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2016-11-17

Porque o Fim de Um Caminho ... - José Bento


Caminho de Outono imagem daqui

Porque o fim de um caminho sempre me entregou
o limiar de outro caminho,
o verde de um campo ou de um corpo adolescente,
espero que regresse à minha voz
a luz que no primeiro dia a fecundou
e a terra que é o contorno dessa luz.

Porque espero ver crescer minhas mãos dessa terra
e de minhas mãos a água necessária à minha sede,
ergo de mim a noite residual do que vivi
e canto,
canto provocando a madrugada.

Porque outros entoarão meu requiem e outros cerrarão
minha pálpebras para defender meus olhos de suas lágrimas,
deixo essa glória aos outros
- e exalto o meu nascimento
e cada dia em que renasço e procuro
a boca ou o fruto onde se reflitam os meus lábios.

Porque, harmonizando-se no sangue o fogo e a água,
eu sou o fogo e a água:
por mim os cadáveres e quanto é feito de matéria dos cadáveres
libertar-se-ão em chamas, serão claridade
e chegarão a pão pela dádiva das cinzas,
a última dádiva, a total.

Poema extraído de «Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim»

JOSÉ BENTO de Almeida e Silva nasceu no concelho de Estarreja (distrito de Aveiro) a 17 de novembro de 1932.

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2015-08-07

Amanhecer - Rosario Castellanos



Que se faz na hora de morrer? Volta-se

a cara contra a parede?

Agarra-se pelos ombros o que está perto e ouve?

Deita-se cada um a correr, como o que tem

as roupas incendiadas, para chegar ao fim?

Qual é o rito desta cerimónia?

Quem vela a agonia? Quem puxa o lençol?

Quem afasta o espelho por embaciar?

Porque a esta hora não há mãe nem parentes.

Já não há soluço. Nada, mais que um silêncio atroz.

Todos são uma face atenta, incrédula

de homem de outra margem.

Porque o que sucede não é verdade.


Trad. José Bento

in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim

Rosario Castellanos (n. cidade do México, Mexico a 25 de maio de 1925 - m. em Telaviv, Israel, a 7 de agosto de 1974)

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2010-11-17

Temas com Variações I - José Bento

Letras, sílabas,
papel,
a arquitectura
da mão que flui domando-se à palavra
e da pedra que é a fronte debruçada
procurando a grafia do que ainda
desponta sem veemência que se agarre.

Tarefa impura, ambígua: ninguém ouse
ler que este cálamo sangra na mentira.
Violenta lei o incita,
que consagra por ser uma verdade
somente sua, para outros velada;
propõe símbolos mas não revelará
o corpo que reflectem, ou se negam
o que excede sua música volátil

Uma boca modula:
a voz de alguém
ou um eco truncado que mascara
não um rosto mas os ritos de uma era?

Não o que sentes é o único sentido
do que escreves.
Abandonas,
Esqueces este espelho.
Tua imagem?
-Quem o empunhe vem dar-lhe a própria face.
José Bento de Almeida e Silva, nasceu a 17 de Novembro de 1932 na Freguesia de Pardilhó, Concelho de Estarreja.

Ler do mesmo autor, neste blog:
Porque o fim de um caminho
Novembro apagou nas buganvílias

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2009-11-17

Novembro apagou nas buganvílias - José Bento

Buganvílias imagem daqui

Novembro apagou nas buganvílias
seus nomes brancos, roxos,
escarlates.

É mais difícil regressar a casa:
o caminho disfarçou, emudeceu
seu rosto nos muros e nas grades.

- Por onde seguiremos
sem que o outono espesso nos
trespasse?

JOSÉ BENTO de Almeida e Silva nasceu no concelho de Estarreja (distrito de Aveiro) a 17 de Novembro de 1932. É formado em Contabilidade pelo Instituto Comercial de Lisboa e estreou-se como poeta na revista literária «Árvore», em 1953, mas só em 1992 reuniu quase toda a sua obra poética no volume «Silabário». Atingiu notável prestígio como tradutor de poesia castelhana, actividade em que cumpre destacar a publicação de três colectâneas monumentais: «Antologia da Poesia Espanhola do Siglo de Oro» (2 vols), «Antologia da Poesia Espanhola das Origens ao Séc. XIX» (2001) e «Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea» (1985), tendo sido premiado e condecorado tanto em Portugal como em Espanha.

Nota biobibliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

Ler do mesmo autor, neste blog: Porque o fim de um caminho

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2008-11-17

Porque o Fim de Um Caminho ... - José Bento


Caminho de Outono imagem daqui

Porque o fim de um caminho sempre me entregou
o limiar de outro caminho,
o verde de um campo ou de um corpo adolescente,
espero que regresse à minha voz
a luz que no primeiro dia a fecundou
e a terra que é o contorno dessa luz.

Porque espero ver crescer minhas mãos dessa terra
e de minhas mãos a água necessária à minha sede,
ergo de mim a noite residual do que vivi
e canto,
canto provocando a madrugada.

Porque outros entoarão meu requiem e outros cerrarão
minha pálpebras para defender meus olhos de suas lágrimas,
deixo essa glória aos outros
- e exalto o meu nascimento
e cada dia em que renasço e procuro
a boca ou o fruto onde se reflitam os meus lábios.

Porque, harmonizando-se no sangue o fogo e a água,
eu sou o fogo e a água:
por mim os cadáveres e quanto é feito de matéria dos cadáveres
libertar-se-ão em chamas, serão claridade
e chegarão a pão pela dádiva das cinzas,
a última dádiva, a total.

Poema extraído de «Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim»

JOSÉ BENTO de Almeida e Silva nasceu no concelho de Estarreja (distrito de Aveiro) a 17 de Novembro de 1932. É formado em Contabilidade pelo Instituto Comercial de Lisboa e estreou-se como poeta na revista literária «Árvore», em 1953, mas só em 1992 reuniu quase toda a sua obra poética no volume «Silabário». Atingiu notável prestígio como tradutor de poesia castelhana, actividade em que cumpre destacar a publicação de três colectâneas monumentais: «Antologia da Poesia Espanhola do Siglo de Oro» (2 vols), «Antologia da Poesia Espanhola das Origens ao Séc. XIX» (2001) e «Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea» (1985), tendo sido premiado e condecorado tanto em Portugal como em Espanha.

Nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

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