Blog Widget by LinkWithin
Mostrar mensagens com a etiqueta Pedro Homem de Mello. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Pedro Homem de Mello. Mostrar todas as mensagens

2020-03-05

PRECE - Pedro Homem de Mello


Talvez que eu morra na praia
Cercado em pérfido banho
Por toda a espuma da praia
Como um pastor que desmaia
No meio do seu rebanho

Talvez que eu morra na rua
Ínvia por mim de repente
Em noite fria sem lua
Irmão das pedras da rua
Pisadas por toda a gente

Talvez que eu morra entre grades
No meio duma prisão
E que o mundo além das grades
Venha esquecer as saudades
Que roem meu coração

[Talvez que eu morra dum tiro
Castigo de algum desejo
E que à mercê desse tiro
O meu último suspiro
Seja o meu primeiro beijo]

Talvez que eu morra no leito
Onde a morte é natural
As mãos em cruz sobre o peito…
Das mãos de Deus tudo aceito
Mas que morra em Portugal

in Adeus [1951]

Extraído de O Fado da Tua Voz, Amália e os Poetas, Vítor Pavão dos Santos
Bertrand Editora

Read More...

2017-09-06

Oásis - Pedro Homem de Mello




Aquela praia-contraste
Entre a liberdade e a lei
(Aquela praia ignorada!)
Foste tu que ma mostraste
Ou fui eu que a inventei?
Lençol de seda ou de linho?
Lençol de linho bordado?
Deitei-me nele ao comprido...
Lençol de seda ou de linho?
Lençol de espuma comprido...
Lençol de areia queimado!
Ai! aquela praia! Aquela
Que, na minha embriaguez
Manchei sem dó! Fiquei triste
Logo da primeira vez
Em que a vi... Não o sentiste?
Agora, lembro-me dela
Como de um lençol de renda
Rasgado por minha mão...
E fico triste, tão triste!
Todas as praias são brancas
E só aquela é que não!
Moinhos que andais no vento,
Leite que escorres na Lua,
Quero pedir-vos perdão!
Mas é tão grande, tão grande
Ai! é tão grande o contraste
Entre a liberdade e a Lei
Que, às vezes até nem sei
Se aquela praia ignorada
Foste tu que me mostraste
Ou fui eu que a inventei...

in 366 poemas que falam de amor, uma antologia organizada por Vasco da Graça Moura, Quetzal Editores

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de setembro de 1904 - m. Porto, 5 de março de 1984).

Read More...

2016-09-06

Eternidade - Pedro Homem de Mello



Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. no Porto a 6 de setembro de 1904 - m. Porto, 5 de março de 1984).

Read More...

2015-03-05

Não choreis os mortos - Pedro Homem de Mello

Não choreis nunca os mortos, esquecidos
Na funda escuridão das sepulturas.
Deixai crescer, à solta, as ervas duras
Sobre os seus corpos vãos, adormecidos.

E quando, à tarde, o Sol, entre brasidos,
Agonizar…guardai, longe as doçuras
Das vossas orações, calmas e puras,
Para os que vivem, mudos e vencidos.

Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos,
Da multidão sem fim dos que são vivos,
Dos tristes que não podem esquecer.

E, ao meditar, então, na paz da Morte,
Vereis, talvez, como é suave a sorte
Daqueles que deixaram de sofrer.


Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. no Porto a 6 de setembro de 1904 - m. Porto, 5 de março de 1984).

Ler do mesmo autor, neste blog:

Oásis
Bailado
Véspera
Berço
Obrigado
Uma Ânsia de Nudez
Povo que lavas no rio
Fado
Revelação
Miragaia
O Bailador de Fandango
Solidão
Biografia

Read More...

2014-09-06

Oásis - Pedro Homem de Mello, na passagem dos 110 anos do nascimento do poeta portuense

Aquela praia-contraste
Entre a liberdade e a lei
(Aquela praia ignorada!)
Foste tu que ma mostraste
Ou fui eu que a inventei?
Lençol de seda ou de linho?
Lençol de linho bordado?
Deitei-me nele ao comprido...
Lençol de seda ou de linho?
Lençol de espuma comprido...
Lençol de areia queimado!
Ai! aquela praia! Aquela
Que, na minha embriaguez
Manchei sem dó! Fiquei triste
Logo da primeira vez
Em que a vi... Não o sentiste?
Agora, lembro-me dela
Como de um lençol de renda
Rasgado por minha mão...
E fico triste, tão triste!
Todas as praias são brancas
E só aquela é que não!
Moinhos que andais no vento,
Leite que escorres na Lua,
Quero pedir-vos perdão!
Mas é tão grande, tão grande
Ai! é tão grande o contraste
Entre a liberdade e a Lei
Que, às vezes até nem sei
Se aquela praia ignorada
Foste tu que me mostraste
Ou fui eu que a inventei...


in 366 poemas que falam de amor, uma antologia organizada por Vasco da Graça Moura, Quetzal Editores

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de Setembro de 1904 - m. Porto, 5 de Março de 1984).

Read More...

2014-03-05

Oásis - Pedro Homem de Mello (na efeméride dos 30 anos do desaparecimento do poeta)

Aquela praia-contraste
Entre a liberdade e a lei
(Aquela praia ignorada!)
Foste tu que ma mostraste
Ou fui eu que a inventei?
Lençol de seda ou de linho?
Lençol de linho bordado?
Deitei-me nele ao comprido...
Lençol de seda ou de linho?
Lençol de espuma comprido...
Lençol de areia queimado!
Ai! aquela praia! Aquela
Que, na minha embriaguez
Manchei sem dó! Fiquei triste
Logo da primeira vez
Em que a vi... Não o sentiste?
Agora, lembro-me dela
Como de um lençol de renda
Rasgado por minha mão...
E fico triste, tão triste!
Todas as praias são brancas
E só aquela é que não!
Moinhos que andais no vento,
Leite que escorres na Lua,
Quero pedir-vos perdão!
Mas é tão grande, tão grande
Ai! é tão grande o contraste
Entre a liberdade e a Lei
Que, às vezes até nem sei
Se aquela praia ignorada
Foste tu que me mostraste
Ou fui eu que a inventei...

in 366 poemas que falam de amor, uma antologia organizada por Vasco da Graça Moura, Quetzal Editores

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de Setembro de 1904 - m. Porto, 5 de Março de 1984).

Read More...

Musical suggestion of the day: Sei de um rio, de Pedro Homem de Mello, na voz de Camané



Sei de um rio, sei de um rio
Em que as únicas estrelas nele sempre debruçadas
São as luzes da cidade
Sei de um rio, sei de um rio
Onde a própria mentira tem o sabor da verdade
Sei de um rio…
Meu amor dá-me os teus lábios, dá-me os lábios desse rio
Que nasceu na minha sede, mas o sonho continua
E a minha boca até quando ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrando
Sei de um rio, sei de um rio
Meu amor dá-me os teus lábios, dá-me os lábios desse rio
Que nasceu na minha sede, mas o sonho continua
E a minha boca até quando ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrando
Sei de um rio, sei de um rio
Sei de um rio, até quando


Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello, nasceu no Porto, a 6 de Setembro de 1904 — f. Porto, 5 de Março de 1984

Read More...

2013-09-06

Bailado - Pedro Homem de Mello




Quebrada pela cintura
Abre em dois frutos o peito.
E o seu calcanhar procura
A ponta do pé direito.

O vento dá-lhe na cara,
Escondida pelo lenço.
E o luar, que a decepara,
Deixa-lhe o busto suspenso...

Os olhos, como hei-de vê-los,
Se os desejos, menos vãos,
Morrem só por que os cabelos
Nos deixam sombras nas mãos?

Indizível, mas perfeito
Indício de formusura!
Abre em dois frutos o peito,
Quebrada pela cintura...


Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello, nasceu no Porto, a 6 de Setembro de 1904 — f. Porto, 5 de Março de 1984)
 
Ler do mesmo autor, neste blog:
Miragaia
O Bailador de Fandango
Solidão
Biografia
Oásis
Véspera
Berço
Obrigado
Uma Ânsia de Nudez
Povo que lavas no rio
Não choreis os mortos
Revelação

Read More...

2013-03-05

Miragaia - Pedro Homem de Mello

Foto daqui

A Fernando João

Aqui, onde esta noite nunca cessa,
Foi Miragaia a minha Madragoa.
Aqui, em frente ao rio, oiço a promessa
Do mar que ajoelha, enquanto me atordoa.
Aqui, sei onde sangra o lábio oculto.
De quem me vê, até de olhos fechados!
E, como os cegos, reconheço um vulto,
Pelo roçar dos dedos namorados…
Deviam chamar Pedro, em vez de Porto,
Ao burgo, se é tal do meu tamanho!
Aqui
Nasci
Porém nasci já morto,
Imóvel, surdo, triste, mudo, estranho…
Deu-me Deus ele, apenas, por amigo.
Deitamo-nos cismando, lado a lado…
Seu corpo, rijo e nu, dorme comigo,
Mas fico, entre os seus braços, acordado.

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Melo (Porto, 6 de Setembro de 1904 — Porto, 5 de Março de 1984)

Ler do mesmo autor, neste blog:
O Bailador de Fandango
Solidão
Biografia
Oásis
Véspera
Berço
Obrigado
Uma Ânsia de Nudez
Povo que lavas no rio
Não choreis os mortos
Revelação

Read More...

2012-09-06

Véspera - Pedro Homem de Mello




Seríamos dois faunos sobre a praia,
Batidos pelo vento e pelo sal,
Tendo por manto apenas a cambraia
Da espuma
E, por fronteira,
O areal.

Gémeos de corpo e alma,
Ver um era ver o outro:
A mesma voz,
A mesma transparência,
A mesma calma
De búzio, intacto, em cada um de nós!

Felicidade?
Não!
Inconsciência!

E as nossas mãos brincavam com o lume
À beira da impaciência
Ou do ciúme.

in Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, selecção prefácio e notas de Natália Correia, Antígona Frenesi

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de Setembro de 1904 - m. Porto, 5 de Março de 1984).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Solidão
Biografia
Berço
Obrigado
Uma Ânsia de Nudez
Povo que lavas no rio
Fado
Não choreis os mortos
Revelação
Oásis
Véspera
O Bailador de Fandango
Uma Ânsia de Nudez

Read More...

2012-03-05

Fado - Pedro Homem de Mello

Porque é que Adeus me disseste
Ontem e não noutro dia,
Se os beijos que, ontem, me deste
Deixaram a noite fria?

Para quê voltar atrás
A uma esperança perdida?
As horas boas são más
Quando chega a despedida.

Meu coração já não sente.
Sei lá bem se já te vi!
Lembro-me de tanta gente
Que nem me lembro de ti.

Quem és tu que mal existes?
Entre nós, tudo acabou.
Mas pelos meus olhos tristes
Poderás saber quem sou!

in Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade, selecção organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria, Terramar

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de Setembro de 1904 - m. Porto, 5 de Março de 1984).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Oásis
Véspera
Berço
Obrigado
Uma Ânsia de Nudez
Povo que lavas no rio
Não choreis os mortos
Revelação

Read More...

2011-09-06

Biografia - Pedro Homem de Mello


Com lírios nas mãos de neve,
Subi ao último andar
A haver farda, era tão leve
Que fui subindo a cantar!
E fui subindo, subindo…
Só parei no patamar,
Abri portas e janelas
Para poder respirar.
Tudo o que se via delas
Tinha a cor do meu olhar.
Da varanda me inclinei,
Para medir-lhe o tamanho.
Ai! dos vassalos de El-Rei
Aos quais El-Rei fica estranho!
Lá do alto, cá em baixo, o rio
Transformara-se em regato.
Reparei que, debruçadas,
Sobre o seu leito vazio,
Faias, apontando espadas,
Lhe exigiam um retrato.
Soprou, de súbito, o vento!
Varreu a noite a direito,
Rindo... Que risada fria!
Entanto o solar, ao vento,
Erecto, fazendo peito,
Resistia, resistia...
Mas, das brechas do telhado,
Água, sôfrega, escorrera.
E o torreão do solar
- Ameias de pedra ou cera?
Era um pássaro assustado
Sem asas para voar!
Vendo o palácio desnudo,
Mandei chamar mil pedreiros.
Quiseram-me apunhalar
Consigo levaram tudo:
As alfaias, os dinheiros
E até as rosas do altar!
Todavia, de repente,
Serenou. E a Torre tinha
Não só pálpebras de gente
Como a luz do meu olhar.
E na casa, outra vez minha,
Recomecei a cantar
Tonto, cada vez mais tonto,
De pé, aquele solar,
Parando,
De vez em quando
Sem saber até que ponto
Podia a noite voltar!


(Fandangueiro, 1971)
in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de Setembro de 1904 - m. Porto, 5 de Março de 1984).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Oásis
Véspera
Berço
Obrigado
O Bailador de Fandango
Uma Ânsia de Nudez
Povo que lavas no rio
Fado
Não choreis os mortos
Revelação


Read More...

2011-03-05

Solidão - Pedro Homem de Mello

Ó solidão! À noite, quando, estranho,
Vagueio sem destino, pelas ruas,
O mar todo é de pedra... E continuas.
Todo o vento é poeira... E continuas.
A Lua, fria, pesa... E continuas.
Uma hora passa e outra... E continuas.
Nas minhas mãos vazias continuas,
No meu sexo indomável continuas,
Na minha branca insónia continuas,
Paro como quem foge. E continuas.
Chamo por toda a gente. E continuas.
Ninguém me ouve. Ninguém! E continuas.
Invento um verso... E rasgo-o. E continuas.
Eterna, continuas...
Mas sei por fim que sou do teu tamanho!

in "O Rapaz da Camisola Verde"

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de Setembro de 1904 - m. Porto, 5 de Março de 1984).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Oásis
Véspera
Berço
Obrigado
O Bailador de Fandango
Uma Ânsia de Nudez
Povo que lavas no rio
Fado
Não choreis os mortos
Revelação

Read More...

2010-09-06

O Bailador de Fandango - Pedro Homem de Mello

Sua canção fora a Gota.
Sua dança fora o Vira.
Chamavam-lhe "o fandangueiro".
Mas seu nome verdadeiro
Quando bailava, bailava,
Não era nome de cravo,
Nem era nome de rosa.
- Era o de flor, misteriosa,
Que se esfolhava, esfolhava...
E havia um cristal na vista
E havia um cristal no ar
Quando aquele fandanguista
Se demorava a bailar!
E havia um cristal no vento
E havia um cristal no mar.
E havia no pensamento
Uma flor por esfolhar...
Fandangueiro! Fandangueiro?
(Nem sei que nome lhe dar...)
Tinham seus braços erguidos
Não sei que ignotos sentidos...
- Jeitos de Asa pelo ar...
Quando bailava, bailava,
Não era folha de cravo
Nem era folha de rosa.
Era uma flor, misteriosa,
Que se esfolhava, esfolhava...
Domingos Enes Pereira
Do lugar de Montedor...
(O bailador de Fandango
Era aquele bailador!)
Vinham moças de Areosa
Para com ele bailar...
E vinham moças de Afife
Para com ele bailar.
Então as sombras dos corpos,
Como chamas traiçoeiras,
Entrelaçavam-se e a dança
Cobria o chão de fogueiras...

E as sombras formavam sebe...
O movimento as florira...
O sonho, a noite, o desejo...
Ai! belezas de mentira!

E as sombras entrelaçavam-se...
Os corpos, ninguém sabia
Se eram corpos, se eram sombras,
Se era o amor que se escondia...


in Poemas Portugueses, Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI
Selecção, organização, introdução e notas Jorge Reis-Sá e Rui Lage
Prefácio Vasco da Graça Moura; Porto Editora

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de Setembro de 1904 - m. Porto, 5 de Março de 1984).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Oásis
Véspera
Berço
Obrigado
Uma Ânsia de Nudez
Povo que lavas no rio
Fado
Não choreis os mortos
Revelação

Read More...

2010-03-05

Oásis - Pedro Homem de Mello

Aquela praia-contraste
Entre a liberdade e a lei
(Aquela praia ignorada!)
Foste tu que ma mostraste
Ou fui eu que a inventei?
Lençol de seda ou de linho?
Lençol de linho bordado?
Deitei-me nele ao comprido...
Lençol de seda ou de linho?
Lençol de espuma comprido...
Lençol de areia queimado!
Ai! aquela praia! Aquela
Que, na minha embriaguez
Manchei sem dó! Fiquei triste
Logo da primeira vez
Em que a vi... Não o sentiste?
Agora, lembro-me dela
Como de um lençol de renda
Rasgado por minha mão...
E fico triste, tão triste!
Todas as praias são brancas
E só aquela é que não!
Moinhos que andais no vento,
Leite que escorres na Lua,
Quero pedir-vos perdão!
Mas é tão grande, tão grande
Ai! é tão grande o contraste
Entre a liberdade e a Lei
Que, às vezes até nem sei
Se aquela praia ignorada
Foste tu que me mostraste
Ou fui eu que a inventei...


in 366 poemas que falam de amor, uma antologia organizada por Vasco da Graça Moura, Quetzal Editores

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de Setembro de 1904 - m. Porto, 5 de Março de 1984).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Véspera
Berço
Obrigado
Uma Ânsia de Nudez
Povo que lavas no rio
Fado
Não choreis os mortos
Revelação

Read More...

2009-09-06

Véspera - Pedro Homem de Mello


Seríamos dois faunos sobre a praia,
Batidos pelo vento e pelo sal,
Tendo por manto apenas a cambraia
Da espuma
E, por fronteira ,
O areal.

Gémeos de corpo e alma,
Ver um era ver o outro:
A mesma voz,
A mesma transparência,
A mesma calma
De búzio, intacto, em cada um de nós!

Felicidade?
Não!
Inconsciência!

E as nossas mãos brincavam com o lume
À beira da impaciência
Ou do ciúme.

in Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, selecção prefácio e notas de Natália Correia, Antígona Frenesi

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de Setembro de 1904 - m. Porto, 5 de Março de 1984).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Berço
Obrigado
Uma Ânsia de Nudez
Povo que lavas no rio
Fado
Não choreis os mortos
Revelação

Read More...

2008-09-06

Berço - Pedro Homem de Mello

Violetas imagem daqui


Mansa criança brava,
Fui das mais,
Diferente.
Então, tristes, meus pais
Sentiram, certamente,
Em mim, como um castigo!

Noite e dia eu sonhava...
E era sempre comigo!

Depois, fugindo à gente
Eu procurava as flores,
Em todas encontrando
Jeito grácil e brando
De brinquedos e amores...

As violetas sombrias
Dos bosques de Cabanas
Essas, sim! Entendias
E julgava-as humanas!...

In Livro "Estrela Morta"

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de Setembro de 1904 - m. Porto, 5 de Março de 1984).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Uma ansia de nudez
Povo que lavas no rio
Fado
Não choreis os mortos
Revelação

Read More...

2008-03-05

Obrigado - Pedro Homem de Mello

Por teu sorriso anônimo, discreto,
(O meu país é um reino sossegado...)

Pela ausência da carne em teu afeto,
Obrigado!

Pelo perdão que o teu olhar resume,
Por tua formosura sem pecado,
Por teu amor sem ódio e sem ciúme,
Obrigado!

Por no jardim da noite, a horas más,
A tua aparição não ter faltado,
Pelo teu braço de silêncio e paz,
Obrigado!

Por não passar um dia em que eu não diga
— Existo, sem futuro e sem passado.
Por toda a sonolência que me abriga...
Obrigado!

E tu, que hoje és meu íntimo contraste,
Ó mão que beijo por me haver cegado!
Ai! Pelo sonho intato que salvaste,
Obrigado! Obrigado! Obrigado!

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de Setembro de 1904 - m. Porto, 5 de Março de 1984).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Povo que lavas no rio
Fado
Não choreis os mortos
Revelação

Read More...

2007-09-06

Uma Ânsia de Nudez - Pedro Homem de Mello

Starry Night Over the Rhone, Vincent van Gogh, 1888
Oil on canvas, 72.5 × 92 cm, Musée d'Orsay, Paris

Noite. Fundura. A treva
E mais doce talvez...
E uma ânsia de nudez
Sacode os filhos de Eva.

Não a nudez apenas
Dos corpos sofredores
Mas a das almas plenas
De indecisos amores.

A voz do sangue grita
E a das almas responde!
Labareda infinita
Que nas sombras se esconde.

Mas quase sem ruído,
Na carne ao abandono
O hálito do sono
Desce como um vestido...

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de Setembro de 1904 - m. Porto, 5 de Março de 1984).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Povo que lavas no rio
Fado
Não choreis os mortos
Revelação

Read More...

2007-03-05

Pedro Homem de Mello morreu há 23 anos - Povo que lavas no rio

«Poeta de eleição de muitos fadistas, foi através do seu poema "Povo Que Lavas no Rio", cantado por Amália Rodrigues, que alcançou a glória. Formado em Direito, exerceu as funções de advogado, magistrado e professor de liceu. Publicou extensa obra poética, e, como especialista do cantar popular, foi reconhecida a sua intervenção como folclorista. Tornou-se familiar ao público quando apresentou programas sobre folclore na televisão portuguesa» (in RTP Grandes Portugueses)


Povo que lavas no rio
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão
Há-de haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não

Fui ter à mesa redonda
Beber em malga que esconda
Um beijo de mão em mão
Era o vinho que me deste
Água pura em fruto agreste
Mas a tua vida não

Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição
Povo, povo eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso
Mas a tua vida não

Pedro Homem de Mello (n. Porto, 6 de Set 1904, m. 5 Mar 1984)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Fado
Não choreis os mortos
Revelação

Read More...