Blog Widget by LinkWithin
Mostrar mensagens com a etiqueta Afonso Schmidt. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Afonso Schmidt. Mostrar todas as mensagens

2014-06-29

OS VAGABUNDOS - Afonso Schmidt

Perdidos pela estepe enegrecida e rasa,
Nessa planície igual que a distância arredonda,
Que o inverno enregela e que o verão abrasa,
Dos vagabundos passa a maltrapilha ronda.

As miragens do céu são como pétrea onda...
E o vento forasteiro essa visão arrasa,
Quebrando torreões de arquitetura hedionda,
Catedrais de marfim e florestas de brasa!

Eles passam cantando uma canção dolente,
E vão deixando atrás, por sobre a terra ardente,
Dos seus inchados pés os passageiros rastros...

E quando a noite desce aos desertos medonhos,
Deitam-se sobre a terra e sonham lindos sonhos
Na solidão da estepe e na mudez dos astros!


Afonso Schmidt nasceu em Cubatão, Estado de São Paulo, a 29 de junho de 1890, m. em São Paulo a 3 de abril de 1964).


Ler do mesmo autor, neste blog:
Zingarella
Cubatão
Chromo
O Poema da Casa Que Não Existe
Simpatia (Poema infantil)

Read More...

2012-06-29

Zingarella - Afonso Schmidt

Certa noite, na Itália, quando eu vinha
para meu quarto, achei-a junto à porta;
era tão bela, mas tão pobrezinha!
De sono e frio estava quase morta.


Ela, pálida e franzina,
eu, de sobretudo roto:
— Buona sera, signorina!
— Buona sera, giovanoto!


Ofereci-lhe o quarto de estudante,
de minha estreita cama fiz a sua,
e, enquanto ela dormia, palpitante,
eu vagava, sem teto, pela rua.


De manhã, voltando à casa,
perguntei o nome dela:
- Como ti chiami, regazza?
-Io mi chiamo Zingarella.


Depois... Eu tinha vinte e três janeiros,
ela contava quinze primaveras.
Eram tão juntos nossos travesseiros...
Veio a paixão. Amamo-nos deveras...


Foi o quadro mais risonho
desta vida fugidia:
— Zingarella, sei mio sogno!
— E tu sei la vita mia!


Mas, um dia, ao voltar do meu estudo,
cheio de mágoas, de ânsias e de frio,
não encontrei seus olhos de veludo:
o quarto estava gélido e vazio.


Grito embalde o nome dela,
Numa tristeza infinita:
— Dove sei, o Zingarella?
— Dove sei, o mia vita?


E a minha vida prosseguiu inglória...
Fiz coisas de rapaz... Não me envergonho
de recordar ainda aquela história,
quase desvanecida como um sonho:


ela, pálida e franzina,
eu, de sobretudo roto...
— Buona sera, signorina!
— Buona sera, giovanoto!


Publicado no livro Janelas abertas (1911)

Afonso Schmidt nasceu em Cubatão, Estado de São Paulo, a 29 de junho de 1890, m. em São Paulo a 3 de abril de 1964).


Ler do mesmo autor, neste blog:
Cubatão
Chromo
O Poema da Casa Que Não Existe
Simpatia (Poema infantil)

Read More...

2011-06-29

Simpatia - Um poema infantil de Afonso Schmidt

imagem daqui

Numa tarde longa e mansa,
os dois pela estrada vão:
o cão estima a criança,
e a criança estima o cão.

Que delicada aliança
dos seres da criação:
uma risonha criança,
um robustíssimo cão.

Deus percebeu a lembrança
e sorriu lá na amplidão:
ele gosta da criança,
que trata bem o seu cão.

Por isso, na tarde mansa,
os dois felizes lá vão:
a delicada criança
e o robustíssimo cão.

in Poesia brasileira para a infância, Cassiano Nunes e Mário da Silva Brito, São Paulo, Saraiva:1968

Afonso Schmidt nasceu em Cubatão, Estado de São Paulo, a 29 de junho de 1890, m. em São Paulo a 3 de abril de 1964)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Cubatão
Chromo
O Poema da Casa Que Não Existe

PS: Em memória do Niko que partiu deste mundo, mas que durante a vida fez a felicidade, não propriamente das crianças, mas de todos cá de casa.

Read More...

2010-06-29

O Poema da Casa Que Não Existe - Afonso Schmidt (nos 120 anos do nascimento do autor)

Onde a cidade acaba em chácaras quietas
e a campina se alarga em sulcados caminhos
achei a solidão amiga dos poetas
numa casa que é ninho, entre todos os ninhos.

Térrea, branquinha, com portadas muito largas,
desse azul português das antiquadas vilas
e uma decoração de laranjas amargas
que perfumam da tarde as aragens tranqüilas.

Ergue-se no pendor suave da colina,
escondida por trás dos eucaliptos calmos;
tem jardim, tem pomar, tem horta pequenina,
solar de Liliput que a gente mede aos palmos ...

Neste ponto, a ilusão, a miragem, se some;
olho para você, eu triste, você triste.
Enganei uma boba! O bairro não tem nome,
a estrada não tem sombra, a casa não existe!

Afonso Schmidt nasceu em Cubatão, Estado de São Paulo, a 29 de junho de 1890, m. em São Paulo aos três de abril de 1964)
Ler do mesmo autor, neste blog:
Cubatão
Chromo

Read More...

2008-06-29

Chromo - Afonso Schmidt

Estendal de roupa; foto daqui

Meio dia de sol no lugarejo:
à sombra de umas árvores antigas,
ergue-se a velha fonte de azulejo,
onde batem a roupa as raparigas.

Mormaço. Corruxios. Num bocejo,
ouvem-se ao longe, sobre o mar d’espigas
do milharal maduro o rumorejo
e dos trabalhadores as cantigas.

Roupa corando nos varais. Sorrisos
azuis de trepadeiras. Sons de guisos…
Saltam na relva cabritinhos mansos.

Ao fundo, a torre e a casaria. Às vezes,
cortam os ares o mugir das rezes
e a gargalhada homérica dos gansos.

Afonso Schmidt nasceu em Cubatão (SP) a 29 de Junho de 1890 e morreu em São Paulo a 31 de Março de 1964. Apenas com a instrução primária, foi um autodidacta que se consagrou ao jornalismo. Fez duas viagens aventurosas à Europa (1906/07 e 1912/13). É autor de uma literatura participante, de sentido populista, e partidário de um igualitarismo utópico, que representa a sua ânsia de justiça social. Sobretudo contista, estreou-se nas letras como poeta: «Janelas Abertas» (1912).

Poema e nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto


Leia também do mesmo autor: Cubatão

Saiba mais sobre o poeta aqui

Read More...

2007-06-29

Cubatão - Afonso Schmidt

foto: Gansos em Cubatão


Minha terra não passa de uma estrada,
um bambual que rumoreja ao vento;
Sol de fogo em areia prateada,
Deslumbramento e mais deslumbramento.

Ao fundo, a Serra. Pinceladas frouxas
De ouro e tristeza em fundo azul. Aquelas
Manchas que são jacatirões - as roxas,
E aleluias - as manchas amarelas.

A minha terra, quando a vejo escampa
Cheia de sol e de visões amigas,
Lembra-me o cromo que enfeitava a tampa
De uma caixa de goma, das antigas...


Afonso Schmidt (n. em Cubatão, São Paulo, a 29 Jun 1890; m. a 3 Abr 1964)

Read More...