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2017-07-18

Natal Diferente - Cândido da Velha

Natal Diferente
I

Catedrais de luz erguidas na cidade.
Neve artificial nas montras com brinquedos.
Soa um Cântico antigo no vento da tarde
que arrefece. Em cada rosto, em cada olhar,
um não-sei-quê de pasmo nesta hora de Natal.

Não é serenidade o que se bebe pelas ruas.
Cinzenta é a cor do céu. Decerto vai chover.
No ambiente superficial
representam-se alegrias.
As notícias nos jornais agravam
o cepticismo deste Natal a haver.

Sinto-me vazio. Lasso. Sem vontade.
Uma grande ternura a boiar dentro de mim:
Lástima, piedade, amor pelos humanos?
Mas de que serve comover-me assim?

Vou aceitar este Natal, tal como está.
Com álcool. Com prazer.
Embriagar-me de luz, de sons e de ilusões.
Ser como toda a gente. E possa o mundo arder!

II

Meu Menino Jesus que deves estar no Céu
vem tiritar nas cidades sem calor.
Vem dar realidade a este dia, vem!
— Trinta e três anos e a consciência em flor.
Mas não venhas de fraldas: a Estrela já brilhou.
Traz o corpo macerado, os pulsos perfurados,
uma injúria na boca a quem te adulterou.
Não merecemos mais, acredita. Urgentemente, vem.
Disfarçadamente, para poderes ver
que só no castigo o corpo se dá bem.

Anoitece. A chuva na cidade
quebra um pouco a sofreguidão de amar.
Já pouca gente passa. As luzes no asfalto
espalmam, pouco a pouco, a angústia para o mar.

Vou aceitar este Natal, tal como está.
Com álcool, com prazer.
Embriagar-me de luz, de sons e de ilusões.
Ser como toda a gente. E possa o mundo arder!

in 'Florilégio de Natal'

Cândido Manuel de Oliveira da Velhada nasceu em 18 de julho de 1933 em Ílhavo
Poeta

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2013-07-18

Não é do Poeta o Silêncio - Cândido da Velha (na passagem do 80º aniversário)


1

Não é do Poeta o silêncio
quando as palavras entoam
ecos nas dobras dos ventos

Não é do Poeta calar
que das margens do silêncio
seus passos se ouvem no tempo

2

Sai a frase por dentro
do sofrimento. À superfície
edifica a descoberta
de coisas por dizer

Sai a frase de quem morre
de tanto por se falar

Sai o morto entra a frase
quem a poderá herdar?

3

Sempre o homem se habitua
à paisagem dos seus olhos
sua área de cansaço
quando a semente do sonho
vertical perfura o espaço

Os anos passam. Menor a sujeição
Abre-se a terra: pão e sepultura
— Hão-de os desertos dar fruto

Por cada sonho enterrado
mais desejado é o luto.

(in “Cântico em honra de Miguel Torga”, Ed. Fora do Texto, Coimbra, 1996)

Cândido Manuel de Oliveira da Velha nasceu a 18 de Julho de 1933, em Ílhavo, no distrito de Aveiro,

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