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2016-03-22

XLI - Crianças fomos, como tal, tu, louca - Guimarães Passos

Crianças fomos, como tal, tu, louca
de amores foste e eu, louco, te imitava,
então pelos teus olhos eu me olhava
e tu falavas pela minha boca.

E para nós tão cheia se mostrava
a vida que, por certo, havia de oca
ser para os outros; pena que foi, pouca
fosse para quem rindo a desfrutava.

Os anos foram breves como dias;
os dias como as horas foram breves;
esqueçamos passadas fantasias,

que, se eu fui louco, e se tu foste louca,
já por meus olhos hoje vejo e deves
ver que hoje falas pela tua boca.


Sebastião Cícero dos Guimarães Passos nasceu em Maceió, Alagoas, no dia 22 de março de 1867, e faleceu em Paris, no dia 9 de setembro de 1909.

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2014-09-09

Nihil - Guimarães Passos

Sem aos outros mentir, vivi meus dias
desditosos por dias bons tomando,
das pessoas alegres me afastando
e rindo às outras mais do que eu sombrias.

Enganava-me assim, não me enganando;
fiz dos passados males alegrias
do meu presente e das melancolias
sempre gozos futuros fui tirando.

Sem ser amado, fui feliz amante;
imaginei-me bom, culpado sendo;
e se chorava, ria ao mesmo instante.

E tanto tempo fui assim vivendo,
de enganar-me tornei-me tão constante,
que hoje nem creio no que estou dizendo.


Sebastião Cícero dos Guimarães Passos nasceu em Maceió, Alagoas, no dia 22 de março de 1867, e faleceu em Paris, no dia 9 de setembro de 1909.

Ler do mesmo autor, neste blog:
Dilema
Paradoxo
Mea Culpa
...Depois
Pubescência
XLI - Crianças fomos, como tal, tu, louca...

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2014-03-22

DILEMA - Guimarães Passos

Se altivo - ouvirás contra ti mil rumores;
Humilde - qualquer um julgar-te-á seu vassalo;
Rico - servos terás como Sardanapalo;
Pobre - ai! de ti! ver-te-ás cercado de credores.

Se franco - eis a teu lado os vis caluniadores;
Ladino - ao teu encalço eis a lei, a cavalo;
Ama - serás tu só que sofrerás abalo;
Se amado - outro és e não terás amores.

Se só - tu maldirás a tua soledade;
Unido - chorarás a antiga liberdade...
Para seres, enfim, sem sofrer, que te ocorre?

Se alguém, sejas nada, inteligente ou rudo;
Se dos que nada têm; se dos que gozam tudo,
Para teres razão, só tens um meio: morre!



Sebastião Cícero dos Guimarães Passos nasceu em Maceió, Alagoas, no dia 22 de março de 1867, e faleceu em Paris, no dia 9 de setembro de 1909.

Ler do mesmo autor, neste blog:
Paradoxo
Mea Culpa
...Depois
Pubescência
XLI - Crianças fomos, como tal, tu, louca...

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2013-09-09

Paradoxo - Guimarães Passos

Se encontrares alguém no teu caminho,
Que do teu pranto menoscabe, rindo,
Que te ouvindo gemer, teus ais ouvindo,
Quebre na face o rictus do escarninho;

Se encontrares alguém que, descobrindo
No recesso da tua alma íntimo espinho,
Em vez de dar-te fraternal carinho,
Aprofunde-te a dor que estás sentindo;

Não te zangues com ele, não te zangue
O desgraçado riso que lhe vires;
Toca-lhe o peito - poreja sangue;

Toca-o: verás que fementidos modos!
Sonda-o: verás, por tudo que lhe ouvires
Que ele é mais desgraçado que nós todos.


Sebastião Cícero dos Guimarães Passos nasceu em Maceió, Alagoas, no dia 22 de março de 1867, e faleceu em Paris, no dia 9 de setembro de 1909.

Ler do mesmo autor, neste blog:
Mea Culpa
...Depois
Pubescência
XLI - Crianças fomos, como tal, tu, louca...

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2013-03-22

Pubescência - Guimarães Passos


Ei-la! Chega ao jardim, que estava triste,
Porque a sua alegria ausente estava,
E ela, que em vê-lo dantes se alegrava,
Agora a toda a tentação resiste.

Seria outra alma, pensa, que a animava?
Por que um desejo que a persegue insiste?
Qualquer cousa que ignora, mas que existe,
Pulsa-lhe ao coração que não pulsava.

Triste cismando segue, e em frente à fonte:
— Um sátiro, de cuja boca escorre
Um fino fio d'água transparente,

Ri-se dos cornos que lhe vê na fronte,
Os lábios cola aos dele, e porque morre
De sede, bebe alucinadamente...

Sebastião Cícero dos Guimarães Passos (n. em Maceió a 22 de Março de 1867 — m. Paris, 9 de Setembro de 1909).

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2012-03-22

XLI - Crianças fomos, como tal, tu, louca - Guimarães Passos

Crianças fomos, como tal, tu, louca
de amores foste e eu, louco, te imitava,
então pelos teus olhos eu me olhava
e tu falavas pela minha boca.

E para nós tão cheia se mostrava
a vida que, por certo, havia de oca
ser para os outros; pena que foi, pouca
fosse para quem rindo a desfrutava.

Os anos foram breves como dias;
os dias como as horas foram breves;
esqueçamos passadas fantasias,

que, se eu fui louco, e se tu foste louca,
já por meus olhos hoje vejo e deves
ver que hoje falas pela tua boca.

Sebastião Cícero dos Guimarães Passos nasceu em Maceió, Alagoas, no dia 22 de março de 1867, e faleceu em Paris, no dia 9 de setembro de 1909.

Ler do mesmo autor, neste blog:
Mea Culpa
...Depois
Pubescência


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2010-09-09

Mea Culpa - Guimarães Passos

Não é tua alma lírio imaculado;
Que à luz de uns olhos puros se levanta,
Pois não fulgura em teu olhar a santa
Chama, que brilha isenta do pecado.

Se o teu seio palpita apaixonado,
Se a voz do amor nos teus suspiros canta,
Não me ilude o queixume, que à garganta
Quebras, para me ver mais desgraçado!

Eu bem sei quem tu és... Mas, que loucura
Arrasta-me a teus pés como um cativo!
Mostra-me o inferno a aberta sepultura:

E abraçado contigo, ó pecadora!
Eu desço-o tão feliz como se fora
Um justo ao claro céu subindo vivo.

Sebastião Cícero dos Guimarães Passos nasceu em Maceió, Alagoas, no dia 22 de março de 1867, e faleceu em Paris, no dia 9 de setembro de 1909.

Ler do mesmo autor, neste blog:
...Depois
Pubescência

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2009-09-09

...Depois - Guimarães Passos (no centenário da morte do poeta)

Para mim, pouco importa a recompensa
dos meus carinhos, quando te procuro;
dirão que tens um coração tão duro,
que pedra alguma há que em rijeza o vença.

Dirão que a calculada indiferença
com que tu me recebes, é seguro
condão que tens, de todo o meu futuro
trocar, sorrindo, em desventura imensa.

Dirão... Que importa a mim? Dá-me o teu leito.
Dá-me o teu corpo, fecha-me nos braços,
une os lábios aos meus, o peito ao peito,

que eu nem saiba qual seja de nós dois...
Mentem teus beijos? Mentem teus abraços?
Seja tudo mentira... mas depois.

in A Circulatura do Quadrado, Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa, Edições Unicepe

Sebastião Cícero dos Guimarães Passos nasceu em Maceió, Alagoas, no dia 22 de março de 1867, e faleceu em Paris, no dia 9 de setembro de 1909.

Ler do mesmo autor, neste blog: Pubescência

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2008-09-09

Pubescência - Guimarães Passos (na passagem do 99º aniversário da sua morte)


Ei-la! Chega ao jardim, que estava triste,
Porque a sua alegria ausente estava,
E ela, que em vê-lo dantes se alegrava,
Agora a toda a tentação resiste.

Seria outra alma, pensa, que a animava?
Por que um desejo que a persegue insiste?
Qualquer cousa que ignora, mas que existe,
Pulsa-lhe ao coração que não pulsava.

Triste cismando segue, e em frente à fonte:
— Um sátiro, de cuja boca escorre
Um fino fio d'água transparente,

Ri-se dos cornos que lhe vê na fronte,
Os lábios cola aos dele, e porque morre
De sede, bebe alucinadamente...

Sebastião Cícero dos Guimarães Passos (n. em Maceió a 22 de Março de 1867 — m. Paris, 9 de Setembro de 1909).

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