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2016-04-05

À MUSA - Guilherme de Azevedo


À luz das noites serenas
A capela de açucenas
Te envolve em lúcido véu!
Ao meigo clarão da lua
És a imagem que flutua
No puro ambiente do céu!

E os ternos suspiros soltos,
E os teus cabelos revoltos
Ao sabor da viração,
Perpassam brandos na mente
Como as brisas do poente
Na cratera do vulcão!

Ó santa imagem querida,
Como és bela adormecida!
Que mistério em teu palor!
Que doçura no teu canto,
E que perfume tão santo
Nas tuas cismas d'amor!

Deixa cair uma rosa
Da tua fronte mimosa,
Da vida no turvo mar!
Descerra-me o paraíso
Que no teu fugaz sorriso
Nos faz viver e sonhar!

in 'Antologia Poética'

Guilherme Avelino de Azevedo Chaves nasceu em Santarém a 30 de novembro de 1840 e morreu em Paris a 6 de abril de 1882.

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2014-04-06

XLII OS PALHAÇOS - Guilherme de Azevedo

Heróis da gargalhada, ó nobres saltimbancos,
eu gosto de vocês,
porque amo as expansões dos grandes risos francos
e os gestos de entremez,

e prezo, sobretudo, as grandes ironias
das farsas joviais.
que em visagens cruéis, imperturbáveis, frias.
à turba arremessais!

Alegres histriões dos circos e das praças,
ah, sim, gosto de vos ver
nas grandes contorções, a rir, a dizer graças
de o povo enlouquecer,

ungidos pela luta heróica, descambada,
de giz e de carmim,
nas mímicas sem par, heróis da bofetada,
titãs do trampolim!

Correi, subi, voai num turbilhão fantástico
por entre as saudações
da turba que festeja o semideus elástico
nas grandes ascensões,

e no curso veloz, vertiginoso, aéreo,
fazei por disparar
na face trivial do mundo egoísta e sério
a gargalhada alvar!

Depois, mais perto ainda, a voltear no espaço,
pregai-lhe, se podeis,
um pontapé furtivo, ó lívidos palhaços,
luzentes como reis!

Eu rio sempre, ao ver aquela majestade,
os trágicos desdéns
com que nos divertis, cobertos de alvaiade,
a troco duns vinténs!

Mas rio ainda mais dos histriões burgueses,
cobertos de ouropéis,
que tomam neste mundo, em longos entremezes,
a sério os seus papéis.

São eles, almas vãs, consciências rebocadas,
que enfim merecem mais
o comentário atroz das rijas gargalhadas
que às vezes disparais!

Portanto, é rir, é rir, hirsutos, grandes, lestos,
nas cómicas funções,
até fazer morrer, em desmanchados gestos,
de riso as multidões!

E eu, que amo as expansões dos grandes risos francos
e os gestos de entremez,
deixai-me dizer isto, ó nobres saltimbancos:
eu gosto de vocês!

Guilherme Avelino de Azevedo Chaves nasceu em Santarém a 30 de Novembro de 1840 e morreu em Paris a 6 de Abril de 1882.

Do mesmo autor, ler neste blog:

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2011-04-06

Os Sonhos Mortos - Guilherme de Azevedo

imagem daqui

Embora triste a noite, a vagabunda lua
Mais branca do que nunca erguia-se nos céus,
Igual a uma donzela ingénua e toda nua
No leito ajoelhada erguendo a fronte a Deus!

O mar tinha talvez cintilações funestas.
A praia estava fria, as vagas davam ais;
Semelhavam, ao longe, as extensas florestas
Fantasmas ao galope em monstros colossais.

E eu vi num campo imenso, agreste e desolado,
Imerso no fulgor diáfano da luz,
Juncando tristemente o solo ensanguentado
Sinistra multidão de corpos semi-nus!

Tinha a morte cruel, em sua orgia louca,
Deposto em cada fronte um ósculo brutal;
E um irónico riso ainda em muita boca
Se abria, como a flor fantástica do mal!

E eu vi corpos gentis de virgens delicadas
Beijando a fria terra, as mãos hirtas no ar,
Em sagrada nudez!... Cabeças decepadas!...
Em muito peito ainda o sangue a borbulhar!...

E sobre a corrupção das brancas epidermes
Luzentes de luar e d'esplendor dos céus,
Orgulhosos passando os triunfantes vermes,
Da santa formosura os últimos Romeus!

Se tu minha alma livre ainda hoje conservas
Memória das visões que amaste com fervor
Aí as tens agora alimentando as ervas
De novo dando à terra o que ela deu à flor!

São elas! as visões dos meus dias felizes,
Meus sonhos virginais, as minhas ilusões,
Que a seiva dão agora aos vermes e ás raízes,
Que em pasto dão seu corpo a novos corações!

São as sombras que amei, divinas, castas, belas;
As quimeras gentis, os vagos ideais,
Que de rosas cingi, que iluminei d'estrelas,
E que não podem já da terra erguer-se mais!


(in A Alma Nova 1874: a grafia foi actualizada para o português corrente)

Guilherme Avelino de Azevedo Chaves nasceu em Santarém a 30 de Novembro de 1840 e morreu em Paris a 6 de Abril de 1882.

Do mesmo autor, ler neste blog:
Nome Muito Próprio
Em Nome do Silêncio
XVII - Ó máquinas febris!...

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2010-11-30

À Musa - Guilherme de Azevedo

À luz das noites serenas
A capela de açucenas
Te envolve em lúcido véu!
Ao meigo clarão da lua
És a imagem que flutua
No puro ambiente do céu!

E os ternos suspiros soltos,
E os teus cabelos revoltos
Ao sabor da viração,
Perpassam brandos na mente
Como as brisas do poente
Na cratera do vulcão!

Ó santa imagem querida,
Como és bela adormecida!
Que mistério em teu palor!
Que doçura no teu canto,
E que perfume tão santo
Nas tuas cismas d'amor!

Deixa cair uma rosa
Da tua fronte mimosa,
Da vida no turvo mar!
Descerra-me o paraíso
Que no teu fugaz sorriso
Nos faz viver e sonhar!

Guilherme Avelino de Azevedo Chaves nasceu em Santarém a 30 de Novembro de 1840 e morreu em Paris a 6 de Abril de 1882.

Do mesmo autor, neste blog, ler:
Nome Muito Próprio
Em Nome do Silêncio

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2010-04-06

XVII - Guilherme de Azevedo

Imagem daqui

Ó máquinas febris! eu sinto a cada passo,
nos silvos que soltais, aquele canto imenso,
que a nova geração nos lábios traz suspenso
como a estância viril duma epopeia de aço!

Enquanto o velho mundo arfando de cansaço
prostrado cai na luta; em fumo negro e denso
levanta-se a espiral desse moderno incenso
que ofusca os deuses vãos, anuviando o espaço!

Vós sois as criações fulgentes, fabulosas,
que, vibrantes, cruéis, de lavas sequiosas,
mordeis o pedestal da velha Majestade!

E as grandes combustões que sempre vos consomem
começam, num cadinho, a refundir o homem
fazendo ressurgir mais larga a Humanidade!

in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora

Guilherme Avelino de Azevedo Chaves nasceu em Santarém a 30 de Novembro de 1840 e morreu de um tumor em Paris a 6 de Abril de 1882.

Do mesmo autor, neste blog, ler:
Nome Muito Próprio
Em Nome do Silêncio

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2009-04-06

À Hora do Silencio - Guilherme de Azevedo

Lua imagem daqui

Eu quiz hontem sonhar, sentir como um romantico
A doce embriaguez do pallido luar,
Ouvindo em pleno azul passar o immenso cantico
Dos astros no seu giro e em sua luta o mar!

A cidade dormia o somno dos devassos;
Aquelle somno turvo, infecto e sensual:
E a lua, antiga fada, erguia nos espaços
Tranquilla e sempre ingenua a fronte de vestal!

E sobre a quietação das coisas vis e exoticas
Sentiam-se as febrís, crueis respirações,
Dos tristes hospitaes e das virgens clorothicas,
Dos amantes fataes da febre e das paixões!

A noite era em silencio, a athmosphera doce
E ria a natureza aos beijos d'um bom Deus.
De subito escutei, ao longe, o quer que fosse
D'um canto que suppuz então baixar dos céos!

Attento ao vago som, porém, a pouco e pouco
Senti que era uma voz disforme e sensual,
Soltando uma canção n'aquelle accento rouco
Da triste inspiração alcoolica e brutal!...

Ó terna vagabunda, enamorada lua!
Emquanto ias assim, diaphana e sem véo,
Uma triste mulher passava, então, na rua
Cuspindo uma porção d'infamias para o céo!

Guilherme Avelino de Azevedo Chaves nasceu em Santarém a 30 de Novembro de 1840 e morreu de um tumor em Paris a 6 de Abril de 1882.

Do mesmo autor ler Nome Muito Próprio

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2008-04-06

Nome muito próprio - Guilherme de Azevedo

Image from here


O seu nome é gracioso e muito próprio dela:
respira um vago tom de música inocente
e lembra a placidez de um lago transparente,
recorda a emanação tranquila de uma estrela.

Lembra um título bom, que logo nos revela
a ideia do poema. E todo o mundo sente
não sei que afinidade entre o seu ar dolente,
a sua «morbidezza», e o nome próprio dela.

E chego a acreditar – ingenuamente o digo –
que havia um nome em branco e Deus pensa consigo
em traduzi-lo, enfim, numa expressão qualquer:

de forma que a mulher suave e graciosa
faz parte deste nome um tanto cor-de-rosa
e este nome gentil faz parte da mulher.

Guilherme Avelino de Azevedo Chaves nasceu em Santarém a 30 de Novembro de 1840 e morreu de um tumor em Paris a 6 de Abril de 1882. Conhecido como o «Diabo Coxo» (devido ao seu espírito satânico e perna cambada, em consequência de um choque traumático sofrido aos 14 anos), tinha um temperamento melancólico e um feitio azedo e retraído. Como poeta, publicou «Aparições» (1867), «Radiações da Noite» (1871) e «Alma Nova» (1874). Poesia de combate, procurava ser a voz da Revolução, fé na Liberdade, Justiça e Democracia, mas, sob certos aspectos, precursora de Cesário Verde. Em 1871, aplaudiu a Comuna de Paris. Em 1874, chegou a Lisboa. Pertenceu ao Cenáculo e foi um dos promotores das Conferências do Casino. Foi colaborador literário do caricaturista Rafael Bordalo Pinheiro, nas revistas «António Maria» (1878) e «Álbum das Glórias» (1880). Nesta última data, parte para Paris, como correspondente da «Gazeta de Notícias» do Rio de Janeiro. Em Março de 1882, tem uma síncope, devida a uma úlcera gangrenosa no quadril esquerdo e morre, poucos dias depois, numa casa de saúde da capital francesa. Cronista revolucionário, não teve a sorte, como os autores d'«As Farpas» e d'«Os Gatos», de ver reunida em volume toda a sua produção jornalística.

Soneto e Nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

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