho?

O JOGO, 11-07-2014

«O empresário Álvaro Sobrinho detém quase um terço da SAD leonina. O angolano é o principal investidor e rosto da Holdimo, empresa que reforçou para 29,8% a participação na SAD, que absorveu a Sporting Património e Marketing, S.A., aumentando assim o capital social de 39 milhões para 47 milhões. Depois, com a incorporação do crédito de 20 milhões da Holdimo, o capital social subiu para os 67 milhões de euros, segundo informação comunicada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.

A Holdimo tinha um crédito de 20 milhões resultante de percentagens de direitos económicos de jogadores, que transitaram para a SAD. Mas a sociedade que gere o futebol ‘pagou’ a recuperação dos passes com a emissão de 20 milhões de ações, o que torna a empresa de Sobrinho acionista de referência. As anteriores percentagens de passes de jogadores ficam agora diluídas em ações da sociedade que gere o futebol.»


Infograma de "Os Donos Angolanos de Portugal"

Quantos milhões de euros, Álvaro Sobrinho, através da Holdimo, já injectou no Sporting?
É só fazer as contas…

E de onde veio esse dinheiro?

Se os indícios trazidos a público pela comunicação social forem verdadeiros, é muito provável que parte desse dinheiro tenha saído dos bolsos dos accionistas do BES e, nos próximos meses, venha também a sair dos bolsos dos contribuintes portugueses (veremos o que vai acontecer ao 'Novo Banco').

Mas uma coisa é certa. Um clube que tem este tipo de relação com Álvaro Sobrinho é, sem sombra de dúvidas, o clube certo para pugnar pela transparência dos dinheiros no futebol e combater a nefasta influência dos Fundos…

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Bruno e os “maléficos Fundos”

Bruno de Carvalho (BdC) é um homem frenético, um verdadeiro faz tudo e, notoriamente, alguém com uma ânsia enorme de aparecer.
Ele fala aos jornalistas, dia sim, dia não; ele promove (assina) comunicados oficiais do clube, semana sim, semana não; ele dá conferências de imprensa; ele tem um programa regular na Sporting TV; ele vai ao “Você na TV”, da TVI, para ser entrevistado pela giraça da Cristina Ferreira;
Ele vai para o banco de suplentes (imitando o que o tão criticado Pinto da Costa fazia… há 20 ou 30 anos atrás!)


E, depois de ter sido o representante do Sporting no recente sorteio da fase de grupos da Liga dos Campeões, foi também ele o representante do clube de Alvalade no Soccerex, que decorreu em Manchester.

Ora, precisamente num dos intervalos do Soccerex, BdC falou novamente aos embebecidos jornalistas portugueses para, como sempre, dizer coisas “muito relevantes”:

«Estes eventos são sempre interessantes, há várias temáticas que vão sendo discutidas. Saímos agora de uma abordagem de vários membros do comité executivo da FIFA, com a presença de um vice-presidente, que deram a sua própria visão daquilo que é a FIFA e a sua visão do mundo do futebol, várias temáticas sobre fundos e o seu papel, que quase todos consideram nefasto, no futebol.»

«Achei curioso que, de entre vários exemplos que foram dados, a utilização dos fundos pelo FC Porto foi dada [pelo brasileiro Daniel Cravo Souza, apresentado como sócio de uma Sociedade de Advogados] como um dos grandes exemplos do que não se deve fazer no futebol».

«O mundo do futebol está cada vez mais atento ao que se vai passando em Portugal e ao que considera que é uma distorção da verdade desportiva».


Olha que interessante. Nos últimos anos, ouvi e li imensa gente, desde o presidente da Federação ao ainda presidente da Liga, passando pela generalidade de jornalistas e comentadores desportivos, a defenderem/justificarem a utilização de fundos de investimento por clubes e SAD’s, como meio para contornar a crónica falta de cash-flow e as crescentes limitações no acesso ao crédito bancário.
Aliás, o recurso aos fundos era de tal modo bem visto, que o Sporting e o Benfica criaram os seus próprios fundos de jogadores, em parceria com os “espíritos maus” do antigo BES (a ESAF - Espírito Santo Fundos de Investimento Mobiliário, S.A.).


Mas, como dizia um histórico presidente do Vitória Guimarães, o benfiquista Pimenta Machado, no futebol português o que é verdade hoje é mentira amanhã. Por isso, numa altura em que a Benfica SAD se viu obrigada a recomprar as percentagens dos passes de vários jogadores que tinha no seu Fundo (o Benfica Stars Fund) e, do outro lado da 2ª circular, BdC rasgou o contrato que tinha com a Doyen, o recurso aos fundos, perdão, aos “maléficos fundos”, passou a ser algo que tem de ser fortemente combatido, porque agora “distorce a verdade desportiva”…

Fundos? Depois de terem “enterrado o dragão” na época passada, vejo é cada vez mais gente preocupada com… o renovado plantel portista.

Preparem-se para a campanha que aí vem.


P.S. Atualização…

O JOGO, 11-09-2014

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Proibição da partilha de passes

O JOGO, 10-04-2014
Emanuel Medeiros, ex-presidente-executivo da Associação das Ligas Europeias de Futebol Profissional (cessou funções no final de Março), deu uma entrevista a O JOGO (publicada na edição de 10-04-2014) em que disse o seguinte:

A breve trecho, a inscrição de jogadores para participação nas provas europeias só será possível desde que todos os direitos estejam concentrados no clube ao serviço do qual o jogador milite. A participação de terceiros nos direitos económicos dos atletas será vedada, à semelhança do que já acontece em Inglaterra, França e Polónia. Isso vai provocar impacto, ainda que a FIFA possa seguir um rumo diverso deste. Procurei sensibilizar o presidente da UEFA para que essa proibição não entrasse em vigor de forma imediata e fosse permitido aos clubes de todos os países onde essas práticas existem – e são mais do que aqueles que abertamente o confessam – um período transitório para proceder a ajustamentos desportivos e financeiros.


Se esta intenção da UEFA for mesmo para a frente, a política de contratações e a estratégia de gestão de “ativos” das SAD’s do FC Porto e SL Benfica vai ter de mudar e mudar substancialmente.

E, além de mais arriscado, muito provavelmente será também mais difícil clubes portugueses contratarem (passando a deter desde logo 100% dos passes) jogadores como Luís Fabiano, Lucho, Lisandro López, Anderson, Hulk, James Rodriguez ou Quintero.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

O recurso aos Fundos

O Alcino T. tinha sido nomeado director com o pelouro financeiro do clube, em substituição do anterior responsável, Firmino Guedes, que justificara a demissão com a discórdia relativamente à política de compra dos equipamentos para o futebol. As más-línguas diziam que Firmino se preparava, afinal, para concorrer à presidência da Junta da Freguesia com o fito de um dia chegar à presidência da Autarquia. Dizia-se que era um homem ambicioso.


O novo cargo não era assim tão novo para Alcino, que o conhecia bem porque em tempos estivera ligado à fundação da sociedade, tendo depois passado por várias funções de menor relevo em grupos recreativos locais. Mas, depois da ‘fuga’ (in) esperada de Firmino, o convite surgiu pela mão do Presidente, para o cargo que lá na terra era vulgarmente conhecido por Tesoureiro mas que, na cada vez mais comum terminologia anglo-saxónica, se designa por CFO – Chief Financial Officer. Alcino sentiu orgulho: o seu trabalho de sapa de vários anos fora finalmente reconhecido e recompensado e aceitou, sem pestanejar.

A primeira coisa de que se apercebeu quando iniciou funções foi que a tesouraria apresentava défices crónicos, o custo médio da dívida estava a subir com a escalada dos spreads e que os bancos negavam consecutivamente pedidos de reunião para discussão de crédito. O mundo estava mudado desde o início deste novo século, há uma década, quando Alcino negociou habilmente com a Autarquia e com a Caixa Agrícola um empréstimo para a construção da nova bancada central coberta.


O campeonato desse ano acabaria por se perder para o maior rival, o Águias de Bagaceira, e a Direcção estava empenhada em voltar às vitórias e ao estatuto de campeão logo na época seguinte pelo que iria apostar em reforços para a equipa, necessitando de liquidez para alguns investimentos de vulto. Dito e feito: nas épocas seguintes o clube voltou a vencer e a consolidar a posição de hegemonia no futebol local. Os melhores jogadores foram alvo de forte cobiça de clubes maiores e, para equilibrar as contas, o clube acabou por fazer bons negócios e encaixar umas massas. A maior de todas as transferências foi a do Gavião, um ponta-de-lança estrangeiro, temível para as defesas adversárias, e que molhava a sopa em quase todos os jogos. Foi para o Atlético de Moncorvo, que acordou pagar a cláusula de rescisão e ainda levar o Raúl, um meio campista jovem e com um futuro promissor.

Já passava de meio do mês e Alcino T. esperava ainda vários recebimentos: uma tranche dos direitos de transmissão radiofónica da Rádio Universo, uma prestação do passe do Gavião e ainda uma pequena verba relativa ao passe do Gualdim. Chegou a tranche dos direitos radiofónicos e, de forma avisada, Alcino não utilizou o dinheiro de imediato porque estava à espera dos recebimentos do Atlético de Moncorvo e do Inter de Mirandela. Atrasaram uma semana. Alcino e a sua equipa contactaram o tesoureiro do Inter que lhes disse que tinha havido um problema com o banco mas que enviariam o cheque na semana seguinte. De seguida contactaram o Atlético de Moncorvo que inventou uma série de desculpas, deixando Alcino apreensivo e sem saber quando iriam pagar o que estava acordado contratualmente.

A lista de pagamentos a fornecedores engrossava mas Alcino entendeu reter os pagamentos mais uma ou duas semanas e pagar primeiro os impostos e a segurança social, tendo ficado com pouco dinheiro em caixa. Passou mais uma semana. Chegou o fim do mês e era preciso pagar os ordenados. O Atlético vinha agora dizer que só poderia pagar no mês seguinte. O cerco começava a apertar. O que Alcino precisava era de uma conta caucionada que lhe permitisse uma utilização nesse momento com amortização no prazo de 30 dias. Resolveu então ligar para o Banco Comercial e para o Banco Industrial e expor o problema. O Dr. Fonseca e o Dr. Amaral, abnegados gestores de conta respectivos, que sempre se mostraram solícitos para trabalhar com o clube, mandaram Alcino ir pastar, mas de uma forma extremamente educada. Este percebeu, resignado, que a banca lhe fechou de repente a porta porque o futebol se trata de uma "indústria de risco elevado" e à qual a administração tinha decidido "reduzir a sua exposição".


Surgiu em Alcino a inevitável pergunta: “e agora, onde é que vou buscar o dinheiro?”
Emitir títulos de dívida (e.g empréstimo obrigacionista) é possível, mas a preparação dessa operação demora vários meses. Ligou ainda ao Ludgero, um operacional que subiu a pulso no clube e que já tinha uma boa rede de contactos entre empresários locais e representantes de jogadores. Alcino sabia que alguns deles tinham empresas de objecto social incerto às quais chamavam “Fundos” e que tinham, normalmente, bastante liquidez. Ludgero falou com algumas pessoas e apareceu uma hipótese, que tratou de comunicar a Alcino: vender a um “Fundo” 10% a 20% do passe de um dos melhores jogadores pelo custo de aquisição. “Que oportunistas!”, pensou para si. O clube tinha apostado nos jogadores, trabalhando a sua técnica e colocando-os a jogar, e agora vinham uns tipos dispostos a pagar por eles aquilo que eles tinham custado quando ainda estavam verdes.

Face à proximidade do fim do mês havia claramente duas hipóteses à escolha do responsável pelo pelouro financeiro do clube:


  1. Aceitar o negócio, lançar um edital a comunicar aos sócios e ao mercado, pagar os ordenados no fim do mês e na semana seguinte continuar com a luta.
  2. Não aceitar o negócio, por ser abusivo e lesivo dos interesses da instituição e no fim do mês não pagar os ordenados ao pessoal. Na semana seguinte continuaria a luta, mas teria os atletas, dirigentes e demais colaboradores insatisfeitos, a ligarem-lhe de 5 em 5 minutos a perguntar o que se passa.


Parecia que o dinheiro tinha desaparecido de circulação e que os devedores deixaram de ter capacidade para pagar as suas dívidas. Alcino aprendera da pior forma possível o que é o custo de oportunidade do capital.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A moralidade do FCP e a France2

Quando os jornais e as televisões portuguesas publicam artigos e reportagens sobre o FC Porto, o adepto azul-e-branco raramente espera algo positivo. É uma marca que vem de há muitos anos. A Bola, o Record e até O Jogo têm sido veículos predilectos para muitos interesses que estão por detrás de alguns dos capítulos mais desagradáveis do nosso futebol. A juntar a isso a tendência centralista e especulativa de alguma imprensa mainstream - e a falta de uma resposta à altura da imprensa regional e local, PortoCanal incluído - permitiu criar esse ambiente. Ou seja, para o adepto do FCP, uma má imagem do clube destas fontes vale pouco. Mas e se essa má imagem vem de fora, pensará o mesmo?

O canal francês France2 emitiu uma reportagem fabulosa sobre os podres do futebol mundial.
Uma dessas reportagens de investigação ao nível de programas como o Panorama da BBC - responsável por desmontar a corrupção da FIFA e do COI, por exemplo - e que analiss em detalhe a partir de uma perspectiva local para o espaço global como o futebol é hoje um negócio gerido por figuras perversas e que actuam nas sombras enquanto os adeptos se distraem com os jogos, os títulos, as desilusões. O trabalho jornalístico é de primeiro nível e a reportagem está a ser citada na imprensa de todo o Mundo como mais um exemplo de jornalismo de alto nível. Lamentavelmente para o FC Porto. Depois da emissão desta reportagem a nossa imagem pública internacional está bastante mais afectada.



Durante meia-hora o FC Porto é utilizado como exemplo para explicar como os fundos de investimento controlam hoje jogadores em todo o Mundo e, com eles, aumentam os seus interesses no desenrolar da temporada futebolística. O pretexto é o caso Mangala, internacional francês.
Podiam ter escolhido vários clubes na Europa. O FC Porto não é, de longe, o único que trabalha com fundos. Mas tem-no feito com regularidade e com sucesso nas vendas (aumentando as receitas de rentabilidade dos mesmos fundos e alguma inveja alheia, convenhamos) e o facto de contar com um internacional francês e ser presença regular na Champions League (e no vocabulário habitual do adepto do futebol) torna-o um alvo perfeito.
A reportagem analisa a forma como Mangala chegou ao FC Porto e o seu passe foi, meses depois, vendido a um fundo (33,3%, o mesmo valor de Defour que não entra nestas contas) o Doyen Group. Um fundo que ninguém sabe de quem é e que se dedica a tudo menos ao futebol. Os relvados servem, sobretudo, para a lavagem de dinheiro. Mais ainda, o programa destapa que o FC Porto deu - repito, DEU - 10% da receita de uma futura venda do francês a um grupo também desconhecido que, resulta, pertence a Luciano D´Onofrio, um empresário belga muito conhecido cá no burgo e tão exemplar que a própria FIFA - que não é propriamente flor que se cheire - o baniu de ser um agente oficial. Ora é fácil fazer as contas. Se Mangala sair por 30 milhões do FC Porto, 3 milhões são de Onofrio. Seja essa percentagem uma comissão que não podia ser paga legalmente (o que nos leva à pergunta, porque negoceia o FCP com agentes ilegais e sabendo-o não pode ser isso um eventual delito?), um favor antigo retribuído ou, pura e simplesmente, porque Luciano é um velho amigo de alguns membros da cúpula directiva do clube, o facto é que há 10% de um dos nossos melhores jogadores que não é nosso não porque tenha sido vendido mas sim dado. A um homem que, curiosamente, era o director-desportivo do Liege quando o mesmo jogador foi vendido. A palavra "suborno" poderia ser utilizada? Algum advogado seguramente não teria problemas em demonstra-lo!  Parece-me um dado suficientemente preocupante para alguém, de forma oficial, o venha a esclarecer.

Claro que a reportagem não fica só aqui.
Com imagens do Porto, do Dragão, do Olival, o FC Porto transmite também uma imagem de inflexibilidade que soa claramente a receio de que se descubram coisas que alguém não quer que sejam públicas. A meio de uma entrevista com o próprio jogador - que confessa que nem sequer sabia que 10% seus pertenciam a D´Onofrio e 33% à Doyen - a responsável de comunicação do clube proíbe-o de falar do seu próprio passe e contrato com o jornalista. Ante a sua estupefacção - a do jornalista, claro, porque o Mangala mostra-se obediente como não se esperaria outra coisa - a desculpa é que no FC Porto só os dirigentes falam de negócios. Algo entendível se o jornalista estivesse a pedir ao seu compatriota que comentasse a política de contratações do clube, o salário de um colega ou o valor de um negócio realizado no defeso. Mas a conversa com Mangala era sobre Mangala. E o jogador do FC Porto descobre que está proibido pelo clube para falar de si mesmo. Jogadores como gado podia dizer-se, jogadores como mercadoria como o próprio Mangala confessa. Nada mais.



No decorrer do trabalho fica claro que o FC Porto não comete nenhuma ilegalidade.
O próprio secretário-geral da FIFA, Jerome Valcke, confessa-o. Há demasiados buracos na legislação para poder castigar o clube ou o jogador. É a Doyen e, em maior medida, o próprio D´Onofrio, quem se movem em águas turvas neste negócio (como em tantos outros). Mas basta um pequeno ajuste legal e, de repente, negócios como este (e como tantos outros que fazemos) podem cair num buraco legal perigoso que homens como Platini (que também aparece em cena) poderiam aproveitar para aplicar uma jeitosa suspensão como a que já está a ser colocada em prática com clubes turcos ou em casos que envolvem o Financial Fair Play. Sem cometer nenhum crime legal parece-me evidente que, ao longo de trinta minutos, qualquer espectador deste documentário ficará com uma imagem do FC Porto como um clube que ultrapassa todos os códigos morais e éticos.

Comercializar com fundos, em vez de clubes. Oferecer percentagens de jogadores grátis a empresários que estão banidos pela própria FIFA. Proibir os jogadores de falarem do seu próprio contrato e da sua situação contratual com a imprensa do seu país. Comprar jogadores por inteiro para vendê-los às fatias. Tudo atitudes da SAD que tenho criticado habitualmente aqui e que agora são reflectidas na imprensa internacional com a isenção que sabemos que nunca vamos encontrar em Portugal. O clube que por um lado impressiona pela qualidade das suas vendas - protagonista de duas séries especiais com a Marca - é agora também o clube que desilude pelos seus métodos de compra, venda e as suas amizades perigosas.

Entendo que o FC Porto SAD deva realizar uma operação de charme na imprensa europeia porque reportagens como esta valem tanto para o público europeu como uma vitória contra o Paris Saint-Germain. Vender esta imagem, lá fora, onde se tomam as decisões importantes, é algo que devemos evitar. Que em Lisboa digam o que quiserem, isso já nem nos afecta (nem devia afectar). Que o digam em Paris ou, eventualmente, em Londres, Berlim ou Roma é outra história. Não somos o único clube do Mundo que se move em areias movediças, longe disso. Não somos nem os mais podres, nem os piores, nem os mais "mafiosos", nem os que manobramos amizades mais perigosas e muito menos os que temos o hábito de anunciar que vendemos jogadores que afinal continuam a ser nossos. Nem de longe nem de perto. Temos comunicados relativamente transparentes, temos o hábito de revelar que percentagens temos e a quem (e por quanto) vendemos o que não temos e isso é de louvar. Mas talvez não seja a transparência ou não o problema.

Tal como defende a reportagem - e eu subscrevo - o problema não é legal. É moral. A partir de aí entra a percepção de cada adepto. Pode haver os que entendam que é normal que o FCP tenha esta atitude. Pode haver até os que achem que não só é normal como desejável. Entendo também que exista gente que não gosta mas se resigna. O clube é de todos e a imagem manchada de um clube mancha a todos os seus adeptos. E tudo pela nossa forma de fazer (muitos) negócios. Para mim, a moralidade da gestão do FC Porto em muitos negócios deixa muito que desejar. E não é essa a imagem que eu quero que o Mundo tenha do meu clube quando há tantas coisas boas que podemos reivindicar como a nossa verdadeira imagem de marca.


PS: Para os que sabem francês, aqui podem ver o documentário completo. A parte afecta ao FC Porto arranca ao minuto 33 e prolonga-se até à hora e dois minutos de exibição.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Resolver a questão da co-propriedade

«Se se proibirem totalmente fundos de investimento vai ser uma tragédia, vão matar o futebol português tal como o conhecemos hoje em dia, com a competitividade atual e com a capacidade para formar jogadores», garantiu Mário Figueiredo em declarações exclusivas à Agência Lusa.

Desde que escrevi aqui, na passada semana, sobre a problemática da extinção da co-propriedade, muitas têm sido as vozes que se têm igualmente levantado contra a medida. Alguns por oportunismo, outros por convicção. O que está claro é que a medida não é popular nos países afectados e não há na Europa um caso tão flagrante como o de Portugal e dos seus clubes.

As palavras do actual presidente da Liga são a mais pura verdade.
Significa isso que tem razão? Em parte, porque de certa forma, a necessidade dos clubes portugueses em recorrer de forma constante a este modelo deve-se também à sua péssima gestão financeira da última década. Se os clubes tivessem tido abordagens radicalmente diferentes das que tiveram, a situação não seria tão dramática. O drama é real, ninguém pense o contrário.

Clubes podem desaparecer, clubes podem perder o pouco que têm e mesmo os grandes minguarão, forçosamente, até encontrar forma de se levantar outra vez. Com este modelo permitiu-se que os clubes portugueses tenham ajudado da Liga Sagres a trepar ao quinto posto do ranking UEFA. Com este modelo permitiu-se vencer uma Europe League - com um semi-finalista e um finalista vencido no mesmo ano - mas também as boas performances europeias tanto em Champions League (2009, FC Porto, 2012, SL Benfica) como na Europe League (campanhas de Braga, a épica de 2011 e a semi-final do Sporting no ano passado). Ninguém duvida que as equipas que aí chegaram não o poderiam ter feito se tivessem de arcar com o 100% da ficha salarial mais o 100% dos passes dos seus jogadores. Com as dividas já acumuladas pelas principais instituições do futebol português, esse sobrepeso financeiro o que fará, não se iludam, é acabar com a competitividade desses mesmos clubes contra os rivais europeus.

Mas se Platini e Blatter conseguem aprovar a lei, que podem os clubes fazer?
O projecto está agora em discussão e diz-nos a experiência que demorará sempre um par de anos até ser aplicado. No caso da UEFA a ideia do Fair Play Financeiro, desde a sua divulgação até à sua aplicação, tardou mais de cinco anos enquanto que o 6+5 ainda está em discussão - por envolver a lei comunitária - enquanto que a utilização obrigatória de 6 jogadores de formação nacional no plantel de 25 na Europa (3 do mesmo clube) foi aplicada em três temporadas. Tempo providencial para clubes como o FC Porto adoptarem medidas urgentes a olhar para o futuro.



1) Aposta séria e inequívoca na formação.

É inevitável. O fim da co-propriedade vai impedir que o clube mergulhe em mercados estrangeiros com a mesma regularidade. Não se enganem. Muitas vezes a co-propriedade não é uma eleição nossa mas uma exigência de quem vende. Os empresários e fundos compram jogadores para sacarem lucro e quanto mais tempo detenham parte do passe, melhor. Caso este cenário acabe, o preço dos jogadores subirá porque a margem de lucro, forçosamente, será menor. Um James, a 100%, custará bem mais do que custa a 70%, não tenham dúvidas.
Para evitar esta realidade há que captar jogadores cada vez mais novos e fazê-los parte do nosso sistema de formação, como já fazem o Arsenal e o Barcelona há uma década e que também é uma das ideias por detrás do 6+5 que Platini quer aplicar.



2) Comprar nacional

O mercado português é o que é e um jogador na liga lusa vale sempre menos que um jogador das ligas sul-americanas ou europeias. É lei de mercado. Para poder deter a 100% o passe de um jogador ele tem de ser mais baixo e mais acessível. Lima, quando estava no Belenenses, poderia ter sido do FC Porto por muito menos do que se pagou por Jackson. Não quer dizer que seja melhor, quer dizer que no futuro, quando não exista tanto dinheiro disponível para jogar com os passes, será nesses jogadores que nos temos de focar.

3) Fim dos empréstimos entre clubes da mesma divisão

Uma ideia que esteve perto de se tornar real este Verão e que continua a ser fundamental para garantir que os clubes não possuem planteis de 50 jogadores para depois usá-los para manobras políticas de bastidores e garantem que esses jogadores permanecem nos clubes de origem.


4) Criar um lobby dentro da ECA.

Portugal não é o único país afectado por esta realidade. A co-propriedade envolve clubes sul-americanos mas também clubes do sul da Europa, de Espanha à Turquia, da Grécia a Itália passando por ligas como a romena, sérvia ou croata. É a realidade de uma Europa a duas velocidades.
O FC Porto, um clube com um peso institucional na Europa incomparável em relação aos outros clubes portugueses, deveria procurar dentro da ECA - European Club Association - construir pontes que exijam da FIFA e da UEFA outras medidas que, aplicadas ao mesmo tempo que o fim da co-propriedade, defendam a competitividade de clubes como o nosso. Medidas que podem ser, por exemplo:

- A aplicação definitiva do 6+5.
A UEFA tem encontrado problemas com a União Europeia porque estes entendem que não se podem restringir a cidadãos europeus a actuação em clubes dentro da UE. Mas o que podem é exigir que exista um máximo de 5 jogadores não-europeus no onze titular. Isso permitira que o mercado sul-americano e africano não seja exclusivo de uns poucos e se mantenha uma via livre para clubes como o FCP.

- Acabar com o Marketpool da Champions League e repartir os valores pelas ligas mais prejudicadas.
Actualmente há clubes de Inglaterra e Espanha que, eliminados na fase de grupos, acabam por ganhar quase tanto dinheiro com a Champions como se o FC Porto fosse campeão. Sem o Marketpool ou, pelo menos, desenhado noutros moldes, e esse dinheiro redistribuído os clubes poderiam encontrar um importante balão de oxigénio numa fase de transição. A medida não seria definitiva mas sim um mecanismo de solidariedade.

- Obrigatoriedade por parte da UEFA da venda colectiva de direitos televisivos
Esta medida não só tornaria a distribuição do dinheiro entre os clubes europeus mais equitativa como acabaria com o profundo desequilíbrio entre clubes no espectro nacional como também sucederia o mesmo no espectro europeu. A Bundesliga e a Ligue 1 são o melhor exemplo.

- Obrigatoriedade da UEFA em passar de 6 para 10 os jogadores de formação nacional no plantel europeu
Essa medida, que agora mesmo nos seria prejudicial, no futuro poderia ser uma tábua de salvação. Obrigaria os tubarões europeus a alinhar com 10 jogadores formados no seu país nos seus planteis europeus - que são, no fundo, os seus planteis anuais - e defenderia os melhores jogadores dos vários países europeus de ser alvo de constante cobiça. Se o clube apostasse nos primeiros dois pontos que mencionei e os restantes clubes europeus fossem forçados a fazer o mesmo, os jogadores sul-americanos, africanos, asiáticos ou de outros países da Europa não estariam concentrados numa dúzia de clubes forçosamente.

----------------------------------------------------------------------------------


Com estas medidas - ou metade delas pelo menos - teríamos um clube mais sustentável, mais financeiramente saudável, mais preparado para os desafios do futuro e igual de competitivo.

 É um processo longo, complexo e que acabaria com algumas das políticas de favores em que directivos da SAD têm sido tristemente protagonistas, com um certo compadrio com agentes, fundos e personagens externos à realidade do clube. Não existem gestões perfeitas nem clubes perfeitos mas encontrar um rumo auto-sustentável, com olhos para o depois de amanhã, seria uma jogada importante por parte da directiva e um sinal de que no Dragão há quem consiga ver para lá do imediato.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Estrangular o futebol dos pequenos

A FIFA revelou nesta sexta-feira que o comité do organismo para o futebol, liderado por Michel Platini, presidente da UEFA, solicitou “a criação de regulamentos que proíbam a propriedade por parte de terceiros” dos passes dos jogadores.

Esta notícia vinha publicada na edição online do PÚBLICO de Sábado. E não surpreende ninguém.

Michel Platini é uma figura que divide opiniões como dirigente (menos como futebolista). É, sobretudo, um excelente político com máscara de figura desportiva. Cresceu ao lado de Sepp Blatter, nesse antro de mafiosos que é a FIFA. Foi o seu homem forte na luta contra Johansson, um dos amigos mais íntimos de Pinto da Costa e da maioria dos homens do G14, e venceu. A partir de então a sua atitude com os clubes que entravam nesse grupo foi fria, distante e tensa em muitos casos. Salvo casos pontuais, como o Barcelona, que se afastaram do modelo original para aproximar-se da sua gestão presidencial, os clubes do G14 tiveram dificuldades com a UEFA nos últimos oito anos. O FC Porto, um dos que mais. Tivemos de sofrer as ameaças do francês, sem nenhum critério legal, e seguramente que Platini não se esquece do que teve de suar para vencer os azuis e brancos na polémica final de Basileia.


A gestão de Platini de devolver o futebol aos adeptos tem tido aspectos positivos.
Na sua luta contra os grandes, apostou num novo formato de Champions League que abre mais a porta à fase final a clubes campeões nacionais dos seus modestos países, ao livrarem-se de disputar o play-off final com os quartos ingleses, espanhóis  alemães e terceiros das ligas portuguesas, italianas ou francesas. Com gestos como esse (e o Euro 2008 e 2012, e as finais europeias que começam a chegar ao leste do continente), assegurou os votos para a reeleição e vendeu a ideia de ser um presidente dos mais fracos. Mas  como negociador nato que é, nunca se afastou em demasia dos países grandes. Não é por acaso que Londres recebe duas finais da Champions em três anos. Que Munique, Madrid, Paris e Moscovo tenham sido eleitas antes. Que os milhões da Champions sejam cada vez mais para cada vez menos e que o dinheiro investido na Europe League - a liga dos pobres - seja cada vez mais insignificante.

Platini quer chegar à FIFA e quer chegar com o apoio dos grandes. Precisa de sentir-se respaldado pela ECA, pela elite do futebol europeu e não apenas pelos clubes de países pequenos e sem expressão mundial. Por isso a nova medida vem apenas confirmar a sua deriva política. Acabar com a co-propriedade, algo que já existe nas ligas inglesa e francesa, é uma estocada de morte na ambição de muitos desses clubes. Os portugueses, por exemplo.

Com a situação actual de mercado, é cada vez mais difícil aos clubes como o FC Porto competirem com os milhões dos históricos do continente e com as novas fortunas do leste. A co-propriedade tornou-se numa ferramenta possível para comprar jogadores incomportáveis a preço total e também para aliviar o passivo quando a necessidade de cash flow se tornava iminente e aparecia um fundo qualquer para comprar uma pequena parte do passe de um jogador promissor. Sem esse mecanismo, não se enganem, não existia futebol profissional em Portugal. E em muitos países do Mediterrâneo. Em Itália a co-propriedade entre clubes é habitual desde os anos 90. Em Espanha, a esmagadora maioria dos clubes não detém o 100% do passe dos seus melhores atletas. Falar da Grécia, Chipre, Turquia, países eslavos e centro-europeus é apenas repetir a mesma história. A co-propriedade permite-lhes manter o pulso sem asfixiar-se (ainda mais) financeiramente. Sem ela, a Superliga europeia torna-se inevitável.

A missão de Platini nos últimos anos como presidente da UEFA é abrir caminho para essa realidade.
Abolir a co-propriedade significa dar aos clubes ingleses, alemães, russos, ucranianos e à elite espanhola, francesa e italiana, o domínio exclusivo e absoluto do futebol europeu. Deixa de haver margem de manobra para qualquer desafio externo. O FC Porto, como tantos outros, desapareceria entre o passivo acumulado e a venda dos seus activos para não acabar. Sem jogadores top não há performances top, não há ameaça, não há vitórias ao PSG, não há gestas como 2004. Não há nada.



Pessoalmente sou contra o modelo da co-propriedade. Absolutamente contra a entrada de fundos e empresários, muitas vezes para lavar dinheiro, no futebol gerido por um clube independente.
Mas também sou contra os salários praticados de forma infame pelos donos da pasta árabes e russos. Também sou contra a Lei Bosman, tal como está actualmente, e sou contra o modelo de distribuição de lucro das provas europeias desenhado pela UEFA.
Ou se é contra tudo ou a favor de tudo. Por um lado, se tudo isto fosse revisto, o futebol voltaria a ser mais igualitário  mais justo, mais divertido. Mas aos grandes isso não lhes interessa nada. O caminho é o oposto, aumentar ainda mais os desafios aos pequenos, roubando-lhes os melhores jogadores sem limite (mesmo que seja para preencher o banco), pagando-lhes fortunas impensáveis, ficando com números impensáveis de pagamentos por parte da UEFA e do império televisivo que vive à sua sombra. Acabar com a co-propriedade é só facilitar que os James, Jackson, Moutinho, Alex Sandro, Fernando, Danilo sejam suplentes do PSG ou do Shaktar em vez de serem jogadores do FC Porto.

É mais um golpe baixo e sujo, mais uma jogada muito bem pensada por parte da elite europeia. A tornar-se real - e ninguém duvida que Platini tem o poder necessário para lográ-lo - poderia ser também o fim do FC Porto como um potentado europeu. E talvez o fim do profissionalismo, tal como o conhecemos, do futebol do sul da Europa. Estejam atentos!

terça-feira, 17 de abril de 2012

Fundos sem fundo II

«Em 4 de Julho de 2010, a Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD emitiu um comunicado para informar que tinha adquirido o passe (direitos de inscrição desportiva) do João Moutinho pelo montante de 11.000.000 € (onze milhões de euros).
Cerca de três meses depois, no dia 15 de Outubro de 2010, a FC Porto SAD enviou um novo comunicado à CMVM para informar o mercado que tinha alienado 37,5% dos direitos económicos do João Moutinho por 4.125.000€ à Mamers B.V.
No dia 3 de Agosto, a SAD portista informou ter readquirido, por 4.000.000€, 22,5% dos direitos económicos do João Moutinho ao Soccer Invest Fund – Fundo Especial de Investimento Mobiliário Fechado, Fundo este ao qual a Mamers B.V. cedeu a sua posição contratual relativamente aos direitos económicos que detinha.»
in Reflexão Portista, 03 de Agosto de 2011



Dos negócios acima descritos, relativamente ao passe do João Moutinho, temos que:
1. Em 4 de Julho de 2010 adquirimos 100% por 11,0 milhões;
2. Em 15 de Outubro de 2010 alienamos 37,5% por 4,125 milhões (100% = 11 milhões);
3. Em 3 de Agosto de 2011 recompramos 22,5% por 4,0 milhões (100% = 17,7(7) milhões);
4. Em Outubro de 2011 alienamos à Mamers BV e em Agosto 2011 adquirimos à Soccer Investment Fund;
5. Até um novo negócio no passe de João Moutinho a FC Porto SAD está a perder 1,525 milhões (adquiriu 22,5% por 4,0 milhões, que ao valor nominal valeriam 2,475 milhões). É verdade que o jogador poderá ter valorizado 6,7(7) milhões entre Outubro de 2010 e Agosto de 2011 dada a extraordinária época realizada pelo próprio e pela equipa. Mas também é verdade que desde Agosto 2011 o seu passe não mais foi negociado pelo que existe para já uma perda contingente. Este negócio só se entende no caso de o FC Porto ter tido uma proposta iminente para vender João Moutinho antes de Agosto 2011 por um valor superior a 17,7(7) milhões por 100% do passe.


«(...) Embora a FC Porto SAD tenha o bom hábito de identificar o nome dos fundos com quem trabalha, quer nos comunicados que envia à CMVM, quer nos relatórios & contas, não é claro quem são as pessoas/empresas que estão por trás desses fundos, nem tão pouco se também mantêm negócios, ou relações contratuais, com clubes concorrentes do FC Porto.»
in Reflexão Portista, 05 de Agosto de 2011


Em 28.02.2012 o jornal PÚBLICO publicou um artigo na sequência de uma investigação aos detentores de percentagens dos passes de jogadores dos três grandes. Esse artigo, entre outras coisas, diz o seguinte:

«Há jogadores do FC Porto que estão parcialmente nas mãos de empresas holandesas, luxemburguesas, inglesas e maltesas. (…) Um dos negócios mais curiosos envolve João Moutinho. O FC Porto comprou o passe do médio ao Sporting em Julho de 2010 por 11 milhões de euros e três meses depois vendeu 37,5% a uma empresa holandesa chamada Mamers B.V, por 4,125 milhões. Segundo os dados obtidos pelo PÚBLICO na base de dados de empresas D&B, esta sociedade é detida por uma fundação (Stiching Mamers), cujos corpos directivos são o empresário português António Fernando Maia Moreira de Sá e o filho Flávio Moreira de Sá. António Moreira de Sá é um empresário do Norte do país com interesses na construção civil e também membro suplente do conselho superior do FC Porto (um órgão consultivo do clube).

O PÚBLICO questionou a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) para saber se existe alguma incompatibilidade, algo a que o órgão regulador respondeu negativamente: "Nessa data, António Fernando Moreira de Sá não integrava os órgãos sociais da Futebol Clube do Porto - Futebol SAD." O PÚBLICO também tentou obter uma explicação do FC Porto (que recusou responder a perguntas) e de António Moreira de Sá, que não se disponibilizou para falar.

As movimentações em torno do passe de João Moutinho, porém, não ficaram por aqui. A dado momento (entre Outubro de 2010 e Agosto de 2011), esses 37,5% dos direitos económicos de Moutinho foram cedidos ao Soccer Invest Fund, um fundo registado na CMVM cujos nomes dos accionistas não são conhecidos publicamente (só o regulador sabe quem são). Este fundo é gerido pela MNF Gestão de Activos, uma empresa que tem entre os seus administradores João Lino de Castro, que à data da venda de Moutinho ao FC Porto era secretário da mesa da assembleia-geral do Sporting e em Setembro de 2010 foi cooptado para a administração da SAD leonina, então presidida por José Eduardo Bettencourt. Em Agosto de 2011, o Soccer Invest Fund vendeu 22,5% do passe de Moutinho ao FC Porto, por 4 milhões de euros, ficando com 15%.

Também aqui a CMVM recusa a existência de qualquer incompatibilidade, até porque "na data em que foi comunicada esta transacção entre o Soccer Invest Fund e a Porto SAD, João Lino de Castro não integrava os órgãos sociais da Sporting SAD." O PÚBLICO também tentou ouvir o ex-administrador leonino, mas não foi possível.
(…)
Percentagens sem dono conhecido
Na análise que fez aos relatórios das sociedades anónimas desportivas (SAD) do Benfica, FC Porto e Sporting e aos comunicados enviados à CMVM, o PÚBLICO deparou-se com algumas dúvidas sobre o paradeiro de partes de passes de jogadores dos três "grandes". É o caso de 5% de Hulk e 10% de James Rodríguez (FC Porto), (…). O FC Porto detinha 90% de Hulk mas no último relatório anual aparece apenas 85%. A explicação é que os restantes 5% terão sido cedidos à empresa Maxtex, embora o clube não comente oficialmente. No caso de James Rodríguez, o FC Porto comprou 70%, depois vendeu 35% e recomprou 30%. Ou seja, deveria ter 65% e não os 55% que constam do relatório.»
PÚBLICO, 28 de Fevereiro de 2012


Como é possível concluir deste excelente trabalho jornalístico do PÚBLICO, transparência e ética são valores que escasseiam nos recentes negócios envolvendo jogadores do FC Porto. Exemplo: um membro do Conselho Consultivo lidera uma empresa (Mamers, BV) que negoceia com a SAD em passes de jogadores.

É também interessante observar que, embora lideradas por portugueses, as empresas com quem a SAD tem desenvolvido mais negócios estão sediadas na Holanda, Malta, Inglaterra ou Antilhas Holandesas.

Nota: Este artigo é acompanhado pela infografia publicada no jornal PÚBLICO e que ilustra o artigo acima citado. Clique na imagem para ampliar.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Fundos sem fundo

No programa ‘Somos Porto’, da passada segunda-feira, quando confrontado com os elevados valores das contratações de Alex Sandro e Danilo, Pinto da Costa respondeu:
É tudo uma questão de oportunidade, de aparecem jogadores com talento que as justifiquem, e de o clube ter capacidade para concretizar estes negócios. É também uma oportunidade relacionada com os parceiros que querem trabalhar connosco. Neste momento temos vários interessados, como um banco brasileiro e vários fundos internacionais. Isso facilita estas transacções. Assim poderemos investir a este nível e, mais tarde, gerar mais-valias.


Historicamente, o FC Porto tem demonstrado ser um clube que consegue valorizar jogadores, tirando partido da “montra” da Liga dos Campeões e do sucesso desportivo que tem obtido interna e externamente. Deste modo, não me surpreende que haja um banco brasileiro – o Banco BMG – e fundos internacionais interessados em parcerias. Aliás, no caso do BMG, a parceria estende-se à construção do museu do FC Porto, a instalar no Estádio do Dragão e cuja inauguração está prevista para Abril de 2012.

A parceria com fundos parece-me uma boa estratégia, principalmente quando estamos a falar de investimentos avultados. Contudo, o meu receio é que, aos poucos, a excepção se transforme em regra e, daqui a uns anos, o clube possa ser uma mera “barriga de aluguer” destes fundos.

Um outro aspecto a levar em conta é a transparência. Embora a FC Porto SAD tenha o bom hábito de identificar o nome dos fundos com quem trabalha, quer nos comunicados que envia à CMVM, quer nos relatórios & contas, não é claro quem são as pessoas/empresas que estão por trás desses fundos, nem tão pouco se também mantêm negócios, ou relações contratuais, com clubes concorrentes do FC Porto. Por exemplo, não seria muito agradável haver pessoas ligadas ao slb, a deterem parte dos passes de jogadores do FC Porto e, dessa maneira, poderem pressionar a sua venda em momentos que não sejam do interesse para o clube.

Em resumo, a parceria com fundos parece-me uma estratégia adequada para um clube como o FC Porto poder contratar determinados jogadores, mas é algo a que se deve recorrer com alguma parcimónia.

P.S. No caso do slb, parece que ainda ninguém sabe qual é o fundo de beneméritos que investiu 99% dos 8,6 milhões que, supostamente, foram pagos pelo Roberto. É a transparência total…

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Compra, alienação e recompra



Em 4 de Julho de 2010, a Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD emitiu um comunicado para informar que tinha adquirido o passe (direitos de inscrição desportiva) do João Moutinho pelo montante de 11.000.000 € (onze milhões de euros).

Cerca de três meses depois, no dia 15 de Outubro de 2010, a FC Porto SAD enviou um novo comunicado à CMVM para informar o mercado que tinha alienado 37,5% dos direitos económicos do João Moutinho por 4.125.000€ à Mamers B.V.

Hoje, dia 3 de Agosto, a SAD portista informou ter readquirido, por 4.000.000€, 22,5% dos direitos económicos do João Moutinho ao Soccer Invest Fund – Fundo Especial de Investimento Mobiliário Fechado, Fundo este ao qual a Mamers B.V. cedeu a sua posição contratual relativamente aos direitos económicos que detinha.

A alienação em Outubro de 37,5% por 4,125 milhões pareceu-me, na altura, fazer sentido (4,125 = 0,375 x 11), atendendo a uma lógica de partilha de risco do elevado investimento efectuado e, possivelmente, de alguma asfixia que pudesse existir na tesouraria azul-e-branca. Contudo, a recompra hoje de 22,5%, praticamente pelo mesmo valor por que foram alienados 37,5% há uns meses atrás, dá que pensar.

Porquê esta operação? Será que a SAD tem indicações fortes de que o Chelsea vai avançar para a compra do Moutinho?
Se for esta razão é uma má notícia.