Blog Widget by LinkWithin
Mostrar mensagens com a etiqueta Vladimir Maiakóvski. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Vladimir Maiakóvski. Mostrar todas as mensagens

2014-04-14

A Esperança - Vladimir Maiakóvski

Injecta sangue
        no meu coração,
        enche-me até o bordo das veias!
Mete-me no crânio pensamentos!
Não vivi até o fim o meu bocado terrestre,
sobre a terra
        não vivi o meu bocado de amor.
Eu era gigante de porte,
        mas para que este tamanho?
Para tal trabalho basta uma polegada.
Com um toco de pena, eu rabiscava papel,
num canto do quarto, encolhido,
como um par de óculos dobrado dentro do estojo.
Mas tudo que quiserdes eu farei de graça:
esfregar,
       lavar,
       escovar,
       flanar,
       montar guarda.
Posso, se vos agradar,
       servir-vos de porteiro.
Há, entre vós, bastante porteiros?
Eu era um tipo alegre,
       mas que fazer da alegria,
quando a dor é um rio sem vau?
Em nossos dias,
       se os dentes vos mostrarem
não é senão para vos morder
       ou dilacerar.
O que quer que aconteça,
       nas aflições,
       pesar...
Chamai-me!
       Um sujeito engraçado pode ser útil.
Eu vos proporei charadas, hipérboles
       e alegorias,
malabares dar-vos-ei
       em versos.
Eu amei...
       mas é melhor não mexer nisso.
Te sentes mal?

(Tradução de Haroldo de Campos)

Vladimir Vladimirovitch Mayakovsky (em russo: Влади́мир Влади́мирович Маяко́вский) Bagdadi, Georgia, 19 de julho de 1893 – Moscovo, 14 de abril de 1930)

Read More...

2012-07-07

O amor - Vladimir Maiakovski

Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
          numa alameda do zoo,
sorridente,
         tal como agora está
         no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
         que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
          que dilaceravam o coração.
Então,
         de todo amor não terminado
seremos pago
         sem enumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
        como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me, 
        nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
        Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
De casamentos, 
concupiscência,
        salários.
Para que, maldizendo os leitos,
        saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
        que o sofrimento degrada, 
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
        - Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
        livre dos nichos das casa.
Para que
        doravante
a família
        seja
o pai,
       pelo menos o Universo;
a mãe,
      pelo menos a Terra.

(1923)

Tradução de Haroldo de Campos

Vladimir Vladimirovitch Mayakovsky (em russo: Влади́мир Влади́мирович Маяко́вский) Bagdadi, Georgia, 7 de julho (calendário juliano) / 19 de julho (calendário gregoriano) de 1893 – Moscovo, 14 de abril de 1930)

Read More...

2011-07-19

Fragmentos 4 - Vladimir Maiakovski


Passa de uma você deve estar na cama
À noite a Via Láctea é um Oka de prata
Não tenho pressa para quê acordar-te
com relâmpago de mais um telegrama
como se diz o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites inútil o apanhado
da mútua do mútua quota de dano
Vê como tudo agora emudeceu
Que tributo de estrelas a noite impôs ao céu
em horas como esta eu me ergo e converso
com os séculos a história do universo


Trad. Augusto de Campos
Vladimir Vladimirovich Mayakovsky (n. 7 de julho (calendário juliano) / 19 de julho (calendário gregoriano) de 1893, em Bagdadi, Geórgia – 14 de abril de 1930

Ler do mesmo autor: Lilitcha! Em lugar de uma carta

Read More...

2010-07-19

Lílitchka! Em lugar de uma carta - Vladimir Maiakóvski

Fumo de tabaco rói o ar.
O quarto —
um capítulo do inferno de Krutchónikh.
Recorda —
atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atónito.
Hoje te sentas,
no coração — aço.
Um dia mais
e me expulsarás,
talvez, com zanga.
No teu hall escuro longamente o braço,
trémulo, se recusa a entrar na manga.
Sairei correndo,
lançarei meu corpo à rua.
Transtornado,
tornado
louco pelo desespero.
Não o consintas,
meu amor, meu bem,
digamos até logo agora.
De qualquer forma
o meu amor
— duro fardo por certo —
pesará sobre ti
onde quer que te encontres.
Deixa que o fel da mágoa ressentida
num último grito estronde.
Quando um boi está morto de trabalho
ele se vai
e se deita na água fria.
Afora o teu amor
para mim
não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
Quando o elefante cansado quer repouso
ele jaz como um rei na areia ardente.
Afora o teu amor
para mim
não há sol,
e eu não sei onde estás e com quem.
Se ela assim torturasse um poeta,
ele
trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.
Amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos — rodopiante carnaval —
dispersarão as folhas dos meus livros...
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?

Deixa-me ao menos
arrelvar numa última carícia
teu passo que se apressa.


Trad. Augusto de Campos

in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim

Дым табачный воздух выел.
Комната -
глава в крученыховском аде.
Вспомни -
за этим окном
впервые
руки твои, исступленный, гладил.
Сегодня сидишь вот,
сердце в железе.
День еще -
выгонишь,
можешь быть, изругав.
В мутной передней долго не влезет
сломанная дрожью рука в рукав.
Выбегу,
тело в улицу брошу я.
Дикий,
обезумлюсь,
отчаяньем иссечась.
Не надо этого,
дорогая,
хорошая,
дай простимся сейчас.
Все равно
любовь моя -
тяжкая гиря ведь -
висит на тебе,
куда ни бежала б.
Дай в последнем крике выреветь
горечь обиженных жалоб.
Если быка трудом уморят -
он уйдет,
разляжется в холодных водах.
Кроме любви твоей,
мне
нету моря,
а у любви твоей и плачем не вымолишь отдых.
Захочет покоя уставший слон -
царственный ляжет в опожаренном песке.
Кроме любви твоей,
мне
нету солнца,
а я и не знаю, где ты и с кем.
Если б так поэта измучила,
он

любимую на деньги б и славу выменял,
а мне
ни один не радостен звон,
кроме звона твоего любимого имени.
И в пролет не брошусь,
и не выпью яда,
и курок не смогу над виском нажать.
Надо мною,
кроме твоего взгляда,
не властно лезвие ни одного ножа.
Завтра забудешь,
что тебя короновал,
что душу цветущую любовью выжег,
и суетных дней взметенный карнавал
растреплет страницы моих книжек...
Слов моих сухие листья ли
заставят остановиться,
жадно дыша?

Дай хоть
последней нежностью выстелить
твой уходящий шаг.



Vladimir Vladimirovich Mayakovsky (n. 7 de julho (calendário juliano) / 19 de julho (calendário gregoriano) de 1893, em Bagdadi, Geórgia – 14 de abril de 1930,

Read More...